Amber
Pelo tempo que passamos afastados, Henry teve a intenção de aproveitar cada minuto daquela noite me cobrindo de amor e matando a saudade.
- Como eu vou continuar fazendo isso de deixar você aqui? Não quero te deixar triste, mas preciso dizer que vai acontecer de novo. - ele disse, quando estávamos prestes a ser vencidos pelo cansaço e finalmente nos rendermos ao sono.
- Bem, acho que vamos ter que dar um jeito. Mas é melhor não falar com você quando estiver com saudade e na TPM. Vai ser demais pra você aguentar.
Ele riu e ficou passando os dedos pelas mechas do meu cabelo, enquanto eu mantinha a cabeça recostada em seu peito.
- Estou aos poucos tendo consciência de que namorar você é me envolver também com os seus compromissos. - considerei.
- E você acha que vale a pena? - ele perguntou, levantando ligeiramente a cabeça do travesseiro para olhar pra mim.
- Por isso aqui? - rebati, levantando a cabeça para alcançar seus olhos.
- Hmm. - ele assentiu com um sorriso e acomodou minha cabeça em seu peito de volta.
Quando estava com ele, achava que poderíamos enfrentar qualquer dificuldade juntos e eu não precisei dizer isso. Eu sabia. Ele sabia.
O silêncio ficou confortável e assim pegamos no sono.
No dia seguinte, acordei com Kal me farejando. O danadinho tinha entrado pela porta que não atentamos em fechar, pois era a última coisa que pensaríamos naquele momento, depois de ter subido sem roupas para o quarto.
Tomamos café do lado de fora da casa, já que não fazia tanto frio. Digo, tínhamos sol, o vento ainda era frio, mas não estávamos congelando do lado de fora. Com a chuva constante que tínhamos naquele período, um dia com sol era pra ser comemorado. Kal estava solto pelo quintal farejando e descobrindo coisas.
- Se tivéssemos planejado, teria trazido Jackie. Ela ia adorar correr por aqui.
- Não vai faltar oportunidade. Pode trazê-la sempre que quiser, mesmo se eu não estiver aqui. - disse ele.
- Qual é a programação de hoje? - perguntei.
- Fazer o que você quiser. - respondeu dando um gole no café e deixando de observar Kal para me olhar.
- Isso inclui...? - queria saber o que ele diria.
- Sair ou ficar em casa.
- Não, sair não. Acho que a ideia de ficar em casa me agrada mais.
- Por que eu acho que vai saber tirar proveito disso? - perguntou desvendando as minhas reais intenções com bom humor.
- Porque eu vou. - falei, puxando-o pela gola do casaco pra dar um beijo.
- Você parece mais animada agora. - ele diz.
- É... Eu acho que estava com saudade de casa, não sei. - comentei encolhendo os ombros.
Henry sorriu compreendendo meu sentimento.
- Hum... engraçado você dizer isso. - Olhou ao redor pensativo.
- Por que? - tentei acompanhar.
- Porque nesse ritmo de trabalho, viajando tanto, aqui ou em qualquer lugar, eu me sinto em casa quando estou com você, Ambs.
Meu coração afundou no peito. Mais uma vez Henry me pegou desprevenida. Seus olhos brilhavam contra a luz do sol que invadia a varanda e sua pele nunca pareceu tão cheia de vida. Acho que o cenário e as circunstâncias eram coisas do destino pra que eu não deixasse passar em branco e registrasse direitinho aquele momento com muito carinho.
- O que você quer dizer com isso, Cavill?
- Eu realmente não sei. Só queria que soubesse... Quer namorar comigo, Amber?
- Achei que já...
- Não, é sério. Pra todo mundo saber.
- Ah, bom... Então, você está pronto.
- Você está? - ele questionou.
- Eu não sei bem no que estou me metendo, mas... Sim? - Um sorriso se formou em seu rosto diante de minha resposta. - E como você pretende fazer isso?
- Bem, falta uma semana para a festa de lançamento da série aqui em Londres e gostaria muito que você me acompanhasse. É certo que vai ter muita gente da imprensa. Eles inevitavelmente vão perguntar quando nos virem juntos. Enfim, acho que esse seria um bom momento.
- Isso é meio assustador. Não quero responder perguntas de repórteres.
- Não precisa, se não quiser. Vou falar com Lauren para providenciar o que você precisa.
- Tem isso também! - imaginei o pânico que seria pisar em um tapete vermelho com a imprensa a postos.
- Não se preocupe. Eu cuido de tudo.
- Eu estou... nervosa. - sorri.
- Eu entendo. Olha, se fizerem perguntas inconvenientes, você tem a opção de ignorar ou responder algo que não tenha muito a ver com a pergunta, só para despistar. Não estaremos promovendo o nosso relacionamento, apenas deixaria de ser escondido. O que você pensa sobre isso?
- É exatamente o que estou disposta a fazer, só não consigo calcular os resultados disso.
- Prometo fazer de tudo para te preservar e te lembrar que somos só nós dois.
- Você sabe bem o quanto a exposição me assusta. Acho que a partir do momento não for mais novidade, podemos ficar mais livres? Bom, assim espero.
- Sim, faz sentido. Eu peço que você confie em mim e avise sempre que se sentir pressionada a fazer algo que não quer. Eu vou entender. Não precisa de jeito nenhum se sacrificar para me agradar. Promete?
- Prometo. Eu vou mesmo, pode contar com isso. - falei.
- Tá bom? Beijo. Vem aqui, beijo! - fez sinal com o indicador me chamando para perto. - Agora, vem. Vamos ver onde Kal se meteu no meio desse mato. - disse, ficando de pé e oferecendo a mão para me levantar.
Passamos por cima e por baixo de galhos de árvores baixas que Henry tinha atrás de sua casa e onde Kal adorava explorar. Animado a me ver segurando um de seus brinquedinhos, acabou correndo para cima de mim e me fazendo tropeçar em um galho rasteiro. Não percebi o corte que o galho fez na minha mão, notei apenas o arranhão na hora da queda.
- Ambs, sua mão está sangrando. - disse Henry, minutos depois.
- O que? Nossa! Eu jurava que tinha só arranhado.
- Vamos entrar e limpar isso.
Na cozinha, Henry tirou uma caixa de primeiros socorros do armário e pôs sobre o balcão.
- Vai doer, mas temos que lavar. - ele disse, com dó.
- Eu sei. Já me cortei outras vezes. Vamos fazer isso. - falei abrindo a torneira.
Higienizei o corte com água e sabão e Henry secou com um papel toalha. O sangramento tinha estancado faz tempo, e nem foi nada demais. - Coloque a mão no balcão pra eu fazer o curativo.
- Não precisa, Henry. Já parou de s...
- Amor, por favor, me deixa cuidar de você.
Eu não queria pedir que ele repetisse, mas o que foi mesmo que ele disse?
- Ok, eu deixo. Mas não precisav...
- Shh. Precisava sim.
Só permiti que me interrompesse porque estava sendo fofo comigo. Fiquei observando-o concentrado limpando e colocando o curativo e me escapou um sorriso verdadeiro de felicidade.
- O que foi? - perguntou.
- Você tem sido bom pra mim.
Ele riu quieto.
- Depois da última vez que me abri pra alguém... não foi bom. Não quis mais nada sério.
- Ambs, espero não te decepcionar e se eu fizer, jamais terá sido minha intenção.
- Eu sei. Isso tudo é muito novo e estou aprendendo a lidar. Não é o que eu planejei pra mim e te peço paciência.
- Tudo bem. - abraçou-me e deu um beijo no alto da minha cabeça. - Estou aqui pra você... sempre.