OLÍVIA POTTER [5]

By _autorah_

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▻ Depois de um verão tenso, marcado pela cicatrizes do retorno de Lord Voldemort, Olívia Lílian Potter se pre... More

OLÍVIA POTTER E A ORDEM DA FÊNIX
𝙻𝙸𝚅𝚁𝙾 𝙲𝙸𝙽𝙲𝙾
𝙿𝙰𝚁𝚃𝙴 𝚄𝙼
1 - O retorno à Rua Crowford
2 - A mansão no condado de Kent
3 - As piores lembranças nunca dormem
4 - Um perfeito dia para visitas
5 - A viagem de vassoura
6 - A Ordem da Fênix
7 - O primeiro jantar no largo
8 - Joshua Richard Burnier
10 - "Beijinhos."
11 - Calada da Noite
12 - O Bicho-Papão
13 - Pseudo... o quê?
14 - Entre xingamentos e ofensas
15 - Como quando eu era criança
16 - Um dia normal e um dia ruim dá no mesmo
17 - "Não devo contar mentiras"
18 - E o jogo virou
19 - Um conto de duas abóboras
20 - Quirrell foi um professor incrível
21 - Aquele em que Olívia não tem culpa
22 - E, em algum momento, tudo há de desabar
23 - Lista de idiotas a menos (ou quase) de Hogwarts
24 - O início de algo grande
25 - O decreto da Alta Inquisidora
26 - Armada de Dumbledore
27 - Declínio
28 - O cemitério de Little Hangleton
𝙿𝙰𝚁𝚃𝙴 𝙳𝙾𝙸𝚂
29 - Um jogo desastroso
30 - A historinha de Hagrid
31 - "Eu vou perder a aposta"
32 - Gritos, beijos e suco de uva
33 - Largo doce largo
34 - Os lírios de Natal
35 - Fuga Noturna
36 - "Eu quero respostas"
37 - Menor de idade, tá... e daí?
38 - O Salão Comunal da Corvinal
39 - Antes tarde do que nunca
40 - Expecto Patronum
41 - Fogos, explosões e memórias
42 - Uma fuga à moda Weasley
43 - O choro do elfo doméstico
44 - N.O.M.s
45 - A primeira missão da AD
46 - Departamento de Mistérios
47 - A voz do Equilíbrio
48 - O Véu da Morte
49 - A segurança vem antes da garantia de felicidade
50 - O que estava faltando
OLÍVIA POTTER [6]

9 - A ovelha branca da família Black

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By _autorah_

Essa casa tem mais adolescentes do que pragas.

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— Por que você acordou tão cedo? — Audrey reclamou para Olívia, que tinha sido a responsável por acordar todas no quarto.

— Ah, fala sério, eu passei esse mês inteiro lendo livros, trocando fraldas e impedindo uma criança de um ano de quebrar o pescoço, querida, estou ansiosa para brincar de Cinderela. — Olívia se defendeu, animada.

— Que livros você leu? — Hermione se interessou em saber.

Segundo a Sra. Weasley, a infestação de fadas mordentes da sala de visitas no primeiro andar era mais séria do que ela previra, então, obviamente, todos teriam que ajudar. Meia hora depois, todos já estavam na sala de visitas, um aposento comprido de teto alto, com paredes verde-oliva cobertas por tapeçarias sujas. O tapete soltava nuvenzinhas de poeira cada vez que alguém pisava nele, e as longas cortinas de veludo verde-musgo zumbiam como se nelas houvesse enxames de abelhas invisíveis. Todos estavam com caras estranhas, pois usavam um pano amarrado sobre o nariz e a boca. Cada um deles segurava um garrafão de líquido preto com um esguicho no bocal.

— Apanhem um borrifador. — Disse a Sra. Weasley, apontando para mais quatro garrafões cheios de um líquido preto, em cima de uma mesa de pernas finas. — É Fadicida. Nunca vi uma infestação tão séria: que será que o elfo doméstico desta casa andou fazendo nos últimos dez anos...

O rosto de Hermione estava semioculto por uma toalha, mas Olívia notou perfeitamente o olhar de censura que ela lançou à Sra. Weasley.

— O Monstro está muito velho e provavelmente não pôde...

— Você ficaria surpresa com o que o Monstro pode fazer quando quer, Hermione. — Disse Sirius, que acabara de entrar na sala trazendo uma saca ensanguentada que parecia conter ratos mortos. — Estive alimentando o Bicuço. Guardo-o lá em cima no quarto da minha mãe. Em todo o caso... essa escrivaninha...

Ele largou a saca de ratos em uma poltrona, depois se curvou para examinar o armário trancado, que, curiosamente, estava vibrando.

— Bom, Molly, tenho certeza de que isso é um bicho-papão. — Disse Sirius, espiando pelo buraco da fechadura. — Mas talvez fosse bom o Olho-Tonto dar uma espiada antes que o soltemos: conhecendo minha mãe, pode ser coisa muito pior.

— Você tem razão, Sirius. — Disse a Sra. Weasley.

Ambos se falavam em um tom intencionalmente leve e educado, o que era prova suficiente de que nenhum dos dois esquecera os insultos da noite anterior. Uma campainha forte e ressonante tocou no térreo, seguida imediatamente pela cacofonia de berros e guinchos que na noite anterior haviam sido provocados por Tonks ao derrubar o porta-guarda-chuvas.

— Vivo dizendo a eles para não tocarem a campainha! — Exclamou Sirius exasperado e saiu correndo da sala. Ouviram-no descer com estrondo as escadas, ao mesmo tempo que os guinchos da Sra. Black ecoavam mais uma vez por toda a casa.

"Símbolos da desonra, mestiços sórdidos, traidores do próprio sangue, filhos da imundície..."

— Por favor, feche a porta, Harry, querido. — Pediu a Sra. Weasley.

Olívia, que estava relativamente próxima da saída também, ao lado de Hermione, deu uma série de lentos passos para trás até ser capaz de ouvir o que estava acontecendo do lado de fora. Harry, que obviamente pretendia fazer o mesmo, pegou na maçaneta e começou a empurrar a porta à velocidade de uma lesma depressiva.

— Héstia acabou de me substituir, a capa de Moody ficou com ela, mas eu gostaria de deixar um relatório para o Dumbledore... — Olívia reconheceu a voz grave de Quim Shacklebolt, depois de Sirius finalmente conseguir cobrir o retrato de sua mãe.

Olívia olhou rapidamente por cima do ombro. A Sra. Weasley os estava encarando. Harry logo fechou a porta.

— Substituir em quê? — Olívia sussurrou quando voltaram aos seus lugares originais.

— Não pode ser ronda, se estamos aqui, pode? — Harry cochichou de volta, fingindo estar muito ocupado analisando o recipiente do Fadicida.

— Então...

— Silêncio! — Ralhou a Sra. Weasley, olhando para os dois com cara feia. — Preciso me concentrar.

Ela então curvou-se para consultar a página sobre as fadas mordentes no Guia de pragas domésticas de Gilderoy Lockhart, aberto sobre o sofá.

— Certo, meninos, vocês precisam ter cuidado, porque as fadas mordentes mordem e os dentes delas são venenosos. Tenho um vidro de antídoto aqui, mas preferiria que ninguém precisasse usá-lo.

Ela endireitou o corpo, tomou posição bem diante das cortinas e fez sinal para os garotos avançarem.

— Quando eu mandar, comecem a borrifar imediatamente. Elas vão voar pra cima de nós, imagino, mas segundo as instruções do Fadicida, uma boa esguichada pode paralisá-las. Quando isto acontecer é só atirá-las neste balde.

A Sra. Weasley saiu cuidadosamente da linha de fogo dos garotos e ergueu o próprio garrafão.

— Muito bem... agora!

A fada mordente que veio na direção de Olívia tinha as asas cintilantes como as de um besouro, os dentinhos afiados à mostra e o corpo coberto de espessos pelos pretos e os quatro punhos miúdos apertados com fúria. Olívia achou-a adorável. Ela pulou para trás e acertou na fada uma quantidade exagerada de Fadicida, fazendo-a parar no ar e cair sobre o tapete puído que cobria o chão, com um baque surpreendentemente forte.

— É, foi mal, querida, a casa não é sua. — A garota recolheu-a e depositou-a no balde.

— Fred, que é que você está fazendo?— Perguntou a Sra. Weasley com aspereza. — Borrife logo e jogue essa coisa fora.

Fred segurava entre o indicador e o polegar uma fada que se debatia.

— Fred! — Audrey exclamou, irritada. — Pare! Ela está assustada!

— Certo. — Respondeu Fred animado, borrifando depressa a cara da fada para fazê-la desmaiar, mas, no instante em que a Sra. Weasley virou as costas, ele a enfiou no bolso com uma piscadela.

— Queremos testar o veneno das fadas mordentes para o nosso kit Mata-Aula. — Murmurou ele em explicação, quando Audrey lhe lançou uma cara muito, muito feia.

— Não faça mal a ela.

— A fada tem veneno e você está dizendo para eu não fazer mal a ela? — Fred questionou, rindo.

— Ela tem veneno pra se defender de debilóides como você.

Rony caiu na gargalhada depois disso

Borrifando com perícia, e ao mesmo tempo, duas fadas que voavam para o seu nariz, Olívia se virou para Jorge, que estava ao seu lado enfiando outra fadinha no bolso, e perguntou:

— Kit Mata-Aula?

— Um kit com docinhos para deixar o aluno doente. — Sussurrou Jorge, mantendo um olho preocupado
nas costas da Sra. Weasley. Harry também estava ouvindo, curioso. — Não é doente para valer, entenda, só o suficiente para o cara sair da sala de aula na hora que quiser. Fred e eu estivemos fazendo experiências nessas férias. São de mastigar e têm extremidades de cores diferentes. Se o cara come a metade laranja da Vomitilha, ele vomita. Na hora em que for levado depressa para a ala hospitalar, ele engole a metade roxa...

