Eu estava seguindo pelas ruas de Nashville em direção a tal loja de animais que mamãe disse para comprar a ração da Boo. Ao parar em um dos semáforos fechados eu olhei para o moreno ao meu lado e questionei:
— Você não se importa mesmo em ser passageiro? – o homem uniu as sobrancelhas ao desfocar sua atenção da paisagem e me olhar
— Por que eu me importaria?
— Eu não sei, meu irmão nunca me deixava dirigir – ri de leve
— Eu não ligo. Até porque, eu não conheço nada aqui e odeio usar GPS – pontuou – E também você faz caretas bem engraçadas no volante - eu o olhei de soslaio e sorri.
Assim que estacionei na frente da loja eu a reconheci.
— Eu me lembro dessa loja, o dono dela era bem legal – comentei antes de sair do carro – Eu adotei a Boo aqui – sorri com a lembrança.
Ethan puxou a porta e permitiu que eu passasse primeiro, pedi para ele procurar uma coleira nova para a cadela já que ela detonou a antiga enquanto eu pediria a ração no balcão. Como não havia ninguém no balcão eu me distrai com os brinquedinhos que ficavam por ali.
— Maeve? - rapidamente me virei para ver quem me chamava e lá estava Cassie.
— Cassie, oi - eu estava completamente surpresa e confusa – Eu não sabia que trabalhava aqui – um riso nervoso escapou pela minha boca
— Eu não imaginei que te veria aqui outra vez – ela disse ao me abraçar.
— Nem eu – murmurei ainda sem retribuir seu abraço
— O que faz aqui em Nashville? – perguntou ao me soltar
— Renovação dos votos dos meus pais
— Ah, eu adoro sua mãe, você sabe disso. Fico feliz por eles – eu assenti ainda imersa a minha atual situação.
E foi então que tudo que estava bem ruim, piorou.
— Quem está aí, Cassie? – e eu que pensei que nunca mais iria ouvir essa voz, estou aqui, estática com os olhos arregalados para o balcão
— É a Maeve
— Maeve? – e então eu ouvi as portas baterem e tão logo ele estava por perto – Não pode ser... Maeve? – a mansidão em sua voz me enojava
— Eric – falar seu nome me causava náusea
— Quanto tempo...
— Mae, eu achei uma... – Ethan, que até então estava completamente distraído com a busca para uma coleira nova para a Boo, voltou a atual situação em que, eu, Maeve Walsh estou em uma loja com Cassie, irmã do meu ex babaca e Eric, o ex babaca – Coleira – completou a frase enquanto intercalava os olhares em nós
— Não vai apresentar seu amigo, Maeve? - Eric cruzou os braços e se apoiou no balcão
— Não.
— Eric, Eric Humphrey – estendeu uma das mãos para Ethan que instantaneamente me olhou – É um prazer conhecê-lo
— Ethan, e não posso dizer o mesmo – um sorriso forçado surgiu rapidamente nos lábios do rapaz ao meu lado
— Vejo que você não perdeu tempo em fazer minha caveira para as pessoas, Maeve – debochou
— Eu não precisei, dá pra ver de longe o quão podre você é – usei o mesmo tom que ele
— Climão – sussurrou Cassie – Mas, Maeve, além da coleira você precisará de mais alguma coisa?
— Ração - Ethan respondeu por mim.
Rapidamente Cassie pegou o saco de ração e a coleira, cobrou-os e quando entreguei o cartão para pagar Eric me interrompeu:
— Pode deixar, é por conta da casa, um agrado de boas-vindas – disse de forma amistosa
— Nem fodendo - encarei Cassie a entregando o cartão
— O que? - era nítido a surpresa em sua voz
— Eu disse... – me virei para encara-lo – Nem fodendo – ele riu nasalado antes de lembrar-me de uma das piores partes de estar aqui
— Eu não sabia que agora você era uma garota de boca suja... – comentou o fato de que antes de eu sair daqui eu nunca havia dito um palavrão sequer – A minha Maeve não é assim – eu senti meu corpo borbulhar. Eu tinha vontade de vomitar só de lembrar que um dia eu deixei que ele me tocasse
— Eu só vou dizer uma vez e espero que você entenda – me aproximei ficando cara a cara com ele – Aquela garota não existe mais – cuspi as palavras e eu quis cuspir nele também
— Ah, Maeve, você precisa deixar de ser rancorosa, já se passou 4 anos – debochou e me ofereceu aquele sorrisisnho petulante
— Você é um escroto e esse sorrisinho petulante na sua cara só prova o quão ridículo você é!
Eu estava borbulhando de raiva, nojo, e todos os sentimentos ruins que uma pessoa como ele possa despertar em alguém.
— Vem, vamos – o braço de Ethan estava nas minhas costas enquanto ele me guiava até o carro para voltarmos para casa.
