(008). magic mirror

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OS SEMPRE NEM comemoraram quando Tedros recebeu seu distintivo de Capitão. Como poderiam, se Sophie o havia feito de tolo?

— O Mal está de volta! — gabavam-se os Nunca. — O Mal tem uma Rainha!

Então os Sempre lembraram-se de que eles tinham algo que os Nunca não tinham. Algo que provava que eram superiores.

Um Baile.

E a Rainha não estava convidada.

A primeira neve cobriu a Clareira com pedras de gelo que bombardeavam os baldes dos Nunca, fazendo ruídos altos. Enquanto tentavam pegar queijo mofado com seus dedos congelados, eles lançavam olhares cortantes para as garotas Sempre, que perambulavam de lá pra cá sem a menor preocupação com o clima.

Como o Baile seria dali a duas semanas, as garotas precisavam cuidar dos preparativos, pois os meninos se recusavam a convidá-las antes do Circo de Talentos.

— Minha mãe diz que Bondade é fazer com que as pessoas se sintam queridas, mesmo quando você não as quer de modo nenhum — disse Beatrix, que parecia entediada.

Com Sophie fora da jogada, ela sabia que Tedros era seu par. Não que ele tivesse confirmado isso, o príncipe vinha ignorando a todos desde a Prova dos Contos, carrancudo como um Nunca.

Agora Beatrix sentia seu astral infectá-la, enquanto o observava lançar flechas na árvore sob a qual ele e Sophie costumavam sentar-se. Tedros abriu mais buracos no coração entalhado na árvore, mas não ficou satisfeito.

Após alguns dias de provocações, seus colegas tinham tentado animá-lo. Quem se importava se ele compartilhava sua premiação com uma garota Nunca? Quem se importava se ela o enrolou ao longo do caminho?

Ainda assim, ele ganhara uma prova brutal, e durara mais do que todos eles lá dentro. Tedros, porém, só via vergonha naquilo, pois agora ele não tinha nada de melhor do que seu pai.

Um escravo dos erros de seu coração.

E ele ainda não tinha dito a ninguém sobre Maeve. Todos haviam descoberto que ela havia entrado no lugar de Brone e fingido ser o garoto até fugir ao amanhecer, porém ela havia sido desclassificada e punida por trapacear.

Tedros estava confuso. Por que ela arriscara a vida para salvá-lo? Será que aquela bruxa poderia ser... Boa?

O príncipe pensou nela na hora do almoço, sozinha embaixo de uma árvore, enquanto lia um livro de feitiços, e qualquer um que se aproximasse para perguntar da Prova dos Contos, Maeve começava a exclamar uma série de xingamentos e ameaçava jogar o livro na pessoa.

Tedros subitamente sentiu-se enjoado.

Uma rosa entregue na cerimônia de boas-vindas. Um goblin escolhido entre dois. Uma princesa cujo caixão revelou ser uma bruxa.

Ele nunca havia escolhido Sophie.

Ele havia escolhido Maeve todas as vezes.

Tedros virou-se, atordoado, procurando por ela, e finalmente encontrou Maeve em cima de uma árvore, deitada em um galho enquanto comia uma maçã vermelha e lia um livro, como fazia todos os dias.

Ao observar as feições dela, tão delicadas e ao mesmo tempo tão sérias, os olhos de Maeve eram de uma intensidade única, castanhos como chocolate, carregados de astúcia, e ela tinha lábios chamativos, na cor vermelha como sangue.

O príncipe suspirou, sentindo a respiração ofegante, quase caminhando na direção da bruxa. Queria perguntar por que ela havia o salvado, e entender por que seu coração insistia em escolher ela.

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