Maniacal
maníaco
1. que expressa mania, estado de superexcitação do psiquismo.
2. que resulta na exaltação do temperamento e em impulsos instintivos e afetivos.
Não demorou muito para que chegassem no destino. Um loja, fechada. Taehyung lançou um olhar confuso para Jungkook, que apenas lhe guiou até uma porta lateral no comércio. Sacou um molho de chaves do bolso, utilizando a que Hoseok havia lhe apontando ser a da porta principal.
Taehyung o olhou incrédulo, não conseguindo acreditar no quão elaborado parecia todo o encontro.
- Você trabalha aqui?
- Não, um amigo meu é dono e me emprestou as chaves. Venha...- Jungkook o guiou com uma mão na cintura até o interior.
Acendeu a luz na entrada, revelando a sala de tamanho médio repleta de fliperamas e as mais variadas máquinas de jogos.
- Jungkook! Eu amo videogames. - Taehyung exclamou, seu sorriso mais brilhante que as luzes do lugar.
Jungkook franziu o cenho. Ele estava mirando por agradar Taehyung, mas havia pensado mais em algo tipo "primeiro encontro diferente de todos que ele já teve" e não que Taehyung fosse gostar realmente de videogames. Ele parecia tão... Suave. O tipo de pessoa que leria um livro para relaxar, e não ligar um Playstation ou algo do tipo.
Talvez ele fizesse os dois.
Era um bônus que Taehyung gostasse tanto. Ele tinha acertado mais ainda na escolha do lugar.
No fundo da sala, havia uma máquina de fliperama para jogar Pinball. Jungkook foi até ela, ligando-a. O barulho encheu a sala, e Taehyung deu um pequeno pulo, juntando as mãos. Sua empolgação era quase contagiosa.
- Eu vou te destruir nesse jogo, Jeon Jungkook. - Taehyung o desafiou, aproximando-se da máquina.
- O que você está dizendo? O recorde da máquina é meu. - Jungkook respondeu, sua voz soando com a arrogância que sentia.
Pela segunda vez, sentia-se confortável ao ponto de não ter que fingir suas reações. Jogou esse pensamento para o fundo da sua mente, dizendo a si mesmo que era melhor assim, pois traria mais veracidade para sua ações e Taehyung não desconfiaria assim.
- Bom, vamos mudar isso. - Taehyung riu, posicionando seu corpo em frente ao fliperama.
Jungkook descobriu que, de fato, Taehyung era muito habilidoso. Sentiu seu sangue competitivo ferver quando viu que o outro quase alcançara o seu recorde, estando em segundo no ranking.
A maneira com que seu olhar concentrava-se na tela e com que passava a língua nos lábios era incrivelmente distrativa.
- Ok, eu vou te odiar se você continuar jogando e bater meu recorde. Vamos para outro?
Taehyung riu, largando o jogo.
- Temos que vir de novo. Quando for dia e esse lugar estiver cheio, pois aí eu vou te derrotar na frente de uma platéia.
Jungkook saberia que não haveria uma segunda vez, mas apenas concordou em ir, garantindo que Taehyung não conseguiria vencê-lo. Chamou-o para jogar um jogo de mira, que ficava em uma pequena cabina. O interior era composto por um assento duplo e uma tela de 40 polegadas. A única luz ali dentro era a emitida pelo monitor.
O jogo era de cooperação, em que os dois deveriam formar uma equipe para atirar em zumbis. Descobriram uma sintonia interessante.
Jungkook não pôde deixar de pensar se a sintonia seria a mesma em outros lugares.
Quando "game over" apareceu na tela pela terceira vez, desistiram. Era um jogo impossível de chegar ao final, feito para você perder e gastar fichas - coisas que eles não estavam gastando, pois Hoseok havia dado todas as chaves para jogar nas máquinas livremente.
Deixando a arma no suporte, Taehyung fez menção de levantar-se. Entretanto, antes que pudesse sair do assento, sentiu a mão de Jungkook sem sua perna, pouco acima do joelho.
Um frio no estômago tomou conta de Taehyung, a sensação completamente nova.
- Taehyung, eu posso te tocar?
Taehyung engoliu em seco. Seu coração estava acelerado, antecipação, excitação e medo tomando conta de suas emoções. Jungkook percebeu o conflito no outro, retirando a mão imediatamente,
- Ei, está tudo bem. Não quero que você se sinta desconfortável.
E Jungkook estava sendo sincero. Jamais forçaria algo em alguém. Um pequena voz na sua cabeça dizia que ele fazia algo quase tão ruim quanto: ele manipulava Taehyung. Ignorou-a.
- Não, não é isso. E-Eu quero... Podemos ir devagar? Mas eu quero.
Taehyung o olhava com olhos arregalados e seus lábios avermelhados por conta das inúmeras vezes que havia passado a língua para umedecê-los. Jungkook levou sua mão ao rosto dele, sentindo a pele aveludada das bochechas com a parte externa dos dedos. Seu polegar encostou levemente no seu lábio inferior.
- Queria ter beijado você no museu - disse Jungkook, fitando os lábios de Taehyung, seu polegar agora acariciando o seu lábio inferior. - Não consigo parar de pensar em como deve ser seu gosto. - Jungkook completou, o seu dedo descansando no centro do lábio. Em um movimento lento, Jungkook aproximou-se, suavemente encostando a sua boca no próprio polegar e depositando um selinho. - E sim, vamos devagar, tá?
Mas, antes que o outro pudesse reagir, ele já havia se afastado, deixando Taehyung sentir o abandono.
Taehyung piscou os olhos rapidamente na tentativa de voltar para realidade. Seus lábios tinham um leve formigamento, como se tivessem sentido o selinho indireto de Jungkook. Foi o último contato físico que tiveram na noite.
