Lie to Me (jjk + kth) - Concl...

By veggiekook

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Jeon Jungkook ganhava a vida fodendo mulheres ricas, no sentido literal da palavra. O sexo com o homem era o... More

L is for Liar
I is for Innocent
E is for Eager
T is for Tantalizing
O is for Oblivious
M is for Maniacal
E is for Euphoric
Interlude: Hyungsik e Taehyung
L is for Lost
I is for Instinctive
E is for Enigmatic
T is for Tight
O is for Ordinary
M is for Misty
E is for Enticing
Interlude: Jungkook e Yugyeom
L is for Listening
I is for Intrigued
E is for Easy
T is for Tasty
O is for Off
M is for Monetary
E is for Enamored
Interlude: Taehyung e Kai
L is for Letal
I is for Inutile
E is for Evoked
T is for Tortuous
O is for Onward
M is for Manipulative
E is for Everlasting
Interlude: Jungkook e Sana
L is for Lucrative
I is for Icky
E is for Edged
T is for Tender
O is for Old
M is for Maturity
E is for Electric
Interlude: Jungkook e Frank
L is for Lonely
I is for Imprudent
E is for Effervescent
T is for Toxicant
O is for Organismic
M is for Mystical
E is for Earthquake
Interlude: Taehyung e Jungkook
L is for Love
O is for Obliging
V is for Vivid
E is for Enhanced
M is for Mad
Epilogue: Love Me

E is for Evil

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By veggiekook

Evil

mal
1. de forma impiedosa;
2. cruelmente;

– Taetae, quanto tempo! Como você está? – Hyungsik começou, o seu tom repleto de animação. Para quem não conhecia seus meios, pensaria que era uma voz cheia de afeto.

Seu irmão não tinha mudado muito, Taehyung concluiu. O corte cabelo continuava o mesmo e ainda vestia roupas de marca. Sem alteração de peso ou de postura.

Eram os seus olhos que estavam ligeiramente diferentes. Ou só agora Taehyung percebia? Não sabia dizer. Apenas sabia que as suas pupilas estavam dilatadas demais, e suas íris vagavam para os lados de uma maneira ansiosa.

Maníaca.

Taehyung viu que não adiantaria corrigi-lo no uso do apelido, então apenas continuou a encará-lo. 

– Não vai responder? Você sempre é assim, tão frio e distante.

Taehyung riu com escárnio. O seu irmão não tinha mudado nada, de fato. 

– Eu não vejo sentido em te responder. Você já sabe tudo sobre a minha vida. Sabe se estou bem ou não. É obcecado por ela, afinal. – Taehyung finalmente lhe dirigiu a palavra, um sorriso superior em seu rosto.

O sorriso de Hyungsik caiu, mas logo ele mascarava seus lábios para a malícia comum que sempre tinha. Foi o suficiente para que Taehyung conseguisse identificar o ódio que passara em sua expressão, porém.

– Soube que você está junto com o Jungkook. Tsk, mesmo depois de tudo que ele fez você passar.

Aquilo não atingia Taehyung mais. Sim, ele tinha sofrido por Jungkook. Sofrido, no passado. Agora, o homem era fonte de confiança e felicidade, e não tinha nada que Hyungsik dissesse que fizesse Taehyung duvidar de seu relacionamento.

Jungkook tinha passado pela sua enorme parcela de problemas na vida, e dentro de suas adversidades se tornado alguém formidável – não, não se tornado, pois Taehyung acreditava que essa já era sua essência.

Mais do que perdoá-lo, Taehyung o admirava e o amava. 

– Deixa eu adivinhar como descobriu isso… – Taehyung disse, falsamente pensativo. – O T.J. é o seu informante, certo? – mudando seu tom de voz para um mais sóbrio, completou:  – Você já está bem previsível, Hyungsik. Pode falar o que você quer de uma vez. 

Hyungsik não parecia gostar da conversa. Até então, Taehyung não aparentava estar enfadado pelo encontro. O irmão mais velho cerrou os punhos, apertando os dentes sem esconder a raiva.

Bruscamente, Hyungsik jogou um maço de papéis sobre a mesa. As folhas se espalharam por toda a superfície. Taehyung não prestou muita atenção, desinteressado em descobrir qual seria a próxima loucura de Hyungsik.

