Anahí acordou sentindo a cabeça pesar e um tanto sonolenta. Assustou-se ao ver Poncho dormindo todo torto na cadeira.
- Poncho! - sussurrou, mas ele nem se mexeu.
Anahí sorriu e com dificuldade sentou na cama e se aproximou tocando o rosto dele. Poncho acordou num sobressalto assustando-a.
- Desculpa!
Poncho: Acha Any, tudo bem... Como vc ta?
Any: Acho que melhor impossível. - sorriu fascinada. - Você dormiu aqui?
Poncho: Uhum! - assentiu passando a mão no rosto.
Any: Por quê?
Poncho: Era o minimo que eu podia fazer depois do que fez pela minha irmã... Meu pai ficou com ela, então...
Any: Obrigada! - sorriu.
Poncho: Você chamou por mim a noite. - sorriu com carinho.
Any: Chamei?! - perguntou sentindo o rosto queimar.
Poncho: Uhum! - assentiu. - Por que esta envergonhada?
Any: Nada! - sorriu sem graça.
A porta se abriu e o padrasto de Anahí entrou.
- Ray... Ué, Marichello não veio com vc?
Ray: Ela ta ocupada fazendo uma coisa. - respondeu sem jeito.
Any: Fazendo o que?! - perguntou séria.
Poncho: Bom, vou deixar vcs a sós, que bom que veio Ray.
Ray: Eu só vi o recado no celular hoje quando acordei.
Any: Poncho fica! - pediu segurando seu braço e o puxou fazendo-o sentar.
Poncho: Por que Marichello não veio? - suspirou se sentando.
Ray: Any eu juro que tentei impedir sua mãe, mas... Não consegui!
Any: Do que ta falando?
Ray: Sei que é uma péssima hora pra te falar isso, mas... Sua mãe vendeu o piano que era do seu pai.
Any: Ela fez o que?
Poncho: O piano? Mas por quê?
Any: Porque ela é uma bruxa claro... Ray pra quem ela vendeu?
Ray: Ela não quis me dizer o nome, mas Any a gente vai dar um jeito nisso.
Any: Aquela filha da mãe me paga. - respondeu afastando o edredom.
Poncho: Any ta louca, vc não pode levantar. - a impediu.
Ray: Ele tem razão, eu vou falar com a sua mãe e daremos um jeito de anular a compra.
Any: Ela não tinha o direito de fazer isso. - esbravejou chorando.
Poncho: Calma Any, não fica nervosa assim.
Ray: Eu vou chamar um medico, achei que seria pior vc chegar em casa e não ver o piano, droga não devia ter falado nada. - saiu.
Any: Me ajuda a levantar Poncho, eu esgano ela, mas ela não vende o piano do meu pai.
Poncho: Any vc não pode fazer nada, calma.
Any: É o piano do meu pai, Poncho é a única coisa que eu tenho dele, o resto ela se livrou. - soluçou.
Poncho: Olha pra mim, calma, fica calma, nervosa assim vc não vai conseguir fazer nada. - segurou seu rosto enxugando-o.
Any: Eu não vou perdoar ela se ela não devolver o piano... Ela vai se arrepender disso, eu juro. - socou a cama.
Poncho: Calma, eu prometo que eu te ajudo, não fica assim. - a abraçou.
Anahí o abraçou com força, se pudesse levantaria daquela cama com o pé enfaixado mesmo e só sossegaria quando recuperasse o piano.
Dulce ergueu os olhos da t.v. quando a porta se abriu e sentiu o rosto pegar fogo ao ver Ucker.
- Oi!
Dulce: Oi. - sorriu sem graça.
Ucker: Como vc ta?
Dulce: Bem! - sorriu.
Ucker: Que bom, vc esta mais corada hoje. - sorriu.
Dulce: Obrigada! - sorriu sem graça.
Ucker: Seu pai ta na cantina, posso te fazer companhia enquanto ele não volta?
Dulce: Pode, claro. - sorriu assentindo.
Anahí tomou o copo d’água e respirou fundo ainda chorando.
Poncho: Que bom que seu padrasto me deixou aqui com vc, esta melhor?
Any: Sim, mas isso não fica assim, ela vai me pagar... Todo mundo vai saber a bruxa que ela é.
Poncho: Any não diz isso da Marichello, foi errado isso que ela fez, mas ela é sua mãe.
Any: Ela ta fazendo isso pra se livrar de tudo que lembra o meu pai e do que ela fez pra ele.
Poncho: Por que ta dizendo isso, não te entendo quando fala assim. - a olhou confuso.
Any: Porque ela é culpada pela morte do meu pai Poncho. - o encarou chorando.
Poncho: Mas foi um assalto, o que ela podia fazer, porque vc a culpa desse jeito?
Any: Porque não foi assalto coisa alguma... Foi suicídio! - esbravejou chorando.
