|COVARDE|

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Jaipur Índia, 1 dia antes.


Janna chegou ao prédio antigo de cor Marfim no horário costumeiro, pouco antes das seis da manhã. Do lado de fora sob as imensas janelas, sua silhueta aparecia segurando uma lamparina enquanto ela avançava acendendo as velas e trazendo luz aos cômodos empoeirados.

Organizou alguns exemplares de enciclopédias e Atlas e quando menos esperou já estava amanhecendo. A moça se aproximou das janelas atraída como um imã, pelos primeiros raios de sol.

Na rua, à uma distância bem segura uma cena chamou sua atenção: um feirante chegava munido de sua barraca e algumas caixas com frutas e logo após um outro homem vinha exaltado e os dois começavam uma discussão acalorada.

Namastê!— uma voz feminina grave e asalada chegou aos ouvidos dela junto com o som da sineta e das portas rangendo e se fechando.

Bon jour, senhora Chandra!— Janna devolveu o cumprimento alternando o olhar entre a briga e a chegada de sua superior.

Chandra tirou o manto que cobria sua cabeça e o envolveu em seu pescoço como uma echarpe com um sorriso nos lábios. Não era incomum que a jovem estivesse naquela posição admirando algo pelas imensas janelas, ou curiosa sobre assuntos alheios.

— A mesma confusão de sempre.— Chandra tossiu e se sentou em um divã que ficava próximo ao balcão de madeira escura da recepção.— Esses feirantes imundos insistem em querer vender sua mercadoria na calçada das lojas.

O comentário da Co-proprietária da biblioteca despertou a jovem princesa que se virou na direção dela com os olhos atentos e disse em voz baixa:

— Não vejo problema em eles compartilharem um pedaço da calçada.— Janna abaixou os olhos.— Não estariam fazendo dois negócios em um lugar só? Uma pessoa que busca fazer uma Mehndi* poderia encontrar e levar tomates frescos para sua salada.

Chandra fitava a funcionária boquiaberta.

— Eu estou em choque!— Exclamou ficando de pé.— Faz dois anos que você trabalha para mim e eu nunca pude distinguir o tom da sua voz por você não falar mais que três palavras por vez.— Ela gesticulava sem parar.

A moça se encolheu com o rosto ruborizado.

— Trate de falar mais vezes! Eu sinto que vou morrer de tédio nessa caixa de poeira!— disse.

Janna concordou com um tímido aceno de cabeça.

— Habilidade para falar com as pessoas não me é algo natural.

Chandra deu um sorriso compreensivo e caminhou até o balcão tirando uma caixa do chão e colocando sobre o mesmo com muito esforço. A moça veio em seu auxílio.

— Isso veio de Bali, como você é uma estudiosa achei que fosse te interessar.— A senhora disse entre algumas tossidelas carregadas.

— Oh, muito obrigada!— A jovem abriu a caixa tirando alguns livros de dentro com entusiasmo.

— Com toda a certeza deve haver algum que fale do Taj Mahal, ou das outras maravilhas do mundo.— A mulher continuou movendo as mãos com ar de enfado.— Ainda sonha em sair daqui e explorar o mundo?

— Oh, certamente que sim!— Janna respondeu dividida entre observar a capa de um Atlas e dar à devida atenção a conversa.— Um dia eu ainda irei conhecer o mundo todo.— afirmou com convicção. Mas seu semblante se tornou apreensivo por um momento antes de completar:— Só tem uma coisa que preciso resolver antes.

Com Amor, Eu Creio.Where stories live. Discover now