o conjurador de marés | vmin...

Par shor_eline

6.5K 990 2.9K

Desde criança Park Jimin foi o garoto apaixonado pelo oceano e pelas histórias que o envolviam, e mesmo que d... Plus

maré oscilante
prisão aquática
o conjurador
canção do mar
contra as marés
sobre as ondas
vazante e fluxo
molhando os pés
tome um gole
as marés se elevam
enxurrada
mudança de corrente
por sua conta e risco
deslizando sobre as ondas
maré violenta

ligados ao oceano

331 45 58
Par shor_eline

notas da autora

oi, chuchus! tudo bem com vocês? <3

cheguei aqui nesse clima de quase natal para dar o presente adiantado de vocês e dizer que colocar a fic como terminada deu até uma dorzinha no coração. é uma honra pra mim ter chegado aqui com vocês, fico encantada de ver leitores de "conto de príncipes" presentes aqui, então queria muito agradecer todes por todos os favoritos, comentários e divulgações, foi incrível trilhar esse caminho incrível com vocês!

não esqueçam que vou estar lá nas notas finais, viu? <3 sem mais delongas porque queremos um jimin vivo, boa leitura! dçalskdj


✦✦✦✦





Respirar ar puro é, definitivamente, uma das melhores coisas que o ser humano pode fazer, e não digo isso por ser um super ativista contra a poluição (apesar de eu ser mesmo, a noção é sempre bem-vinda), e sim porque passar um tempo debaixo com o oceano, mesmo dentro de praticamente um aquário de ar, foi tão sufocante que ter os pulmões cheio de ar limpo era simplesmente perfeito. Eu conseguia sentir o ar com maresia que conhecia tão bem junto do vento litorâneo forte que fazia meus cabelos roçarem constantemente em minha testa, e de pouco em pouco fui tentando recobrar todos os meus cinco sentidos.

Eu sentia o cheiro salgado do mar, aquele aroma inconfundível de quando chegamos na praia, e junto dele eu sentia toda a minha pele molhada, como se eu tivesse sido tirado da água há pouco tempo, o que me fazia sentir um pouco de areia e sal em minha pele, mas... Não parecia tão incômodo como sempre foi para mim, na verdade aquele sal todo passava uma boa sensação, como se minha pele agradecesse, e por um momento jurei que eu estava ficando louco porque eu sempre fui do tipo que reclama por sentir os cabelos duros por conta de toda a maresia. Talvez ficar tempo demais com o Oceano tenha me deixado um pouco alterado sem que eu percebesse, não é?

As ondas quebravam um pouco longe de onde eu estava, mas só pela audição eu sabia que estava perto o suficiente da água para poder ouvir a forma como ela se encontrava com alguma superfície, e então notei que, na verdade, meu corpo estava com a parte inferior mergulhada na água enquanto meu tronco estava deitado sobre uma superfície macia. Movi minhas mãos, as quais estavam ao lado do meu corpo, para sentir um pouco o lugar onde eu estava apoiado e então percebi que a textura era rugosa como as pedras da praia nas quais sempre fui acostumado a subir.

— Jimin? Ji...? — ouvi alguém me chamar com aquela voz angelical que eu reconhecia e amava tanto ter a honra de poder escutar mais uma vez. As mãos do tritão passavam por meus cabelos em carícias tais quais as que Jin fez nos fios, e só ter esse conforto tão pequeno me fez sorrir e me mover um pouco em meu lugar. — Ah, graças aos mares! — ele agradeceu baixinho, parecendo mais animado mesmo que eu sequer tivesse aberto os olhos ainda.

Falando em abrir os olhos, foi exatamente por lembrar que eu continuava deitado ali que eu comecei a piscar algumas vezes até me acostumar com a luz do sol que aos poucos ficava alto no céu, o que indicava que estávamos no meio da manhã. Desviei o olhar do céu azul apenas para encontrar os cabelos azulados e um tantinho longos que eu tanto adorava, e não consegui evitar o meu sorriso quando notei que Taehyung tinha de volta suas escamas muitíssimo parecidas com sardas e o brilho tão especial em sua pele dourada que parecia ter sido beijada por mil sóis.