— ... que "restaura o seu bem-estar e lhe permite curtir a atividade que escolher durante aquela hora que, do contrário, seria ocupada por um tédio inútil". Pelo menos é como estamos anunciando. — Cochichou Fred, que havia se aproximado para fugir da linha de visão da Sra. Weasley e agora ia varrendo algumas fadas dispersas e guardando-as no bolso.

Os olhos de Olívia brilharam.

— Isso é simplesmente brilhante! — Ela exclamou. — Vocês têm razão, não precisam da escola para serem gênios. Só não deixem a Hermione descobrir isso.

— Quando ficarmos famosos, ela vai. — Fred riu.

— Mas ainda é preciso um pouco de pesquisa, sabe. No momento, os nossos provadores ainda têm achado meio difícil parar de vomitar o tempo suficiente para comer a parte roxa.

— Provadores?

— Nós. — Explicou Fred. — Nós nos revezamos. Jorge provou as Fantasias Debilitantes, nós dois experimentamos o Nugá SangraNariz...

— Mamãe pensou que a gente tivesse andado duelando. — Disse Jorge.

— Mas então ficamos sabendo hoje de manhã que o Josh chega à noite. — Fred riu. — Vai ser ótimo, entende, precisamos de uma cobaia nova.

— Aposto que ele vai adorar saber disso. — Olívia disse, sarcástica.

— Ah, por Merlim, não podem usar o Josh como cobaia. — Audrey exclamou como se fosse óbvio.

— Por que não? — Os gêmeos e Olívia perguntaram ao mesmo tempo. Audrey revirou os olhos e preferiu não responder.

— A Loja de Logros e Brincadeiras ainda está valendo, então? — Murmurou Harry, fingindo ajustar o esguicho do borrifador.

— Bom, ainda não tivemos chance de arranjar um local. — Disse Fred, baixando ainda mais a voz, enquanto a Sra. Weasley enxugava a testa com a echarpe para voltar ao ataque. — Por isso estamos operando na base de remessas postais, por enquanto. Pusemos anúncios no Profeta Diário na semana passada.

Harry, que havia dado a eles os mil galeões do prêmio do Torneio Tribruxo, deu um sorriso satisfeito.

— Tudo graças a você, cara. — Disse Jorge. — Mas não se preocupe... mamãe não tem a menor ideia. Ela não lê mais o Profeta Diário porque anda contando mentiras sobre vocês dois e Dumbledore.

Ela achava que dirigir uma loja de logros e brincadeiras não era uma carreira digna para os dois filhos, embora Olívia pensasse que a mulher estava cruelmente enganada.

— Ela vai mudar de ideia quando vocês dois ficarem ricos. — Olívia garantiu, piscando para os dois antes de se aproximar da cortina do lado oposto para ajudar Hermione.

A desfadização das cortinas ocupou a maior parte da manhã. Já passava de meio-dia quando a Sra. Weasley finalmente tirou a echarpe que a protegia, deixou-se cair em uma poltrona com as molas afundadas e de repente levantou-se outra vez, soltando um grito de nojo, pois se sentara em cima da saca de ratos mortos. As cortinas haviam parado de zumbir; pendiam moles e úmidas com o intenso borrifamento. No balde aos pés deles, jaziam amontoadas as fadas mordentes paralisadas, ao lado de uma bacia com seus ovos negros; Bichento agora os farejava e Fred e Jorge lançavam olhares de cobiça.

— Acho que vamos cuidar daqueles depois do almoço. — A Sra. Weasley apontou para os armários de portas de vidro empoeiradas a cada lado do console da lareira. Estavam abarrotados com uma estranha variedade de objetos: uma coleção de adagas enferrujadas, garras, uma pele de cobra enrolada, algumas caixas de prata oxidada com inscrições em línguas estranhas e, o mais desagradável de todos, uma garrafa de cristal lapidado com uma grande opala engastada na rolha, contendo o que parecia muito ser sangue.

— Os pais do Sirius realmente tinham um ótimo gosto. — Ela comentou, jogando-se no outro lado do sofá empoeirado.

A campainha barulhenta da porta tornou a soar. Todos olharam para a Sra. Weasley.

— Fiquem aqui. — Disse ela com firmeza, agarrando a saca de ratos na hora em que recomeçavam os gritos da Sra. Black no andar de baixo. — Vou trazer uns sanduíches.

Saiu da sala, fechando cuidadosamente a porta ao passar. Na mesma hora, todos acorreram à janela para espiar a entrada. Viram o cocuruto de alguém de cabelos ruivos e malcuidados e uma pilha de caldeirões precariamente equilibrados.

— Mundungo! — Exclamou Hermione. — Para que será que ele trouxe todos aqueles caldeirões?

— Provavelmente está procurando um lugar seguro para guardá-los. — Disse Harry. — Não era isso que estava fazendo na noite em que devia estar me seguindo? Apanhando caldeirões suspeitos?

— É, você tem razão! — Disse Fred, quando a porta de entrada foi aberta; Mundungo entrou com o carregamento de caldeirões e desapareceu de vista. — Caramba, mamãe não vai gostar disso...

Ele e Jorge foram até a porta e pararam para escutar. Os berros da Sra. Black haviam parado.

— Mundungo está conversando com o Sirius e o Quim. — Murmurou Fred, franzindo a testa concentrado.

— Não dá para ouvir nada. — Olívia reclamou. — E se vocês pegassem as Orelhas Extensíveis?

— Talvez valha a pena. Eu podia ir escondido até lá em cima e apanhar um par...

Mas naquele exato momento ouviram tal explosão sonora no térreo que as Orelhas Extensíveis se tornaram dispensáveis. Todos puderam ouvir exatamente o que a Sra. Weasley estava berrando a plenos pulmões.

— NÃO ESTAMOS OPERANDO UM ESCONDERIJO PARA OBJETOS ROUBADOS!

— Adoro ouvir mamãe gritando com os outros. — Disse Fred, com um sorriso de satisfação no rosto, abrindo uma fresta na porta para permitir que a voz da Sra. Weasley entrasse melhor pela sala. — É muito bom para variar!

— ... COMPLETAMENTE IRRESPONSÁVEL, COMO SE NÃO TIVÉSSEMOS O BASTANTE PARANOS PREOCUPAR SEM VOCÊ TRAZER CALDEIRÕES ROUBADOS PARA DENTRO DA CASA...

— Os idiotas estão deixando ela ganhar impulso. — Comentou Jorge, sacudindo a cabeça. — É preciso cortar logo o papo dela, senão vai se enchendo de vapor e não para mais. E anda doida para ter uma chance de desancar o Mundungo, desde que ele saiu escondido quando devia estar seguindo você, Harry... e lá vai a mãe do Sirius outra vez.

A voz da Sra. Weasley foi abafada pelos novos guinchos e gritos dos retratos no corredor. Jorge fez menção de fechar a porta para abafar o barulho, mas, antes que pudesse fazê-lo, um elfo
doméstico esgueirou-se para dentro. Exceto pelo trapo imundo amarrado como uma tanga nos quadris, ele estava completamente nu. Parecia muito velho. Sua pele dava a impressão de ser maior do que o corpo e, embora fosse careca, como todos os elfos domésticos, uma boa quantidade de pelos brancos saía de suas orelhas enormes como as de um morcego. Seus olhos injetados eram de um cinzento aquoso e seu nariz, bulboso, grande e meio trombudo. O elfo não prestou a menor atenção neles, agindo como se não pudesse vê-los, avançou arrastando os pés, o corpo curvado, mas lenta e decididamente, para o fundo do aposento, resmungando baixinho numa voz rouca e sonora como a de uma rã-touro.

— ... cheira a esgoto e ainda por cima criminoso, mas ela não é melhor, traidora perversa do próprio sangue com esses pirralhos que emporcalham a casa da minha senhora, ah, minha pobre senhora, se ela soubesse, se soubesse a ralé que deixaram entrar em sua casa, que é que ela diria ao velho Monstro, ah,
que vergonha, sangues-ruins e lobisomens e traidores e ladrões, coitado do velho Monstro, que é que ele pode fazer...

— Olá, Monstro. — Disse Fred em voz muito alta, fechando a porta com um estalo.

O elfo doméstico ficou imóvel, parou de resmungar, e encenou um sobressalto muito forte e pouco convincente.

— Monstro não viu o jovem senhor. — Disse, virando-se e fazendo uma reverência para Fred. Ainda com os olhos no tapete, acrescentou, em tom perfeitamente audível: — É um pirralho desagradável e traidor do próprio sangue, sim.

— Desculpe? — Disse Jorge. — Não entendi essa última parte.

— Monstro não disse nada. — Repetiu o elfo, com uma segunda reverência, e acrescentou em um claro murmúrio: — E aqui temos os gêmeos, ferinhas desnaturadas que são.

Olívia franziu a testa, intrigada. Ela nunca conhecera um elfo que insultasse os hóspedes da sua casa. Nunca conhecera nenhum elfo além de Dobby (e da ela faz do Bartô Crouch, Winky), na verdade, mas, ainda assim, o comportamento lhe parecia estranho. Monstro se endireitou, olhando-os malignamente e, pelo jeito, convencido de que os garotos não podiam ouvi-lo continuar a resmungar.

— ... e olhem a Sangue ruim, parada ali insolente, ah, se a minha senhora soubesse, ah, como iria chorar, e do lado dela aquela mestiça impura... e tem dois garotos novos, Monstro não sabe quem eles são. Que é que eles estão fazendo aqui? Monstro não sabe...

— Este são Olívia e Harry Potter, Monstro. — Disse Hermione, hesitante.

Os olhos claros de Monstro se arregalaram e ele resmungou mais depressa e mais furioso que nunca.

— A Sangue ruim está falando com Monstro como se fosse minha amiga, se a senhora de Monstro o visse em tal companhia, ah, o que iria dizer...

— Não chame Hermione de Sangue ruim! — Disseram ao mesmo tempo Rony, Audrey e Gina, muito zangados.

— Não tem importância. — Sussurrou a garota e Audrey logo revirou os olhos, contrariada. — Ele não bate bem da cabeça, não sabe o que está...

— Não se engane, Hermione, ele sabe exatamente o que está dizendo. — Falou Fred, encarando Monstro com grande aversão.

