Melodia do Amor

By mariliaestevao

667 62 34

Seis amigos, adolescentes, enfrentando as situações da vida pela primeira vez. Romance, festas, decepções, co... More

Apresentação
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo

Capítulo 28

14 2 0
By mariliaestevao

Conversar com Mauri é tudo o que tem na minha mente quando acordo, ainda mais sabendo que a nossa consulta é só depois da aula, parece que as horas estão se arrastando. Me arrumo para a aula sem nenhuma animação, sei que será mais um dia de pessoas olhando torto, rindo pelos cantos e falando de mim pelas costas. O que me faz respirar fundo e colocar um sorriso no rosto é a presença de Fábio na porta da minha casa, com Alice do lado, a porta do Uber aberta e o motorista um pouco impaciente com a minha pequena demora.

— Bom dia flor do dia! – Alice me abraça quando chego mais perto.

— Bom dia. – a olho estranho. — Você é estranha. Ninguém é tão animado assim de manhã.

— Não posso estar feliz?

— Claro que pode. Aias, vocês dois estão bem felizes hoje.

— Estou normal. – Fábio responde entrando no carro ao lado do motorista.

— Desculpe a demora. – falo depois de dizer bom dia ao motorista.

O caminho para a escola é dividido entre as perguntas de Alice sobre o vídeo de ontem e a conversa paralela dela com Fábio sobre uma série que eles assistiram e eu nunca nem ouvi falar. Pelo jeito a conversa deles ontem foi bem longa e produtiva, fico feliz por isso. Não que eu queira empurrar um para o outro, a minha intenção é torna-los amigos, não tenho culpa se evoluir pra algo mais, isso será obra do destino.

— Como seus pais reagiram quando você contou sobre a nova fofoca da Babi?

— Na verdade não contei.

— Porque não?

— Não quero envolve-los em mais uma confusão minha na escola.

— Tem certeza que quer resolver isso sozinha?

— Não, mas vou pedir ajuda ao meu médico primeiro, saber o que ele acha disso tudo. Se ele me aconselhar a contar aos meus pais, ai sim eu conto.

— Entendo e respeito sua decisão.

— Vamos, a primeira aula vai começar. – Fábio nos chama a atenção.

Durante as aulas do primeiro período, tudo que faço é prestar atenção, anotar o que é importante e me concentrar na matéria, mas depois do intervalo é quase impossível me concentrar, já que o assunto da turma é o vídeo de Edu no Youtube, as meninas suspirando e enfatizando cada nuance, detalhes de voz, câmera, sorrisos e a forma apaixonada que ele canta, enquanto os meninos fazem comentários típicos de meninos, "certeza que é pra conquistar algum contatinho novo", "acho que é dor de cotovelo por causa da Babi", ou pior "ele está assim porque foi traído pelo melhor amigo".

Não sou a única que está perturbada com todo esse falatório, Fábio já soltou alguns suspiros exasperados e Edu por sua vez, pediu para que deixassem o assunto pra lá algumas vezes também, mas quanto mais ele faz isso, mais as pessoas falam e fazem brincadeiras maldosas.

— Quer saber, já chega. – falo e peço ao professor para ir ao banheiro, preciso de ar.

Saio rápido pelos corredores e só paro quando o ar que vem do pátio bate no meu rosto. É como subir a superfície depois de mergulhar muito fundo em um lago escuro e frio. Não sei por que tudo isso me afetou tanto, mas se eu não saísse de lá acho que teria uma crise de ansiedade.

Ando um pouco pelo pátio e respiro fundo algumas vezes para acalmar as batidas aceleradas do meu coração. Minhas mãos estão um pouco tremulas e minha respiração um pouco ofegante. Vou até uma torneira e passo um pouco de agua no rosto antes de decidir voltar para a sala, mas antes que eu possa fazer isso ouço passos chegarem ate mim.

— Roberta, está tudo bem?

— Sim. – respondo sem me virar.

— Não era meu objetivo te prejudicar postando aquele vídeo.

— Está tudo bem, você não tem culpa dos idiotas dessa escola serem como são. – finalmente viro e o encaro.

— Você gostou? – sua pergunta é tímida e um tom mais baixo.

— A melodia ficou perfeita. – sorrio de leve.

— Legal. – é tudo que ele diz.

