Nem Todos Os Príncipes Usam C...

By Silmarazafia

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OS CAPÍTULOS INICIAIS COMEÇARAM A SEREM RETIRADOS DIA 06/07 Este livro é um Spin Off independente da série "N... More

Música Tema
Elenco
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10

Capítulo 5

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By Silmarazafia

Primeiro capítulo narrado por ele 👑

P.S.: Contém erros.

Atentem para essa música linda: Imagine Dragons - Birds.
"Tudo é temporário, tudo vai passar"

👑👑👑

Minha cabeça doía quando desembarquei no aeroporto de Malmö. Ainda me sentia bêbado dá última noite, como se meu sangue fosse constituído de álcool. Meus olhos ardiam por trás das lentes de contato, mas não as substituiria pelos óculos até chegar à fazenda. Evitava usá-los em público cada vez mais.

Meu pai me esperava no portão de desembarque. Leonora, minha irmã mais velha, estava com ele. Me abraçaram bem forte e me encheram de perguntas a respeito da minha segunda viagem de férias sozinho.

Amava minha irmã com todo meu coração, e meu pai era um ídolo para mim, mas só queria que eles parassem de falar. Minhas têmporas latejavam cada vez mais.

Leonora se despediu de nós ao lado do carro, prometendo que nos visitaria com seu noivo o mais rápido possível. Quando ela deu as costas e caminhou pelo estacionamento, senti o primeiro sinal do vazio que voltaria a ocupar meu peito.

Durante muito tempo, ela tinha sido a única pessoa com quem eu conversava, com quem conseguia ficar à vontade, então ela entrou para a faculdade e foi embora.

— Conheceu alguém?

— Não, pai. As garotas de Estocolmo... — comecei a falar com toda a força de vontade, mas ele me interrompeu.

— Não falei especificamente de garotas. Falei sobre alguém.

Meu crânio era como uma granada prestes a explodir, minha boca estava seca e o estômago vazio se embrulhava cada vez mais conforme ele manobrava para fora do estacionamento e tomava a rodovia para Agaton.

— Sabe que tem liberdade para falar comigo sobre o que quiser, não sabe?

Sei disso, pai, só que agora tudo que preciso é do bom e velho silêncio.

— Claro — respondi tentando não parecer tão mal-humorado.

— Sabe, filho, sua mãe e eu não temos preconceito. Saiba que não ficaremos magoados se você nos contar que não gosta de garotas, que sente atração por homens...

— Pai! — o som da minha própria voz causava pontadas na minha cabeça.

— Te aceitamos do jeito que for — ele insistiu, com uma das palmas erguida, enquanto a outra apertava o volante.

— Pareço gay? — murmurei sentindo a tensão no maxilar, grato por só estarmos nós dois no carro e não haver testemunhas.

— Não é que você parece, mas não é normal um rapaz como você nunca ter levado uma garota em casa.

— Não curto homens, mas obrigada por me aceitar — falei com um traço de sarcasmo na voz. Se não se importavam com minha orientação sexual, porque não poderiam entender que eu simplesmente não conseguia chegar em uma garota?

Havia uma sensação de vazio que me controlava, que não me abandonava um só dia. Uma coisa que fazia o sangue se concentrar no meu rosto, que deixava um caroço na garganta, o coração acelerado e as mãos suadas. Aquilo não me permitia ter amigos na escola, dar em cima de garotas ou simplesmente responder à pergunta de um professor. O simples fato de ir à escola já era uma tortura.

Às vezes, quando anoitecia, e ficava sozinho no meu quarto, esse vazio ia me consumindo até que eu sentia vontade de morrer, só para acabar com aquela dor. E quando a agonia começava a aliviar, me sentia um lixo por pensar na morte enquanto existiam tantas pessoas afundadas em merdas piores que a minha.

— Você ainda pensa naquela garota do colégio? — meu pai resolveu puxar assunto de outro jeito.

— Nem sei se ela estará na minha turma no último ano.

— Como é mesmo o nome dela?

— Lucy — resmunguei tentando pensar em algo que pudesse falar para deixá-lo satisfeito.