– Você não quer ver o que são esses papéis? – Hyungsik indagou. Taehyung apenas pegou a sua xícara de chá, levando o líquido frutoso aos lábios. – Vamos, vai te interessar… Sei que Jungkook te interessa muito.

Isso despertou a curiosidade em Taehyung. A contragosto, postou a xícara de volta na mesa. Pegou um dos papéis, correndo brevemente seus olhos pela página.

Era um contrato. Entre Jungkook e a Vermilion, a agência para o qual ele trabalhou como garoto de programa por anos.

As folhas registravam diversos outros documentos. Comprovantes de transferências bancárias – Taehyung riu amargo ao lembrar de como descobriu a afiliação entre Hyungsik e Jungkook – e até mesmo fotos de Jungkook com algumas de garotas, em vários locais diferentes. 

Uma cópia do catálogo que ficava na Vermilion, o mesmo que Taehyung tinha folheado anos atrás.

Taehyung não fazia ideia como Hyungsik tivera contato com esses documentos. O seu estômago revirou.

– Vocês sabe que a prostituição é ilegal em Nova York, não sabe?

Taehyung fez um esforço descomunal para controlar a respiração e não deixar transparecer o seu nervosismo.

– Imagina se descobrem um passado desse de um professor, um homem que dá aula para adolescentes… Eu acho que o Jungkook não conseguiria um emprego em uma escola nunca mais, não é,Taetae?

Taehyung só queria que ele se calasse, que sua voz ardilosa não falasse o nome de Jungkook nunca mais em meio a tantas atrocidades.

– O que você quer, Hyungsik?

O sorriso maníaco que Hyungsik finalmente lhe dera ficaria marcado para sempre em suas lembranças. 

– Só quero um pouco do seu tempo, irmãozinho. Só para conversamos.

***

Havia uma onda de azar na manhã de Jungkook.

O seu alarme não lhe acordara. Atrasado, não pôde tomar um café-da-manhã decente.

Ele estacionou o seu carro em um lugar que não gostava: a seiva das árvores sujava todos os veículos naquele canto. Logo que desceu, seu pé encontrou uma poça de água, deixando o seu tênis molhado. Suas meias encharcadas seriam um incômodo para todo o dia.

Não tinha conversado com Taehyung ainda, e sentia-se inquieto pelo fato.

O céu nublado estava escuro, brumas impedindo que ele pudesse ver a cidade com clareza. A nebulosidade era condizente com seus sentimentos: possuía um incômodo que não conseguia facilmente compreender, além dos pequenos contratempos que tinha sofrido.

Jungkook balançou a cabeça, subindo as escadas que dava acesso ao edifício onde os estudantes teriam suas aulas em breve. Estava apenas sendo saudoso, convenceu-se.

***

Dylan e Colin não se odiavam. Eles apenas discutiam com uma não-saudável frequência, algo que não podiam evitar, pois sempre se irritavam na presença do outro.

Ninguém adivinharia que o dia que venceriam suas diferenças seria sim por causa de Jungkook, mas não da maneira que o treinador tinha planejado que acontecesse.

Perto de uma da tarde os dois voltavam da pista de atletismo para o vestiário. Como de costume, eram os últimos estudantes a saírem da quadra, ou assim achavam. Estavam lado a lado, mas evitavam até respirar o mesmo ar do outro.

Colin era o mais observador dos dois, uma qualidade que Jungkook sempre apontava em seu aluno. Um bom corredor não era apenas aquele que tinha velocidade, e sim o que possuía também capacidade de observação e poder de estratégia, Jungkook repetia. 

Com isso, as duas figuras no fim da arquibancada de cimento não passaram despercebidas por ele. Uma Colin reconhecia ser Ten, o ex-colega de time que era sempre acanhado – e antes de sair da equipe, o responsável por dedurar ele e Dylan para Jungkook. Não era o aluno do colégio favorito para ele nem Dylan, sendo assim.

Ao lado de Ten, um homem mais velho o olhava por cima, ao que parecia sem muita paciência em sua expressão, demonstrando agitação com a conversa pela maneira com que gesticulava.

Colin não sabia, mas Dylan também olhava a interação com a mesma curiosidade. Dylan encontrou o seu olhar e, em uma comunicação silenciosa, o interesse mútuo trazendo trégua para suas desavenças, decidiram que valia a pena bisbilhotar um pouco a conversa.