Dessa vez Ethan voltou dirigindo, a voz robótica do GPS era o único som presente no carro e assim que o moreno parou o carro na entrada de carros da minha casa eu sai em disparada até encontrar minha mãe, e eu a achei na cozinha.
— Já voltaram? - minha mãe sorriu para mim mas eu estava bufando de raiva
— Você sabia? – fui direta
— Do quê? – a voz da mulher denunciava a mentira
— Eu vou perguntar só uma vez, Afrodite. – aumentei meu tom de voz mas me controlei para não berrar com ela – Você sabia que o Eric estaria lá? – olhei em seus olhos e eu a vi vacilar
— Ah, isso... Eu sabia, ele é dono do lugar – deu a volta na ilha para pegar algo na geladeira – Como foi vê-lo novamente? – e então eu achei.
Estava bem ali a pequena euforia e a real motivação de me mandar até aquele lugar.
— Qual é o seu problema? – questionei em um tom mais baixo
— Querida, eu pensei que...
— Não – interrompi-a – Mãe, pelo amor de Zeus, entende que não existe mais eu e o Eric, não existe. Você sabe de tudo, caralho, você estava lá, você me viu – eu sentia minhas mãos tremerem de nervoso
— Ah, Maeve, você tem que superar essa história – passou pela cozinha como se o assunto não fosse tão importante assim — E além do mais, o Eric é um ótimo garoto, ele é educado, gentil... Ele e seu irmão são melhores amigos há anos... – eu a interrompi
— Mãe, eu não quero saber sobre absolutamente nada em relação ao Eric. – falei entre dentes – Você deveria saber, mas já que não sabe eu estou te falando. – parei em sua frente fazendo com que ela me olhasse – Eu não me interesso por nada que venha dele ou sobre ele. E se tem alguém que tem que superar algo aqui, é você. – olhei em seus olhos azuis – Entenda, por favor. Maeve e Eric não existem mais, e não irão mais existir. – enfatizei – Por favor, mãe, eu peço que você entenda isso, porque eu não quero brigar com você, mas se insistir nesse assunto, é o que vai acontecer – avisei e ela levou alguns segundos para responder
— Maeve, você sabe a minha opinião sobre isso. Eu acho o Eric um ótimo menino, ele é melhor amigo do seu irmão há anos e frequenta a nossa casa até hoje, eu tenho certeza que ele não fez aquilo por mal, ele só te queria de volta – eu soltei um riso amargo – Você deveria deixar de ser amarga – eu ergui minhas sobrancelhas e arregalei meus olhos
— Amarga? Ele me queria de volta? – eu estava descrente – Mãe, a amante dele quase me matou, você se lembra? – a mulher deu de ombros – E você, como minha mãe está me dizendo que ele fez o que fez para me ter de volta? É sério?
— Maeve, você sempre foi muito dramática – reclamou
— Eu fui exposta. Eu fiquei aguentando risos e ofensas por meses. Eu tive que ouvir meu próprio irmão me chamar de vadia e eu sou dramática? – elevei meu tom de voz
— Fale baixo comigo, Maeve
— Você só pode estar brincando com a minha cara – reclamei
— Eu já disse que o Eric é ótimo, você deveria conversar com ele – deu de ombros
— Chega – gritei e a vi arregalar os olhos
— Mas que merda tá acontecendo? – a voz de Lucian invadiu o cômodo e eu revirei os olhos
— Ótimo, era isso mesmo que faltava – resmunguei
— Tá tudo bem, filho, você sabe como sua irmã é – desconversou
— Não, ele não sabe – eu já estava a ponto de explodir de raiva, eu só precisava de um gatilho... e ele veio
— Sempre muito dramática – resmungou Lucian
— Vai se foder, Lucian – me virei para ele
— Você está ficando louca? – se aproximou de mim – Quem você acha que você é pra falar comigo desse jeito? – encostou seu peitoral no meu e ficou cara a cara comigo
— Eu sou exatamente quem você queria que eu fosse. – encarei-o e o vi trincar a mandíbula
— Não ache que só porque ficou 4 merdas de anos sem pisar aqui que você vai vir impor alguma coisa – esbravejou, soltei uma risada amarga
— Pode ficar tranquilo, irmãozinho, o reinado dessa porra dessa casa é todo seu – empurrei meu dedo indicador em seu peito
— Você precisa...
— Lave sua merda de boca para falar o que eu preciso ou não. Você é a última pessoa que tem alguma opinião relevante pra mim. Você e o lixo do seu melhor amigo
— Mas é claro que você iria falar do Eric... – debochou – Voltamos ao mesmo ponto do início. Você nunca vai esquecer essa história?
