Olá, meus amores! Desculpem o atraso da postagem. Mamis está atolada de trabalho no doutorado desde a semana passada.
AVISO: já passamos das 3 milhões de leituras na amazon! Uhuuuuuuuuuu! Muito obrigada a cada um q já comprou e está indicando para os amigos <3 mamis ama vcs <3 Não esqueçam de deixar sua avaliação por lá, amores. Isso ajuda muito o livro e o autor.
Bora conhecer mais um cadinho de piloto safado e sua tigresa do Norte? Boraaaaaaa!
Boa leitura!
Lani
Mas por agora, ficamos tão longe. Até que nossos membros solitários colidam, eu não posso mantê-lo nesses braços. Então, eu vou mantê-lo em minha mente...
(You And I – PVRIS)
Duas semanas depois...
Tristan
— Então, me fale um pouco mais sobre essa moça nortense, como é mesmo o nome dela? — Dona Magnólia vira para mim no banco traseiro do Bentley. Passei em sua casa para levá-la ao jantar de Natal na casa de H. Minha avó pensa que me engana com esse tom aparentemente desinteressado.
— Pietra, vovó. Pare de tentar pescar informações. — Rio, pegando sua mão e depositando um beijo carinhoso. Yuri está com sua família hoje, então, Augusto, meu motorista, assumiu. Sentei-me com minha avó aqui atrás para paparicá-la um pouco. As janelas estão abertas. Essa é única maneira de eu andar em carros que não são conversíveis. — E pare de imaginar coisas que não existem. Eu não vou sossegar tão cedo, talvez nunca.
Seu rosto bem maquiado cai um pouco a empolgação. Ela ainda é uma das mulheres mais bonitas para mim. Uma grande dama da sociedade paulistana. Me recordo dela sempre bem arrumada e maquiada. Os cabelos antes escuros agora estão cinza e ela usa um corte renta à nuca, prático e refinado.
— Ah, querido. Não diga isso — repreende. — Não vê seu irmão? Ele está feliz com Sofia.
— Sim, eles parecem felizes — concordo. Embora tenha a sensação de que meu irmão vai fazer merda antes de aceitar que está apaixonado pela esposa. Espero que não foda tudo com a bonitinha. Eu realmente gosto dela. Começou errado, mas eles se dão bem agora, então, por que não seguir em frente?
— Eles estão felizes. Essa sua mania de colocar dúvida em tudo, menino... Você precisa encontrar uma boa mulher e...
— Jesus, pare, dona Magnólia! Estou muito bem da forma que estou — digo com convicção e ela estreita os olhos castanhos e experientes para mim.
— Algo me diz que essa moça tocantinense lhe causou uma boa impressão — retoma como um disco arranhado. — Do contrário sequer lembraria seu nome, filho, conheço muito bem meus meninos — se gaba quando estreito meus olhos de volta.
— Assim a senhora me insulta, vovó — reclamo.
— Sim? Me fale pelo menos dois nomes das outras comissárias da rota de Palmas, filho — ela me encurrala.
Minha avó quando cisma é pior que do Sherlock Holmes. Não desiste até desvendar o caso. Eu franzo a testa, tentando lembrar um nome, apenas um maldito nome, mas não me lembro. Ela abre um sorriso triunfante, testemunhando meu esforço vão. Foda-se, ela é boa! Rio, meneando a cabeça.
— Não me recordo — admito e seu riso amplia.
— Conheço meus meninos — torna a se gabar. — Agora pare de enrolar e me fale sobre a moça.
Gemo. Ela não vai mesmo sossegar enquanto não lhe der algo.
— Está bem, a senhora venceu — expiro e me ponho a falar sobre a tigresa. Quanto mais falo, mais a sensação esquisita cresce em meu peito. Porra, sinto falta dela. Me acostumei a vê-la com frequência.