Os garotos passaram na frente de Ten e do homem, dado que era preciso fazê-lo para que alcançassem a saída do lugar. Não passou despercebido por ambos que tanto o homem quanto Ten ficaram em silêncio no exato momento em que se aproximaram.

Ao virar a esquina, abaixaram-se ao mesmo tempo, escondendo-se na lateral da arquibancada, uma sintonia tão acurada que trocaram um pequeno sorriso. 

Conseguiam ouvir com clareza a conversa dali.

– Você entendeu direito? Repete a informação.

– Ok. – O garoto mexeu na barra da blusa em claro sinal de ansiedade. O nervosismo em sua voz era suficiente para os garotos saberem de uma vez que havia algo muito estranho na situação. – No fim do expediente dele, é para eu dizer que ligaram do hospital. Taehyung sofreu um acidente, e Jungkook precisa ir até lá. 

Ao ouvir o nome do treinador, os garotos entreolharam-se com os olhos arregalados. 

– Qual hospital ele estará?

– S-Saint Joseph. 

– Ótimo. Pode até gaguejar como está fazendo agora, deixa a situação mais real.

Eles conheciam Taehyung. Já tinham visto o médico com o treinador algumas vezes na escola. Os dois não eram bobos, e percebiam que havia algo além naquele relacionamento.

Em um ritmo que deixaria Jungkook orgulhoso, os dois correram até a sala do professor de literatura. Ainda que Ten estivesse lá atrás com o homem desconhecido, sentiam que não podiam atrasar nem mais um segundo, que a informação que possuíam era extremamente crucial. 

Jungkook recebeu seus estudantes assim: os dois garotos praticamente derrubaram a porta de sua sala, ambos suados e com a respiração descompassada. O mais estranho em tudo era como Colin se apoiava e Dylan em um claro gesto de camaradagem.

Tentaram explicar a situação entre respirações cortadas e palavras cheias de incerteza. Fizeram o possível para recordar da melhor maneira o que fora dito por Ten e pelo estranho. Jungkook entendeu quase que imediatamente: T.J. estava encobrindo algo, muito provavelmente para Hyungsik. Resumidamente, Taehyung estava em potencial perigo. 

– Obrigado, garotos. – Jungkook disse, saindo da sala após de lançar um olhar fraterno para Dylan e Colin. 

O celular de Taehyung não estava desligado, pois a ligação completava todas as vezes que Jungkook tentava ligar, então provavelmente só estava no silencioso. Se este era o caso, por que Taehyung não lhe mandara uma mensagem ainda? Outra opção seria que ele, de alguma forma, não tivesse alcance de seu celular. 

Não era algo para se pensar ali, de qualquer forma. O mais importante era que talvez, com o celular ligado, conseguisse localizá-lo pelo GPS do dispositivo.

Suas mãos tremiam incontrolavelmente, e só conseguia pensar no sorriso retangular, na pele dourada e nos cabelos castanhos macios. Taehyung era tudo que tinha em mente.

Respirou fundo, sabendo que seria em vão ficar dando atenção a tais pensamentos e que o mais importante a se fazer era agir.

Não demorou para que conseguisse configurar o aplicativo de rastreio e identificasse o paradeiro de Taehyung. Ele estava em um hotel, o que significava que não conseguiria simplesmente entrar no lugar.

Aquilo lhe trazia péssimas lembranças. Imaginar que poderia encontrar Taehyung como encontrara Sana naquele dia…

Minutos depois, Jungkook parava o seu carro em uma delegacia, pronto para contar uma história longa aos policiais da maneira mais resumida possível.

***

Taehyung olhou ao redor do quarto de hotel luxuoso. Era uma cobertura, pois claro, outro tipo de quarto não estaria dentro dos parâmetros de Hyungsik.

Não podia negar que a decoração toda em preto e branco era de extremo bom gosto. Tudo era monocromático, salvo pelas esculturas modernas espalhadas pelo quarto – escrivaninha, cômoda, estante da televisão – que eram sofisticadas e traziam cor ao ambiente. Elas representavam formas de corpos contorcidos como se dançassem, alguns entrelaçando entre si. Eram feitas de bronze e cobre.

Taehyung parou no meio do quarto, cruzando os braços. 

– Por favor, fale logo o que quer. Eu não tenho tempo para gastar com os seus jogos. – Taehyung apressou o irmão, não ficando à mercê do tempo dele. 