— Não me admira, considerando o tipo de gente que morava aqui. — Audrey bufou, cruzando os braços.

— Mas ele não tem culpa! — Hermione exclamou, irritada.

— Ninguém é obrigado a gostar dele por causa da sua nobre causa de libertação dos elfos...

— A mestiça nojenta acabou de...

— Já chega, Monstro. — Rony interrompeu.

Monstro continuava resmungando, mas dessa vez com os olhos fixos em Harry, apenas.

— É verdade? Esse é o Harry Potter? Monstro está vendo a cicatriz, deve ser verdade, foi o garoto que deteve o Lorde das Trevas, Monstro queria saber como foi que ele fez...

— E não queremos todos, Monstro? — Falou Fred.

Então Monstro encarou Olívia, que tinha dado as costas e agora observava distraidamente os objetos de herança da família Black através do vidro do armário.

— A garota Potter, Monstro não sabia que estava viva, Monstro ouviu que ela tinha morrido junto com o pai traidor de sangue e a sangue ruim da...

— Cale a boca! — Harry mandou, enraivecido.

— É, e converse com ela depois, ela é um doce de menina. — Fred contou, risonho. — Voltou dos mortos...

— ... é uma lenda que ressuscitou. — Jorge completou dramaticamente. Olívia revirou os olhos. — Mas, afinal que é que você está querendo aqui, Monstro?

— Monstro está limpando. — Respondeu, fugindo à pergunta.

— Dá mesmo para acreditar! — Disse uma voz atrás deles.

Sirius voltara; da porta, olhava aborrecido para o elfo. O barulho no corredor diminuíra; talvez a Sra. Weasley e Mundungo tivessem transferido a discussão para a cozinha. Ao ver Sirius, Monstro mergulhou em uma reverência ridiculamente profunda que achatou o seu nariz trombudo no chão.

— Fique em pé direito. — Disse Sirius impaciente. — Agora, que é que você está aprontando?

— Monstro está limpando. — Repetiu o elfo. — Monstro vive para servir a nobre casa dos Black...

— Que está ficando cada dia mais preta, está imunda.

Definitivamente, Sirius não venceria o prêmio de dono do ano.

— Meu senhor sempre gostou de brincar. — Disse Monstro, curvando-se outra vez, e continuando a murmurar: — O senhor sempre foi um porco mau e ingrato que partiu o coração de sua mãe...

— Minha mãe não tinha coração, Monstro. — Retorquiu Sirius. — Sobrevivia de puro rancor.

Monstro tornou a se curvar e falou:

— O que o senhor disser... O senhor não é digno de limpar a lama das botas de sua mãe, ah, minha pobre senhora, que diria se visse Monstro servindo esse filho, que odiava tanto, que desapontamento teve com ele...

— Perguntei o que estava aprontando. — Falou Sirius com a voz cortante. — Todas as vezes que você aparece fingindo que está limpando, esconde alguma coisa no seu quarto para não podermos jogá-la fora.

— Monstro nunca tiraria nada do seu lugar na casa do senhor. — Disse o elfo, e então murmurou depressa: — A senhora jamais perdoaria Monstro se a tapeçaria fosse jogada fora, faz sete séculos que está na família, Monstro precisa salvá-la, Monstro não vai deixar que o senhor e os traidores do próprio sangue e seus pirralhos a destruam...

— Achei que talvez fosse isso. — Respondeu Sirius, lançando um olhar desdenhoso à parede oposta. — Ela deve ter posto mais um Feitiço Adesivo Permanente atrás da peça, não duvido nada, mas se houver um jeito com certeza vou me livrar dela. Agora, vá embora, Monstro.

Aparentemente Monstro não ousava desobedecer a uma ordem direta, contudo o olhar que lançou ao passar por Sirius arrastando os pés era do mais profundo desprezo, e ele saiu resmungando sem parar.

— ... volta de Azkaban dando ordens a Monstro, ah, minha pobre senhora, que diria se visse a casa agora, habitada por uma ralé, tesouros atirados no lixo, minha senhora jurou que ele não era mais seu filho, mas ele voltou, dizem que também é assassino...

— Continue a resmungar e vou virar mesmo assassino! — Disse Sirius irritado, batendo a porta na cara do elfo.

— Quanta delicadeza. — Olívia comentou, encarando-o com uma expressão surpresa. De fato, destratar elfos não era bem uma coisa que esperava que Sirius fizesse.

— Ele não merece um pingo de delicadeza.

— Sirius, ele não está com o juízo perfeito — Hermione defendeu-o. — Acho que não tem consciência de que podemos ouvi-lo.

— Ele passou tempo demais sozinho. — Disse Sirius. — Recebendo ordens malucas do retrato de minha mãe e sem ter com quem falar, mas sempre foi safado...

— E se você o libertasse... — Sugeriu Hermione esperançosa. — ... quem sabe...

— Não podemos libertá-lo, ele sabe demais sobre a Ordem. — Disse Sirius secamente. — De qualquer modo, o choque o mataria. Proponha a ele ir embora dessa casa, e veja a reação.

Sirius atravessou a sala até onde estava pendurada a tapeçaria que Monstro tentara proteger, ocupando toda a parede. Olívia e os outros o seguiram. A tapeçaria parecia imensamente velha; desbotada e, pelo aspecto, as fadas mordentes a haviam roído em alguns pontos. Mesmo assim, o fio de ouro com que fora bordada conservava brilho suficiente para mostrar uma enorme árvore genealógica que remontava (até onde ela pôde ver) à Idade Média. Bem no alto da tapeçaria, lia-se em grandes letras:

A Mui Antiga e Nobre Casa dos Black
"Toujours pur"

— Sempre puro. — Olívia traduziu, observando a tapeçaria com admiração. — É muito bonita.

— É um lixo. — Sirius resmungou.

— É um lixo de muito bom gosto. — Olívia olhou para Audrey para ser apoiada em sua opinião, mas a loira olhava para a tapeçaria com tanto desgosto quanto Sirius.

— Você não está aí! — Admirou-se Harry, depois de examinar a parte inferior da árvore.

— Costumava estar aqui. — Respondeu Sirius, apontando para um buraquinho redondo e carbonizado tapeçaria, que lembrava uma queimadura de cigarro. — Minha meiga e querida mãe me detonou depois que fugi de casa... Monstro gosta muito de resmungar essa história.

— Você fugiu de casa?

Olívia sorriu. Conhecia aquela história.

— Quando tinha uns dezesseis anos. Já estava cheio.

— Aonde você foi? — Perguntou Harry, mirando o padrinho.

— Para casa do amigo dele que teve os filhos bonitos, óbvio. — Olívia respondeu, convencida.

— Quê?! — Harry exclamou, surpreso. — Foi para a casa do meu pai?

— Bom, sim, seus avós foram muito compreensivos; meio que me adotaram como um segundo filho. — Olívia sorriu mais. — É, eu acampava na casa do seu pai durante as férias escolares, e quando fiz dezessete anos montei casa própria. Meu tio Alfardo me deixara um bom dinheiro, ele também foi removido da tapeçaria, provavelmente por essa razão, em todo o caso, a partir daí cuidei de mim mesmo. Mas eu era sempre bem-vindo na casa dos Potter para o almoço de domingo.

— O que aconteceu com eles? — Olívia perguntou, curiosa. — Nossos avós, digo.

— Ah. Fleamont e Euphemia eram incríveis. Eles morreram com varíola de dragão pouco tempo depois que seus pais se casaram.

Engraçado. Aparentemente todos os parentes decentes tinham morrido, enquanto que Petúnia...

— Mas, Sirius... — Harry começou após alguns segundos de silêncio. — Por que você...?

— Saí de casa? — Sirius sorriu com amargura e passou os dedos pelos cabelos longos e maltratados. — Porque odiava todos eles: meus pais, com a mania de sangue puro, convencidos de que ser um Black tornava a pessoa praticamente régia... meu irmão idiota, frouxo o suficiente para acreditar neles... olhe ele ali.

Sirius enfiou um dedo bem na base da árvore, indicando "Régulo Black". Uma data de falecimento (há uns quinze anos) seguia-se à do nascimento.

— Você não me contou que teve um irmão! — Olívia exclamou, chocada.

— Bom, eu tive. — Sirius confirmou com amargura. — Ele era mais novo e um filho muito melhor do que eu, meus pais não se cansavam de me lembrar.

— Mas ele morreu. — Disse Harry.

— Morreu. Um idiota... juntou-se aos Comensais da Morte.

Olívia olhou para ele com pesar.

— Você está brincando! — Harry exclamou, incrédulo.

— Ora vamos, Harry, você já não viu o suficiente nesta casa para saber que tipo de bruxos era a minha família? — Disse Sirius irritado.

— Eles eram... os seus pais, Comensais da Morte também?

— Não, não, mas pode acreditar, eles achavam que Voldemort estava certo, eram totalmente a favor de purificar a raça bruxa, de nos livrar dos nascidos trouxas e entregar o comando aos puros-sangues. E não estavam sozinhos, havia muita gente antes de Voldemort mostrar sua verdadeira cara que acreditava nele... se acovardaram quando viram a que extremos ele estava disposto a ir para assumir o poder. Mas aposto que meus pais achavam que Régulo era o perfeito heroizinho quando se alistou logo no começo.

— Como seu irmão morreu? — Ela perguntou.

— Ele foi morto por Voldemort. Ou por ordens de Voldemort, o que é mais provável; duvido que Régulo tenha se tornado bastante importante para ser morto por Voldemort em pessoa. — A amargura surgiu na voz de Sirius novamente. — Pelo que descobri depois de sua morte, ele acompanhou o movimento até certo ponto, então entrou em pânico com o que lhe pediam para fazer e tentou recuar. Bem, ninguém simplesmente entrega um pedido de demissão a Voldemort. É um serviço para a vida toda.

Olívia olhou de relance para Audrey. A mãe dela e Sirius tinham histórias parecidas. A situação toda lhe era estranha. Ela e Harry sequer cresceram juntos, ela tinha plena noção disso, mas não conseguia se imaginar traindo-o assim. Já Sirius e a Sra. Parker cresceram com suas famílias, criaram laços e, ainda assim, foram deixados de lado. E veja como deu certo para eles. Régulo estava morto e Dolohov, em Azkaban. Esse negócio de família não era sempre tão bonito como Olívia gostava de idealizar quando era criança.