Já tem duas semanas que nos despedimos. Pensei em ligar muitas vezes, enviar uma mensagem, porém, desisto antes. Ainda não é o momento de falar com a garota. Estou organizando tudo para lhe lançar uma proposta... Só estou esperando passar as festas de fim de ano para fazer a minha jogada. Dessa vez a cachorra linda não vai dizer não, tenho certeza. Quer ser pilota, no entanto, está muito restrita a seu estado e isso não irá acontecer se continuar se escondendo em Tocantins. Ela precisa vir para cá, de preferência para o programa de pilotos da HTL, o qual vou voltar a comandar em janeiro. Irei prepará-la, transformá-la na melhor pilota da porra do Brasil. Em troca ela só tem que me dar o que eu quero... Um arranjo simples e claro. Sei o que estão pensando. É imoral uma proposta nesses termos. Claro que é, estou ciente disso, mas não me importo. Com esse pensamento, franzo o cenho, percebendo que estou recorrendo a um subterfugio escuso para ter uma mulher, tal qual H ao obrigar Sofia a se casar com ele. Caralho, deve estar no DNA sermos uns bastardos totais. Ironizo.
— Parece uma moça inteligente e esforçada — minha avó pondera quando encerro o relato.
— Ela é. Apenas um pouco medrosa ainda, mas vamos resolver isso em brev... — me corto abruptamente e o sorriso de minha avó é amplo nesse momento. Me pegou no pulo como quando era criança e fazia uma travessura nas férias escolares que passávamos em sua casa. — Vovó... — advirto-a.
— Não vou mais esticar o assunto, prometo. — Sua expressão está alegre outra vez.
Pensa que vou sossegar porque me encantei por Pietra. Não nego, a morena me fascina. Quero fodê-la por um tempo, degradá-la, usar do jeito que eu quiser, entretanto, não vai além disso. Eu não tenho relacionamentos, apenas fodo. É assim desde sempre, não sei por que minha avó está usando óculos cor-de-rosa agora. De fato, ela não toca mais no assunto e lhe falo sobre o meu retorno das rotas intercontinentais. O carro corta o jardim de H e logo estamos na garagem, me fazendo interromper o relato. A ajudo a descer e coloco sua mão na curva do meu braço, conduzindo-a pela escadaria frontal.
— A senhora será a mulher mais linda da festa, dona Magnólia. — Dou-lhe uma piscada galanteadora. Ela dá uma risada gostosa.
— Meu menino levado. Obrigada por tanto carinho com essa velha senhora — murmura com os olhos brilhantes de amor. Me inclino e beijo sua têmpora antes de seguirmos para dentro da casa.
A enorme árvore de Natal no canto da sala, faz uma coisa estranha vibrar em meu peito. Não temos o costume de comemorar o Natal. Nunca me importei muito com essa data e H tampouco. Mas Sofia se importa e nos fez escolher essa coisa gigante e ainda por cima decorar. A bonitinha e minha avó se uniram para dominar o mundo. Rio levianamente. Certo, apenas os pobres homens Maxwell. Olhando em volta, vejo que meu irmão e sua jovem esposa ainda não desceram. Tenho percebido uma leveza em H nunca vista antes. Somos dois solitários, cada um à sua maneira. Ele é mais duro, frio. Eu uso meu sorriso exatamente para manter as pessoas afastadas. Eu sei que é fodido demais para alguém entender. Então, não tentem. Prometi naquele carro, que se eu conseguisse sair vivo, jamais confiaria em ninguém outra vez, especialmente no sexo feminino. Apenas minha avó e meu irmão têm o meu amor e confiança incondicionais. Sofia é uma forte concorrente a ganhar um espaço em meu coração também. Gostei da garota desde que H cometeu a sandice de se casar com ela para saldar uma dívida.
No entanto, meu irmão e a bonitinha parecem estar se entendendo bem agora. Não há mais aquela tensão vibrando entre eles. Meu irmão está até sorrindo, coisa que não me lembro de vê-lo fazendo. Eu deixo minha avó na sala, namorando a árvore de Natal e ando pelo corredor até a cozinha, para cumprimentar Rosa, a governanta da casa. Ela é muito gentil comigo, inclusive cozinha meus pratos preferidos sempre que visito meu irmão. Quando volto alguns minutos depois, Sofia está conversando com vovó e Luciana no sofá e H está perto do bar, tomando uma bebida com Alberto, seu amigo de infância. Bem, nosso amigo, porém, sua relação é mais próxima com H. Ele está namorando a secretária de meu irmão. Me aproximo deles, aproveitando para zoar meu irmão mais velho.
