|DESFALECER|

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***

Janna olhou em volta na grande mesa e percebeu os olhares dos membros do parlamento sobre sí. Alguns mal continham sua curiosidade, outros pareciam estar a medindo com expressões altivas. Decidiu focar sua atenção nos papéis à sua frente. Duas emendas já haviam sido discutidas com soluções para as famílias afetadas pelos efeitos dos ataques. As moções foram aprovadas com unanimidade por todos.

O salão era amplo e bem ornamentado com cortinas vermelhas ao fundo, tapeçaria marrom, e esculturas de gesso em lugares estratégicos. No meio dele se destacava uma enorme bancada em formato de círculo toda de madeira escura que servia de apoio para as cadeiras dos parlamentares que possuíam estofados no mesmo tom de vermelho das cortinas.

O Primeiro-ministro ficou de pé e aclarou a garganta atraindo a atenção para sí.

— O próximo assunto a ser analisado é a promulgação da Constituição Indiana de mil novecentos quarenta e nove.— Quando ouviram aquela sentença os parlamentares se agitaram e começou uma grande discussão entre eles.

O assunto já vinha sendo tratado entre o parlamento desde pouco depois da morte do Rei Amir mas sempre que era mencionado gerava fortes controvérsias. A maioria deles tradicional e legalista defendia a ideia de que eles deveriam permanecer no regime implementado pelo antigo monarca, mas havia uma pequena parte que se mostrava interessada na mudança.

— Silêncio!— Sajeet usou sua voz potente para tentar controlar o tumulto que se intalara.

Os homens pararam de falar mas continuaram de pé e o encararam com grande fúria.

— Não sabemos porquê esse assunto continua sendo apresentado para nós!— Um dos membros mais antigos se alterou.— Vocês que estão pensando em aprovar essa constituição deveriam se envergonhar de querer se rebelar contra o rei dessa forma!

— Isso mesmo!— Outro ancião se pronunciou tremendo de raiva.— Nós não votaremos e sequer consideraremos nada que desonre a memória do nosso rei!

Ao ouvir aquilo um deles que estava sentado só observando se levantou e disse:

— Meus amigos, vocês que dizem saber tanto.— E aqui ele fez uma rápida expressão de deboche gesticulando com as mãos.— Será que não percebem que as coisas estão mudando? O país inteiro segue as leis garantidas pela constituição! Não somos um só povo? Se estamos nos rebelando não é contra a memória do nosso rei mas sim contra contra a ordem do nosso país!

— Eu sempre soube que você era um traidor!— O homem que havia se pronunciado primeiro acusou o último.

Seguiu-se outra grande discussão e foi tão séria e intensa que a sessão teve que ser encerrada. Quando deixou a sala do parlamento naquela tarde a princesa Janna estava estarrecida. Ainda pensava na ousadia do Primeiro-ministro em tentar fazer uma mudança grande como aquela quando o mesmo se aproximou visivelmente alterado.

— Acha mesmo que isso é possível?— Ela perguntou o fitando com seriedade.

— É melhor que seja. Pois eu não costumo voltar atrás com a minha palavra, alteza.— Sajeet a reverenciou e voltou para o seu lugar atrás da mesa.

Pensativa, Janna saiu da sala. A promulgação da constituição significava que os cidadãos de Jaipur seriam livres. As leis nela contidas asseguravam a justiça, a liberdade, a igualdade e a fraternidade para todos os cidadãos. Por mais que essas leis fossem tudo oque ela mais desejava para seu povo Janna não se permitiu ficar esperançosa.

Ao chegar no pátio externo a princesa avistou os membros mais antigos do parlamento vindo em sua direção e se escondeu atrás de uma pilastra de mármore branco. " Quem ele pensa que é para mudar todas as leis dessa forma?" " O Primeiro-ministro?" Um indiano mais jovem respondeu com inocência. " CALE A BOCA SEU INÚTIL!" O velho ralhou e deu um tapa forte no rosto do rapaz. " o moço caiu no chão e nenhum deles fez a menor questão de lhe prestar algum socorro. " NÃO PODEMOS DEIXAR ISSO ACONTECER!" O velho completou com um olhar cheio de ódio.

Com Amor, Eu Creio.Where stories live. Discover now