— Almoço. — Anunciou a voz da Sra. Weasley. Ela vinha empunhando a varinha bem no alto, equilibrando na ponta uma enorme bandeja carregada de sanduíches e bolos. Estava com a cara muito vermelha e ainda parecia zangada. Os outros se aproximaram, ansiosos para comer, mas Olívia permaneceu encarando a tapeçaria com Harry. Sirius logo falou:

— Faz anos que não olho isso. Vejam o Fineus Nigellus, meu tetravô... o diretor menos querido que Hogwarts já teve... e Araminta Melíflua... prima de minha mãe... tentou aprovar à força uma lei
ministerial que tornava legal a caça aos trouxas... e a querida tia Eladora... deu início à tradição familiar de decapitar os elfos domésticos quando ficavam velhos demais para carregar as bandejas de chá... é claro que sempre que a família gerava alguém razoavelmente decente, ele era repudiado. Estou vendo que Tonks não está aqui. Talvez seja por isso que Monstro não recebe ordens dela: a obrigação dele é atender a tudo que alguém da família pedir...

— Espera, você e Tonks, são parentes? — Perguntou Harry surpreso. — Ela nunca me disse...

— Oras, não é algo de que se orgulhar. Mas, sim, a mãe dela, Andrômeda, era minha prima favorita. — Disse, examinando a tapeçaria com cuidado. — Não, Andrômeda também não está aqui, olhem...

E apontou para mais uma queimadurazinha redonda entre dois nomes, Bellatrix e Narcisa.

— As irmãs de Andrômeda continuam aí porque fizeram casamentos belos e respeitáveis com puros-sangues, mas Andrômeda se casou com Ted Tonks, que nasceu trouxa, então...

Sirius encenou detonar a tapeçaria com a varinha e riu amargamente. Uma linha dupla de ouro ligava o nome de Narcisa Black (irmã de Andrômeda e Bellatrix com Lúcio Malfoy e uma única linha vertical que saía dos seus nomes ao nome de Draco. Olívia desviou o olhar para o outro lado da tapeçaria, mas Harry logo exclamou:

— Você é parente dos Malfoy!

— As famílias de sangue puro são todas entrelaçadas. — Declarou Sirius. — Se alguém deixar os filhos e filhas casarem apenas com puros-sangues, a escolha fica muito reduzida; sobram muito poucos. Molly e eu somos primos por casamento e Arthur parece que é um primo em segundo grau. Mas não adianta procurá-los aqui: se um dia houve uma família de traidores do próprio sangue foram os Weasley.

— E eles se orgulham muito disso. — Olívia apontou, sorrindo.

— E com razão. — Sirius concordou.

— Lestrange... — Disse Harry em voz alta, parecendo não se lembrar de onde ouvira o sobrenome.

— Bellatrix Lestrange. — Olívia murmurou, fazendo-o encará-la. — Foi ela quem torturou os pais do Neville.

O rosto de seu irmão assumiu uma expressão amarga.

— Desprezíveis. Estão em Azkaban, ela e o marido. — Disse Sirius brevemente. — Belatriz e o marido Rodolfo foram junto com Bartô Crouch Jr. — Esclareceu Sirius, no mesmo tom brusco. — O irmão de Rodolfo, Rabastan, também.

Olívia se lembrava bem de Bellatrix, do ano anterior, quando a vira na Penseira de Dumbledore. Era uma mulher alta e morena de pálpebras caídas, que se levantara no julgamento e declarara sua lealdade inabalável a Lord Voldemort, o orgulho que sentira em procurá-lo depois de sua queda e sua convicção de que um dia seria recompensada por essa lealdade. Parecia uma lunática e, depois de catorze anos em Azkaban, com certeza agora o era.

— Você nunca disse que ela era sua...

— Faz diferença se é minha prima? — Retrucou Sirius, interrompendo o afilhado. — No que me diz respeito, nenhum deles é minha família. E ela menos de todos. Não a vejo desde que tinha sua idade, a não ser que se conte a visão de relance quando chegou a Azkaban. Você acha que tenho orgulho de ter uma parente como ela?

— Desculpe. — Disse Harry depressa, olhando de relance para Olívia, que, com uma expressão séria no rosto, apenas encarava Sirius. — Eu não quis... fiquei surpreso, foi só...

— Não faz mal, não precisa se desculpar. — Disse o homem num murmúrio. Afastou-se então da tapeçaria, as mãos enterradas nos bolsos. — Não gosto de ter voltado. — Disse olhando pela sala. — Nunca pensei que voltaria a ficar preso nesta casa.

Catorze anos. Sirius não tinha liberdade há catorze anos. E agora, ironicamente, estava preso no lugar que mais odiava no mundo.

— Naturalmente é perfeita para uma sede. — Continuou Sirius. — Meu pai instalou nela todas as medidas de segurança conhecidas na bruxidade, quando morávamos aqui. Não é localizável, por isso os trouxas nunca podem aparecer para visitar, como se algum dia tivessem querido fazer isso, e agora que Dumbledore acrescentou novas medidas de proteção, seria difícil encontrar uma casa mais segura no mundo. Dumbledore é o Fiel do Segredo da Ordem, sabe, ninguém pode encontrar a sede a não ser que ele diga pessoalmente como fazer; aquele bilhete que Moody mostrou a vocês, ontem à noite, era de Dumbledore... — Sirius deu uma risadinha curta. — Se meus pais vissem para que está servindo a casa deles agora... bom, o quadro da minha mãe já pode dar a vocês uma ideia...

Ele amarrou a cara por um momento, em seguida suspirou.

— Eu não me importaria se pudesse ao menos sair de vez em quando para fazer alguma coisa útil. Já perguntei a Dumbledore se posso ir à audiência, como cachorro, é claro, para poder lhe dar algum apoio moral, Harry, que é que você acha?

Olívia pensou em brincar dizendo que nem ela própria sabia se iria à audiência, mas logo percebeu que não era o momento. Ao olhar para Harry mais uma vez, viu que ele estava encarando Audrey, Hermione e os Weasley, todos devorando sanduíches juntos, com uma expressão exageradamente séria no rosto. Olívia e Sirius se entreolharam, sabendo exatamente o que ele estava pensando.

— Não se preocupe. — Disse Almofadinhas, apertando o ombro de Harry. — Tenho certeza de que vão inocentá-lo, decididamente há alguma coisa no Estatuto Internacional de Sigilo em Magia que prevê o uso da magia para salvar a própria vida.

— Mas e se eles me expulsarem? — Perguntou Harry em voz baixa.

— Daí você volta para cá para ficar com o Sirius e me dá mais uns anos livres de você. Todo mundo ganha. — Olívia brincou, fazendo, com êxito, Harry e Sirius sorrirem, o último com tristeza.

Naquela tarde, eles esvaziaram os armários de portas de vidro. Era uma tarefa que exigia concentração, porque um grande número de objetos ali dentro parecia muito relutante em deixar as prateleiras empoeiradas. Sirius aguentou uma mordida séria de uma caixa de rapé de prata; em poucos segundos sua mão se cobrira de uma crosta desagradável que lembrava uma grossa luva marrom.

— Que bonitinha, Almofadinhas. — Olívia comentou.

— Não é? — Falou, examinando a mão com interesse antes de lhe dar um toque de varinha e restaurar a pele ao normal. — Deve ter pó de furafrunco aí dentro. Atirou a caixa no saco em que estavam depositando os escombros dos armários; pouco depois, Olívia flagrou Jorge enrolar a mão com todo o cuidado e esconder a caixa no bolso, já cheio de fadas mordentes. Um dos tinteiros que Olívia achara caiu no chão e, quando a tinta tocou seu dedo polegar, começou a esquentar e a descer em direção à palma, até que Sirius bateu com a varinha em sua mão e fez a tinta estranha sumir, antes que derretesse sua pele.

Havia também uma caixa musical que emitiu uma toada tilintante ligeiramente sinistra quando lhe deram corda, e eles logo descobriram que estavam ficando curiosamente fracos e sonolentos, até que Gina teve o bom senso de bater a tampa da caixa; um camafeu pesado que ninguém conseguiu abrir; vários selos antigos e, em uma caixa coberta de pó, uma Ordem de Merlim, primeira classe, que fora concedida ao avô de Sirius por "serviços prestados ao Ministério".

— O que significa que deve ter doado a eles um carregamento de ouro. — Disse Sirius com desprezo, atirando a medalha no saco de lixo.

Várias vezes Monstro entrou timidamente na sala e tentou contrabandear alguma coisa sob a tanga, murmurando maldições terríveis sempre que alguém o surpreendia no ato. Quando Sirius arrancou dele à força um grande anel de ouro com o brasão dos Black, o elfo chegou a debulhar-se num choro furioso e abandonou a sala soluçando baixinho e xingando Sirius de nomes que Olívia nunca ouvirá antes, mas fez questão de anotar mentalmente.

— Pertenceu ao meu pai. — Disse Sirius atirando o anel no saco. — Monstro não era tão dedicado a ele quanto à minha mãe, mas ainda assim eu o apanhei abraçando uma calça velha do meu pai na semana passada.

— Por que não o deixa ficar com o anel? — Olívia perguntou distraidamente, avaliando agora uma espelho de bolso de prata. — Não significa nada para você mesmo.

— Mas quero me desfazer dessas coisas. Monstro tem que parar de guardar lixo.

Olívia esperou-o se distrair com o sofá empoeirado para enfiar a mão no saco de lixo e puxar o anel de dentro, atirando-o para Monstro quando o elfo entrou no cômodo novamente. Ele encarou-a de olhos arregalados, abismado.

— Vê se esconde bem dessa vez. — Olívia falou, virando-se para continuar com o trabalho.

Jessica chegou no fim daquela tarde, uma bebê de quase dois anos no colo e, bem ao seu lado, um garoto alto de olhos verdes e cabelos pretos estupidamente bem arrumados com uma expressão admirada no rosto.

