TRINTA E UM

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 ◇◇  ◇◇  ◇◇  Rafael  ◇◇  ◇◇  ◇◇

Depois de um voo tranquilo, já estávamos no Estado de Oaxaca. Dizem que o dia primeiro de novembro é o mais animado nessa ocasião. Chegamos nesse exato dia, de manhã cedo. Enquanto dirijo pelas ruas, vemos todos os lugares decorados. As árvores tem pequenas caveiras penduradas, as praças tem caveiras gigantes descansando no chão, e as casas estão decoradas com altares. Lily vai observando tudo completamente fascinada. Sei o quão importante essa viajem é pra ela.

Não ficamos muito no hotel, pois logo saímos para aproveitar a luz do sol. Nos deliciamos com a comida temperada desse país, e andamos pelas ruas admirando toda a decoração. À noite, a cidade parece ganhar vida. Nós saímos prontos para aproveitar toda a alegria dessa festa tão animada, apesar do nome mórbido. Centenas de pessoas andam pelas ruas fantasiadas de esqueletos. Muitos tem pinturas coloridas pelo corpo, e outras pintam apenas os rostos com o formato de caveiras.

O Estado de Oaxaca é um dos principais pontos para se ter um Dia de Los Muertos tradicional. Grande parte das ruas estão cheias de velas, que seguem até cemitérios igualmente iluminados. Nenhum canto está escuro ou sem decoração, tudo está iluminado por velas, cores alegres, e sorrisos brilhantes. Ninguém aqui fica triste, eles recebem os mortos em festa. Segundo a tradição, apenas nos dias um e dois de novembro, as almas podem voltar à Terra e ficar com os seus. Mas a festa pode durar até sete dias.

Muitos se fantasiam de caveiras para não entregar as almas que andam por aí disfarçadas. Eu sorrio pela alegria do povo ao receber seus falecidos de braços abertos. Todas as casas tem altares, eles variam de dois a sete níveis, mas a maioria tem sete. Tem cruzes feitas de flores ou frutas; fotografias da pessoa a qual o altar é dedicado; as comidas favoritas dessa pessoa; tem também o pan de muerto (É oferecido como consagração); tem sal simbolizando a purificação; e o sexto nível dos altares dedicado às almas do purgatório; e tem imagens do Santo de devoção da família. Esse é um altar tradicional que enfeita todas as casas.

Lily e eu seguimos a multidão, e chegamos a um cemitério. As pessoas dançam e cantam ao redor das lápides, com sorrisos e animação. Ao redor ou sobre os túmulos, vemos mais altares. Incensos, papéis coloridos, velas e caveiras de açúcar estão por todo o lugar. As caveiras de açúcar são doces decorados com cores vivas e moldados na forma de caveira. São deixadas nos altares como decoração e oferenda. Muitas delas tem nomes escritos nas testas, imagino que seja das pessoas que partiram ou da pessoa que fez o doce.

Não somos daqui, então não temos um túmulo para decorar ou algo assim. Mas algumas pessoas vem até nós e dizem que podemos fazer oferendas mesmo assim. Nós fazemos. Colocamos velas, água e Lily deposita uma foto de Raissa também, assim como caveiras de açúcar. Segundo a tradição, quem oferta uma caveira de açúcar garante um lugar no paraíso. Lily sorri ao ver o pequeno altar feito para Raissa. Na foto a garota está sorrindo alegremente.

Ela deixa escapar uma lágrima, e as pessoas percebem que Lily está triste e logo a puxam para dançar. Eles dizem que essa não é uma época de tristeza, mas sim de festa. Uma grande fogueira está com chamas dançantes iluminando uma parte do cemitério, várias pessoa dançam ao redor dela. Lily já não está mais triste, e conversa com algumas pessoas sobre Raissa, enquanto escuta histórias sobre os entes perdidos dos outros também. Fico feliz ao vê-la sorri.

Para o meu desespero, ela me puxa para dançar. Não que eu não saiba dançar, mas também não sou muito bom. Diferente da Lily, que move seu corpo em perfeita sincronia. Ela gargalha ao me ver envergonhado. As pessoas ao redor também riem e me guiam na dança. Todos tratam os outros com gentileza, e compartilham histórias. Lily e eu aproveitamos a noite visitando vários parques e cemitérios, vendo os costumes tradicionais dessa época.

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