A última coisa que me lembrava com mais força antes de acordar, era de ter visto o tritão gritando por meu nome enquanto tentava entrar no redemoinho de água em que eu estava preso, o que tinha sido um ato muito valente já que ele estava quase que batendo no próprio oceano daquela forma. Fitei cada detalhe do seu rosto, desde a pintinha na ponta do nariz até a forma que seus lábios se curvavam para sorrir para mim com doçura, e notar que ele não tinha nenhuma marca de luta ou violência me fez suspirar.

— Talvez você precise de um tempo para recobrar os sentidos. — ele falou enquanto mantinha minha cabeça em seu colo o qual notei com o canto de olhar que era sua cauda longa e reluzente. — Quando for se levantar, tenta não fazer isso muito rápido.

Geralmente as pessoas ficam muito estranhas quando a gente olha desse ângulo, sabe? Eu mesmo tenho terror de alguém me olhar debaixo por achar que é mais engraçado do que bonito, mas acho que Tae é bem o tipo de pessoa que fica perfeita de qualquer jeito, até mesmo os mais impossíveis, porque até daquele ângulo ele parecia perfeito, principalmente quando ele tinha o sol iluminando seus cabelos azuis e deixando mais óbvio o brilho de sua pele. Definitivamente faria maquiagens com mais iluminador daqui para frente se isso fosse me ficar tão surpreendente bonito também.

Foi impossível não sorrir para ele quando sua destra passou a acariciar alguns pontos em meu rosto que me faziam ter certos arrepios como se minha pele estivesse sensível demais, e foi por imaginar que isso era um problema do sol que acabei apoiando minhas mãos na pedra abaixo de mim para que pudesse me sentar melhor no local em que eu estava dentro da água. Quando fui mexer minhas pernas para me ajeitar sem tomar um litro de água, notei que... Elas não estavam ali.

Arregalei os olhos ao enfim sentir a ausência das minhas duas pernas, pés e até dedinhos dos pés, e quando me levantei de uma só vez, quase batendo a testa na do tritão durante isso, senti uma vertigem enorme por conta do movimento tão repetindo e rápido. Eu não conseguia reconhecer aquele corpo, era estranho não ter duas bases em que me apoiar, e ficar brevemente tonto acabou fazendo com que eu deslizasse um pouco no lugar em que eu estava, o que causou o meu corpo caindo na água salgada em um impacto um tanto feio de se ver.

Diferente do que sempre aconteceu comigo, não fiquei desesperado por estar embaixo na água, na verdade estar ali pareceu aliviar um pouco todos os meus sentidos e logo me vi respirando normalmente ali da mesma forma que eu fazia quando estava na superfície. Ainda sob a água, trouxe minhas mãos até a frente de meu rosto e percebi que ali, entre os meus dedos, eu tinha aquela mesma camada de pele que as mãos de Tae antes tinham, algo que me facilitaria o nado quando necessário, e notar isso me fez consequentemente observar todas as escamas que cobriam meus braços em alguns pontos, quase da mesma forma que eu tinha feito com meu figurino para o festival. Eu estava parecido com Taehyung e perceber isso me fez ir para a superfície e o olhar em choque, o que causou uma risadinha leve vinda dele.

— E eu achava que você não poderia ficar mais bonito. — observei enquanto ele apoiava suas mãos atrás de si, me fazendo ter o prazer de ter um ângulo muito lindo dele assim como ele parecia gostar muito do ângulo que tinha de mim.

— Taehyung, isso não está certo.

— O que não está certo, Chim?

— Não foi esse o acordo! — falei desesperado, mostrando minhas mãos que possuíam algumas escamas e estão descendo o olhar por meu próprio corpo até que eu notasse a longa cauda que, obviamente, não era maior do que a de Tae, mas era tão bonita quanto. Bufei irritado porque mesmo que aquilo fosse lindo e eu me sentisse incrível, era impossível não me revoltar com todo aquele engano porque não era isso que eu tinha negociado com o Oceano.

Claro que Jin ficou bem hesitante quando ouviu o meu acordo, principalmente a parte dele que envolvia basicamente todas as sereias e tritões (e já me incluía também), mas naquele momento ele parecia feliz por poder ceder e me dar aquela oportunidade, como se ele também soubesse que aquela era a opção correta para toda aquela situação por mais fora da reta que ela fosse. No entanto, mesmo que ele tivesse concordado, eu estava sem o colar de minha mãe em meu pescoço, sem as pernas que sempre fui acostumado a ter e com uma cor de cabelo (que notei quando vi meu reflexo na água) que era bem diferente do loiro que eu costumava ter. Bufei irritado e bati na água, o que me fez ter vários respingos no meu rosto que na verdade nem me incomodaram porque eu meio que era acostumado a isso agora ou algo assim, coisa de tritão né, não vou reclamar porque isso pode me fazer ganhar qualquer batalha de espirrar água com o Jungkook.