— Isso é o Feitiço Fidelius? — Josh perguntou à auror assim que ela fechou a porta.

— É. — Jessie respondeu, colocando Clarice no chão. — Brilhante, eu sei. Obrigada. — Agradeceu quando o garoto lhe entregou sua bolsa, que vinha segurando durante o caminho. — Seu malão já está lá em cima.

Ele balançou afirmativamente a cabeça, como se tivesse entendido.

— Ei, quem será que chegou? — Uma voz perguntou, antes do som de passos ecoar pela casa. Josh virou a cabeça para a direita quando uma porta se abriu e as cabeças de Olívia, Audrey, Rony, Harry e Hermione, além dos gêmeos Weasley e Gina, surgiram.

— Ivie! — Clarice exclamou, estendendo os braços para Olívia assim que a alcançou.

— Oi, monstrinho. — Olívia riu, levantando-a acima da sua cabeça.

— Por favor, não a matem. Obrigada. — Jessie disse ao passar em direção à cozinha. — Oi, Molly, cheguei. Quer ajuda com o jantar?

Hermione e Gina tinham se amontoado ao redor de Olívia para brincar com Clarice, mas Audrey tinha arregalado os olhos e estava encarando Josh com um sorriso escancarado no rosto.

— Finalmente. — A loira exclamou com o que pareceu alívio, cruzando os dois braços atrás do pescoço dele quando o abraçou. Josh sorriu e apertou os braços ao redor das suas costas. — Senti sua falta.

— Sério? — Ele não conseguiu parar o impulso de rir, bem próximo ou ouvido dela. — Engraçado, geralmente se escreve com mais frequência quando se sente falta de alguém.

"Você não disse que tinha superado?"

"Olívia, sai da minha cabeça!"

E, ao perceber que a estava abraçando por tempo demais, soltou Audrey quase que imediatamente.

— Não podemos escrever com muita frequência aqui. — Ela explicou, mantendo-se no mesmo lugar, ainda que Josh tivesse dado um passinho para trás. — As corujas podem entregar a casa se tiver algum bruxo vigiando. Desculpa. — Ela cruzou os braços na frente do peito, parecendo levemente desconfortável. — Eu também não andei sendo uma boa pessoa para se conversar ultimamente.

Josh piscou, parecendo surpreso com as palavras. Então, de um segundo para o  outro, a surpresa se dissipou e algo muito parecido com determinação a substituiu.

— Eu duvido muito disso. — Disse, sério. — E, se for o caso, ainda assim fez falta falar com você.

Foi um elogio. Audrey reagia bem a elogios. Ela só precisava sorrir e dizer "ah, obrigada" ou, em alguns casos, dar uma piscadinha e um meio sorriso. Mas, naquele momento, a garota não conseguiu nada disso e apenas... ficou ali com cara de tonta encarando-o. Josh não parecia esperar uma resposta, porque olhou para algo atrás dela e murmurou "bizarro".

Audrey acompanhou o olhar dele e focou em Clarice, brincando com uma bolinha de lã na gola da blusa de Olívia, que deu um beijo na sua bochecha gordinha e colocou-a de volta no chão.

— Você não acha estranho ela sendo amável com uma criança? — Ele perguntou, franzindo a testa.

— Assustador.

— Eu estou escutando vocês. — Olívia revirou os olhos e, em seguida, tampou os ouvidos de Clarice. — E ela não é só uma criança, é a melhor criança do mundo.

— Por que tampou os ouvidos dela? — Harry perguntou, agachando-se ao lado de Clarice, que tinha começado a brincar com o zíper da sua jaqueta.

— Tenho quase certeza de que ela puxou a modéstia do George, não podemos arriscar elogiar demais. — Olívia explicou seriamente.

— Não, obrigado, Sra. Weasley... não, não precisa de bolo, eu já comi, obrigado. — Josh dizia, parecendo encabulado em rejeitar tanta comida.

— Melhor ir se acostumando. — Rony disse quando o corvino se adiantou para falar com eles. — Ela vai tentar te entupir.

— Mas agora que você chegou, meu amigo... — Jorge disse, pondo o braço sobre o ombro de corvino, que logo revirou os olhos e tirou-o de lá.

— Lá vem.

— ... você vai poder nos ajudar com nossos produtos. — Fred completou, sussurrando.

— Com "ajudar" você quer dizer ser "cobaia"? — Josh perguntou, sorrindo. — Não, obrigado.

— Ah, vamos lá, Joshitto. — Fred insistiu, piscando os olhos para Josh.

— É, pense nos descontos que vamos te dar quando nossas ideias derem certo... você não pode recusar.

— Posso sim. — Josh discordou, sorrindo. — Mas vou pensar no assunto. Dependendo de como vocês me tratarem nos próximos dias, posso pensar com pouca ou com muita consideração.

Jorge deu uma cotovelada de leve no gêmeo.

— Ele está mesmo tentando enrolar a gente? — Disse, ofendido.

— Corvino abusado. — Fred balançou a cabeça negativamente, em reprovação.

Depois disso, todos foram para a sala de visitas para contar a Josh tudo o que sabiam sobre Voldemort, os Comensais da Morte e sobre a Ordem da Fênix. Ele não parava de interromper com perguntas que, geralmente, eram respondidas um segundo depois que Olívia ou Hermione o mandavam calar a boca. Audrey ficou apenas ouvindo durante boa parte da atualização do momento pré-caos que estavam vivendo.

— Essa casa tem mais estudantes que pragas. — Sirius comentou em tom de escárnio assim que desceu as escadas e viu Josh sentado no tapete da sala de estar ao lado de Rony e Jorge. — Você é o Josh, não é? Já te vi umas duas vezes.

— Sou. — Josh sorriu, aceitando a mão dele. — E você é o cão negro que quase me fez borrar as calças no terceiro ano. Prazer. Foi uma primeira impressão e tanto.

Sirius riu e, até a hora do jantar, aceitou de bom grado um jogo de cartas trouxa que Josh ensinou os Weasley a jogar. Audrey, Olívia e Hermione se ocuparam brincando com Clarice, que tinha bonecas para cada uma das meninas, embora Olívia tenha se recusado a brincar e escolhido participar apenas quando ela escolheu a massa de modelar como brinquedo favorito.

— O que você tem contra bonecas? — Hermione perguntou, rindo.

— É macabro. — Disse, avaliando com estranheza a boneca de cabelo ruivo encaracolado. — É um corpo que não se mexe a não ser que você o manipule pra fazer o que você quiser. Talvez quem criou a Maldição Imperius gostasse de brincar com bonecas.

Hermione caiu na gargalhada.

— Você acabou de estragar minha infância. — Audrey fez uma careta.

Olívia apenas sorriu em resposta, devolvendo a boneca para Clarice em seguida. George não apareceu para o jantar, mas Jessie não mencionou o Ministério quando Olívia perguntou o porquê. Remo, o Sr. Weasley, Tonks e Florence Parker, porém, chegaram para se juntarem a eles.

— Olívia, não tive tempo de falar com você da última vez que a vi. — A mãe de Audrey disse assim que alcançou a garita. — É um enorme prazer enfim conhecê-la.

— Não diz isso, mãe. — Audrey avisou. — Olívia tem o ego do tamanho do sistema solar, se você alimentar, ele expande.

— Audrey. — Hermione, atrás da Sra. Parker, chamou-a. — A Sra. Weasley quer nossa ajuda.

Audrey concordou com a cabeça e saiu, deixando Olívia sozinha com Florence, que logo pediu a ela para se sentar.

— Você me lembrou muito o Tiago ontem, sabe, enquanto falava, embora seu rosto e seus olhos sejam todinhos da Lily. — A mulher deu um sorriso que pareceu a Olívia muito nostálgico. — Ele também fazia piadas e comentários sarcásticos, até mesmo nos momentos mais inadequados, mas sempre levava uma situação a sério quando era necessário.

Olívia não teve tempo de decidir se devia sorrir ou apenas acenar com a cabeça. Ela entendia porque as pessoas sempre pareciam achar que era uma excelente ideia falar sobre Lílian e Tiago com eles, mas... naquele momento a garota desejou profundamente que houvesse qualquer outra assunto sobre o qual elas pudessem conversar.

— Lily era diferente, ela sempre andava de bom-humor, mas nunca fazia tantas brincadeiras quanto seu pai, acho que ninguém normal fazia, na verdade. Aquela mulher era um estouro! Só os conheci fora da escola, eu era mais velha, sabe, os dois eram crianças quando eu estudava lá. — Olívia assentiu. — Enfim, a ordem foi uma boa época para mim, conheci Molly e Arthur, que são, acho que você concorda comigo, umas das pessoas mais amáveis que já conheci, além de Sirius, Remo, Marlene, Dorcas e, ah sim, a Clarice. Entre tantos rostinhos da Grifinória, quem é da Sonserina tem que se manter unido, não é?

— Imagino que sim. — A garota sorriu. —  A senhora se dá bem com o Snape?

— Uh. Não. — A mulher negou com tom de obviedade. — Snape não se dá bem com ninguém. Mas ele me respeita, acho que é o suficiente de interação.

— Experimenta ter aula com ele. — Olívia bufou. — É uma experiência estressante.

— Por quê? Você é ruim em Poções?

— Eu sou ótima em Poções. — Olívia esclareceu. — É que as aulas se resumem ao Snape tirando pontos dos alunos da Grifinória por terem nascido, dando cinco pontos para a Sonserina pela capacidade de respirar, vez ou outra uma piadinha para cima do Harry e, sempre, uma cena de grande humilhação para cima do Neville Longbottom, então, com o tempo, se torna meio entediante.

— Uau. — A Sra. Parker arregalou os olhos e seu rosto ficou quase idêntico ao da filha. — Na minha época não era assim, mas, bem, as coisas mudaram, aparentemente.

— É. — A Potter riu.

— Audrey não é boa em Poções. — A Sra. Parker contou, tranquila.

— Eu sei. Ela me ajuda com História da Magia e eu a ajudo com Poções. É uma troca justa.