— Acho melhor eu voltar, não quero criar mais confusão.

— Tudo bem. – ele me dá passagem.

Caminho de volta para a sala e Fabio me encara preocupado quando entro, mas o meu sorriso leve o tranquiliza e o vejo aliviar a tensão dos ombros. O professor pergunta se está tudo bem e eu apenas aceno afirmando. Os alunos não estão mais conversando tanto e parece que finalmente o assunto morreu, com isso a continuidade da aula volta a seu curso normal.

São quase seis e meia quando entro no consultório de Mauri e ele me recebe com um sorriso no rosto. Nós começamos conversando sobre a última reunião do grupo de apoio e sobre o tema da minha ultima leitura, ele me explica o real sentido da mensagem que o livro passa e fico muito encantada com a percepção tão diferente, porém interessante que tive e acabo dividindo isso com ele também.

— Bem, e quanto a sua rotina diária, alimentação, escola. O que tem de importante que queira ressaltar?

— Na verdade tem algumas coisas que gostaria de saber a sua opinião e até algum conselho.

— Ótimo, vamos a essas coisas então. – ele ajusta a postura na cadeira e me olha com atenção.

— Tem uma fofoca rolando pela escola, de que eu estive gravida do Fábio e que durante a nossa viagem de férias, quando fiquei doente, eu na verdade teria viajado para fazer um aborto.

— Isso é muito sério, seus pais já falaram com o diretor?

— É isso que gostaria de saber. Eu não contei a eles.

— E porque não?

— Porque na hora tudo que eu pensei foi em esfregar a cara da Babi no asfalto quente.

— Nossa.

— Desculpa, é que estou cansada de tudo. Tem horas que eu queria ter a capa de invisibilidade do Harry Potter e sumir por uns dias, deixar de ser o foco de tanta conversa e fofoca maldosa.

— Calma, vamos por partes. Se a sua duvida é se você fala ou não com seus pais sobre isso, a minha resposta é sim. Alias, com os pais do Fábio também.

— Eu sei que devíamos, mas queria tentar resolver sem envolver meus pais em mais uma confusão na escola.

— Tudo bem, é interessante você tentar resolver os próprios problemas, mas o assunto é bem grave. Porém, vamos tentar um meio termo, já que você quer resolver, tente você falar com o diretor.

— E ele me escutaria por quê?

— Porque você já tem motivos suficientes pra que ele te ouça pelo menos, afinal a escola dele é um mar de bulling.

— Vou usar essas palavras caso ele não me ouça. – brinco e Mauri sorri.

— Não estou te encorajando a ser agressiva e muito menos mal educada, mas você tem que impor os seus direitos.

— Vou me lembrar disso também.

— O que mais?

— Não acredito que vou falar com você sobre garotos, mas é preciso. – respiro fundo passando as mãos pelo rosto.

— Você sabe que tudo que disser aqui, é protegido pelo segredo de médico/paciente não sabe?

— Sei sim, mas é estranho, você entende?

— Sim, fale o que estiver à vontade.

— Vamos por partes pra você conseguir entender.

— Ótimo. – seu sorriso sincero me encoraja a falar.

— Eu gosto do meu melhor amigo e descobri isso depois que saímos juntos e ele me beijou. No inicio eu tentei me enganar, fingi que nada aconteceu, mas depois ele começou a namorar a Babi e tudo desandou, eu me culpava por ter deixado ele pra ela, mas também me julgava por gostar de um garoto que era como um irmão pra mim, me julgava por ser a inocente iludida que se apaixonou pelo melhor amigo gato que nunca ia me olhar.

— Esse amigo é o Eduardo?

— Sim. A outra parte da história é que eu surtei por medo de nunca ser "igual à Babi" e ele nunca olhar pra mim como olhava pra ela. Então vieram os remédios, as dietas malucas, a insegurança, as confusões, minhas brigas com a Babi e com ele por tabela. Eu me aproximei do Fábio, que hoje é meu melhor amigo e me afastei de todos os outros amigos que tinha. Conheci a Alice na terapia e nos aproximamos também, e acredito até que ela esteja um pouco encantada com o Fábio, mas não vem ao caso.

— Nossa, é muito informação mesmo.

— Sim, só me deixa terminar antes que eu não consiga mais.