— Fizemos um belo trabalho, hein, H? — Empurro seu ombro com o meu, indicando a árvore à nossa esquerda. Ele meio que grunhe antes de responder:
— Sim, nós fizemos, mano — concorda. — Como foi voltar às suas preciosas rotas intercontinentais? — pergunta e faço careta. Estou me sentindo estranho pra caralho. Tudo foi resolvido com a louca que queria ferrar a companhia e ela retirou a acusação. Em outras palavras: pagamos uma quantia para a garota ficar de bico calado. A vadia, deu, gozou e ainda vem me processar? É o fim do mundo, porra! Enfim, retomei minhas rotas de elite, era para eu estar muito satisfeito. Mas não estou. Me pego constantemente pensando em Pietra. Em nossos voos simples para o interior. Patético pra caralho, eu sei. — O que há, T? Pensei que estaria soltando rojões por seu castigo ter acabado. — Meu irmão enruga a testa, percebendo minha reação.
— Estou animado por voltar ao meu lugar, mano, claro — digo e decido abrir o jogo com meu irmão, não segurando um sorriso lascivo: — É que deixei algo inacabado em Tocantins, se é que me entende... — Mexo as sobrancelhas sugestivamente. — Sei que você me proibiu de ir para as comissárias de bordo. Mas nada me foi dito sobre pilotos...
— Tristan, cara, você está indo para os pilotos agora? Não sabia que tinha mudado de time... — Alberto decide dar uma de engraçadinho.
Bufo, encarando o advogado metido a esperto.
— Rá, rá, rá. Desista de tentar fazer piadas, Albie. — Uso o apelido que detesta para irritá-lo. Rio satisfeito e adiciono indolente: — Você não tem o menor talento para isso, cara.
— Um rabo de saia — H comenta, o tom reprovador. — Deve ser especial para ainda estar se lembrando dela, mano — ironiza meu comportamento livre.
Rolo os olhos, mas acabo rindo porque ele tem razão.
— Eu não peguei essa, mano. Aí reside o problema — admito, frustrado. — As mulheres não resistem a mim, nunca. — H e Alberto bufam com a minha presunção. — Mas essa me escapou nas muitas tentativas que fiz. É tão irritante, dona de si. Quero bater em sua bunda e, em seguida, transar com ela até que não tenha forças para me afrontar mais — ranjo e meu irmão idiota ri, claramente gostando de me ver às voltas com uma garota.
— Bem, Dom Juan de Marco, porque essa resistiu, você está com o ego abalado, é isso? — pergunta jocoso.
— Sim. É meu ego falando? Claro — não nego. — Mas há também o tesão louco que essa tigresa me fez sentir.
— Novidade. Você vive com tesão — ele alfineta.
— Estou falando sério, H. Essa é uma coisa... — gemo, recordando daquela cachorra linda. — É uma morena deliciosa. Linda, geniosa. Só vou sossegar quando a tiver embaixo de mim... — Rio, antecipando esse momento. — Ou por cima, vocês sabem, sou totalmente a favor dessa onda de empoderamento feminino... — Eu pisco, rindo mais ao lembrar de uma conversa com esse mesmo teor com a minha tigresa.
Meu irmão ri alto. Alberto faz um som zombador.
— Cara, esse não é o verdadeiro sentido do empoderamento feminino — protesta.
— Vamos, Albie, você é um advogado, sabe que as coisas estão aí para serem interpretadas do modo que melhor nos convém... — Dou de ombros, lhe oferecendo uma piscada também.
O advogado resmunga, mas se cala, aceitando meu argumento.
— Voltando ao assunto... — limpo a garganta —, vou retomar as palestras na nossa escola de pilotos a partir da próxima semana.
H está surpreso, novamente vincando a testa.
— Você não saiu porque queria se dedicar exclusivamente às rotas intercontinentais? — aponta.
Sim, foi isso. Mas gosto do trabalho de preparar novos pilotos. E agora há uma aluna em especial que terei prazer em orientar. Muito prazer... Um riso sacana brinca em minha boca.