— Parece que sim. — A mulher apoiou a cabeça no encosto do sofá.

A expressão no rosto dela era neutra, mas Olívia sentiu uma onda de tristeza e nostalgia tão intensa que não pôde evitar perguntar:

— A senhora está bem?

A Sra. Parker fixou os olhos nela.

— Vocês duas me lembram de uma amiga que eu tive.

— Teve? Ela... — Olívia hesitou. — ... morreu?

— Ah, não. Felizmente, não.

— Mas... não são mais amigas? — Olívia indagou

A mulher sorriu para ela, mas até o sorriso pareceu triste.

— Escolhemos coisas diferentes. — Contou. — Não fomos amigas tão boas uma para a outra à época. Ela não era do tipo que achava que precisava pedir ajuda e eu não era do tipo que achava necessário oferecer. E, quando eu achei que era hora de intervir, foi tarde demais.

Olívia piscou algumas vezes, sem saber exatamente o que dizer. Talvez a amiga dela tivesse virado uma comensal da morte, o que era, para dizer o mínimo, trágico.

— Sinto muito.

— Não é necessário sentir muito. — A Sra. Parker dispensou com um sorriso. — Já passou. O ponto é que nós duas, nós éramos como unha e carne, mas... desistimos uma da outra. Que coisa horrível de se fazer, acredite, eu sei, mas é a realidade.

Olívia a encarava com o rosto muito sério, então separou os lábios e falou antes que a mãe de Audrey continuasse:

— Não vai acontecer.

— Como? — A mulher perguntou, franzindo levemente a testa.

— A senhora veio contando tudo isso sobre a sua amizade, e como vocês duas desistiram disso mutuamente, porque a Audrey não está numa fase muito boa, e... a senhora tem medo de que, em algum momento, eu ou a Hermione ou o Josh desistamos dela.

Os olhos da Sra. Parker cerraram levemente.

— Mas não é assim que a gente funciona. — Olívia disse, firme. — Ninguém deixa ninguém para trás. Nunca. Nem mesmo o Rony, que é bem insuportável de vez em quando.

A Sra. Parker estudou o rosto dela com atenção, então, por algum motivo que Olívia não entendeu, ela começou a gargalhar.

— O que foi?

— Essa entra para a lista de uma das conversas mais lufanas que eu já tive. — A mulher disse, sorrindo. — Não me entenda mal. "Ninguém deixa ninguém para trás" foi adorável.

— Pois é, a lufana que existe em mim se manifesta de vez em quando. — A garota deu de ombros, risonha.

— Imagino que sim.

— Josh! — As duas se viraram para Fred, que estava berrando no pé da escada. — Dá para se apressar aí em cima? Foi só um jatinho de água, seu fresco!

— Josh? — A Sra. Parker perguntou, subitamente interessada. — Ele está aqui?

— Está. — Olívia confirmou.

— Excelente. — A Sra. Parker arregalou um pouco os olhos. — Até o fim da noite, terei que decidir que ele é um bom futuro genro em potencial, considerando que, curiosamente, minha filha se empolga sempre que o nome dele surge em uma conversa.

Olívia não conseguiu conter a gargalhada.

— Bom, não é porque ele é meu amigo nem nada, mas ele é incrível. E, se eu não gostasse dele, provavelmente seria porque ele é legal demais, e gente legal me irrita, mas ele é legal numa reação equilibrada, sabe, ele é meio chato também, mas não posso falar muito sobre isso, porque quero que você goste dele. — Olívia concluiu, sorrindo

— Bom, veremos. — A mulher disse, pensativa. — Ah, e... obrigada, Olívia.

Então ela deu um último sorriso à garota e se levantou, indo em direção à roda formada no chão para ver o andamento do jogo de cartas. "Com licença, eu conheço esse! Eu sou muito boa, aliás! Podem, por favor, acabar essa rodada para eu mostrar a vocês como é que se joga isso direito?!", dizia ela.

— Jessie. — Olívia se aproximou da auror, que estava cortando alguns legumes e apenas murmurou "Hum?" — Daqui a uns cinco minutinhos, você pode dizer para a Audrey que eu preciso dela lá em cima urgentemente?

Jessie olhou para ela com a testa franzida.

— E você precisa dela lá em cima urgentemente?

— Talvez eu vá precisar. — Ela disse em tom de defesa. Jessie levantou a sobrancelha esquerda. — Quem sabe as urgências que podem surgir daqui a cinco minutos...

E, depois de Jessie concordar (parecendo meio desconfiada), a garota deu as costas e saiu alegremente em direção às escadas, apressando o passo antes que alguém a notasse e pedisse sua ajuda com o jantar. Olívia foi até o banheiro, prendeu seu cabelo num rabo de cavalo na frente do espelho e, em seguida, se dirigiu ao quarto dos meninos, mas, quando tentou abrir, a porta estava trancada.

— Sou eu! — Olívia exclamou, batendo. — Adivinha, acabei de encher sua bola para a sua futura sogra. Isso não tá no contrato, ou seja, vai ter que me pagar depois.

Josh não respondeu. Ela bateu novamente.

— Já vai. — A voz dele surgiu do lado de dentro do quarto uns segundos depois.

— Não vai nem comentar sobre a minha bajulação grátis?

Um minuto inteiro se passou.

— Sei que os gêmeos jogaram um jato de água em você, mas não seja fresco. — Ela brincou, mas ele ainda não respondeu.

Olívia encostou a orelha na porta e ouviu Josh resmungar "Droga!"

— Me espera lá em baixo, depois você me conta sobre... isso aí. — Ele pediu.

Olívia, porém, puxou a varinha do bolso interno do casaco e apontou-a para a maçaneta.

— Alohomora.

Um clique indicou que a porta tinha sido destrancada. Ela guardou a varinha de volta e abriu a porta. Josh estava de pé na frente de uma das camas, em cima da qual o malão dele estava escancarado; algumas roupas haviam sido atiradas no chão enquanto o garoto vasculhava. Ele ergueu a cabeça para Olívia assim que a viu entrar, espantado. A garota paralisou ao ver a marca redonda arroxeada cobrindo o olho dele.

— Como você entrou aqui?! — Josh exclamou, franzindo a testa.

— Ah meu Deus. — Olívia murmurou, encarando-o com os olhos verdes saltados.

— Okay. — Josh correu até ela e fechou a porta novamente, mas não trancou, então olhou para a amiga e pediu: — Não surta, tá?

— AH MEU DEUS! — Olívia gritou, perplexa.

— Disse para você não surtar! — Josh disse, nervoso.

— COMO VOCÊ QUER QUE EU NÃO SURTE?

— Para de gritar. — Ele pediu, agitando as mãos num gesto de nervosismo.

— O que foi isso no seu olho?! — Ela perguntou, seu rosto começou a avermelhar.

— Não foi nada, Olívia! — Ele deu as costas para ela e voltou a vasculhar o malão, irritado. — Como você entrou aqui?!

— Alohomora. — Ela respondeu, sem sequer piscar. O olhar continuou fixo sobre o olho roxo do amigo. — Foi o seu pai que fez isso, não foi?

— Você usou magia? — Josh olhou para ela sem entender. — Ficou doida?

— Eu li o estatuto de prática de magia por menores, o... — Olívia hesitou, agora com um semblante puramente irritado. — ... o Ministério não consegue distinguir uma magia feita por menor se bruxos adultos estiverem presentes no mesmo local.

— Ahn?

— Não muda de assunto! — Ela mandou. — Seu pai faz isso com você?

O garoto pareceu ficar mudo.

— Por Deus, Josh, não passou pela sua cabeça que deveria nos contar que você mora com um doido?

— Não é da sua conta. Agora, por favor, sai. — Ele recuperou a voz, indicando a porta com a cabeça.

— É da minha conta sim! — Olívia exclamou, indignada. — Seu olho está péssimo! Como diabos você conseguiu esconder isso.

— O Marcel fez uma poção para mim que cobre esses machucados, mas... — Ela voltou a vasculhar o malão, agora definitivamente com desespero. — ... não sei onde o David colocou ou se ele colocou. Não consigo achar...

— Marcel sabe disso? — Olívia arregalou os olhos. — E ele não falou para ninguém útil? Você não falou para ninguém útil?Você mora com um doido e a única pessoa para quem você contou foi um garoto que não pode fazer nada para te tirar daquele lugar?

— Pode, por favor, parar de gritar? — Josh bufou, inclinando a cabeça para trás e encarando o teto. — Você não está ajudando.

— Ah, mas eu vou ajudar! Vou contar para a Jessie ou para o George ou para o Moody e aí aquele traste vai pagar por ter feito isso com você!

— Não, você não vai falar nada para ninguém! — Josh falou. — Eu vou cobrir isso de novo e você vai fingir que nada aconteceu.

— Fingir que nada aconteceu? — Olívia repetiu, incrédula.

— É, Olívia, fingir que nada aconteceu. — Ele repetiu com um tom ríspido. — Pode deixar, eu me viro sozinho, não precisa se preocupar.

— Parece que alguém atirou uma laranja no seu rosto, de uns dez metros de distância. É claro que eu preciso me preocupar!

— Não, não precisa não! Isso não é assunto seu! Só sai!

— Por que vocês dois estão gritando?

Nenhum dos dois percebeu que Audrey tinha aberto a porta alguns instantes antes. Olívia se virou para a amiga, que deu um passo para o lado, ficando com a visão livre até Josh. O rosto dela parecia ter ficado vários tons mais pálido.

— Nada, não... é... — Josh gaguejou, olhando para ela, então para Olívia, para o malão. Ele suspirou, ficando algum tempo em silêncio. — Sério, vocês podem sair?

Olívia encarou a amiga, mas ela estava olhando para Josh.

— O que aconteceu? — A loira perguntou com a voz calma.

— Eu ganhei um olho roxo, não está óbvio? — Ele resmungou com rapidez, vasculhando o malão mais uma vez.

— Claro que está óbvio, eu não sou cega. — Audrey retrucou, mantendo o tom tranquilo. — Estou perguntando o que aconteceu para vocês estarem gritando. Qualquer um poderia ouvir.

