VINTE E DOIS

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◇◇ ◇◇ ◇◇ Rafael ◇◇ ◇◇ ◇◇

Eu fico sozinho na sala por horas. A história que Lily me contou, a sua história, fica se repetindo na minha mente. Imagino ela sozinha esse tempo todo. As coisas que ela foi obrigada a fazer pra ter o básico que todos os seres humanos devem ter. As imagens vem tão vívidas na minha mente que me deixam sem ar. Um ódio sem tamanho que sobe a cabeça. Por todos que a machucaram. Que ousaram maltrata-la. Por toda a merda que a submeteram. Um ódio que vai subindo lentamente pelo meu corpo. Preenchendo minhas veias e bombeando meu sangue mais rápido.

Levanto do sofá sem conseguir ficar parado muito tempo. Meu punho fechado voa contra a parede com força. A dor mal é sentida por causa da adrenalina que toma conta de mim. Imagino aquelas pessoa no lugar da parede. Imagino a Lily sendo levada aquele lugar. Imagino ela presa num cubículo fechado por dias sem nenhuma higiene básica ou comida. Imagino aqueles guardas imundos abusando de garotas inocentes. Crianças. Imagino se já não fizeram isso com a Lily. Imagino ela na sala 19. O quê fizeram com ela lá. As suas cicatrizes. Nunca senti tanto ódio na minha vida. Eu quase consigo ver meu autocontrole ruir aos poucos.

Até que sinto uma mão pequena tocar meu braço, antes que ele atingisse a parede novamente. Outro braço passa por minha cintura e um corpo pequeno se cola às minhas costas. Seu cheiro me invade. Tem um efeito calmamente instantâneo em meu sistema acelerado. Como uma tempestade fria apagando o fogo que quimava meu peito.

- Não faça isso, baby. Vai se machucar - sua voz aveludada ecoa por meus ouvidos.

Apoio os antebraços na parede e encosto a testa contra ela. Tento controlar a respiração e me acalmar completamente antes de me virar para a pequena. Ela continua colada a mim, acariciando lentamente meu abdômen sobre a camisa. Respiro fundo algumas vezes, me sentindo calmo. Passo as mãos machucadas na minha roupa, limpando o excesso de sangue. Então, me viro pra ela.

- Como se sente, pequena? - seguro seu rosto entre as mãos.

- Muito bem. Eu precisava colocar tudo aquilo pra fora. Um peso saiu de cima de mim, Rafa - ela me entrega um sorriso.

- Que bom, meu amor. Aqui, vamos conversar - a levo até o sofá e a sento em meu colo. Ela fica tensa. - Não vou terminar com você, se é isso que está pensando - seu corpo relaxa completamente. - Eu não consigo entender o que você passou. Nunca vou conseguir entender o que você sentiu. Eu não te julgo por nada. Você fez o necessário pra sobreviver e pra manter outras pessoa a salvo. Você é tão incrível que eu nem consigo descrever. Será impossível colocar em palavras o quanto eu te amo. Eu não vou embora, Lily. Nada do que você me disse vai mudar algo entre nós, além da minha admiração e amor que eu já sentia por ti, que agora aumentaram pra caralho.

- Não vai mesmo embora? - ela pergunta com a voz fraca.

- Nunca. Para sempre e depois, pequena.

Ela sorri e beija meus lábios. Eu seguro firme seu rosto contra mim.

- Será que eu posso te fazer uma pergunta? - questiono quando nos separamos.

Ela assente.

- Eles tocaram você? - a tensão toma conta e faz minha mandíbula se contrair fortemente.

Lily desvia o olhar e isso faz meu coração disparar no peito. Seguro seu queixo e ela morde os lábios assentimos. Isso é como um golpe sendo desferido fortemente contra mim.

- Caralho - sinto o tão familiar ódio tentar se apoderar de mim. Mas ela segura meu rosto, acaricia minha pele e beija a ponta do meu nariz.

- Eu ainda era virgem. Sabe, ele usou. . . Hum. . . As mãos - ela gagueja, engolindo em seco.

A Garota da Fita Vermelha Where stories live. Discover now