– Ah, deixe-me servir uma bebida primeiro. Rum, vinho… O que você quer, Taetae?

Taehyung mordeu o lábio inferior, tentando conter sua agitação.

– Nada, eu não quero nada. Pelo amor de deus, só fale de uma vez porque me procurou. – a voz de Taehyung soava frustrada. Hyungsik não prestou atenção, indo até o frigobar para servir os dois copos que agora carregava em suas mãos.

Taehyung revirou os olhos, não discutindo ante ao gesto infantil.

Hyungsik escolheu por conta própria um Rum de cor caramelo escuro, enchendo ambos os copos com a mesma quantidade. 

Taehyung não duvidava que Hyungsik poderia ter colocado algo na bebida. Não seria algo impossível vindo dele, e nem de longe a coisa mais absurda que já fizera. Por isso, observava de perto Hyungsik tomar o líquido primeiro. 

Depois, apenas em uma tentativa de agradar o outro e fazê-lo continuar de uma vez, Taehyung bebericou da própria bebida. Segurou uma careta quando o gosto forte atingiu a sua garganta. Não era exatamente o que costumava tomar. 

Hyungsik pôde vê-lo apertando os lábios, e gargalhou.

– Tudo bem, vou te tirar da sua miséria. Eu quero o meu dinheiro de volta.

Taehyung franziu o cenho, verdadeiramente confuso com o que ele queria dizer. Hyungsik clarificou:

– Os duzentos mil que eu paguei para o Jungkook ficar com você, e que eu sei que ele te deu. 

A quantidade de informações que Hyungsik parecia ter dele era infinita. 

Algum dia ele ficaria livre dessa obsessão? Na maior parte do tempo, Taehyung apenas o ignorava. Era a maneira com que tinha lidado com o irmão. Afinal, não era como se tivesse nada a esconder.

Naquele momento, porém, odiou toda a sua loucura como nunca antes. Hyungsik estava colocando em cheque mais uma coisa boa que tinha na vida. E estava ameaçando Jungkook... 

Jungkook que sim tinha algo a esconder.

Apertou seus dedos contra o copo, respondendo da melhor maneira que pôde, com o tom mais calmo que conseguia emitir. Sua mente trabalhava para encontrar uma saída.

– Eu usei o dinheiro para pagar minha graduação anos atrás. Além disso, por que você precisa dele? O nosso pai tem mais do que o suficiente.

Taehyung sentiu o corpo de Hyungsik aproximar-se, o seu incômodo crescendo. O ambiente parecia cada vez mais sufocante.

– Realmente não sabe o que aconteceu com o papai? – Hyungsik estava incrédulo, e ria com escárnio. Taehyung novamente mostrava-se confuso – O nosso pai foi preso porque usava sua posição no hospital para traficar órgãos. Por que você acha que não consegue emprego? É o seu sobrenome, Taetae. Está sujo. No começo papai até tentou te boicotar, mas há um limite para a influência dele… Enfim, ficamos sem nada. O que acha disso? – Hyungsik falava com naturalidade, como se não estivesse contando absurdos.

O som do copo de vidro encontrando o chão assustou até mesmo Taehyung, o responsável por deixá-lo cair. O Rum espalhou-se por todo o carpete, e gotas da bebida caramelo espirraram na roupa de Taehyung.

Não prestou atenção em nada disso. Precisava de um lugar para sentar-se, pois suas pernas tremiam. Precisava se recompor.

Sentou-se na beirada da cama, o assento mais próximo de si.

Mesmo que não tivesse mais contato com a família, a notícia era chocante. Estava em um conflito dentro de si, sem saber como reagir.

Não estava exatamente triste pela prisão de seu pai. Porém, saber que que o pai tinha usado do poder para cometer uma atrocidade como aquela era…

Era assustador.

– Você é o único que teve oportunidade de fazer alguma coisa na família, Taehyung. É sua obrigação me dar esse dinheiro, que nada mais é do que uma devolução do que já foi meu. 

A frase só trouxe indignação para Taehyung. Respondeu olhando para Hyungsik com fogo em sua íris, sem intenção de ceder a qualquer exigência do irmão.

– Está completamente fora de si. Eu não te devo nada. 