Me sentei em uma pedra mais alta naquela piscina de pedras que eu conhecia bem, e fiquei até que aliviado por notar que o espaço e a profundidade eram suficientes para que eu não me sentisse um peixe preso em um aquário, o que me fez pensar que aquele tinha sido um bom lugar para ver Taehyung quando ainda éramos de dois mundos diferentes.

Olhei para a minha cauda com atenção, notando cada detalhe nela e em como aquele tom de púrpura era bonito e brilhava tal qual as escamas que Tae obviamente também tinha. Me ver naquela forma era estranhamente familiar, como se, de alguma forma, eu já tivesse me visto nesse tipo de corpo antes e agora tivesse voltado para as minhas origens, sensação esta que só ficou mais forte quando notei como eu conseguia me movimentar bem na água, muito diferente do que acontecia quando eu ainda tinha minhas pernas. Acho que isso explica por que nunca consegui nadar, não é?

— Eu não deveria estar assim, você não deveria estar assim. — falei enquanto olhava para Tae que, na verdade, parecia muitíssimo tranquilo por estar ali com cauda e tudo mesmo quando claramente queria ser como um humano todos os dias.

— Assim como?

— Com a cauda e as escamas e, céus, como um tritão!

— Você não gostou, Chim?

— Eu gostei, Tae, eu finalmente sinto que tudo está certo, parece que meu corpo sempre foi assim, só que... Eu fiz um acordo, ok? Conversei com o oceano e ele concordou em permitir, ele até disse que ficou tão feliz pela escolha que poderia cantar as músicas da Moana, o que eu estranhei porque vocês só souberam do gemidão do zap recentemente, mas nem comentei porque vai que ele desiste do combinado.

Então expliquei para ele que o acordo que eu tinha feito seria melhor para todos, não só para o benefício de nós dois como almas gêmeas. Eu tinha dado a minha alma humana, ou ao menos que o feitiço tinha feito aquela parte ser, como um sacrifício para o oceano e, em troca disso, ele permitiria que as sereias e tritões que desejassem ficar na terra pudessem viver ali como humanos pelo tempo que quisessem, como por exemplo eu que não queria me ver sem minha vida que construí durante todo esse tempo, ou pessoas como Taehyung que encontraram suas almas gêmeas ou gostam demais da ideia de viver como um humano.

Esse acordo não causaria novos desequilíbrios no oceano, na verdade era bem possível que isso jamais acontecesse porque minha alma humana não tinha sido suficiente apenas para equilibrar tudo, mas também para realizar parte do feitiço que envolvia o acordo que tinha criado. Quando uma sereia morresse, seu corpo deveria ser retornado ao oceano para que ela tivesse o seu fim da mesma forma que todas as outras sereias, e isso manteria o controle de toda situação assim como poderia unir mais ainda humanos e sereias que sempre tiveram um relacionamento meio complicado.

Eu sabia que não existia a possibilidade de existir um outro alguém que pudesse fazer aquilo, eu era literalmente o único cara no planeta terra que poderia ter a solução para o desequilíbrio do Oceano porque eu era o primeiro humano a ter a essência completa de um tritão em seu interior. É tudo uma questão de probabilidade do jeito que vemos em aulas de biologia, pois existiam duas possibilidades que era ou a de eu nascer um humano completo ou a de eu nascer um tritão completo, o problema aí no meio era o feitiço que meio que tinha feito com que existisse um vinte e cinco por cento de probabilidade de as coisas acontecerem dessa forma onde eu, o cara mais sortudo do mundo, tinha metade de duas almas em mim onde uma delas na verdade era a essência da minha mãe.

Agora eu sabia que ela não poderia estar viva, ela se sacrificou por mim e agora eu tinha um pedacinho dela em mim da mesma forma que o Steven de Steven Universe tinha de sua mãe (não que eu possa falar muito sobre isso, só vi episódios aleatórios na TV e spoilers na internet); claro que no caso do Steve ele tinha um diamante no umbigo e algumas coisas a mais, mas eu meio que tinha... Tudo. Não que fossemos a mesma pessoa nem nada disso, mas ao menos agora eu sabia que ela estava comigo desde sempre e talvez isso seja mais reconfortante do que pensar que eu nunca teria nada dela comigo.