— Claro. Estou anotando palavras-chave para voltarmos a cada assunto depois. – ele fala enquanto rabisca em seu bloquinho e noto como aquilo é clichê como as cenas de filmes e livros.

— O que acontece é que minha ligação com o Edu é de longa data, nós gostamos de muitas coisas de forma parecida, somos apaixonados por musica, adoramos compor e tocar. Temos algumas musicas que compomos quando crianças, outras quando já éramos mais velhos e ontem ele postou um vídeo cantando a nossa composição favorita e isso mexeu comigo de um jeito que não sei explicar.

— Tem certeza que não sabe? – o olhar do meu medico diz tudo.

— Eu sei, mas é assustador. Tudo bem que eu já tinha dito que o amava e até já contei isso a você, mas depois de ontem, acho que caiu a ficha que eu realmente posso estar deixando uma parte da minha vida passar por medo sabe?! E isso tem me deixado ansiosa. Hoje mesmo tive um inicio de crise de ansiedade durante a aula e precisei sair para respirar.

— Você tem dormido bem, se alimentado direito?

— Sim. Alias, sabe quem foi até onde eu estava pra saber se estava tudo bem?

— O Eduardo?!

— Pois é, e ele parecia ser o meu amigo de antes, parecia que tudo tinha voltado "ao normal", mas eu sei que não dá mais pra voltar ao que éramos. Acho que estou surtando. – respiro fundo e apoio a cabeça no encosto da cadeira de olhos fechados.

— Certo, realmente é muita coisa pra uma cabeça só suportar e isso só prova o quanto você está ansiosa, típico da síndrome do pensamento acelerado.

— O que?

— Síndrome do pensamento acelerado, é quando você pensa em varias coisas ao mesmo tempo e não consegue sequer resolver uma que outra nova toma frente e você só assiste enquanto elas entram e saem de foco, como mudar de canais várias vezes na TV e tentar acompanhar todos os canais.

— Nossa nunca ninguém resumiu tão bem.

— Por isso vamos adotar um novo método.

— Qual?

— Tópicos, eu sei que pode parecer mais difícil, já que você verá vários tópicos sem resolução e isso pode sim deixar você mais ansiosa e com pensamentos agitados, por isso vamos deixa-los comigo.

— Como assim?

— Hoje vamos colocar tópicos de acordo com importância para todos esses assuntos que você relatou e vamos resolvê-los a cada seção ou no decorrer delas. O que acha?

— Achei interessante, mas não sei se funciona.

— Mas podemos tentar?

— Sim.

— Certo, então vamos a primeira tarefa, organizar as ideias, vou te perguntar algo e você vai me responder o que vier na sua cabeça, a primeira coisa. Tudo bem?

— Ok.

— Qual o problema que mais te aflige?

— Edu.

— Foi bem rápido, então ele será o primeiro tópico.

— Isso é tipo os 12 passos do AA?

— Digamos que sim.

— Entendi.

— Mas primeiro temos que resolver todos os tópicos e ver se algum deles interfere no primeiro, porque assim teremos que resolver primeiro.

— Combinado.

— Mas para que você saia daqui hoje um pouco mais calma, vamos ter uma conversa geral sobre tudo que você contou. Como médico, vou usar os tópicos, mas como amigo, vou dizer o que eu penso a respeito agora e assim teremos uma conversa mais natural hoje.

— Obrigada.

— Pra inicio de tudo, entendo como você se sentiu a respeito do que sente pelo Eduardo, afinal a imagem de melhor amigo que você tinha dele foi se moldando com o tempo, mas você não se deu conta até que ele te deu um beijo.

— Isso.

— Naquele dia você entendeu a mudança e isso assusta. Tudo que é novo assusta. Já o fato de você não se dar o direito de ser merecedora da atenção dela é o que precisamos trabalhar.

— Mais um tópico?

— Sim, que eu já anotei. Você precisa aprender a se gostar, aprender que ninguém é igual e que cada um tem o seu fator interessante. Não só aparência física, por mais que isso seja clichê, mas o que é bonito mesmo vem de dentro, vem do caráter, do bom coração e isso você tem de sobra.

— Obrigado.

— A segunda questão é o fato de tudo ser sobre a Babi. Já parou pra pensar em quantas vezes ela foi citada nas nossas conversas?

— Você quer dizer que sou obcecada por ela?