Claramente não era a coisa certa a se dizer, pois no próximo segundo Hyungsik aproximava e o pressionava sobre a cama, apertando o seu pescoço e rosnando suas palavras. 

– Você sempre é tão arrogante. Sempre acha que está acima de mim, mesmo quando me deve. 

Taehyung tentou debater-se. Estava perdendo o fôlego rapidamente, o aperto em seu pescoço tirando o seu ar de maneira eficiente. A insanidade deixava Hyungsik mais forte.

Taehyung tentou mexer o corpo e desvencilhar-se. Usou suas mãos livres para tentar arranhar os braços e o rosto do homem em cima de si. Foi efetivo para que conseguisse que ele soltasse o seu pescoço. Mas logo em seguida seus dois braços eram agarrados com uma força extrema. Um gemido de dor escapou de seus lábios. O som chamou a atenção de Hyungsik da pior maneira possível.

– Você realmente parece uma garota às vezes. É isso que ele vê em você? O Jungkook? Aposto que você se veste como uma também.

Os olhos de Taehyung se encheram de lágrimas, mas ele recusava-se a deixá-las caírem.

Então, Hyungsik aproximou o seu nariz da lateral do rosto de Taehyung, afundando-o nas mechas castanhas. 

– Você tem um cheiro tão bom. – Hyungsik disse, sua voz em um tom mais baixo do que era. Mais perigosa. – O puro, bom Taehyung. Eu tenho curiosidade para saber o que tanto vêem você. O que fez Jungkook te provar e não querer te deixar? Você tem algum gosto especial?

Taehyung se viu então em cenário que jamais conjurara, um cenário que passava longe até mesmo dos maiores medos de seu subconsciente. A língua de Hyungsik tocou o seu pescoço, traçando a extensão de sua veia jugular e deixando um rastro de saliva ali. Ele estava lhe beijando, um gesto claramente reservado para amantes e não irmãos.

E foi como se algo se perdesse em Taehyung de vez. Como se o último sinal de fraternidade que poderia ter em relação a Hyungsik desvanecesse. 

As lágrimas já corriam livremente pelo rosto de Taehyung a esse ponto, e seu corpo tremia, imóvel. Raiva e dor eram as únicas coisas que identificava em sua consciência. Não, sentia asco, também.

Fechou os olhos, tentando fugir daquele momento. Procurou reunir forças em outras coisas: Na lembrança de olhos negros que carregavam uma galáxia, e de tardes em um sofá ao lado de Jungkook e com Gureum perto de seus pés.

Taehyung tinha coisas boas, coisas perfeitas. Ele precisava lutar.

Sacudiu as suas pernas vigorosamente, remexendo todo o seu corpo, tentando afastar Hyungsik de si, assustando-o com a súbita reação. 

A resposta de Hyungsik foi então mais violenta.

Hyungsik tentou mirar seu próximo beijo em sua boca, e por centímetros Taehyung conseguira desviar o rosto. A nova posição permitiu que Taehyung visualizasse um objeto em particular na mesa de cabeceira: a escultura de bronze. Apertou os olhos, recobrando mais forças agora que tinha um objetivo. Hyungsik continuava tentando lhe beijar, e Taehyung usou isso como sua vantagem, aproveitando que o foco dele estava em outro lugar.

Em um segundo de sorte, Taehyung conseguiu tirar o braço do aperto de Hyungsik. Esticou o máximo que pôde, os seus dedos tocando a peça. Estava tão perto...

Arfou com o esforço, fazendo Hyungsik perceber, tarde demais, o que Taehyung tentava fazer. 

No momento em que Hyungsik levantou o seu rosto, descolando-o de Taehyung, ele sentiu o impacto da escultura pesada em sua têmpora.

Foi o suficiente para deixar Hyungsik tonto, fazê-lo sair de cima de Taehyung e cair na cama, gritando de dor. O seu peito subia e descia com a sua respiração acelerada.

Taehyung ajoelhou-se na cama, olhando o irmão por cima. 

Olhou de novo para si, para suas roupas amassadas, sua camisa fora do lugar. Sentiu o fantasma de uma carícia de uma língua em seu pescoço, língua essa que não tinha nenhum espaço para estar ali.

Um ódio que não achava que era capaz de possuir queimava as suas veias. Lembrava de todas as coisas que Hyungsik armara, de todos os momentos que sentira medo porque estava sendo observado por olhos enlouquecidos. Ele nunca seria livre enquanto o irmão vivesse.