— Hum, sobre isso, estou disposto a ceder algumas das minhas rotas para Cristiano Rangel. Ele é um palhaço completo, mas é um bom piloto — informo rolando os olhos. O cara é um imbecil e meu maior concorrente na HTL.
Quando comecei a assumir voos na companhia, o idiota chegou no mesmo período e contestava minha capacidade profissional, insinuando que era privilegiado por ser um dos donos. Filho da puta! Pois é, não pensem que foi fácil meu começo. O fato de ser um dos herdeiros fez minha vida com os colegas, complicada. Tive que trabalhar dobrado para ganhar o respeito de todos. Mas ganhei, e já tem muito tempo que ninguém me aponta o dedo a não ser para elogiar minha capacidade e dedicação na profissão que escolhi por paixão.
— Irmão, agora você tem a minha atenção — H está estupefato. — Por que está cedendo para o Cristiano? E o mais importante, por que quer retomar sua participação na escola preparatória de pilotos? — Semicerra os olhos azul-gelo. Ele é esperto, sabe que jamais cederia assim para o fodido do Cristiano se não houvesse um ganho maior da minha parte. E, nesse caso, haverá grande, enorme ganho: Pietra na minha cama.
— A minha tigresa tocantinense é uma pilota e está apenas esperando uma oportunidade para alçar voos mais altos. É aí que entro, irmão. Vou lhe fazer uma proposta irrecusável... — revelo com um sorriso presunçoso. — Vou trazê-la para São Paulo. Você sabe, tirá-la da sua zona de conforto. Vamos ver se consegue resistir a mim em meu território.
— Uau! Ela parece uma garota inteligente. — Alberto assobia.
— Por que é uma pilota? — pergunto, encarando-o.
— Não, porque não caiu no seu bico doce — o espertalhão zomba e lhe atiro um olhar feio.
— As coisas estão tão ruins assim, irmãozinho? Desde quando precisa ter tanto trabalho para transar? — H alfineta também. Eu bufo.
— Fala o homem que tomou uma menina inocente como pagamento de uma dívida — devolvo na mesma moeda e ele fecha a cara. Sorrio satisfeito.
Alberto avisa que está indo embora. Ele e Luciana vão passar a ceia na casa de seus pais. Desejamo-nos Feliz Natal e ele chama a namorada, que se levanta vindo com Sofia e vovó até nós.
— Já estamos de saída, querida. Se despeça — Alberto murmura em tom meloso pra caralho, puxando a negra bonita pela cintura.
Desvio meu olhar para H e vejo Sofia indo para ele, entrando em seu abraço. Meu irmão a fita com uma cara de pateta apaixonado. Tenho certeza de que ele nem percebe o quanto está encantado pela bonitinha.
— Foi um prazer vê-lo essa noite, senhor Maxwell — Luciana diz estendendo a mão para o patrão. H a pega e meneia a cabeça.
— Apenas Heitor, Luciana. Não faz mais sentido tal formalidade se vamos frequentar os mesmos círculos.
— Está certo... Heitor — diz sem jeito nos fazendo rir. — Obrigada. — Olha-nos e se despede também: — Tristan, senhora Magnólia e Sofia, Feliz Natal!
— Feliz Natal! — devolvemos em uníssono.
Eles saem em seguida e me viro para minha avó, dando-lhe uma de minhas piscadas brincalhonas. Ela se derrete e a abraço, depositando um beijo suave em seus cabelos. Seu olhar amoroso levanta para o meu e é a minha vez de derreter, vendo seu amor por mim estampado nas feições bonitas. Sorri e leva o olhar para Sofia.
— Obrigada por juntar meus meninos hoje, querida — murmura com voz emocionada. — Eles andaram me negligenciando nos Natais dos últimos anos. — Porra. H e eu nos entreolhamos nos sentindo uns merdas. Como mencionei, essa data nunca teve importância para nós. Nunca houve essa coisa da família reunida, uma árvore, uma ceia cheia de amor e felicidade. Não, nunca houve sequer uma porra de Feliz Natal direcionado a nós, não da parte dos fodidos Logan e Fernanda Maxwell. Decido que farei um esforço para estar com minha avó nessa data a partir de agora.