— Não obcecada, mas focada, ligada a ela. Por mais que seja difícil, você tem que começar a se desligar dela de verdade e não só deixar de falar com ela na escola. Se comparar com ela foi o seu ponto de ruptura para todo o resto. Entenda, ninguém é igual, beleza nenhuma se compara, qualidades são qualidades, não importa em quem, e todos temos qualidades e defeitos, o que faz alguém olhar ou não pra nós são exatamente essas particularidades. Então que bom que ela é bonita, que tem postura de modelo, porem ela tem outras características e algumas ruins, igual a você. E isso não é ofensa, nem elogio, é só constatação.

— Entendi.

— Roberta, eu já disse isso, mas vou repetir agora que você está mais focada. Se o Edu tiver que olhar pra você, e eu sei bem que ele fez isso diversas vezes, será por suas qualidades, não por ser igual à outra pessoa. Até porque vocês são amigos de infância e têm uma história juntos, quer mais que isso pra ele conhecer você por inteiro?

— Isso também assusta um pouco, me sinto exposta demais.

— Consigo entender, mas veja pelo lado bom, ele já te conhece, se ficar ao seu lado sabendo de tudo, é porque ele realmente quer ficar.

— É impressão minha ou você está seno cupido para o Edu?

— Não, eu só estou dizendo o que eu penso.

— OK. Mais algum tópico?

— Sim, sobre a sensação de "estar deixando uma parte da vida passar", isso faz parte do processo e resultado da ansiedade, das expectativas frustradas, dos planos perfeitos que nunca deram certo. É natural. O que não pode acontecer, é você se desesperar por isso.

— E o que eu faço?

— Dica pra trabalhar em casa e na vida, respira fundo, conta até três, ou até dez se precisar e repita sempre, isso não está no meu controle e tudo vai acontecer no tempo que tiver que acontecer. Se não aconteceu, é porque não era pra acontecer.

— Anotado.

— E por fim, a música que ele cantou, o que te fez sentir?

— Saudade. – falo e solto o ar pesadamente.

Mauri me olha por um instante antes de levantar e caminhar até a estante e voltar com um livro nas mãos. Ele me entrega e sorri, então anota duas coisas na caderneta em seu colo e destaca a folha me entregando também.

— O livro é pra sua reflexão da semana e essa é a nossa lista de tópicos, o que acha dela?

— Nossa... – analiso tudo que ele anotou e fico sem reação.

*Eduardo: amizade, música, amor, insegurança.

*Aceitação: insegurança, corpo, defeito e qualidade.

*Ansiedade: saber lidar, entender, conviver.

*Babi: distanciamento, perdão.

*Conversar mais: expor pensamentos, vontades e sentimentos.

*Novos hábitos: leitura, exercício, cantar, viver.

— O que achou?

— Que o Edu não deve ser minha prioridade afinal.

— E por quê?

— Porque tenho outros conflitos que precisam se resolver primeiro.

— Isso. E são neles que vamos trabalhar nas próximas consultas.

— Então reorganizamos os tópicos?

— Não, vamos manter assim, já que você entendeu como tem que ser.

Depois de mais alguns minutos de conversa me despedi de Mauri e fui pra casa com meu pai que passou direto de trabalho para me pegar. E seguindo os conselhos do meu medico, hoje eu decidi conversar com meus pais sobre tudo que estava acontecendo na escola, falaria sobre Edu e sobre Babi também, assim como o meu novo tópico de prioridades.

Continue Reading

You'll Also Like

23.8M 1.4M 75
Maya Ferreira mora na California e tem a vida simples de uma adolescente de 17 anos sem emoção nenhuma, até que uma fofoca que mais parecia irrelevan...
288K 35.6K 46
Após vários dias em coma, Malu acorda em uma cama de hospital, sem lembrar nada sobre seu passado. Sua única companhia - além de colegas de quarto es...
442K 20.7K 97
- Sempre foi, e sempre será você, branca. Uma história que se passa na Rocinha, Rio de Janeiro. Repleta de possibilidades fascinantes, onde duas pess...
1.1M 157K 93
Trilogia COMPLETA ⚠ ATENÇÃO! Este é o segundo livro da trilogia A RESISTÊNCIA, a sinopse pode conter spoilers. Após descobrir que Emily faz parte da...