Antes que eu pudesse manda-lo tomar no cu, meu pai entrou na cozinha aos berros nos mandando calar a boca e respeitar o Ethan que não era obrigado a ouvir essa discussão. Eu olhei para a porta que dava acesso aos fundos da casa e vi o moreno sentado brincando com a Boo.
— Eu estou saindo – avisei dando as costas para meu irmão e sai de casa batendo a porta com toda a força que pude.
Enquanto caminhava em direção ao meu carro eu discava o número de Charlise, que me atendeu no segundo toque:
— Você está em casa? – perguntei assim que ela disse "oi"
— Estou, aconteceu alguma coisa? – a preocupação em sua voz era tão perceptível quanto a raiva na minha
— Eu estou indo aí – avisei antes de desligar e sair cantando pneu pela rua.
Charlise mora no quarteirão de cima ao meu, em menos de dois minutos eu estava parando o carro frente ao gramado bem cortado da casa dos Mitchell's. Minha amiga estava sentada em um dos degraus da varanda à minha espera.
Eu não precisei dizer nada a minha amiga, pela minha expressão facial ela soube o que aconteceu. Rapidamente Char me levou até seu quarto e assim que a mesma fechou a porta eu desabei.
Eu nunca me senti tão mal quanto me sinto agora. As coisas perderam o controle pra mim em um grau muito mais elevado do que antes, minha mãe insistir em um cara que só me fez mal e fechar os olhos para tudo que rolou me deixa tão exausta mentalmente.
As lágrimas saiam dos meus olhos de forma descontrolada e vez ou outra eu soluçava.
Eu só queria ir embora daqui.
— Respira e me conta o que aconteceu – a voz da minha melhor amiga era mansa enquanto ela afagava minhas costas.
Eu respirei fundo duas vezes e antes que eu começasse a falar, Charlise pontuou:
— Se o Ethan fez alguma merda, eu juro que corto as bolas dele e faço ele comer como almondegas – a seriedade em sua voz me fez rir de leve
— O Ethan não fez nada, está tudo certo com a gente. Mas não posso dizer o mesmo sobre minha mãe e Lucian... – olhei a garota e ela suspirou
— Me conta – me levou até sua cama e ofereceu suas pernas para que eu deitasse enquanto ela acariciava meus cabelos.
Eu a contei em meio as minhas lágrimas tudo que aconteceu desde o momento em que pisei na loja de animais onde encontrei Eric até o momento em que sai de casa extremamente irada.
Quando Eric me olhou naquela loja eu me senti suja, exatamente como eu me sentia quando toda aquela merda aconteceu e quando voltei pra casa eu recebi exatamente o que recebi anos atrás: julgamentos e dúvidas.
Eu lembro quando aconteceu e eu voltei pra casa em prantos e, ao contar pra minha mãe, ela disse que eu estava exagerando e que ele não havia feito por mal. Ouvir aquilo da minha mãe doeu muito mais do que o que aconteceu.
— Amiga, por que sua mãe não enxerga que o Eric não presta? – a pergunta da minha amiga veio acompanhada de um suspiro pesado
— Eu não sei – engoli a vontade de voltar a chorar – E o pior de tudo é que o Ethan assistiu toda essa merda e eu não tive nem coragem de falar com ele depois.
— Ele não vai julgar você...
— Eu tenho vergonha de tudo isso, eu me sinto usada, suja e acima de tudo, invalidada. A minha fala foi completamente invalidada pela minha mãe e pelo meu irmão! – a descrença no meu tom era notável – Eu sou culpada por ter sido exposta? Qual é o nexo nessa merda? – me sentei na cama e olhei para minha amiga
— Eu não sei o que dizer pra você, Maeve. Eu sempre estive aqui e eu assisti você se afundar e eu não vou deixar você fazer isso de novo, eu não vou! – enfatizou
— Eu não vou me afundar de novo, Char. Eu só não quero estar aqui porque eu sabia que isso ia acontecer, eu sabia que eu ia voltar a me sentir assim de novo assim que eu pisasse dentro da minha casa – eu estava agoniada com a ideia de ter de voltar pra casa
— Você sabe que pode ficar o tempo que quiser aqui comigo
— Eu sei, mas eu preciso voltar pra lá, amanhã eu vou viajar para The Barn at Faith Farms e eu não posso deixar o Ethan sozinho lá – suspiro pesadamente – E ainda tem essa merda de reencontro que a Delilah inventou.
— Ela me mandou mensagem sobre, você vai?
— Não – dei de ombros e o silencio se instalou no cômodo
— Maeve – chamou-me e eu a olhei – Você precisa conversar com a sua mãe. – pausou – Ela precisa saber como você se sente, o que você sente depois de todo esse tempo e isso vai aliviar esse peso.
— Você acha mesmo que a minha mãe vai ter o mínimo de empatia por mim?
— É o certo, não – ela me olhou e eu apenas suspirei
Eu sabia que essa viagem ia ser longa...