VINTE E NOVE

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   ◇◇  ◇◇  ◇◇  Lily  ◇◇  ◇◇  ◇◇

— Eu vou passar alguns meses fora, mas você pode me ligar sempre que quiser, sabe disso. Sinto muito por deixá-la nesse momento, mas eu não tenho muita escolha agora — Mila me olha triste.

— Está tudo bem. Não precisa se desculpar por isso. Estou muito orgulhosa de você, gata — Mila está prestes a partir para o Canadá.

Ela foi designada para um projeto importante. Mila vai planejar a nova mansão de uma pessoa muito importante que não me lembro o nome agora. Tudo que sei é que é um projeto grande. Mila está quase pulando se alegria, mas ela se conteve depois de longos minutos saltitando por aí.

— Eu também estou muito orgulhosa de mim — ela rebate com um sorriso. — Bem, preciso ir agora. Peter vai me deixar no aeroporto. Nos vemos em pouco tempo — ela me abraça apertado e eu retribuo seu aperto. — Vai dar tudo certo — sorrio pelo seu apoio.

Nós descemos as escadas da sua casa, e ela vai até o Peter, e eu me despeço de todos. Dirijo até meu apartamento calmamente, pensando no que fazer em relação a Nádia. Eu quero conhecê-la, mas não sei se consigo lidar com sua nova família. Eu devia ser sua família. Respiro fundo ao me irritar com minha própria indecisão. Desde que ela chegou, não consigo escrever. Estou bloqueada. Tudo que ocupa a minha mente agora é Nádia.

Me sento inutilmente na cadeira da minha mesa, e encaro a página vazia. Capítulo 7. Olho para a vista que tenho da placa de Hollywood e suas colinas, tentando buscar concentração. Mas nada me vem. Eu preciso logo resolver esse problema. Decidida, eu pego o celular e disco seu número. Marco um encontro. Em duas horas, estarei cara a cara com ela novamente. Essas horas passam voando, e logo estou entrando em um restaurante à procura dela.

— Boa noite — cumprimento assim que me sento na cadeira.

— Boa noite — ela parece ainda mais nervosa que a última vez.

— Marquei esse encontro por que eu realmente decidi dar uma chance a nós. Eu quero me desculpar pelo que disse da última vez.

— Não se desculpe. Não disse nenhuma mentira.

— Eu sei. Mas não deveria ter jogado tudo na sua cara daquela forma. Foi errado. Nós duas tivemos nossos desafios. Enfim, eu quero tentar, Nádia. Mas espero que saiba que eu já tenho uma mãe. Duas, na verdade.

Vejo que ela fica um pouco triste com minhas últimas palavras. Mas ela vai ter que entender que minhas mães são aquelas que me trataram e criaram como filha, não que tem meu DNA.

— Eu entendo. Não quero que pense que vim aqui tentar roubar o lugar de alguém. Sei bem o meu lugar, Lily. E sim, eu quero tentar — nós duas sorrimos.

Peço que ela me conte como foi a sua vida em Londres. Nádia conta que a parte difícil foi superar seu trauma. Ela também cresceu sem amor e afeto, então não estava acostumada a ser tratada com amabilidade. Mas diz que o apoio de Charles a manteve firme. Ela faz uma pequena pausa ao citar o nome do marido, mas eu peço para que continue. Meio envergonhada, ela conta sua história e de Charles. É muito bonita, devo admitir. Falamos sobre minha faculdade, contei a ela sobre Mila, minhas mães e meus irmãos. Minha família. Falo sobre como conheci Rafael, sobre nossa história até agora.

Em algum momento estamos rindo de alguns costumes americanos que achamos estranhos. A melhor parte, falamos o tempo todo em árabe. Nem lembro a última vez que falei minha língua materna. Me senti bem. Falo sobre Ali e Kalil, e que eles dois me salvaram do Centro. Não entro em detalhes sobre o Centro ou o orfanato, apenas o necessário. Essa conversa talvez nunca chegue a acontecer entre nós duas. Ficamos conversando até o restaurante fechar, às onze da noite. Nádia e eu nos despedimos com a promessa de um futuro jantar.

A Garota da Fita Vermelha Onde histórias criam vida. Descubra agora