VINTE E QUATRO

354 26 0
                                    

  ◇◇  ◇◇  ◇◇ Rafael ◇◇  ◇◇  ◇◇

No dia seguinte eu fui visitar a Lily assim que o horário de visita tem início. Margot está no quarto junto com a Lily. Minha pequena está deitada na cama, parece ainda abatida, mas sorri ao me ver.

— Oi, baby. Entra — ela diz. Abraço a Margot e ela se despede com a desculpa de ir até a cafeteria, nos deixando a sós. — Tudo bem?

— Eu te faço a mesma pergunta — rebato, me sentando na poltrona ao lado da sua cama.

— Eu estou bem. Só um pouco fraca ainda. Mas os remédios estão ajudando, logo estarei bem novamente — ela sorri e toca minha mão que descansa no colchão. Uma agulha está enfiada no dorso da sua mão.

— Tenho certeza que sim — retribuo seu gesto e sorrio pra ela. Lily cerra seus olhos dourados pra mim.

— O quê foi?

— O quê foi o quê?

— Não se faça de sonso. Algo está errado com você. Olha, se é por minha causa, sinto muito. Mas eu meio que não controlo essas coisas. Eu não fiz nada que não podia. Simplesmente fiquei com febre. Não é tão incomum, mas passa rápido — algo no modo como ela falou essas palavras me incomoda.

— Não precisa se desculpar por isso. Você pensou o que? Que eu ficaria bravo ou algo do tipo? — ela encolhe os ombros.

— Bem, não sei. Essa é a primeira vez que você me vê assim. Talvez a ficha tenha caído agora.

— Meu Deus. Lily, não é nada disso. Não estou te culpando por nada, muito menos estou bravo com isso. O quê sinto é preocupação. Apenas isso — ela relaxa visivelmente. — Só estou um pouco ansioso pelos próximos jogos. Apenas isso.

— Ah. Tem certeza que é só isso? Sabe que pode contar comigo, não é? Eu literalmente já matei pessoas. Nunca vou te jugar por nada — ela sorri levemente.

— Eu sei. Se algo acontecer, eu te conto — beijo a sua testa, que já não está mais tão quente.

Não acho que seja uma boa ideia contar isso à Lily. Ela já está lidando com outros problemas agora, não preciso despejar os meus sobre ela também. Eu fico com ela no hospital até às 13 horas. Tenho treino a essa hora até às 15 horas. Lily me avisou que tem uma pequena consulta em grupo com um psicólogo, que sempre fica no hospital. Ou seja, ela disse que, se eu quiser visitá-la, é melhor vir depois das quatro.

O lado bom de toda essa situação — se é que tem um lado bom — é que eu já faço acompanhamento psicológico desde que era criança. Então vou apenas acrescentar um problema ao meu psicólogo e esperar que ele me ajude. É isso. Então eu terei toda essa ansiedade sob controle. Quando for contar isso à Lily, tudo já estará bem.

Eu preciso admitir que as próximas semanas se passam voando. Os treinos dão uma pequena pausa para as festas de fim de ano. Eu agradeço mentalmente por isso. Estou mais nervoso do que o habitual. Já participei de todas as competições que estão por vir, e nunca fiquei desse jeito. Além de toda essa tensão que me corrói, uma irritabilidade insiste em não me deixa em paz. Sinto como se eu tivesse uma linha tênue entre o autocontrole e a completa falta dele.

Estou irritado por algo que nem seu o que é. Não consigo controlar essa raiva. Desconto tudo isso em treinos longos e exaustivos. Gasto toda a energia que consigo, para tentar não usá-la pra destratar alguém que não tem culpa de nada. Continuo o treino de hoje. Deixo a música me distrair e tentar acalmar minha mente agitada. Durante uma pequena pausa entre um exercício e outro, vejo uma sombra se aproximar. O sorriso suave dela me pega desprevenido. Retiro os fones.

A Garota da Fita Vermelha Where stories live. Discover now