— Desculpe, vovó. Vamos celebrar todos os anos a partir de agora — H verbaliza meus pensamentos e dona Magnólia arregala os olhos, surpresa. — Aqui em casa, na de T, ou na sua. A senhora pode escolher.
Meu irmão completa me surpreendendo também. Vovó respira fundo, a emoção em seu rosto, lágrimas enchendo seus olhos. Se desvencilha de mim, indo para meu irmão, e me surpreendendo ainda mais, H a abraça amorosamente, como nunca havia visto antes. Aquela emoção estranha que senti ao entrar no começo da noite e ver a árvore, o clima gostoso de Natal, vai se espalhando em meu peito. Eu acho que é assim que as verdadeiras famílias comemoram essa data.
— Ah, querido... — vovó diz embargada para H, lágrimas descendo em suas faces bem maquiadas. — Eu gostaria muito disso.
— Então, temos um acordo, dona Magnólia — ele diz numa voz terna e nossa avó o beija na bochecha.
— Eu rezo para que no próximo ano estejamos todos juntos. — Ela o encara, certamente receosa de que o bastardo frio de seu neto mais velho faça alguma merda para afastar Sofia. — E que Deus nos conceda uma criança para alegrar essa casa.
H e Sofia se entreolham. A bonitinha abre um sorriso um tanto tenso, me deixando intrigado. Eles estão bem, não estão? Pergunto-me, observando um e outro.
— Eu acho que a senhora anda apressada demais, dona Magnólia — rio, intervindo antes que a conversa fique mais assustadora. Puxo minha cunhada pelos ombros e a beijo na bochecha. — Talvez seja melhor Sofia opinar sobre isso, não é, bonitinha? — Ela lança outro sorriso sem graça para H.
— Vamos deixar a vida seguir seu curso, T — murmura e me olha, tentando esconder qualquer que seja seu desconforto. Então, mais uma vez querendo salvar a bendita ceia de Natal, eu rio charmoso antes de murmurar:
— Alguém já disse como está maravilhosa hoje, bonitinha? — Observo meu irmão de canto de olho. H bufa, rolando os olhos para meu flerte com sua mulher. Sofia abre um sorriso verdadeiro agora. Pronto. Tensão expulsa.
— Sim. Eu disse — H resmunga, me fazendo rir com vontade.
— Você é impossível — Sofia diz ainda com o sorriso bonito em seu rosto pueril.
Os fogos estourando no céu de São Paulo, leva nossa atenção para fora das paredes de vidros da sala.
— Abram um champanhe, queridos! Rápido! — nossa avó exclama, felicidade estampada em seu rosto.
Sigo H para a mesa de frios e bebidas. Ele estoura um champanhe, servindo quatro taças. Pego duas e ele também. Voltamos para vovó e Sofia, que estão nas portas duplas da sacada, soltando exclamações eufóricas com os estampidos dos fogos voando e explodindo num show de luzes multicoloridas no céu escuro. O lago reflete tudo, tornando a cena realmente bonita, admito. Elas recebem suas taças e fazemos um brinde em conjunto. H abraça as costas de Sofia contra o peito e tenho a impressão de ver meu irmão duro e frio, suspirar apreciando o espetáculo no céu. Um pequeno sorriso repuxa minha boca enquanto os observo, depois a minha avó. Então, isso é o Natal. Me sinto feliz, meu coração leve, apreciando estarmos juntos nessa noite. Puxo minha avó para perto de mim e beijo o topo de sua cabeça cinza.
Eram quase duas da madrugada quando chegamos à casa de minha avó. Decidi dormir com ela esta noite, estou ainda sob o efeito da tão falada magia do Natal, acredito. Acompanho-a até a porta de seu quarto e ela sorri para mim, os olhos castanhos cheios de amor e algo mais que não consigo decifrar. Sua mão levanta para o meu rosto e me sinto um menininho da vovó, apreciando seu toque suave.
— Você tem um coração tão bonito quanto esse rosto, meu menino levado. — Também está claramente tocada por essa noite, ter seus netos com ela. — Algum dia uma mulher especial virá e o fará completamente feliz, meu filho.
