VINTE

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  ◇◇  ◇◇  ◇◇ Rafael ◇◇  ◇◇  ◇◇

Lily mexe freneticamente a perna no chão. Seus dedos se contorcem um no outro e seus lábios se mordem nervosamente. Apoio a minha mão na sua coxa, a fazendo cessar o movimento. Ela me olha.

— Relaxe, meu amor. Não vou jogá-los pela janela ou algo do tipo. Vai dar tudo certo — a tranquilizo.

Lily assente e se vira pra frente. Kalil chegou há algumas horas. Os três se encontraram e relembraram os velhos tempos, à tarde. Agora à noite, irei encontrá-los pela primeira vez. Estou tranquilo, diferente da garota ao meu lado. Mesmo não tendo gostado muito dos efeitos que a chegada de Ali causou na pequena, sei que eles são importantes pra ela e que aquilo só aconteceu uma vez.

— Eles chegaram — ela anuncia.

Vejo Ali entrando no restaurante acompanhando de uma rapaz pouco mais baixo do que ele. Os dois nos localizam e sorriem ao se aproximar. Vejo os dois andarem de mãos dadas e deduzo que namoram ou são casados. Acho que namoram, já que não vi nenhuma aliança quando apertei suas mãos. Por todo almoço, percebo que ambos são gentis e parecem ter uma boa amizade com a Lily. O quê mais me chama atenção é que nenhum deles fala nada sobre o passado.

Fiz alguns comentários estratégicos sobre algum momento da minha infância ou adolescência, esperando eles falarem a mesma coisa. Mas eles não o fizeram. Apenas comentavam que não era igual ou que nunca tinham feito tal coisa. Isso me deixou um pouco intrigado. Lily também não comentou nada sobre a relação passada que tinha com eles. Quando eu conheço amigos dos meus amigos, eles falam como se conheceram ou de histórias que já passaram. Mas esses três agem como se nada tivesse acontecido. Isso me irrita um pouco.

Ao final do almoço, nos despedimos e caminhamos em direções diferentes. Assim que Lily e eu paramos entre nossos carros, ela diz:

— Por que fez aquilo?

— Fiz o quê?

— Aquelas perguntas inconvenientes sobre a infância ou adolescência. Sobre como nos conhecemos ou sobre alguma coisa que já fizemos.

— Eu queria saber mais sobre vocês.

— Não percebeu que deixou nós três desconfortáveis? Achei as respostas evasivas seriam pista suficiente pra você parar de questionar. Mas não. Você continuou uma segunda vez, terceira, quarta e por todo o almoço.

— Me desculpe, não devia ter feito aquilo.

Ela respira fundo e eu percebo que está irritada. Por algum motivo, isso me deixa irritado.

— Eu não teria feito aquelas perguntas se você me contasse alguma coisa — digo.

Seus olhos dourados se voltam para mim e ela parece surpresa.

— Está dizendo que a culpa é minha pela sua inconveniência e falta de bom senso?

— Sim! — explodo. — Estamos juntos há quase um ano e você ainda nem me contou sobre nada do seu passado. Eu já te falei tudo sobre mim, você sabe de tudo e às vezes eu sinto que nem te conheço.

— É claro que você me conhece. Nós conversamos por horas e horas e te conto tudo que acontece.

— Eu conheço a Lily, mas não tenho ideia de quem Aisha seja — minhas palavras a deixam muda.

— Não me chame assim — ela sibila. — Não tem ideia do que aconteceu e do quão difícil isso é pra mim.

— Eu sei que já te contei coisas extremamente dolorosas também. Foi difícil pra caralho e eu te contei assim mesmo. Por que você não faz o mesmo?

A Garota da Fita Vermelha Where stories live. Discover now