Olhei para o horizonte, encarando o mar com certa raiva no olhar antes de olhar para Taehyung que, tinha notado só naquele momento, segurava as suas risadas do jeito mais falho de todos. Inclinei a cabeça em confusão, o que só pareceu o deixar com mais vontade de rir já que, dessa vez, ele acabou gargalhando enquanto se aproximava de mim e passava a destra em meus cabelos que agora tinham um tom rosado que combinava muito bem com os detalhes em púrpura de todo meu novo corpo.

— Qual a graça? — perguntei enquanto o olhava confuso, o que o fez tentar parar de rir aos pouquinhos enquanto me olhava com tanto carinho que pude jurar que ele nos transbordava.

— Você fica lindo com essa cara de bravo.

— Minha cara de bravo é a graça?

— Não, Chim! — ele riu nasalmente antes de me estender ambas as suas mãos, as quais segurei. — A graça é você achar que não deu certo.

Então ele puxou para mais perto de si a mochila que estávamos carregando antes de eu ser puxado pelo Oceano, o que só percebi que estava ali por conta dos barulhos senão teria ficado muitíssimo mais tempo analisando todas as minhas escamas, o novo brilho na pele e sentindo como era ter uma cauda ao invés de duas pernas e pés com dedinhos. Ele remexeu um pouco o menor bolso da mochila, tirando de lá alguns documentos e dinheiro que eu tinha colocado até encontrar os dois colares com pingente em forma de cauda.

Eu me lembrava de ter visto o colar de Taehyung por sob sua roupa ou quando acordava durante a noite e ele não percebia o pingente saindo pela gola da camiseta, e agora que eu o via ali conseguia compreender que não era só um acessório para o diferenciar ou o fazer lembrar de casa; aquele pingente carregava muito mais, e foi o meu olhar curioso que acabou fazendo o tritão sorrir cheio de carinho, como se ele se sentisse muitíssimo aliviado por não termos que esconder nenhum secreto ou omitir acontecimentos para o bem um do outro.

— Consegue sair da água sozinho?

— Você sabe que eu não recusaria você me carregando. — respondi, porém mesmo assim firmei minhas mãos nas pedras para tentar sair dali do mesmo jeito que as pessoas fazem quando vão sair de piscinas.

Foi no meio da minha tentativa de sair da piscina de pedras sozinho que eu percebi que, céus, por mais que aquele fosse o corpo em que eu me sentia completo, eu definitivamente não sabia lidar direito com ele, principalmente com o peso da minha cauda que era bem maior do que o peso de duas pernas. Tae acabou me ajudando de qualquer forma ao me içar para fora da água com seus braços fortes, não hesitando em me sentar ao seu lado enquanto tentava ter certeza de que estava tudo sob controle; assim que ele teve certeza, segurou minhas mãos na sua e colocou sobre elas um dos colares que ele segurava.

— Ele devolveu o colar da sua mãe para a caixinha em seu quarto, achou que você ia querer de recordação. — Tae fechou minha mão ao redor do colar, sorrindo animado. — A gente não sabia se funcionaria com o colar dela também já que... Enfim né? Esse é o seu.

Abri minhas mãos para que eu pudesse ver o colar que estava entre elas, não conseguindo conter o meu sorriso quando notei que o pingente era o mesmo que o da minha mãe. Não era como se todos esses colares fossem iguais, eu via detalhes e formatos no colar de minha mãe que eu não via no colar que Taehyung usava, quase como um smartphone que muda a cada geração, sabe? Então fiquei feliz demais por ver que o meu pingente era praticamente um gêmeo daquele que minha mãe usou anos antes quando se aventurou fora do oceano.

Com certa dificuldade por conta da minha falta de unha e mãos ainda molhadas por eu ter acabado de sair da água, consegui colocar o colar direitinho ao redor do meu pescoço e não demorou muito até que toda a transformação acontecesse. Não era nada muito anime de garotas mágicas ou transformações mágicas como a da Ladybug com luzes e música bonitinha, mas foi bem curioso ver a cauda púrpura se separar e aos poucos dar forma para as duas pernas as quais sempre estive acostumado a ter.

