Prólogo

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O jogo tinha acabado de terminar. Depois de mais uma incrível vitória, o time comemorou no vestiário como loucos. Toda a torcida já tinha ido embora, restava apenas nós do time. É tarde da noite e já estamos todos saindo da arena onde o jogo ocorreu. Todos estão animados, pois esse foi o último jogo da competição internacional e nós ganhamos. Os caras estão animados tanto pela vitória quanto pela folga que teremos até o próximo jogo.

— Ei, De Luca! Não se atrase para a festa — um dos caras grita para mim, sendo acompanhado pelos outros.

Sorrio e assinto com a cabeça.

— Acha mesmo que vou me atrasar para um festa? — provoco, passando o braço pelo ombro do Kevin.

Um deles começa a falar alguma coisa, mas minha atenção é tomada para um corpo pequeno sentado no chão da parte exterior da arena. Me desevencilho dos braços dos caras e digo para eles irem na frente. Caminho a passos cautelosos até a garota, mas apresso o ritmo ao vê-la cair.

—Ei! Você está bem? — pergunto ao me abaixar perto dela.

Mesmo estando de noite, as luzes que iluminam o exterior da arena batem em seu rosto, deixando seus olhos chamativos. Me perco um pouco na beleza dos seus olhos e na delicadeza dos seus traços, mas volto à realidade ao ver as lágrimas grossas escorrendo por seu rosto.

— O quê aconteceu? Você precisa de alguma ajuda? — pergunto as primeiras coisas que me vem à mente. Não sei bem como agir.

— Sim, sim, me ajude — ela pede entre soluços.

— Espere, tente se acalmar primeiro, sim? Apenas. . . Respire fundo. Assim — puxo uma lufada de ar e custa um pouco para ela repetir o que eu fiz.

Mas depois de um tempo, ela se acalma. As lágrimas ainda escorrem em abundância pelo sei rosto e pequenos soluços ainda escapam, mas ela está mais calma.

— Pode me dizer seu nome? — mantenho minha voz calma.

Os olhos custam um pouco a voltar para meu rosto e, mesmo quando o fazem, parecem perdidos. Então reparo nas suas pupilas dilatadas, o rosto corado e os olhos levemente vermelhos. Minha teoria se concretiza ao inspirar o ar ao seu redor e sentir um forte cheiro de álcool. Ela está bêbada.

— Eu não sei — ela murmura.

Suspiro, pensando no que fazer.

— Você tem um celular com você? — ela assente e meio desajeitada pega um aparelho do bolso.

Para a minha sorte, não tem senha nenhuma, então desbloqueio a tela e vou para os últimos contatos que ela usou. Mamãe. Clico nesse contato e espero a chamada ser atendida. Fico feliz quando a chamada é atendida no segundo toque e uma voz feminina começa a falar desesperada.

Minha filha! Aonde você está, querida? Você está bem? Volte para casa.

Ah, desculpe. Eu encontrei uma garota aqui e liguei para o primeiro número que tinha na discagem rápida — explico.

Onde está minha filha?

Eu acho que bem na minha frente.

Onde vocês estão?

Na Staples Center — digo.

Por favor, me espere aí, eu já estou chegandopede.

— Tudo bem. Ficarei aqui — garanto. Ela agradece várias vezes e desliga.

Entrego o celular de volta para a garota e ela o guarda de volta no bolso do seu vestido. Ela se encolhe no chão e continua a chorar. Meio perdido, me pergunto o que fazer.

— Você quer conversar? — pergunto como um idiota.

Ela ergue os olhos para mim e funga. Não posso deixar de sorri pela sua aparência fofa.

— Eu acabei de ter o pior dia da minha vida — ela diz. — Eu não sei mais o que fazer. É como se tudo perdesse sentido de uma hora para a outra. Agora não tenho mais motivos para continuar — ela diz com a voz meio arrastada.