Josh não respondeu, apenas começou a atirar roupas na cama. Audrey olhou para Olívia.

— Ele perdeu a poção que usa para esconder... isso. — A garota explicou, encarando o amigo com seriedade.

— Okay. — Audrey suspirou, esfregando as palmas das mãos. — Quer ajuda para procurar?

— Não, não quero.

— Três trabalham melhor do que um.

— Por favor, podem sair? — Ele pediu mais uma vez.

Olívia ficou calada, pensando. Talvez ele tivesse esquecido a poção em casa. Nesse caso, ela poderia pedir para Jessie ir buscar, mas... o jantar estava quase pronto, os outros iriam estranhar se ele demorasse muito.

— Bom, ela tem razão. — A garota falou. — Três trabalham mais rápido do que um. Melhor te ajudarmos a procurar. E aí, já olhou no teto? Ninguém nunca olha lá.

Josh bufou com impaciência. Olívia franziu a testa. Droga, não estava tentando irritá-lo, só não... sabia o que fazer para ajudar.

— Pode me fazer um favor? — Audrey perguntou, virando-se para a amiga com os olhos azuis arregalados. Parecia ter acabado de ter uma ideia, ou pelo menos Olívia queria que sim.

— Claro. 

— Abre o meu malão e trás a bolsinha verde que está lá. — E, quando Olívia olhou-a sem entender, ela acrescentou: — Agora. Por favor.

— Claro. — Olívia assentiu, e voltou alguns minutos depois com a tal bolsinha verde em mãos.

— Obrigada. — Audrey disse, tirando-a de suas mãos e andando até Josh, que franziu as sobrancelhas quando a garota se aproximou dele e encarou seu rosto.

— O que está fazendo? — Ele perguntou.

— Espera um pouco... — Ela pediu, tentando analisar o olho roxo com mais atenção, mas ele se inclinou para trás. — Dá para você tentar ficar quieto?

— Não, não dá! — Ele reclamou com o rosto levemente vermelho. — É sério, vocês podem só... sair e...

— Qual a dificuldade que você tem em parar de se mexer? — Audrey segurou o rosto dele com as duas mãos, tomando o cuidado de não tocar o hematoma roxo com nenhum dedo. Ela sentiu o maxilar dele se enrigecer, mas tentou não dar atenção a isso. Josh desviou o olhar dela.

Audrey soltou-o e se sentou na cama, vasculhando a bolsinha cuja utilidade ele não fazia a menor ideia de qual era.

— O que é que você está procurando?

— Espera, é que tem um feitiço de extensão aqui dentro. — Ela disse, enfiando o braço até o cotovelo dentro da bolsinha. — Achei!

E tirou um potinho branco redondo de dentro da bolsa. Josh franziu as sobrancelhas.

— Isso é maquiagem?

— É. — Ela confirmou, sorrindo. — Por quê? Você tem algum problema com maquiagem?

— Nenhum, se você pegar sua bolsinha de maquiagem e me deixar sozinho. — Ele respondeu, sério.

Audrey cerrou os olhos para ele.

— Pode parar de ser teimoso e se sentar? — Ela pediu

— Para quê? — O garoto questionou, encarando-a com estranheza.

— É que, assim, não sei se você já percebeu, mas você é alto, e eu preciso alcançar seu rosto para esconder esse olho roxo. — A garota explicou. — Então, de novo, pode se sentar?

Ele piscou, levemente assustado.

— Você não precisa...

— Agora! — Ela arregalou os olhos azuis,  parecendo um gato mandão.

Josh bufou e se sentou na ponta da cama, impaciente.

— Agora olha para mim. — Ela pediu, posicionando-se de frente para ele.

O garoto ergueu a cabeça, mas os olhos continuaram fixos nas próprias mãos.

— Obrigada. — Ela disse, dando a bolsinha para ele segurar e tirando, de dentro dela, uma esponja de algodão, que umedeceu com o líquido dentro do pote cor-de-rosa.

— O que é isso?

— Removedor. Para garantir que você tirou tudo da poção que estava aí antes. — Ela explicou, mas, quando aproximou a esponja do olho do garoto, Josh se inclinou para trás. — Quê? Eu não vou te machucar com algodão.

— Eu sei que não. — Os cantos da boca dele se ergueram num quase sorriso. — Mas por que você está fazendo isso?

Audrey deu de ombros, baixando a cabeça para a esponjinha de algodão.

— Pelo menos isso eu posso fazer.

Josh alternou o olhar entre os olhos azuis dela por alguns segundos antes de voltar à posição inicial. Ela segurou a bochecha dele com uma das mãos e, com a outra, usou o algodão para limpar a pele arroxeada ao redor do olho esquerdo de Josh.

— Suas mãos estão tremendo. — Ele observou.

— Eu sei. — Ela disse, afastando a mão do rosto dele quando acabou. — Você usa algum remédio para isso?

— É... tem um na minha mochila. — Ele abriu os olhos e se levantou para pegar, mas ela empurrou-o para trás e pegou a mochila sobre uma cadeira no canto do quarto por conta própria.

— Obrigado. — Ele estendeu a mão para pegar o vidro branco, mas ela tirou-o de seu alcance.

— Qual parte de "ficar quieto" não ficou clara? — A garota perguntou, fingindo uma expressão irritada para ele.

— Eu entendi tudo, mas você não precisa...

— Shhhh. — Audrey deu um tapa em seu braço quando ele fez menção de pegar o frasco novamente.

Ele piscou algumas vezes, mas acabou por fechar os olhos e não falou nada enquanto ela deslizava os dedos pela sua pálpebra para espalhar o gel fino e incolor sobre o hematoma.

— Você não se meteu numa briga para arranjar isso daqui não, certo? — Audrey murmurou, puxando o cabelo de Josh para trás enquanto seu dedo indicador percorria a pele abaixo da sobrancelha dele.

Josh engoliu em seco. Ele tinha esquecido que nunca contara para Audrey nada sobre seu pai. E provavelmente ela não tinha desconfiado. Nem tinha motivos para desconfiar, até onde ele sabia.

— Não foi numa briga. — Ele disse em voz baixa, porém firme.

— Imaginei que não. — Ela comentou. — Seria meio burrice da sua parte ter se envolvido em uma briga de trouxas.

Josh deu de ombros.

— Eu sei. — Ele murmurou. — Mas algumas brigas valem a pena. Ai!

— Desculpa. — Ela pediu, afastando a mão do rosto dele.

Audrey sentou-se ao lado dele logo em seguida, enquanto o gel secava e o garoto permanecia de olhos fechados.

— Achei que tivesse dito que não tinha arrumado isso em uma briga. — Ela lembrou.

— E não foi em uma.

Audrey arregalou os olhos.

— Então em quantas brigas você se meteu, por acaso?! — Ela perguntou, incrédula. — Ei, espera, você se mete em brigas?

— Não! — Ele negou imediatamente, como se a ideia oposta fosse inaceitável. — Eu não... não. Não sem um... bom motivo.

— Não sem um bom motivo. — Ela repetiu, curiosa. — Hum... interessante. E já teve um bom motivo?

— Uma vez teve.

— Quando?

— Não importa. — Ele deu de ombros.

— Claro que importa. — Ela exclamou, empolgada. — Você ganhou?

— Não importa.

— Importa sim. — Ela protestou. — Não vou rir se você não tiver ganhado.

Josh demorou a responder.

— Eu ganhei.

Os olhos dela ficaram ainda mais soltados.

— Não acredito! Olívia, você...

Os dois se viraram para a porta do quarto. Estava fechada. Olívia não estava mais ali. Os dois se entreolharam sem entender. Quando ela tinha saído?

— Continuando... se você ganhou, agora mesmo que eu preciso saber com quem foi!

Ele olhou para ela com o olho roxo ainda fechado enquanto que o outro estava apenas levemente aberto. Audrey devolveu o olhar e, por alguns instantes, não sabia bem o que estava fazendo, só que não conseguia desviar a atenção para outro lugar.

— Okay. Melhor continuarmos. — Ela falou, levantando da cama e ficando de frente para ele novamente.

Josh concordou com a cabeça, encarando-a com os dois olhos abertos agora.

— Vai em frente. — Ele disse, estendendo o potinho circular branco para ela. — Dê o seu melhor, nunca fui maquiado antes.

— Ah, nem precisa se preocupar. Eu sou ótima nisso.

— O que é isso daí mesmo? — Ele quis saber.

— Pó. — Ela respondeu, abrindo a tampa e mergulhando a esponja dentro. — O ideal era que eu usasse corretivo colorido primeiro, mas, como este aqui é mágico, e importado, cobre todas as imperfeições e se adequa à cor de pele de qualquer pessoa.

Josh ficou alguns segundos em silêncio, então, no nada, começou a sorrir.

— O que é engraçado? — Ela perguntou.

— Nada, só pensei em uma coisa idiota. — Ele balançou a cabeça, ainda rindo.

— Me conta. — Audrey pediu, olhando para ele com curiosidade.

— Tá bom. — Josh conteve a risada. — Eu estava pensando: se isso daí cobre imperfeições, por que é que você usa? — Ele perguntou preguiçosamente e deu uma piscadela para ela com o olho bom. Audrey gargalhou alto.

— Você acabou de me cantar?

— Talvez. — Disse, com gracinha.

Audrey continuou sorrindo enquanto tirava o excesso de pó da esponja e segurava a lateral do rosto dele mais uma vez.

— Fecha o olho de novo. — Ela pediu e ele o fez. — E você ainda não me disse com quem era a briga que você ganhou.

— Pfffff. Acho melhor a gente deixar essa conversa para outro dia.

— Tá bom. — Ela pareceu um pouco frustrada. — Mas eu estou curiosa. Qual pergunta é pior: com quem foi a briga ou como seu olho acabou assim?

— As duas são péssimas. — Ele deu uma risada nervosa.

— Espera, quê? — Audrey perguntou, chocada. — A pergunta foi pegadinha. Como que uma briga pode ser pior do que o fato de que o seu...

