(021). between good and evil

165 27 33
                                    

VOZES ressoavam no vazio e os olhos de Maeve se abriram. Ela estava esparramada no chão, num dos cobertores azuis surrados de Guinevere.

Pela janela, ela viu o céu noturno, sem qualquer sinal do amanhecer.

Maeve seguiu as vozes na direção da sala e viu seus amigos, velhos e jovens, preparando trouxas com biscoitos, frutas e latas de água, enquanto devoravam as últimas tigelas de mingau de aveia.

Todos estavam vestidos de capas pretas, agitados, sussurrando, exceto por Guinevere, que ainda estava de camisola, preparando um saco para Lancelot, enquanto o cavaleiro polia sua espada.

Quando Maeve entrou na sala, ela notou que o grupo já não estava mais dividido, com velhos de um lado e jovens do outro, como habitualmente, mas em vários grupos de mentores.

Merlin entrou na sala, vindo da sala de jantar, dando goles numa caneca de café. - Nós tentamos falar baixo, minha querida. Queríamos lhe dar um pouco mais de descanso.

Em seu torpor sonolento, Maeve não entendeu. Mas, depois, ela sentiu alguém tocar-lhe o ombro.

Ela olhou para Tedros, limpo e lindo, com uma capa preta, a Excalibur presa nas costas. Ele segurou a mão dela, com um leve  sorriso para tranquilizá-la.

- Chegou a hora - ele disse.

Mais cedo, Tedros tentou convencer Lancelot a ficar para trás com sua mãe, mas por mais que o príncipe desprezasse o cavaleiro, ele não podia nem pensar em sua mãe sem ele.

Guinevere não queria nem ouvir. Ela se despediu de Lancelot lá fora, no campo, da mesma maneira como se despediu do restante de seus convidados, dando um breve abraço em cada um deles, como se estivessem saindo para dar um pulo numa loja e fossem voltar para almoçar.

Somente quando abraçou Maeve foi que a velha rainha se alongou. A bruxa viu seus lábios trêmulos e o brilho molhado em seus olhos.

- Cuide do meu Tedros - sussurrou Guinevere.

- Eu cuidarei - prometeu Maeve. Algo frio tocou sua cabeça e ela olhou para cima, para seu príncipe, enquanto ele recolocava a coroa em sua cabeça.

- Você a deixou em seu quarto - ele disse, com um sorriso brincalhão.

- Um descuido - murmurou Maeve. Por mais que parecesse tranquila com o que estava acontecendo, para a iminente batalha entre o Bem e o Mal, Maeve estava preocupada.

É claro, ela sabia vários feitiços antigos e poderosos, mas a magia dela não era infinita. Não gostava de admitir, mas o Diretor da Escola também era muito forte. Sem contar as poucas esperanças que ela tinha dos velhos heróis contra um exército de zumbis.

Tedros olhou nos olhos da mãe. Maeve viu os dois tomados de emoção, uma mãe e um filho que haviam enfrentado tanta dor para se reencontrarem, só para serem separados mais uma vez.

- Deixe-me ir com vocês, Tedros. Por favor - suplicou Guinevere. - Eu posso lutar... nós estaremos juntos...

- Não. É a única coisa em que Lancelot e eu concordamos - disse o príncipe. Guinevere sacudiu a cabeça, as lágrimas escorrendo.

Tedros abraçou-a junto ao peito. - Ouça. Você estará em Camelot para minha coroação em exatamente um ano. Assim que Eve e eu fecharmos nosso livro de história e o Diretor da Escola estiver morto, vamos nos ver de novo.

Guinevere o encarou. - Me prometa, Tedros. Prometa que você voltará.

- Eu prometo - disse Tedros, com a voz rouca.

Guinevere avistou algo por cima do ombro do filho e recuou. Maeve e Tedros viram Merlin liderando a Liga de heróis, jovens e velhos, em direção a um portal flutuante de brilho branco, acima de uma colina distante.

✓ | DISENCHANTED ♰ sgeWhere stories live. Discover now