Poncho: O que? - a olhou em choque.
Any: Meu pai se matou por culpa dela! - declarou chorando.
Ucker olhou a t.v. e encarou Dulce.
- Esse filme é legal né?
Dulce: Sim... Você também gosta da história?
Ucker: Sim!... Mas também acho os efeitos especiais muito bons. - sorriu.
Dulce: É verdade... Ele foi indicado ao Oscar não foi?
Ucker: Sim, três vezes. - sorriu. - Bom saber que vc gosta desse tipo de filme, mais um assunto pra conversarmos.
Dulce: Não sou uma pessoa dificil de agradar. - deu de ombros.
Ucker: Não... Mas eu acho. - respondeu a encarando sério.
Dulce: Nesse sentido é diferente. - respondeu abaixando a cabeça sentindo o rosto pegar fogo.
Ucker: Desculpa! - pediu sem jeito.
Dulce: Tudo bem. - respondeu sem graça.
Ucker: Mas e ai? Ansiosa pra voltar pra casa? - sorriu mudando de assunto e quebrando o clima.
Dulce: Sim, não curto muio hospitais. - sorriu.
Ucker: Não é o lugar mais agradavel pra ficar. - sorriu.
Dulce: Uhum! - concordou sorrindo.
Ucker devolveu o sorriso e começou a puxar assunto sobre coisas banais como as músicas preferidas de Dulce, o que gostava de fazer, tudo pra tentar se aproximar daquela garota e assim conhecê-la e conquistar sua confiança.
Anahí terminou de tomar a água e encarou Poncho.
- Esta mais calma?
Anahí assentiu colocando o copo na mesinha ao lado da cama.
Poncho: Então me explica... Por que disse que seu pai se matou por culpa da sua mãe?
Any: Eu tava no escritório, tocando piano quando as brigas começaram... Meu pai acusava a minha mãe de alguma coisa e ela retrucava,
nunca tinha visto uma briga tão feia entre eles... Foi quando ela se revoltou... E confessou! - abaixou a cabeça.
Poncho: Confessou o que?
Any: Eu tava na escada quando a ouvi claramente dizer: “Eu me casei com vc por conforto, nunca te amei... O homem com quem vc me viu hoje não foi o primeiro, teve outros... Muitos outros!... Quer que eu confesse, eu confesso... Trai vc a vida toda! - enxugou o rosto e obrigou-se a continuar. - Na hora os olhos do meu pai marejaram e ele perguntou: E a Anahí?... Ela é sua, mas se não acreditar problema é seu, retrucou minha mãe... Ela o olhou de cima, como se ela se orgulhasse do que tinha feito e saiu, meu pai entrou no escritório e eu fiquei na escada, antes que eu pensasse em algo, ouvi o tiro... Desci correndo com a minha mãe e quando entramos no escritório...
Poncho: Ele havia atirado na própria cabeça e vcs nao puderam fazer nada? - completou espantado.
Anahí assentiu.
- Eu gritei com ele, o chacoalhei, bati no peito dele, mas nada... Ele já tava morto... Marichello ficou com vergonha e resolveu bolar uma história de assalto, na hora concordei e depois era tarde demais pra desmentir pra todo mundo, era minha palavra contra a dela... Mas os policiais, os médicos que nos atenderam sabem a verdade, Marichello comprou o silêncio deles.
Poncho: Eu acredito em vc e agora te entendo, agora sei porque vc não se da com sua mãe e porque disse que não queria que eu sofresse com a perda da Dulce, vc sabia o que eu ia passar, que eu ia me culpar como eu sei que vc se culpa.
Any: Se eu tivesse descido logo, se ele tivesse me visto talvez bastasse pra ele querer viver... Meu pai dedicou a vida dele pra mim e pra ela e ela acabou com ele, eu não fui o suficiente pra ele decidir não apertar o gatilho.
Poncho: Any...
Any: Eu acho que ele morreu achando que eu não era sua filha, mas eu sou, eu fiz o teste pra dar essa certeza a nós dois.
Poncho: Any não precisa de teste de DNA pra saber que vc é filha do seu pai sim, não é só a semelhança física que diz isso, vc tem a determinação dele, a alegria de viver, a bondade, a cor dos olhos, do cabelo, a paixão pedlo piano, acredite em mim seu pai sabia que vc era filha dele, ele morreu sabendo disso, eu tenho certeza.
Any: Sabe qual foi a ultima coisa que ele me disse?... Você é uma pianista e tanto filha, é a melhor coisa que eu fiz nessa vida.
Poncho: Tenho certeza que ele não mudou de idéia. - acariciou seu rosto. - E eu concordo com ele.
Anahí o encarou parando de chorar e tentando entender o significado daquela frase.
