VINTE E SEIS

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  ◇◇  ◇◇  ◇◇ Lily ◇◇  ◇◇  ◇◇

Ela está aqui. Na Inglaterra. Na arena. Atrás de mim. Ela está aqui. A mulher que me deu a vida. Aquela que me deixou em um lugar podre apenas com uma carta e um cobertor no corpo. Eu não sei o que pensar agora.

Acordo dos meus pensamentos ao sentir mãos quentes me tocando. Sua pele é levemente áspera ao deslizar pelas minhas pernas nuas. As mãos grandes e os dedos longos apertam em alguns pontos, me fazendo suspirar.

— Bom dia, pequena — sua voz rouca sussurra ao meu ouvido.

— Bom dia, baby — sorrio automaticamente.

— Dormiu bem? — sinto a preocupação em suas palavras.

— Não consegui dormir — admito.

Ele sobe as mãos pelas minhas pernas, indo até meu quadril, cintura e acaricia essa curva.

— Quer conversar? — pergunta suavemente.

— Eu nem sei o que falar. Não sei o que pensar. Não sei como reagir, ou o que devo fazer.

— Você não deve fazer nada. Não deve nada a ela, Lily. A escolha de deixá-la entrar ou não na sua vida é completamente sua. E não tem pressa nenhuma em fazer isso — ele diz.

Assinto lentamente com a cabeça. Ele tem razão. Mesmo sabendo quem ela é, e o motivo dela ter feito o que fez, uma parte da minha mente sempre gritava que eu não tinha culpa daquilo. Que ela, como minha mãe, deveria ter ficado ao meu lado e cuidado de mim. Não ter me largado na porta do pior orfanato do continente, com apenas uma carta idiota. Talvez seja egoísmo, mas não estou com cabeça para pensar direito agora.

— Tem razão. Não vou pensar nisso agora.

Nós chegamos de viajem ontem. Dormimos na casa do Rafa. Eu queria descansar e focar no meu livro, mas vejo que isso não vai acontecer.

— Tudo bem. Vamos tocar café. Fiquei sabendo que você já finalizou seu livro. Foi muito rápido — o agradeço mentalmente por ter mudado de assunto.

— O quê posso fazer? Você é minha maior inspiração. Estou escrevendo mais do que nunca — revelo.

— Graças ao seu talento. Não a minha incrível personalidade e beleza, mas ao seu talento — ele pisca, e eu rio.

Depois do café, me despeço do Rafa e dirijo até a casa das minhas mães. Ainda não contei sobre a minha progenitora. Assim que abro a porta, vejo as duas sentadas à mesa, tomando café da manhã. Elas sempre fazem isso mais tarde.

— Querida, tudo bem? — minha mãe se levanta e me abraça.

— Tudo bem — dou um beijo no rosto da mamãe, e me sento de frente pra ela na mesa. Começo a me servir.

— Não tomou café da manhã ainda?

— Tomei.

Elas trocam olhares.

— O quê está acontecendo? Você só come assim quando está nervosa — mamãe fala.

— Desembucha.

Suspiro.

— No penúltimo dia da viajem, na noite da final, uma mulher me parou em um dos corredores da arena — minha garganta trava.

— Ela te fez algo? — minha mãe pergunta.

— Não. Bem, depende. Ela é a minha progenitora — falo de uma vez.

Todas ficamos em silêncio. Elas duas me olham chocadas. Se passam longos minutos de silêncio, antes que a mamãe pergunte:

— Você está bem?

A Garota da Fita Vermelha Where stories live. Discover now