Audrey se refreou antes de continuar. Droga. Josh abriu os olhos e lançou a ela um olhar tenso. Ele tinha certeza absolutamente de que ela pronunciara a letra P antes de parar de falar.

— Meu o quê?

Audrey engoliu em seco, então afastou a esponja do olho dele.

— Seu o quê o quê?

— Você achou que o lance da briga não poderia ser pior do que o fato de que o meu... o quê? — Josh perguntou novamente, os olhos agora cerrados para ela.

— Nada. — Audrey mordeu o lábio. — Pode fechar os olhos para eu terminar de...

— Não. — Ele exclamou, sério. — Audrey, o que você ia dizer?

A garota respirou fundo mais uma vez.

— Eu sei sobre o seu olho. — Ela disse calmamente.

— Não sabe não. — Josh replicou mais como uma dúvida do que como uma certeza.

Audrey hesitou antes de explicar:

— Ouvi você e a Olívia conversando no trem, na volta para Londres, sobre... você e seu pai não se darem bem, então...

Josh piscou. Ele desviou o olhar dela ao mesmo tempo em que seu rosto começou a ficar vermelho.

— Tá bom. — Audrey disse, tentando pensar rápido. — Hum... é melhor eu terminar...

— Não precisa. — Josh disse, pegando o pó das mãos dela sem olhar diretamente no seu rosto. Então se levantou e foi até o espelho do outro lado do quarto.

— Josh. — Ela chamou suavemente, se aproximando dele. — Era por isso que eu não queria te falar que sabia sobre o seu pai, sabia que você ia ficar... assim.

— Eu não fiquei de jeito nenhum. — Ele retrucou, ainda sem olhar para ela. — Eu te vejo na cozinha, pode sair se quiser.

— Tá, eu saio, deixa só eu terminar de te ajudar com isso. — Ela pediu, começando a se irritar por ele ser tão teimoso.

— Não, relaxa, eu não consegui não levar um murro do meu pai bem na cara, mas, acredite, consigo me maquiar sozinho.

— Hum... — Ela fez uma careta ao vê-lo colocar uma quantidade exagerada de pó na esponja. — Você pode só... tá bom, pode parar, isso é um crime. — Ela reclamou, puxando o pote das mãos dele. — Deixa que eu...

— Eu não quero sua ajuda. — Ele disse seriamente, limpando o excesso do rosto com uma das mãos. — Eu agradeço, mas, por favor, me dá isso e me deixa sozinho.

Ela escondeu o pote atrás das costas quando Josh se aproximou alguns passos.

— Só tenta se acalmar. Eu quero te ajudar, sério. Não vou falar nada para ninguém, por que você quer tanto ficar sozi...

— PORQUE EU NÃO SOU UM INÚTIL! — Ele gritou, com os olhos começando a ficarem vermelhos. — Eu consigo fazer isso sozinho!

Ela piscou, perplexa.

— Eu sei que você não é inútil. Você está longe de ser inútil, tá?

Josh não respondeu, nem ela exigiu uma resposta, apenas abriu o pó e colocou a quantidade adequada na esponja.

— Aqui. — Estendeu para ele. — Pode terminar. Mas eu vou esperar. Não que eu esteja questionando suas habilidades, mas só para conferir. — E se sentou na cama novamente.

Josh demorou a reagir, mas então assentiu e ficou os minutos seguintes em silêncio, tentando cobrir o olho.

— Uau! — Audrey exclamou, surpresa, alguns segundos depois. — Ficou ótimo. Você tem potencial.

— Obrigado. — Ele guardou o pote branco na bolsinha dela e caminhou até a porta. — Melhor a gente descer.

— Por que você está vermelho? — Audrey cruzou os braços, sem sair do lugar.

— Porque isso é patético, Audrey, essa situação inteira é patética, é por isso que eu estou vermelho. — Ele retorquiu, irritado. — Então dá para a gente sair e realmente fingir que nada disso aconteceu?

— Hum. — Ela murmurou, analisando-o. — Sabe, eu nunca tinha te visto irritado. Até que é interessante.

Josh inspirou fundo e saiu de perto da porta, olhando para ela.

— Foi mal. — Pediu. — Eu estou sendo um pé no saco, eu sei, e... e você me ajudou, eu sei disso também, é só que... eu queria evitar que vocês descobrissem para não ficarem me olhando com essa... cara aí.

— Minha cara está como sempre. — Ela franziu a testa.

— Não, não está. — Ele discordou. — Você deve estar me achando patético, e eu queria evitar isso.

— Por que eu te acharia patético? — Ela perguntou.

— Porque eu sou patético, por isso. — Ele disse sem pensar, e imediatamente pareceu se arrepender. — Droga. Esquece que eu disse isso, a gente pode só...

— Você não é patético. — Ela disse, indignada. — Por Merlim, de onde você tirou isso? Eu te conheço, eu sei que você não deve ter feito nada demais para merecer isso aí e, se tiver, isso não justifica nada. Ele não tem o direito de fazer isso com você. Ele é patético se tem que fazer isso com o próprio filho para se sentir bem.

— É, talvez seja. — Ele ofegou.

Audrey sentia como se seu coração estivesse na garganta. Josh estava com um olhar tenso no rosto, e a garota simplesmente se viu sem saber o que fazer para enfiar naquela cabeça o quão ridículo era o fato de ele pensar que ela o acharia patético. Ele se recostou contra a parede e enfim olhou para ela de novo.

— Queria saber o que você está pensando agora. — Disse, parecendo um pouco nervoso.

— Você sabe que você não é o problema, não sabe? — Ela perguntou, sondando.

Josh demorou para responder.

— Sei, eu... eu sei.

— Ótimo. — Ela disse, incerta se realmente acreditava nele. — Porque ele não merece que você fique assim por causa dele.

— É. — Josh inclinou a cabeça para trás, encostando-a na parede também. — Acho que não.

Audrey cruzou as mãos na frente do corpo, os olhos azuis ainda fixos nele. Era desconcertante vê-lo para baixo, e angustiante o fato de que ela não sabia o que fazer para deixá-lo melhor, para vê-lo sorrir de novo. Boa, Audrey, ótima amiga você.

— Posso te dar um abraço? — Ela perguntou de repente, fazendo-o olhar para ela com uma expressão confusa.

— Desde quando você pede permissão para abraçar as pessoas? — A voz dele soou risonha, embora o rosto permanecesse sério.

Desde que ela tinha se tornado uma tonta, essa era a resposta.

— Ah, sei lá. — A garota deu de ombros e andou até ele a passos rápidos, ficando na ponta do pés para dar um beijo rápido na sua bochecha, ao que Josh cruzou os braços atrás das suas costas, puxando-a para mais perto. Audrey fechou os olhos e sorriu ao sentí-lo apoiar o queixo no seu ombro esquerdo. — Você se sente melhor? Porque, se a missão abraço tiver fracassado, eu tenho que pensar num plano novo.

A risada dele soou muito próxima ao seu ouvido, fazendo-a se arrepiar.

— A missão abraço está sendo bem sucedida.

— Que bom. — A garota suspirou de alívio, entrelaçando os pulsos atrás da nunca dele. — Ei acha que a moqueca de abóbora da Sra. Weasley já está pronta? — Josh riu novamente. — É sério, a comida dela é incrível, vai te deixar muito melhor também.

— Eu acredito em você.

Os dois continuaram naquela posição por tanto tempo que Audrey perdeu a conta. Quando ela enfim tirou os braços do pescoço dele, um impulso a fez parar quando suas mãos chegaram às laterais do pescoço de Josh, cujos dedos agora estavam cuidadosamente pousados ao redor da sua cintura, e algo no olhar dele pareceu ficar mais atento quando ela parou, a centímetros de distância do rosto dele.

Os segundos pareciam se arrastar preguiçosamente enquanto os dois se encararavam.

Aquele espacinho entre eles de repente se tornou tão inconveniente. Audrey podia jurar que Josh se inclinou quase que milimetricamente na sua direção...

— O JANTAR ESTÁ PRONTO! VENHAM PARA A MESA!

Os dois se soltaram aos mesmo tempo.

— Hum... é melhor a gente ir. — Audrey disse, sentindo seu rosto queimar.

— É. — Ele franziu a testa e começou a rir. — Você quem está vermelha agora.

— Josh!

— Okay. — Ele concordou, andando apressadamente em direção à porta e mantendo-a aberta para Audrey passar. — É...

— Vai na frente. — Audrey disse, se afastando em direção ao quarto das meninas. — Te vejo lá embaixo.

— Beleza.

Quando ele chegou à sala, Olívia estava ajeitando as cartas para guardá-las, mas pulou do tapete e foi até ele assim que o viu.

— E aí?! — Perguntou, ansiosa. — O olho ficou bom, não dá para ver nada.

— Ótimo. — Ele balançou afirmativamente a cabeça, tentando parar de pensar na cena de alguns minutos antes.

— Eu não quis te deixar mal, okay? — Olívia falou, cruzando os braços. — Eu queria ajudar, eu só não... você está prestando atenção no que eu estou falando?

— Hum? — Ele murmurou, piscando. — É claro. Esquece isso, não tem problema.

Olívia cerrou os olhos para ele, desconfiada.

— Vocês se beijaram! — Ela exclamou de repente. — AH! EU SABIA!

— Não! — Josh exclamou, corando. — Não nos... claro que não!

A expressão empolgada de Olívia imediatamente se converteu na de uma pessoa que está conversando com um débil mental.

— Como assim vocês não se beijaram?!

— Por que faríamos isso? — Ele perguntou, engolindo em seco.

Olívia ficou em silêncio por quase dez segundos inteiros.

— É definitivo. — Ela deu dois tapinhas no ombro dele enquanto o encarava com desgosto. — Eu desisto de vocês dois.

━━━━━━━ ⟡ ━━━━━━━

Vcs não acharam que eu tinha feito um edit deles à toa né?

😏🙃😎

Enfim, enfim...

Gatos e gatas, até amanhã 💜

Fiquem com Deus 💙

Um beijo pra quem quiser 💋

Não esquece de deixar sua ⭐ e seu 💭

E, se possível, dizer o que você está achando até aqui ✌

🤗 Fui 💅

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