Camila P.O.V
— porque eu iria bater na Clara? — minha mãe entrou nos pegando de surpresa.
— sua filha é uma encrenqueira Sinuhe, ela está implicando comigo!
— ili ti implicandi comigui — debochei revirando os olhos.
— ok, vamos por partes — ela sentou pegando a chinela e eu engoli em seco. — quem é essa moça que está segurando meu neto?
— meu nome é Veronica Iglesias e eu sou mãe do Jonas. — Jonas estava tão parecido com Vero.
— você vai levar ele embora? — mãe largou o chinelo no chão e eu suspirei aliviada.
— eu estive esse tempo todo debilitada no hospital — minha mãe se levantou e empurrou Clara pra longe, segurei o riso enquanto a branquela se sentia ofendida — fiz uma cirurgia no coração.
Ela tinha levado tanto tiro que ficou igual uma peneira, agora estava toda costurada igual um Frankenstein.
— oh minha filha, você parece tão fraquinha — ela abraçou Vero.
— eu vou esperar ficar 100% novamente para levar o meninão. — eu sabia que esse dia chegaria, mas imaginava Jonas com dezessete anos indo para a universidade.
— você não pode criar ele aqui? Eu posso cuidar de você enquanto se recupera, e a gente pode ir se adaptando em ficar longe do bebê. Não é incômodo algum cuidar do anjo que deu a luz meu neto, porque esse menino já é meu sangue minha família, você vai ficar no quarto com Camila e a Lauren vai voltar pra casa dela com a Clara, eu não sei qual o problema desses Jauregui aí, eu vou fazer um chá de erva cidreira pra você e uma canjinha de galinha pra você e levar um pouco pra Eliza porque ela também tá varada de fome.
Ela se levantou e foi pra cozinha, enquanto isso um silêncio se instalou no cômodo.
— adoro como Sinu me odeia. — Lauren revirou os olhos enquanto beijava minha bochecha.
— acho que ela sente que você não é flor que se cheire.
— e você adora essa flor aqui né?
— vou deixar vocês adolescentes e vou ir conversar com Sinu, relaxem não quero mais seu pescoço numa bandeija Camila, Vero não tenho nada contra e nunca tive, agora enquanto a Lucy deixe ela fora do meu caminho ou já viu — ela cortou o próprio pescoço com os dedos e eu arregalei os olhos.
Ela saiu e eu dei língua, megera esquisita.
— que lance é esse com a Lucy?
— ela está revoltada com a Clara, tá querendo matar a cara pálida — Lauren respondeu.
— bom, se alguém tentasse matar o amor da minha vida talvez eu quisesse essa pessoa morta também.
— eu sou seu amor? — Lauren me perguntou debochada.
— e eu sou o seu? Sua mãe tentou me matar duas vezes e você não fez nada pra impedir.
— desculpe, mas minha mãe não tem mais a intenção você ouviu ela falando.
— nunca acredite na palavra do diabo e estou tendo empatia pela Lucy, mesmo a doida ter ignorado a existência do próprio filho.
Ficamos em silêncio até minha mãe aparecer com uma caneca de chá para Vero e uns biscoitos, Vero torceu o nariz, deveria estar acostuma com whisky caro e agora está tomando chá de caixinha. Mãe pegou o chinelo e ela comeu e bebeu, depois deu mamadeira para Jonas e os dois tiraram um cochilo no meu quarto.
Enquanto isso Clara e Sinu preparavam o jantar numa sincronia assustadora, eu e Lauren apenas observava mudas e caladas, ninguém dava um piu.
— em quanto eu preparava o chá, Clara e eu tivemos uma conversa de gente grande, e resolvemos abrir o jogo para vocês duas. Explicar toda a situação.
Clara se sentou a mesa de frente para mim enquanto Sinu pegava um bolo de fotos dentro de uma caixa de biscoitos.
— nós somos velhas amigas. — Minha mãe começou e eu entrei em choque. — eu sei o que Clara e Lauren fazem para ter dinheiro.
— como a senhora... – eu queria escapar da encrenca, não estava afim de ficar de castigo... de novo.
— eu era Tenente, trabalhava no departamento de Polícia em Minas Gerais, era uma boa detetive, seu Pai era Sargento... E eu estava investigando Michael Jauregui. — ela mostrou a foto com sua farda e meu pai do lado.
Eu sempre achei que minha mãe era uma dona de casa recatada e religiosa que precisava de terapia.
— Michael Jauregui é o pai da Lauren, e eu estava lutando para descobrir quem era o informante dentro da delegacia, para então armar uma emboscada para ele.