Franzo o cenho com sua última sentença. Minha avó nunca esqueceu o que me aconteceu naquele carro. Ela sabe que aquilo me fodeu, deixou sequelas permanentes. Por isso, foi sempre tão compreensiva e de certa forma, permissiva, aceitando e encobrindo minhas travessuras desde então. Rio, meneando a cabeça e digo para chocá-la:
— Eu prefiro várias mulheres especiais... — Balanço as sobrancelhas com safadeza.
— Não fale essas coisas para a sua avó! — Faz uma carranca. — Você me respeite, Tristan Maxwell.
Eu gargalho e não demora muito ela se junta a mim. Beijo-a na têmpora, deslizando os dedos pela face já mostrando os sinais do tempo, mas tão amada por mim.
— Feliz Natal, vovó! — murmuro. — Boa noite.
— Feliz Natal, meu menino! — murmura de volta. — Boa noite.
Sigo pelo corredor até o meu quarto antigo. Sinto-me verdadeiramente em casa aqui. Não há outro lugar no mundo em que me sinta tão em paz e acho que protegido. Nem na minha própria casa. Deve ser o amor que vovó sempre demonstrou por mim e H. Retiro a jaqueta de couro, jogando-a sobre um dos sofás da sala de estar. Através das portas de vidro da sacada posso ver os raios cortando o céu. Trovões ressoam em seguida e quase imediatamente os pingos grossos caem sobre o telhado. Sirvo-me de uma dose de Bourbon e sigo até o limiar das portas, olhando a chuva torrencial caindo sobre São Paulo. Tomo um gole, encostando om ombro ao batente. Não estou com sono, embora o sentimento bom de estar aqui nessa casa esteja me cercando, há algo que está me impedindo de relaxar completamente. Ou alguém. Suspiro, a imagem de Pietra surgindo em minha mente. Pego meu celular no bolso do jeans escuro e fico como um adolescente tolo olhando-o, louco para enviar uma mensagem para ela.
Desbloqueio a tela e vou em arquivos, encontrando uma foto dela. Porra, como é linda! Pode parecer ridículo, mas tenho várias. No bar, com os cabelos rebeldes do jeito que me deixa duro, nos voos, com os coques bem comportados de comissária-chefe. Sou impulsivo, não costumo me privar de nada que desejo. Mas preciso ter calma com a tigresa, essa é diferente das outras. Já decidi que irei até ela depois das festas de ano novo. Porém, a velha impulsividade está borbulhando dentro de mim. Seleciono seu contato e abro para enviar uma mensagem. Fico uns instantes, ponderando se devo. Que diabos está havendo comigo? É Natal, não é? As pessoas enviam felicitações e essas merdas nessa data sem correr o risco de parecerem umas completas idiotas. Com essa desculpa, digito uma simples e quase impessoal:
T: Feliz Natal, tigresa!
Depois que envio, uma risada autodepreciativa irrompe em minha garganta.
— Porra, cara, apenas isso? Vocês não se falam há duas semanas. Você está tão cheio de merda — resmungo para mim mesmo. Tomo mais um gole, apreciando a chuva e poucos minutos depois, o som de mensagem chegando me faz olhar a tela do celular. E a porra do meu coração salta ao ver o nome dela. Abro-a imediatamente.
Tigresa: Olha só, ele ainda tem meu número... Isso deve ser o seu recorde... Feliz Natal, riquinho!
Sua mensagem sarcástica faz um riso idiota escancarar em meu rosto. Ah, porra, essa garota mexe demais comigo. Sua mensagem inflama meu corpo, é como se estivesse vendo a exata expressão atrevida em seu rosto bonito me dizendo isso. Linda demais. Começo a responder, mas paro no meio, a impulsividade ganhando a batalha contra a ponderação. Foda-se, eu sempre pego o que o quero. Então, por que diabos estou aqui enquanto a garota que eu quero, está no fodido Tocantins? Com nova resolução, fecho seu contato e procuro outro, o de Aidan e digito a mensagem. Ele me responde em alguns instantes e com um sorriso mordendo as orelhas, começo a colocar meu plano em prática... Foda-se a moralidade! Foda-se o bom senso! Essa garota será minha!
Corrigindo: Pietra já é minha.
Gostaram? Não saim daí q tem mais um!