Poncho afastou os cabelos dela do rosto e aproximou o rosto do dela ficando tão próximos que um sentia a respiração do outro. Anahí fechou os olhos querendo mais do que tudo que ele a beijasse.
Poncho fechou os olhos e segurou o rosto de Anahí entre as mãos prestes a beijá-la.
A porta se abriu e os dois se afastaram rapidamente quando Ray entrou.
- Any esta mais calma? Eu consegui falar com o médico e ele esta vindo... Também falei com
Marichello e descobri pra onde foi seu piano.
Any: Valeu Ray! - assentiu.
O celular dele tocou e ele se afastou falando ao telefone.
Poncho: Any ele sabe? - sussurrou.
Any: Não... Pode me chamar de egoista, mas... Ele me trata como meu pai as vezes e eu tenho pena de dizer a verdade, ele também ama a Marichello.
Poncho: Entendo, mas eu acho que ele tem que saber. - respondeu sério e ela assentiu.
Any: Poncho me responde uma coisa... Se Ray não tivesse entrado vc...
Poncho: Eu vou ver a Dulce, depois a gente conversa, ainda quero falar solbre o que me contou, até logo Any. - forçou um sorriso e se levantou cumprimentando Ray que acenou ainda no telefone.
Any afundou na cama e fechou os olhos, estava ficando louca ou Poncho quase a beijara?
Dulce ficou séria e parou de rir quando a porta se abriu e Maite entrou.
-Oi, Dulce como esta?
Dulce: Bem Mai e vc?
Maite: Bem... Podemos conversar a sós? - sorriu e encarou Ucker.
Ucker: Tudo bem vou parar de monopolizar a paciente, até mais Dulce. - sorriu acenando.
Dulce: Até. - respondeu forçando um sorriso.
Ucker cumprimentou Maite e saiu fechando a porta deixando as duas sozinhas.
Maite: Que susto né? - sorriu se sentando.
Dulce: Sim, me desculpe pelo transtorno. - pediu sem jeito.
Maite: Imagina, amigos são pra isso... E parece que vc conquistou o Don Juan do grupo - sorriu.
Dulce: Ucker é só m amigo não esta interessado em mim. - respondeu sem jeito.
Maite: Achei que o motivo de ter se perdido foi porque ele te beijou e vc se assustou... Sabe, quando uma pessoa beija outra é porque tem interesse nela e não vejo porque Ucker não se interessaria por vc.
Dulce: Eu sei que ele já ficou com várias meninas.
Maite: Isso não o impede de se interessar por uma só e ela ser vc. - sorriu.
Dulce: Acho difícil.
Maite: Ele gostar de vc? - Dulce assentiu. - Por quê?
Dulce: Porque não sou interessante, há outras por ai que são mais. - deu de ombros.
Maite: Dulce vc já gostou de alguém? Tipo se apaixonar?
Dulce: Já gostei, mas me apaixonar pra valer acho que nunca por quê?
Maite: Porque se vc já tivesse amado entenderia que simplesmente amamos outra pessoa sem ver defeitos ou ficar fazendo comparações, se vc e Ucker se apaixonassem iriam querer apenas um ao outro sem se importar com defeitos, isso é o bonito do amor. - sorriu.
Dulce: Tomara que um dia eu me apaixone assim também. - respondeu sem graça.
Minutos depois Maite saiu do quarto e encontrou Poncho no corredor.
- Falou com ela?
Maite: Sim, mas não do suicídio, acho cedo pra isso, mas consegui perceber algumas coisas.
Poncho: Que coisas?
Maite: Sua irmã se auto-menospreza, não se acha bonita, atraente, tem auto-estima muito baixa além de ser insegura.
Poncho: Parece que vc ta falando de outra pessoa, a garota que Dulce era há quase 04 meses era o oposto... Segura de si, forte, cheia de amigos, popular... Não era como vc esta vendo agora.
Maite: Então minhas suspeitas estão certas... Algo provocou o suicídio e a mudança de comportamento, aos poucos eu vou conversar com a Dulce e tentá-la fazer se abrir, quem sabe descobrimos onde tudo isso começou.
Poncho: Tomara e obrigado por ter vindo Mai.
Maite: De nada, eu preciso ir agora, mas eu vou voltar a conversar com ela e tentar te ajudar.
Poncho: Obrigado! - sorriu.
Maite: De nada... Até logo. - sorriu o cumprimentando e entrou no elevador.
Ucker e Miguel se aproximaram logo em seguida.
Miguel: Como esta sua irmã?
Poncho: Bem!
Miguel: Vou avisá-la pra preparar as coisas, daqui a pouco o médico vira dar a alta, com licença. - sorriu se retirando.
Ucker: Que cara é essa? - o olhou pensativo
Poncho: Preciso de um conselho.
Ucker: Pode falar.