Era indolor, eu literalmente não sentia nenhum tipo de dor física por mais doloroso que pudesse parecer uma cauda se dividindo ao meio, no entanto eu sentia em meu peito algo diferente, como se o meu corpo se adaptasse e mudasse não só do lado de fora, mas também por dentro. Naquele momento eu sabia que minha alma era completamente coberta pelo feitiço do Oceano para que eu pudesse viver como um humano, e mesmo que o colar parecesse um grande impulsor para tudo aquilo, eu sabia que era mais como uma trava para que o feitiço não oscilasse tipo quando as H2O meninas sereias tocavam na água.

Assim que a sensação engraçada em meu peito parou, olhei novamente para as minhas pernas e foi um alívio poder mexer meus dedos e sentir a água salgada entre eles, o que foi notado por Tae que riu um pouquinho e então colocou também o seu colar. Eu estava tão distraído vendo os meus dedos e minhas pernas que, céus, sequer notei que eu estava completamente nu, e só consegui de fato perceber isso quando bateu um ventinho frio e eu tremi... E, claro, também notei minha falta de roupas por conta do olhar fixo do tritão que parecia maravilhado por enfim me ver sem nada, o que só piorou minha situação já que fiquei vermelho até as orelhas.

Olha, eu sei que as pessoas tem um fetiche estranho de transar em lugares assim, mas, sentado ali completamente nu, eu fiquei me perguntando como que alguém poderia pensar em fazer algo assim porque era muitíssimo estranha a sensação de ter a bunda pelada sentada em uma pedra que era áspera e sabe-se lá o que tinha passado por cima dela. Naquele momento, dentro da minha mente, jurei para mim que jamais teria esse fetiche de transar na praia porque já basta a maresia em meu cabelo ao invés de ter ela no meu precioso e delicado bumbum.

— E eu achando que o Jin não dava uma de vilão da Disney e me deixava pelado quando recuperasse minhas pernas.

— A gente não sabia se você ia colocar o colar estando dentro da água e não queríamos que molhasse sua roupa... E eu também merecia um presente depois de você quase ter me matado do coração.

Encolhi assim que senti o seu tapa em meu braço, o que me provou que ele tinha força o suficiente para me encher de roxos se quisesse... Acho que ia fazer questão de lembrar disso se ele fosse me ver nu mais uma vez em outra situação.

— Quando você planejava me contar? — ele perguntou mais sério dessa vez, me olhando fixo do jeito que um pai faz quando tá brigando contigo por ser espoleta, o que quase que institivamente me fez abaixar a cabeça e olhar para minhas mãos em meu colo.

— Eu... Não ia. — confessei e recolhi meus pés da água, logo puxando minhas pernas para junto de meu corpo. — Não sabia o que poderia acontecer e se seria arriscado... Eu não queria que você perdesse a oportunidade de realizar seu sonho de ser humano e conhecer mais do mundo humano, imaginei que tudo ficaria bem sem mim.

— Jimin... — o tritão ergueu meu rosto ao apoiar seu indicador em meu queixo, fazendo questão de que eu olhasse quando ele exibiu aquele sorriso que eu tanto amava. — Nenhum sonho seria o mesmo se você não estivesse nele.

Sorri para ele assim que encontrei seu olhar e não pude evitar avançar um pouco para deixar um leve selar em seus lábios que, percebi, eu já sentia muitíssima falta depois de tanto tempo longe. Quando nos separamos, notei que alguma coisa faltava por ali e foi pelo olhar cheio de paixão do tritão que percebi que o oceano sequer tinha me dado oportunidade de dizer o que eu queria antes de ser puxado para dentro do mar igual um saco de batatas.

— Taetae...

— Hum? — sua mão subiu do meu queixo para que pudesse acariciar minha bochecha.

— Eu te amo.

Sabe, aquele era um momento muito romântico, nós dois nos olhávamos bem apaixonados e eu estava ali todo bonito e completamente nu em meio a todas as pedras da praia, muita coisa poderia ter acontecido exatamente naquele momento porque não existia nada melhor do que uma transa de reconciliação ou depois de um momento muito difícil independentemente de onde fosse, mas mal Taehyung encostou seus lábios nos meus em resposta a minha declaração para que eu escutasse meu nome sendo berrado a distância pela... Minha avó?

