(019). true love

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AO LONGO da semana seguinte, Tedros passou a ser um fantasma.

Durante o dia, ninguém o via — nem na casa, nem no campo, nem perto do bosque de carvalho — e ninguém tinha a menor ideia se ele dormia, nem onde.

Guinevere temia que o filho passasse fome, até que Maeve sutilmente sugeriu que toda noite elas deixassem um cesto de comida na varanda para ele. De manhã, o cesto sempre tinha sumido.

Hort passava os dias com Lancelot, fazendo tarefas pelo sítio. De manhã até à noite, eles ordenhavam as vacas, cultivavam a horta, recolhiam os ovos das galinhas, tosavam as ovelhas e lavavam os cavalos.

Ensopado de suor, cheirando a feno e esterco, Hort parecia alegre por ser útil a um homem tão viril, e eles pareciam quase pai e filho, com os cabelos negros, o peito estufado e o andar malemolente.

Enquanto isso, Guinevere tinha a casa para cuidar, com uma quantidade infinita de roupa suja, costura, comida e limpeza, tudo por conta dos hóspedes extras, coisas que ela fazia avidamente, recusando qualquer tipo de ajuda, como se precisasse trabalhar para distrair a cabeça.

O que deixava Maeve e Sophie sozinhas.

Enquanto Hort dormia no sofá da sala, as duas meninas tinham que dividir uma cama no pequeno quarto de hóspedes. Era como uma espécie de tortura para ambas.

Toda manhã, elas comiam ovos com bacon, junto com Hort, Lancelot e Guinevere, e faziam o melhor que podiam para arrumar as coisas antes que a mãe de Tedros as enxotassem, e então ficavam o mais longe possível uma da outra.

Até que houve uma tarde em que Maeve estava deitada em um dos galhos de uma grande árvore, relaxada naquela posição que havia se acostumado a ficar durante seu tempo na Escola do Mal.

Os olhos fechados e as pernas balançando para fora do galho, Maeve ouviu passos se aproximando de onde ela estava, e pelo som de vidro batendo no chão, só podia ser Sophie e os sapatinhos barulhentos de cristal.

- Precisamos conversar, querida? - chamou Sophie, olhando para o alto da árvore, com seu vestido rosa balançando ao vento. - Sei que você não está dormindo.

Maeve suspirou, irritada com a interrupção, e pulou do galho em direção ao chão, olhando para Sophie com frieza. - O que você quer?

- Está chegando a hora. Cada um de nós acha que sabe quem é do Bem e quem é do Mal - disse Sophie, séria. - Você, eu, Tedros, Rafal... Mas não podemos estar todos certos, querida. Alguém tem que estar errado.

- Fale logo o que você quer.

- Diga, Maeve - pediu Sophie, com os lábios tremendo. - Diga-me que você e Tedros merecem o Felizes Para Sempre. Que só você pode fazer o Tedros feliz para sempre. Diga-me e eu destruirei a aliança essa noite. Eu prometo.

Maeve bufou. - Está mentindo para mim.

- Eu juro que é verdade!

Maeve abriu a boca e, no entanto, as palavras não lhe vieram. Somente a imagem dela, numa pintura de Peixes do Desejo, usando a coroa de Tedros.

- Diga - Sophie pressionava.

Maeve não gostou do tom de ordem dela, uma superioridade que Sophie achava que tinha, mas jamais teria. Ela não era obrigada a dar satisfações para Sophie sobre o que pensava de seu futuro.

Um sorriso maldoso surgiu no rosto de Maeve, seus olhos castanhos parecendo se iluminar. - Que tal um jogo, Sophie? Quando Tedros escolher a rainha dele, a perdedora jamais deverá falar com ele novamente.

- Não acredito... - murmurou Sophie, incrédula.

- Você parecia muito confiante - desafiou Maeve, se aproximando de Sophie com um sorriso. - Não vai desistir agora, vai?

- Tudo bem - concordou Sophie, erguendo o rosto e encarando a garota. - Que a melhor vença.

- Segure minha mão e vamos selar esse acordo - sussurrou Maeve, estendendo a mão para a loira.

✓ | DISENCHANTED ♰ sgeWhere stories live. Discover now