Poncho: Agora pouco, não sei o que me deu, ou me passou pela cabeça, mas... Quase que eu beijei a Anahí!
Ucker: Que? Não acredito nisso. - sorriu embasbacado.
Poncho: Nem eu to acreditando, eu não sei o que me deu. - suspirou.
Ucker: Talvez tenha agido por gratidão. - deu de ombros. - Por tudo o que ela andou fazendo pela Dulce.
Poncho: Também pensei nisso. - deu de ombros.
Ucker: Só toma cuidado Poncho pra não misturar as coisas.
Poncho: O que quer dizer com isso?
Ucker: Você entendeu... Não confunda gratidão com amor, porque Anahí sim é apaixonada por vc e vc pode dar esperanças à ela se o que quase aconteceu hoje se repetir. - avisou sério.
Poncho: Você acha mesmo que a Any é apaixonada por mim?
Ucker: Tenho certeza, agora é vc quem precisa saber o que sente por ela... Quando vc quase a beijou, o que sentiu?
Poncho: Eu não sei explicar, ela estava chorando, estava mal e... Não sei senti uma ternura por ela, vontade de cuidar dela.
Ucker: E somado ao fato de vc já estar agradecido pelo que ela fez a Dulce, vc quis beijá-la.
Poncho: Acho que foi isso! - refletiu. - É Ucker vc tem razão, eu quis beijar a Anahí por gratidão, só isso. - afirmou inseguro.
Ucker: Só por isso mesmo? Você não parece muito seguro! - observou.
Poncho: Que?... Não, é claro que foi só por isso, por que mais seria? Anahí e eu nunca daríamos certo juntos... Eu gosto de pessoas que são sensatas, maduras, adultas, que tem objetivos, que gostam de coisas exatas, comandam a própria vida... E Anahí não é assim.
Ucker: Realmente, vc acabou de descrever a Flávia... Será que vc ta com ela pra poder ter o controle das coisas ou por amor à ela?
Poncho: Ué pelas duas coisas, é claro.
Ucker: Não parece... Você sempre foi o tipo de cara sensato, maduro e responsável, nunca gostou de coisas complexas, de deixar tudo fluir naturalmente, de perder o controle das coisas, de não saber o que fazer... Acho que por isso vc saiu daqui, mudou pro México e esta namorando uma mulher mais velha... Pra poder ter o controle das coisas, vc não esta apaixonado pela Flávia, vc ta com ela pela segurança que ela te da.
Poncho: Quer parar de ficar me analisando? Parece a Maite falando assim.
Ucker: Eu não preciso de um diploma de psicologia pra entender vc, eu te conheço a vida toda. - sorriu.
Poncho o encarou sem saber o que responder. Miguel apareceu em seguida com Dulce, fazendo o assunto morrer.
Dulce: Antes de irmos, eu posso ver a Any?
Miguel: Claro filha.
Dulce: Ucker, vc vem comigo? - o olhou sem jeito.
Ucker: Claro, claro. - assentiu sorrindo.
Dulce se apoiou em Ucker e os dois caminharam sumindo de vista.
Miguel: Você ta bem?
Poncho: Ahn?... To, to sim! - assentiu sem muita convicção.
Dulce: Então vc vai receber alta hoje mesmo? - sorriu.
Any: Sim... Não posso mais ficar aqui. - respondeu séria. - Acredita que a bruxa da minha mãe vendeu meu piano?
Ucker: Por que será que ela fez isso?
Any: Pra se livrar da última coisa que lembra meu pai. - respondeu cheia de ódio.
Dulce: Você sabe pra quem ela vendeu?
Any: Sim e vou atrás dele assim que sair daqui. - respondeu decidida.
Maite sentou no banco do shopping junto com Angelique.
- Mas me conta por que Poncho pediu pra vc conversar com a Dulce.
Maite: Ah ele queria que eu conversasse com ela e tentasse entender porque ela anda tão retraída a ponto de fugir por causa de um beijo.
Angelique: Hum entendi. - respondeu mexendo na bolsa.
Maite: Por onde vamos começar a andar? - sorriu olhando em volta.
Viu Christian se aproximando com uma garota, os dois se mãos dadas.
Maite: Hei, é o Chris ali? - apontou.
Angell: Não acredito! - exclamou ao vê-lo beijando outra garota.
Maite: Vocês estão ficando ainda, por que ele ta com aquela menina? - perguntou confusa.
Angell: Porque a partir de agora não estamos mais ficando. - declarou derrotada.
Maite: Angell...
Angell: Vamos embora? Eu perdi a vontade de passear. - se levantou.
Maite: Hei, espera ai. - foi atrás dela. - Angell vc tem que conversar com ele, isso ta errado.
Angell: Mai eu to bem, na boa, só quero ir embora. - respondeu segurando o choro.
Maite: Ta bem então, vamos. - assentiu dando-se por vencida.