Nós nos desaproximamos e olhamos para mesmo ponto das pedras que era onde aquela senhora linda e fofíssima se encontrava com uma ecobag que usava para ir ao mercado em mãos, seu aventalzinho amarrado na cintura e os pés muito certos de onde pisar para não cair, o que me fez imaginar que ela obviamente já tinha ido ali várias e várias vezes para saber exatamente como passar entre aquelas pedras. Ela gritava meu nome meio brava, porém também com certo alívio, e foi por perceber que ela tava cada vez mais perto que o tritão foi bem rápido em pegar as nossas roupas de dentro da mochila e jogar em cima de mim pra esconder minha nudez.

Taehyung, por mais mágico que pareça, estava perfeitamente vestido após ter suas longas e lindas pernas de volta, e me aqueceu o coração notar que ele vestia a mesma roupa que usava no dia em que nos encontramos no píer. Eu não tinha onde esconder a minha cara por estar pelado e com a bunda direto naquela pedra que sabe-se lá o que já passou por cima, e por isso só escondi tudo com minhas roupas secas enquanto via me avó se aproximar com um sorriso em lábios, claramente ignorando qualquer coisa que pudesse ter acontecido naquele lugar.

— Eu sabia que meu chuchuzinho faria a escolha certa. — ela falou animada antes de largar a bolsa no chão e se ajoelhar para me abraçar do jeito que fazia desde que eu era criança: com a minha cara nos seus peitos enquanto ela enchia o topo da minha cabeça com beijos carinhosos. — Elas me disseram que você voltaria logo, mas nunca se pode confiar no Seokjin né?

— Elas?

— Minhas amigas, meu amorzinho, elas me contaram tudo. — minha avó me desaproximou e segurou meu rosto entre suas mãos para ver se eu tinha algum arranhãozinho. — Se eu fosse como sua mãe eu teria ido lá bater na cara do Oceano para te ter de volta.

— Então você não...?

— Sou uma sereia? Claro que não, eu só sou dotada de muitos bons contatos porque não sou besta de ficar desatenta em todo festival que acontece! — ouvir sua risada me trouxe um alívio que notei que eu não sabia que precisava tanto. Claro que quando eu pensei em me sacrificar eu imaginei como meus parentes e amigos ficariam, não era como se eu fosse um louco apaixonado que só foca no amor para tomar certas decisões (apesar de ser um pouquinho), e notar que eu estava de volta não só com Taehyung, mas também com minha família, fez meu sorriso vacilar um pouco quando meus olhos começaram a marejar. — Eu estou aqui, chuchuzinho. — vovó repetiu da forma que fazia desde o meu nascimento, e seu abraço mais reconfortante me fez liberar as lágrimas que eu não percebi que segurava.

Olha, se existir alguém que um dia consiga aguentar tudo o que eu passei sem chorar todos os dias, vocês podem dar vários prêmios, porque eu me achava um cara super forte que aguentaria de tudo, mas definitivamente jamais estaria pronto para ter minha vida virada de ponta cabeça. Eu teria agradecido se o motivo da virada fosse algo simples como as coisas que acontecem em livros infanto juvenis, porque descobrir que eu sempre fui um tritão, que tenho uma alma gêmea e tinha em minhas mãos a missão de salvar toda as sereias e consequentemente a humanidade era difícil demais para o meu coração aguentar sem eu ter vontade de chorar.

Minha avó ficou me fazendo cafunés muitíssimo confortáveis enquanto eu chorava, e assim que fui me acalmando e parando um pouco de soluçar, ela ergueu meu rosto para deixar um beijinho na minha testa.

— O que acha de irmos para o festival, hum? Todos estão preocupados com você.

— Como assim todos?

— Eu tive que deixar todos saberem! Meu chuchuzinho não seria levado sem mais nem menos desse jeito.

— Bem que ele falou... — murmurei quando desviei o olhar para o Tae que segurava a risadinha.

— Quem falou o que?

— Nada, vovó.

