PARTE DOIS
KIM NAMJOON
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Quatro anos antes
Namjoon pegou suas várias malas rapidamente, entre um mar de bagagens e pessoas apressadas. Mesmo estando do outro lado do país, ainda não tinha certeza se carregava tudo o que precisava. Já visitara os tios em Doghae antes, mas agora era uma situação completamente diferente. Ele estava se mudando. Sozinho. Era assustador.
Apenas dezenove anos, e não muitas expectativas no mundo. Na verdade, nenhuma. Mas queria tentar fazer valer a dor de sua mãe de mandá-lo para longe de Ilsan para que talvez seu filho tivesse uma vida melhor. Mas já tinha se decidido, não iria ser tão descuidado quanto foi quando novo. Ninguém ia descobrir que ele era gay tão cedo. Caminhava pelo pátio sem rumo, já preocupado com onde conseguiria um emprego, e se seu quarto na casa dos tios teria espaço para seus bonecos de ação, posters e coleções. Ele sabia o caminho da saída, mas estava esperando sua recepção familiar.
- Te achei, Joon! - uma voz fraca e aguda o surpreendeu pelas costas. - Oh, quantas malas! Ainda não processei que você vai morar com a gente.
Minatozaki Sana era sua prima, poucos anos mais nova. Sua família, que vivia viajando do Japão para a Coreia, estabeleceu-se em Donghae fazia pouco tempo e isso aliviava Namjoon. Ele sempre confiou muito na prima, a primeira amiga que teve e que sabia que sempre teria.
- Você faltou à aula hoje? Não precisava, eu sei chegar na sua casa sozinho.
- Meus pais deixaram. Eles queriam que eu te ajudasse para não te deixar sozinho. Eu fiz o almoço para você, tá?
- Você aprendeu a cozinhar?
A garota fez uma expressão emburrada. Ainda era uma colegial, viciada em redes sociais e em moda. Não sabia para que faculdade iria, nem se faria faculdade, mas tinha um espírito de responsabilidade que deixava Namjoon acolhido.
Donghae não era uma cidade muito grande, e ficava no litoral do país. Grande parte da cidade era contornada por águas salgadas e límpidas e uma areia grossa amarelada. Namjoon amava a praia, e poder ir com mais frequência era uma ideia que o deixava feliz. O ar era úmido e agradável na cidade. As pessoas davam essa mesma impressão. Queria ali esquecer de quem era. Adotar uma vida rotineira e tranquila.
- Abriu um bar bem legal perto da praia, Joon. - Sana disse animada, quase saltitando. - Eu não posso ir, mas você siim.
- Bar? - ele fez uma careta. Era completamente fora dos planos dele. - Eu nem bebo.
A prima não estava falando de bebida. Provavelmente queria animá-lo com a ideia de algum cara que pudesse criar interesse. Mas isso sempre pareceu distante. Namjoon nunca havia beijado ninguém. Desde novo, percebeu que o que sentia por alguns colegas não era bem aceito. Vivia reprimindo seus sentimentos. E mesmo assim era mal tratado em todos os lugares. Direcionou todo o seu foco em informática, basquete e cultura weeb. Mais e mais para esquecer do que acontecia lá fora.
Chegando à casa da família Minatozaki, Sana foi para cozinha arrumar a mesa para o almoço, e Namjoon levou suas malas ao quarto de hóspedes. Não tinha espaço o suficiente para as coisas dele. Mas tinha espaço para o computador. Bastava. Teve uma satisfatória refeição japonesa com a prima e tomou um longo banho quente, cansado da viagem. Pretendia sair um pouco, depois de um cochilo, mas quando acordou com as batidas na porta já havia anoitecido.
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- Ah!, fiquei tão ansiosa quando Minatozaki me contou sobre você! Apareceu na cidade em boa hora, garotão.
Todos estavam sentados no chão ao redor de uma grande mesa. A casa estilo oriental era um capricho do tio de Namjoon, que gostava de se sentir perto do país de origem. Para o jantar, todos estavam ali acompanhados de uma mulher de meia idade de forte sotaque, aparentemente amiga da tia.
- Me mudei para cá faz muito tempo e comecei um pequeno negócio com minhas filhas, fabricando e vendendo perfumes. Estamos crescendo e os cadernos não suprem nossas necessidades. Precisamos de alguém sabido para colocar o que é necessário na internet.
- Fico feliz em poder ajudar vocês! - Namjoon respondeu com um sorriso gentil.