Tomado por essas emoções, levantou a escultura no alto com as duas mãos. Então, direcionou-a até Hyungsik uma segunda vez, acertando o mesmo lugar de antes: na lateral da cabeça que estava levemente caída para o lado. O local começou a sangrar incessantemente.

O peito de Hyungsik ficou imóvel.

Taehyung parou, observando o sangue fluir do machucado, a adrenalina em seu corpo abaixando. Um cansaço enorme tomou conta de si, e ele virou-se para o canto da cama, pousando a cabeça no travesseiro, seus olhos arregalados em medo. 

Foi assim que Jungkook o encontrou, minutos depois, junto com a polícia que invadia o quarto de hotel. 

Jungkook foi imediatamente até Taehyung, indo contra a recomendação do policial que gritava atrás dele para que deixassem tomar as ações necessárias. Jungkook não ouviu, envolvendo seus braços no corpo de aparência fragilizada.

– Tae! Taehyung! – Jungkook gritou, seu rosto colado no cabelo desgrenhado do mais velho. – Você se feriu?

Taehyung negou vagamente.

– Ele está morto. – Soou a sua voz, neutra. Tentou invocar qualquer sentimento que poderia sentir pelo irmão, mas não encontrou nenhum. 

Se tentasse ouvir algum sentimento de sua voz, só encontraria um pouco de alívio.

– Meu amor, eu te amo tanto, tanto. Você está salvo agora, não se preocupe. – Jungkook disse, repetindo em seguida a mesma frase, como um mantra.

Taehyung viu conforto em seus braços e na voz melodiosa, ainda que o seu corpo ainda estivesse congelado.

Percebeu que sentia muito frio, e que todos os seus membros ainda tremiam. Jungkook tirou o próprio casaco, envolvendo Taehyung no tecido quente.

– Tae, eu fiquei tão assustado...eu achei...– a voz repleta de emoção de Jungkook quebrava o coração do médico. Taehyung sentiu que devia-lhe uma explicação de como chegara naquela situação, mesmo que falar parecesse um esforço maior do que suportava. 

– E-ele mostrou alguns papéis, foram eles que me convenceram a vir. Eram documentos da época em que você se prostituía. – Taehyung falou baixo, certificando-se que os policiais não escutassem  – Ia estragar a sua vida, Jungkook, você iria preso, eu não podia… 

E então lágrimas quentes corriam pelo rosto suave de Taehyung, e seus soluços enchiam o quarto. Os policiais se aproximavam do casal, mas Jungkook recusava-se a ficar longe de Taehyung.

– Shh, está tudo bem. Você está salvo comigo, está bem? Agora isso acabou. Por favor, nunca mais se coloque em risco assim por minha causa, Tae, por favor, por favor...

Taehyung não sabia se teria coragem de contar a Jungkook que tinha deferido o segundo golpe intencionalmente. Ajustou-se no abraço do namorado, colocando uma mão em seu peito. 

Hyungsik havia escolhido esse caminho, repetiu para si, assim como Taehyung fazia jus a todo o afeto que recebia.  

Legítima defesa, não era? Talvez a segunda vez que deferira a pancada tivesse certa intenção de matar. Mas o que fizera de errado, a não ser proteger a si mesmo no futuro? 

Estava mais do que claro que Hyungsik nunca lhe deixaria em paz.

Sabia que toda a personalidade de Hyungsik era reflexo de seu pai. Considerava seu pai alguém pior que Hyungsik, se fosse possível fazer tal classificação.

Mesmo tendo consciência disso, não encontrava espaço em seu coração para ter empatia pelo irmão.

Talvez em alguns momentos até alimentara a obsessão de Hyungsik, pois sabia dela, mas deixara que o irmão continuasse a lhe perseguir. Mesmo que não intencionalmente, tinha noção que eram simbióticos nesse sentido: nunca fizera nada definitivo para impedir o comportamento de Hyungsik. 

Era incerto se sequer tinha poder sobre tal coisa. Existia algo que pudesse ter feito para que não chegassem nesse ponto, ou era o choque colocando essas coisas em sua cabeça?

Não importava mais. 

Taehyung afundou o rosto no pescoço de Jungkook, o seu cheiro acolhedor lhe embalando em um sono profundo.

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