(020). from the darkness arises a queen

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QUANDO O SOL se levantou sobre o campo, Maeve se recostou num carvalho, vestindo uma camisa branca larga que tinha pegado de Tedros, os cabelos desgrenhados e a barriga roncando de fome.

A bruxa olhou para o diadema de prata e seus diamantes reluzindo na caixinha de madeira, nas mãos de Guinevere.

Maeve bocejou. - É adorável, eu acho. Pelo o que lembro das minhas lições de etiqueta, é um acessório bastante formal.

Depois de passar metade da noite acordada com Tedros, e dormir apenas algumas horas, a mãe do príncipe arrastou-a para fora casa bem cedo, insistindo que tinha algo para lhe mostrar. Se Maeve soubesse que seria um adereço para cabeça, teria ficado na cama.

Ainda sonolenta, Maeve examinou o diadema e seus contornos de diamantes pendurados no círculo de prata. Na verdade, não parecia exatamente novo.

E quanto mais atentamente olhava, mais ela sentia uma sensação de aperto na garganta, pois, subitamente, teve certeza de já ter visto essa peça.

No reflexo do lago, iluminado pela lua, cintilando dentro de uma pintura de Peixes do Desejo...

Maeve lentamente ergueu os olhos para Guinevere, que parecia imponente, apesar de seu rosto envelhecido e do vestido sujo dos afazeres de casa.

- Essa é a sua coroa - concluiu ela.

- Receio que agora seja sua - disse Guinevere, com um pequeno sorriso. - Por mais formal e pouco prática que possa ser.

- Minha?!

- Quando Lance e eu avistamos você e Tedros juntos no campo, ontem à noite, fiquei muito zangada comigo mesma - Guinevere suspirou. - Eu devia saber que Merlin tinha me dito o nome certo naquele Natal. No mínimo pela forma como você me olhou no jantar, quando eu me confundi. Acho que às vezes é mais fácil enxergar a resposta mais simples em vez de ver a verdade.

Maeve olhou a coroa, boquiaberta, depois fechou a tampa da caixa. - Olha, eu não posso aceitar isso.

- O Bem não pode mais esperar por sua rainha, Maeve - Guinevere atalhou, com o semblante sério. - Ontem à noite, seu amigo Hort foi procurar Sophie e descobriu que ela havia desaparecido de nosso refúgio e magicamente regressado ao Diretor da Escola.

Por um instante, Maeve achou que não tivesse ouvido direito, ou que se tratasse de uma piada de mau gosto, mas nada no rosto de Guinevere sugeria isso.

- Mas isso é impossível... - murmurou Maeve, em descrença. - Não há como sair desse lugar sem a permissão da Dama do Lago.

- Tudo que Sophie teve de fazer foi desejar se reunir ao Diretor da Escola, e ele conseguiu romper o encanto do lago e resgatá-la - respondeu Guinevere. - Maeve, não tenho dúvidas de que Sophie se comprometeu de corpo e alma a ser a rainha do Mal. Você tem de assumir seu lugar como a rainha do Bem com a mesma determinação e crença. Ou você e meu filho não terão a menor chance.

Maeve não disse nada, as palavras “meu filho” ficaram pairando entre elas. Um longo momento se passou.

Os dedos de Maeve foram devagar até a palma da mão de Guinevere e abriram só uma frestinha na caixa de madeira.

- Você guardou sua coroa por todo esse tempo? - perguntou ela, pensativa.

- A coroa de Arthur permanece em Camelot, até que Tedros a reivindique - a antiga rainha respondeu, pacientemente. - Eu sei que jamais poderei ter meu filho de volta. Mas ainda tenho que proteger Tedros da melhor forma que posso. E a única maneira de fazer isso é me assegurando de que ele tenha a rainha que Arthur nunca teve. Uma rainha que tenha certeza de sua coroa, e que esteja pronta para lutar por ela quando chegar a hora.

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