Não estava realmente muito feliz, mas pelo menos era um trabalho dentro de suas habilidades que o ocuparia integralmente por muitos dias. Ele precisava disso. Era terapêutico. O chá verde após o jantar, trabalho duro nas noites de insônia, a brisa fresca da praia pela manhã. Foi fácil se acostumar.
Depois de poucos meses, Namjoon se mudou para uma casa de madeira, no topo de uma loja de eletrônicos pouco popular. Era longe da praia, e sem muito movimento. Mas era barata e ele podia sustentar sozinho. Ali cabia todos seus pertences, até comprou uma televisão algumas semanas depois.
Mas ainda antes da televisão de bom preço aparecer na vitrine, o garoto ia nervoso para seu primeiro dia num treino de basquete na única quadra da cidade. Sana contou sobre o time, mas ele evitou por um tempo. Até agora não tinha conversado com muitos garotos da sua idade em Donghae.
Na quadra havia muitos deles. Eles corriam atrás da pesada bola laranja, com seus grandes sneakers e coletes coloridos que separavam os times. Garotos altos e baixos, de cabelos longos ou curtos, alguns descoloridos. Garotos lindos e animados, que fizeram Namjoon corar pela primeira vez em meses.Muitos meses.
- Ah! Você é um dos meninos que viriam treinar? - um dos garotos no banco o chamou. Parecia ser muito mais velho, mas tinha um ar jovial. - Bem vindo. Estamos esperando mais um. Vá para o vestiário se trocar, logo o aquecimento acaba e podemos nos apresentar.
Na frente do espelho, Namjoon tentava contar quantos fios de cabelo tinha sua franja escura. Era um jeito de se acalmar. Se sentia um pouco exposto na regata branca, mas era falta de costume. Se não entrasse de cabeça no basquete de novo, nunca mais conseguiria voltar aos esportes. Era só se acalmar e dizer o que era necessário.
- Eu gosto de jogar video games, assistir jogos estrangeiros de basquete e ouvir hiphop. - cochichou baixinho várias vezes. Não reparou quando mais alguém entrou no vestiário. O outro garoto chegou a falar alguma coisa, mas Kim não ouvi. Dando de ombros, o menino começou a trocar de roupa.
- Okay, eu estou bem. - Namjoon sorriu, virando-se para sair, mas acabou se assustando com um garoto magro e pequeno, que amarrava seus sneakers.
- Oi, acordou?
- Acordar?
- Você parecia em transe na frente do espelho, então não quis incomodar. Você é o outro novato?
Namjoon percebeu que mesmo jovem e magro, o outro tinha músculos definidos. Dedos cheios de ataduras e um cabelo escuro como a noite com uma franja transversal.
- Sou.
- Pode ir na frente. Vou terminar de me ajeitar.
Um pouco sem graça, Namjoon voltou para perto do banco, pensando que provavelmente já tinha estragado tudo. Por que ele era tão estranho? Por que não conseguia agir naturalmente como todos os outros? Mas como agir naturalmente ali...?
Em poucos minutos o aquecimento acabou, e o menino do vestiário havia chegado. Enquanto os veteranos se refrescavam, sentados na arquibancada, os novatos aguardavam quietos o momento de falar.
- Garotos, meu nome é Jae. Nós somos o time municipal de basquete, Mangsang's Bullets. Vocês vão treinar com a gente, mas pode demorar para entrarem em um jogo. Podem se apresentar, quem são vocês e onde jogaram basquete antes. Você primeiro, o mais alto.
- An... eu sou Kim Namjoon. Eu cheguei na cidade esse ano, mas já visitei algumas vezes antes. - disse tentando parecer o mais descolado possível, mas sem ser tosco. O outro novato riu sozinho, percebendo que Kim não falou o que ensaiou no banheiro. Ele sim parecia confortável com quem era e com a imagem que os outros tinham dele. Com os braços magros e definidos soltos ao lado do corpo e os pés levemente agitados, ele parecia um jovem agitado e popular.
- Eu vim de Busan e pratico basquete desde pequeno nos times infantis. Nos últimos anos foquei em vôlei, mas queria voltar para o meu esporte favorito. Ah!, eu sou bissexual e estou solteiro.
Namjoon ficou assustado com a coragem do garoto. Jae sorriu, entendendo que ambos eram apenas garotinhos saídos da puberdade.
- Você esqueceu de dizer seu nome.
- Desculpa! - o garoto suplicou com uma risada - Meu nome é Jeon Jungkook.
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