— Sinto muito pelo que quer que esteja acontecendo com você agora. Mas não desista. Todo mundo tem seus dias sombrios, você só precisa encontrar uma luz que te tire desse dias — faço uma careta ao escutar minhas próprias palavras.

— Não acho que exista uma luz capaz de iluminar essa escuridão.

— Eu tenho certeza que você vai encontrar essa luz. A vida é feita de equilíbrio. Nunca vai ficar completamente escuro nem totalmente claro, sempre vai ter algo para balancear. Logo você vai sair desses dias sombrios.

Ela foca seus olhos em mim. As lágrimas pararam de escorrer e os soluços cessaram. Ela parece sonolenta agora. A morena se abraça, como que tentando escapar do frio. Retiro minha jaqueta e coloco sobre seus ombros. Sorrio ao ver que ela quase some sob o tecido escuro. Então ela encaixa seus braços na jaqueta e tomba a cabeça no meu ombro. Fico surpreso, mas aí eu lembro que está bêbada e não deve fazer ideia do que está fazendo.

Para não parecer um idiota, passo um dos meus braços ao redor das suas costas e a garota se aconchega mais a mim. Essa sensação é estranhamente reconfortante. Ela fica em silêncio e eu não tenho puxar conversa. Até que eu ouço ela ressoar baixinho. Ela dormiu. Tento conter a risada ao analisar a estranheza da situação.

Ao voltar meus olhos para cima, vejo duas mulheres tentando entrar na arena, mas são barradas pelos seguranças. Não posso gritar, por que vai acordar a garota; e não vou deixar ela aqui sozinha e ir até lá, seria estupidez. Então recorro à última opção. Pego a garota no colo e começo a caminhar até os portões da arena. O rosto bonito ainda está com os rastros de lágrimas, mas agora está sereno, parecendo estar em um sono tranquilo.

Assim que as duas mulheres me veem pelas grades, tentam passar pelos armários ambulantes.

— Tudo bem, estão comigo — informo baixinho aos seguranças, sem querer acordar a garota.

Eles assentem e permitem a entrada das mulheres. Ambas correm até mim.

— Ah, minha menina — reconheço a voz que falou pelo telefone.

— Obrigado por ter-nos chamado. Estávamos preocupadas com ela — a outra mulher fala mais calma.

— Sem problemas. Olha, eu posso levá-la até o carro de vocês, se quiserem — ofereço.

As duas assentem e me encaminham até um carro preto e espaçoso. Uma das mulheres abre a porta de trás e me dá espaço para colocar sua filha no carro. Apoio meu corpo com o joelho e me inclino para frente, tentando colocar a garota no assento de couro cinza. Ela resmunga e faz uma careta fofa, se prendendo a mim. Tento não sorri e falho. Depois de tentar mais uma vez, consigo colocá-la no banco e em uma posição confortável.

— Obrigada mais uma vez. Não sei o que faríamos se você não tivesse achado ela.

— Está tudo bem. Mas ela está com cheiro de álcool, não acho que esteja bem. Sei que não é da minha conta, mas ela não parece bem. Disse que não encontra mais motivos para continuar e que nada faz mais sentido. Achei melhor lhe dizer — informo.

Os olhos da mulher de cabelos loiros dourados brilham em lágrimas, enquanto a outra mulher de cabelos loiros mais claros lhe conforta.

— Obrigada por nos informar. Seremos eternamente gratas — a loira mais clara fala.

— Espero que ela fique bem — as palavras saem mais sinceras do que eu esperava.

Elas sorriem pequeno e entram no  veículo. Pela janela da porta de trás, vejo a garota dormindo. Só agora reparo na fita vermelha que prende seus grandes cabelos castanhos. O carro logo começa a andar e se afasta de mim. Devia ter perguntado o nome dela às duas mulheres.

Só quando chego em casa naquela noite é que me lembro:

Minha jaqueta.

A Garota da Fita Vermelha Onde histórias criam vida. Descubra agora