— Isso. Lucy Peter. Por que não cria coragem e a convida para sair?

Ri sem humor. Meu pai era do tipo que pensava: o não você já tem, só precisa ir atrás da humilhação.

— Uma garota como ela não sairia com um cara como eu.

— Você iria aproveitar muito mais a vida se não fosse esse medo de tentar.

— Já tento. Toco quase todas os finais de semana em festas lotadas.

— Bêbado não conta.

👑👑👑

Nosso border collie estava ao lado da minha mãe na varanda quando chegamos à fazenda. Havia uma gravata borboleta vermelha em seu pescoço, e ele parecia o cachorro mais respeitável de toda a Suécia.

— Você não me engana, Theodoro — falei ao descer no carro, o chamando com um assobio.

Ele desceu as escadas como o cachorro doido e amoroso que era, e se lançou contra mim, batendo as patas dianteiras na minha barriga.

O abracei, sentindo o cheiro do shampoo para cachorros.

Subi as escadas tentando equilibrar a mala, o violão pendurado nas costas, com minha mãe agarrada a minha cintura e Theodoro se jogando contra mim a cada degrau. Antes de entrar em casa, lhe dei a atenção que ele merecia e prometi que sairia depois para uma corrida juntos.

Minha mãe fazia todo tipo de perguntas ao seguirmos para meu quarto, no primeiro andar. O álcool ainda dominava meus reflexos, mas a dor de cabeça estava diminuindo.

Ela abriu a porta para que eu entrasse.

Meu cérebro demorou um momento para entender que aquilo era real, que ela estava ali, parada ao lado da minha cama segurando um travesseiro.

Lucy Peter olhou na nossa direção sobre o ombro e, quando sorriu, me senti mais sóbrio que nunca.

— Vou deixá-los sozinhos. — Ouvi sua voz me garantindo que aquilo era real.

— Não — pedi sem pensar, mas foi no que minha mãe disse que ela prestou atenção.

— Sim, senhora Hansson — murmurou envergonhada. Foi aí que me dei conta de que ela não estava ali por mim. Devia ser filha da mulher que havia sido contratada para ajudar a cuidar da casa.

Minha mãe começou a falar um monte de coisas, mas eu não sabia bem o que estava respondendo. Me concentrei em abrir a mala, sem querer deixar o quarto, ainda sem acreditar que ela estava mesmo ali.

— Seu pai conversou com você sobre...?

— Sim, ele conversou — me apressei em dizer, temendo que ela começasse com aquela história de eu ser gay na frente de Lucy. Meu rosto queimou de vergonha só com a possibilidade.

Foi apenas depois de muito constrangimento que mamãe falou com ela novamente, como uma ditadora, e nos deixou a sós.

Meu coração batia forte, o corpo tremia. Ela estava com um dos joelhos sobre a cama, mexendo nos lençóis. O quarto estava claro e dava para ver a marca da calcinha no vestido fino enquanto ela se inclinava sobre o colchão.

Engoli a saliva, respirando pela boca e forcei os olhos a se fixarem em outro lugar. O mal-estar da ressaca tinha sido substituído por outra agonia, e eu não podia deixar que ela percebesse.

Foquei nos seus cabelos cheios, a pele do seu pescoço, as mãos trabalhando rápido.

— Você por acaso estudou no último ano na mesma turma que eu? — perguntei assim que notei que ela estava terminando de arrumar minha cama, e que eu estava prestes a perder a oportunidade.

— Sim... eu era da sua turma — respondeu como se também estivesse constrangida, seus olhos claros pareciam maiores, brilhavam.

— Te reconheci pelo vestido — falei a primeira idiotice que me veio à cabeça.

As perguntas que se seguiram, apenas para mantê-la falando comigo, eram tão humilhantes que eu não fazia nem questão de lembrar.

Era a primeira vez que eu me arriscava com uma garota, e sequer sabia de onde estava tirando tanta coragem — talvez fosse por conta do álcool ainda no corpo —, mas não queria jogar fora a oportunidade de ouvir sua voz.