— mãe?
— só que não deu tempo... Michael descobriu o informante duplo, e bem... — ela olhou para Clara e eu curvei os olhos.
— pode continuar Sinu.
— seu pai Camila, seu pai era o informante duplo.
— não, não, ele foi morto pelos caras maus ele era uma pessoa boa.
— ele estava parado no semáforo quando um carro com os capangas do Jauregui metralharam, as quatorze horas, em plena luz do dia.
— mãe... — ela mostrou um recorte de jornal com o carro destruído e cheio de furos de bala.
— acontece que no carro não estava só o Alejandro, também estava nossa primeira filha — meu coração batia com tanta força que eu achei que teria um derrame a qualquer momento. — Sofia tinha cinco anos e quatro meses, você tinha dois meses, Alejandro estava levando Sofi para escolinha e eu estava de licença maternidade cuidando de você .
— no dia que Michael deu a ordem, estávamos comemorando o aniversário de Taylor... foi um dia amaldiçoado — Clara me olhava — meu marido naquele dia quebrou uma regra da família Jauregui, nunca toque numa criança. Eu jamais conseguirá viver ao lado de um homem que matou um bebê.
— e então você matou o papai?
— não matamos crianças Lauren! E depois que matei Michael eu procurei Sinuhe e lhe ofereci proteção, ninguém encostaria em Camila, ela não aceitou é claro já estava decidida a sair da polícia e enterrar o passado.
— porque nunca me contou de Sofia? Porque eu nunca soube? Seu nome é mesmo Sinuhe? Eu sou a Camila?
— Não mudei o nome, não adiantaria de nada, passamos uma temporada em Cuba e depois voltamos para São Paulo, não falei disso antes porque é doloroso demais para mim, eu não consegui nem olhar o cadáver da minha filha, e demorei a aceitar que era minha culpa.
— não é sua culpa Sinu, era de Michael – Lauren disse.
— mesmo eu matando Michael, eu sabia que a justiça divina levaria um dos meus filhos...
— mas o que eu tenho haver com isso tudo? Porque vocês vieram interceder no meu trabalho?
— lembra do Ricardo? —Sinu me respondeu.
— nem me lembre daquele lixo humano.
— ele era um crápula que vendia drogas aqui na região, quando ele ficou te perseguindo eu sabia que só Clara podia ajudar. Então eu procurei ela e...
— fizemos sexo, mas... sabe como é...
— MÃE!
— Fizemos um acordo! — ela deu uma chinelada em Clara — ela se livraria daquele saco de bosta e em troca uma vez ao ano você transportaria uma carga para Clara, mas você não saberia.
— até a filhote de Al Capone aparecer e enfiar minha cara na lama. — Lauren se encolheu ao meu lado, e eu segurei minha vontade de dar socos. Ela se dizia apaixonada por mim, mas quem não era?
— eu não tenho culpa se me apaixonei por você.
— você é uma puta mentirosa igual sua mãe, eu quero que vocês duas vão embora, eu não quero ter mais nada relacionado com vocês — caminhei até o quarto de Jonas e tirei a bolsa de viagem que estava abarrotada de dólares. — levem esse dinheiro sujo com vocês.
— Camila, esse dinheiro é limpo.
— não me interessa, tudo que vier de vocês nesse momento é sujo. Saiam da minha casa e deixem minha família em paz.
— acontece meu amor — Clara parou a minha frente — que eu e sua mãe temos um acordo, e ele não pode ser quebrado até meia noite com um beijo do amor verdadeiro, você transportar meu material, é muito lucrativo e eu não vou perder essa fonte de renda.
E lasqueira, agora eu estava fodida.
— mãe, agora sou eu que não quero mais. — Lauren tirou o colar com pingente de beija flor que eu tinha dado a ela no dia dos namorados — estou rompendo com o que temos e te livrando da minha família e qualquer acordo, não vai haver nenhum tipo de represália.
— aff, já estava pensando em eliminar Eliza. — Clara debochou e minha mãe pegou o chinelo mirando em Clara.
— isso é sacanagem mãe! Camila está liberada desse acordo ridículo desde que aceitou cuidar de Jonas — Clara deu de ombros — eu vou embora e Clara vai comigo, não vamos mais voltar. Tenha minha palavra.
— Lauren... são cento e cinquenta milhões por ano.
— eu aposto que você daria o triplo disso para ter Taylor aqui. Não há dinheiro no mundo que pague pela família.
— besteira, eu fiz o Christofer que é
muito melhor que você e Taylor, agora vamos embora antes que eu tenha mais prejuízos.
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