Capitulo 13

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Chris
A medicina, como qualquer outra profissão, tem seus lados bons e seus lados ruins. Muita gente a enxerga como a arte do cuidado, e de fato é. Mas o que as pessoas ignoram é que ela também é a arte de perder. Meus professores sempre disseram que precisávamos saber lidar com a perda e que tínhamos que entender que a morte era um fenômeno natural pertencente ao ciclo da vida. Na teoria, não parecia tão complicado assim. Porém, na prática, era extremamente difícil.

Os pacientes não ficam muito tempo na emergência, onde eu trabalho. Normalmente, eles chegam, eu faço os primeiros cuidados e, quando estão estáveis, eu os encaminho para outro médico. Mas, às vezes, mesmo com todo o esforço do mundo, é impossível estabiliza-los e eu acabo os perdendo. E é sempre difícil. Tudo piora ainda mais quando se trata de uma criança, como havia acontecido naquele dia.

Nós havíamos recebido um menino de 10 anos que tinha sido atropelado enquanto jogava bola com os amigos na rua. O impacto havia causado inúmeras lesões em seu pequeno corpo e, apesar de nossa equipe ter feito tudo e mais um pouco, ele não resistiu e faleceu. E eu fui o responsável por contar aos seus pais que eles não veriam seu filho tão amado crescer. Aquilo tinha me destruído, me deixando meio sem rumo. Entrei na sala de descanso dos médicos sentindo o peito apertar e a garganta arder, torcendo para que aquele momento fosse apagado da minha mente, mas eu sabia que não seria.

Meu celular vibrou no meu bolso e eu o puxei a contragosto, com medo de ser outra emergência chegando, mas era apenas uma mensagem do meu irmão. Eu decidi que iria deixar para respondê-lo outra hora e estava pronto para bloquear o celular novamente quando uma outra conversa chamou a minha atenção, a conversa com Sofia. Não tinha novas mensagens, pois ela estava trabalhando naquele momento, mas cliquei em sua foto de perfil, suspirando com o quão linda eu a achava. Na foto, seus cabelos estavam levemente ondulados e ela sorria grande, o que me fez sorrir também, mesmo em meio a loucura de sentimentos que eu estava.

Três semanas tinham se passado desde que tínhamos dado nosso primeiro beijo e nós estávamos juntos e evoluindo. Nos falávamos constantemente e nos encontrávamos sempre que dava. Não havíamos contado do nosso relacionamento (que também não tinha sido rotulado ainda) para ninguém, era algo só nosso e que estávamos curtindo muito. Mas eu estava cada vez mais apaixonado. Encarei novamente sua foto sorridente e suspirei ao perceber o quanto aquela mulher me fazia bem. Quando eu vi, meus dedos haviam sido mais rápidos que meus pensamentos e eu estava escolhendo seu contato e iniciando uma ligação. Ela atendeu em três toques.

- Ei, Chris! - A voz dela soou animada do outro lado da linha.

- Oi, Sof. - Respondi. - Estou te atrapalhando?

- Claro que não, sempre tenho um tempinho para você. Aconteceu alguma coisa? - Quando a pergunta chegou até meus ouvidos, eu não consegui mais segurar e senti as lágrimas encherem meus olhos. Era como se ela me trouxesse o conforto e a calmaria que eu precisava para poder desmoronar em paz.

- Eu perdi uma criança agora há pouco e só precisava escutar a sua voz.

- Sinto muito. Pode chorar, eu não vou a lugar nenhum. - E foi isso que eu fiz. As lágrimas continuaram vindo e eu me permitir chorar, deixando toda a dor se esvair.

Eu estava triste, chateado, com raiva. Não era justo. Aquele menino tinha toda uma vida pela frente e ele tinha partido sem ter a chance de viver tanta coisa. Eu sabia que a morte era parte da experiência de viver e que as vezes ela vinha cedo demais. Mas isso não fazia com que deixasse de ser injusto.

Não sei por quanto tempo eu chorei, só sei que Sofia ficou comigo o tempo todo, repetindo palavras de conforto até que eu me acalmasse. Desligamos a ligação com ela me pedindo para ficar bem e dizendo que estava ali para qualquer coisa. Eu ainda estava mal, mas pelo menos conseguia me sentir um pouco mais forte.

Esse tipo de amor...Where stories live. Discover now