— Você já foi ao clube Sensations nas noites de sábado? Sempre toco lá e nunca te vi — perguntei como se ouvisse a voz do meu pai repetindo sem parar "convida ela para sair".

— Nunca fui a esse clube — respondeu.

É claro que ela nunca tinha ido. Lucy era toda conceitual, tinha um estilo próprio. Usava roupas retrô, como se quisesse dizer ao mundo que não estava nem aí para a porra da moda, que ela tinha coisas muito mais importantes para se preocupar do que seguir tendências que mudavam a cada estação. E ela era simplesmente incrível demais para um clube qualquer de Agaton.

— Imaginei. Vou tocar lá amanhã. Gostaria de ir? Posso conseguir um ingresso... — O não eu já tinha, mas se estava me arriscando tanto, por que não correr atrás da humilhação?

— Meu tio não gosta que eu saia à noite — foi a desculpa mais rápida que ela arranjou.

Por mais que eu não acreditasse que ela fosse aceitar, senti uma dor nova no coração. Era a primeira vez que levava um fora, e não pensei que fosse doer tanto.

A encarei por um instante, tentando lhe dizer com o olhar o quanto ela era interessante e como eu gostava dela, que era a primeira garota que eu convidava para sair, mas nada disso tinha importância.

Além de tudo, ainda era mais velha que eu, já que tinha repetido de ano. Devia me achar um moleque querendo levá-la à um clube cheio de outros moleques e pessoas fúteis.

Olhei para seus lábios carnudos, o furinho discreto no queixo, e aceitei que nunca iria beijá-la. Acenei com a cabeça e voltei a tirar coisas da mala, desejando que abrisse um buraco no chão para que eu pudesse me jogar.

Esperei que ela fosse para o banheiro e saí do quarto. Precisava curtir a depressão do primeiro fora longe dela.

Me escondi na garagem, sentando sobre o capô no Toyota Sedan que meus pais haviam me dado no meu aniversário de dezessete anos.

— Gostou da surpresa? — meu pai perguntou ao se aproximar com duas garrafas de cerveja.

Me entregou uma e se sentou ao meu lado.

— Fiz como você disse e me arrisquei — falei abrindo a garrafa e bebendo o primeiro gole. Aquilo era tudo que eu precisava.

— E...?

— Ela me deu um fora.

Ele deu risada.

— O primeiro a gente não esquece.

Queria dizer que não tinha graça, mas meu pai não estava rindo por mal.

— Foi você que arranjou para que ela trabalhasse aqui?

— Umas perguntas aqui, outras ali, e descobri que ela ajudava a tia. Com dois telefonemas consegui contratar Esther Peter.

— Ela mora com os tios, não é?

Meu pai fez que sim com a cabeça.

— Sabe, ela é muito especial. Por que eu não tive capacidade de raciocinar e convidá-la para jantar. Todas as garotas gostam de comer. Poderia chamá-la para comer uma pizza, sorvete, sanduíche, um bolo, sushi, qualquer coisa. Mas não, tinha que estragar a oportunidade a convidando para uma balada.

Revirei os olhos, nem a cerveja me fazia relaxar.

— E o que ela respondeu? — Meu pai se divertia.

— Que seu tio não gosta que ela saia à noite.

— Por isso você acha que levou um fora? Filho, deixa eu te explicar as coisas, nem todos os responsáveis deixam seus adolescentes virarem as madrugadas em baladas.

— Não tem nada a ver. Ela é mais velha que eu, também trabalha, é independente. É claro que foi só uma desculpa.

— Vai ver ela só estava se fazendo de difícil. Algumas garotas gostam de fazer charme.

— E você entende tudo de garotas — brinquei.

— Mais que você — ele jogou na minha cara. — Pode ter certeza que ela vai aparecer no seu show amanhã. E faço o favor de ficar sóbrio e oferecer pra levá-la em casa no fim da festa.

— Se você diz.

— Confie no seu pai. Sei quando uma garota não quer aceitar um convite logo de primeira.

Ergui uma sobrancelha, sorrindo para Elton, que se achava o entendedor de todas as coisas.

Obrigada por ler!
😍👑👑
Próximo capítulo terça. Também narrado por ele.

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