Não jogaram mais nenhum jogo, Jungkook o chamando para comer algo no outro lado da rua. Jungkook fechou o fliperama, Taehyung o ajudando a checar se eles haviam desligado tudo corretamente.
Mais tarde, quando Jungkook o deixou em casa, Taehyung não fez a lista de exercícios que se obrigava a fazer todos os Sábados pela noite. Não removeu a maquiagem metodicamente como fazia, com receio de que algum resquício dos produtos ferisse sua pele.
Ele deitou na cama, ainda com a roupa que havia usado para sair, baixou um aplicativo no celular para jogar Pinball e relembrou todos os gestos e trejeitos de Jungkook. O sentimento de culpa por não ter feito suas tarefas não apareceu, e ele dormiu com um sorriso no rosto.
***
-
Ontem encontrei o professor Benson. Ele me disse que seu seminário sobre anestesia pediátrica foi realmente brilhante, mesmo que você tenha confundido uma das referências que você citou.
- Sim, me desculpe por aquilo. Cometi um pequeno erro na hora de listar as referências.
- Eu já conversei com você a respeito de erros na medicina, Taehyung. Não existem pequenos erros, qualquer coisa pode ser fatal.
Taehyung apenas ficou calado, olhando para o seu prato. O jantar era seu favorito, mas tinha perdido a fome. Remexeu a comida com seu garfo, tentando acalmar seu coração acelerado, controlar o suor das mãos e a ansiedade subindo por todo seu corpo.
Sua mãe não estava jantando com eles, o que fazia com que os assuntos relacionados a medicina fossem mais recorrentes. Basicamente, o seu pai falava por uma hora inteira sobre artigos e pesquisas, algo que Taehyung não queria ouvir em uma noite de domingo, sabendo que iria ter de ouvir tudo isso durante a semana em suas aulas. Hyungsik nunca jantava com eles.
Forçou-se a terminar de comer, ajudando o pai a organizar a mesa - mesmo que tivessem empregadas que arrumassem o lugar, seu pai sempre o ensinara a deixar suas coisas no lugar e a fazer tarefas domésticas básicas.
O ensinamento não havia sido replicado à Hyungsik.
***
Jungkook estava entediado pela primeira vez em muito tempo.
Era domingo pela noite e a primeira que estava passando sozinho em... Dois meses? Não lembrava a última vez que estivera sozinho em casa neste horário. Assistira um filme, comera, fora até a academia do prédio.
A academia geralmente era uma boa distração, mas naquele momento não queria sair de novo do apartamento.
Seus olhos correram para a sua mesa de cabeceira várias vezes durante o dia, onde guardava sua heroína e suas seringas. Gostava de dizer a si mesmo que não estava viciado, mesmo que gastasse mais do que deveria com a droga: recusava-se a ter a substância de qualquer traficante, comprando do melhor da cidade. Em dias de tédio ele recusava-se a usar, e essa recusa lhe dava a ideia de que possuía poder sobre a substância, mesmo que passasse boa parte do tempo balançando as pernas e andando pelo apartamento na procura de algo.
Mas ele precisava da sensação orgásmica que somente a droga lhe dava. E se não pretendia injetar, ele necessitava obter a sensação de uma outra forma, ainda que a mesma viesse mais fraca.
Odiava pornografia. Tudo soava falso, e como trabalhava praticamente na mesma indústria podia dizer quando estavam fingindo. Então, ele se excitava mais com o próprio toque, usando as sensações causadas pelas próprias mãos para buscar prazer. Poucas vezes, invocar alguma lembrança também lhe ajudava.
Sentado no sofá com as pernas bem afastadas, Jungkook usou sua mão esquerda para acariciar seu pênis por cima do shorts que usava. Insatisfeito com a pouca fricção, puxou o shorts junto com sua cueca, deixando seu membro para fora.
Agarrou a base e relaxou as costas no sofá. Massageou lentamente, subindo e descendo com a mão sem pressa. Sentiu seu pênis endurecer com a ação, saindo pré-gozo. Usou o líquido para lubrificar e facilitar a masturbação, começando a movimentar a mão de maneira mais vigorosa.
Fechou os olhos, sem necessariamente buscar nenhuma imagem. Mas, a figura de cabelos loiros e pele dourada invadiu seus sentidos mesmo assim. A reação de seu corpo foi imediata, e os músculos de seu abdômen contraíram de forma quase dolorosa.
- Hum... Tae... - o gemido saiu de seus lábios involuntariamente, suas mãos aumentando a velocidade com que subiam e desciam de seu membro.
A lembrança de como eram os lábios cheios de Taehyung em seus dedos foi o que o trouxe ao seu clímax, o gozo branco se espalhando pela sua camisa preta, o que definitivamente deixaria manchas.
Sentia-se patético.
- Ah, Jungkook. Você é a porra de um gigolô que se masturbou por um cliente que nem comeu ainda - falou para o nada, sendo recebido com silêncio. Uma risada digna de um manicômio saiu de seu peito, preenchendo o vazio os cômodos.
- Um cliente homem, ainda por cima. Você é um viado agora, também. - sua risada tornara-se histérica, seu corpo tremendo com incontrolavelmente. - Taehyung, Taehyung, Taehyung. O bom garoto Taehyung. Talvez não tão bom, se ele aceita sair com você, Jungkook. - repetiu, totalmente fora de si.
Alguns minutos depois, seu corpo acalmou-se. Tirou a camisa e a usou para limpar as mãos. Jogou-a no lixo do banheiro.
Deitou-se na cama, o sono não demorando para vir.