Sendo fofoqueira ou não, minha avó foi um amor com Taehyung quando ele começou a conversar com ela sobre coisas banais enquanto eu me trocava atrás de umas pedras altas, mesmo que na verdade isso nem fosse necessário já que ambos já tinham me visto pelado, mas acho que todo mundo precisa de um pouquinho de privacidade né? Inclusive, o momento de me trocar foi tão curioso porque aquele papo de "só percebemos o que temos quando perdemos" é muito mais real e impactante do que eu imaginava, pois bastou que eu tivesse começado a vestir minha cueca para que eu começasse a analisar bem as minhas pernas, dedos dos pés e até mesmo a forma como tudo se movia. Eu sei que eu parecia estranho, o tritão até chegou a perguntar se eu estava bem por estar demorando mais do que o normal para me trocar, mas de certa forma ele pareceu entender um pouco quando respondi meio incerto que estava tudo ótimo, até porque, momentos antes, ele também não parecia tão acostumado com sua cauda longa de tritão.

Enquanto terminava de me vestir com as roupas bem estilosas que Jin tinha deixado para mim, fiquei ouvindo um pouquinho da conversa que rolava perto de onde eu estava e confesso que fiquei um tanto surpreso pela naturalidade que minha avó tratava todo aquele assunto. Eu sabia que tinha puxado algumas coisas dela e tinha a plena noção de que a coisa de parecer pleno pra depois chorar no chuveiro tinham vindo dela, mas a tranquilidade dela durante a conversa parecia ser algo muito além, como se tudo agora estivesse bem o suficiente para que ela não precisasse esconder as lágrimas desesperadas porque agora elas já não precisavam mais existir. Pela primeira vez desde o meu nascimento, minha avó soava tranquila e feliz, como se um peso que ela carregasse há anos tivesse sido tirado dos seus ombros.

Eu sempre tinha estranhado a tranquilidade da minha avó quando o assunto envolvia algumas coisas em específico, como, por exemplo, quando eu perguntava sobre minha mãe ou pedia para que ela me falasse mais sobre ela. Minha avó é do tipo muito rancorosa, sabe? Provavelmente o tipo de sogra que sempre pede que o karma mexa os pauzinhos para a maldade voltar em mesma intensidade, então quando ela dizia que minha mãe tinha nos deixado eu pensava que ela tinha alguma mágoa quanto a isso, no entanto ela sempre se manteve plena sobre isso, arrisco dizer que foi por toda a sua plenitude que nunca cheguei a ser muito rebelde ou chorão quando o assunto era minha mãe. E mesmo que eu agora saiba toda a verdade e tenha me sobrecarregado com toda ela, eu notava que eu não estava triste ou rancoroso por tudo que ninguém nunca me contou, na verdade eu estava como a minha avó: pleno.

Era boa demais a sensação de que eu enfim tinha encontrado meu lugar no mundo, principalmente por eu estar tendo tal sensação pela primeira vez na minha vida, e acho que ter isso aquecendo meu peito com tanta certeza apenas ajudou para que eu me sentisse pleno depois de chorar bastante e perceber que, enfim, tudo estava bem.

Claro que agora eu ia ter que viver esse momento de Hannah Montana sendo um tritão e não podendo falar como isso é legal para todas as pessoas que eu ver na rua, mas era bom demais ter a sensação reconfortante no peito de que eu enfim tinha encontrado o meu lugar, o qual não era o oceano em si, e sim sendo uma parte dele.

Quando saí de trás das pedras altas e avisei que estava pronto, os sorrisos direcionados para mim foram os melhores que eu poderia ter visto depois de momentos tão complicados, e minha animação pareceu elevar quando Taehyung colocou a mochila já fechada e arrumada nas costas enquanto minha avó nos conduzia por entre as pedras para que ninguém caísse com a nova sensação de pernas no lugar de caudas. Estar ali, bem e vivo com a minha alma gêmea e com a mulher que sempre cuidou de mim me aliviou, porque talvez eu precisasse que esses pilares estivessem bem firmes quando tudo acabasse para conseguir notar que não era sempre que almas gêmeas estavam fadadas ao sofrimento quando vinham de mundos diferentes.

— Vovó... — a chamei quando notei que caminhávamos para cada vez mais perto do local onde o festival acontecia, o que fazia com que já pudéssemos ouvir a música alta que era tocada por bandas durante todo o dia no palco principal. — Quando você disse que todos sabiam, você não queria dizer que...?

Ele falou mal de mim para você né? — ela perguntou enquanto me olhava um pouco ranzinza, o que automaticamente me fez desviar o olhar porque aquele era o olhar de quando ela se segurava para não explodir. — Eu só contei para o seu pai e seus amigos, chuchuzinho, não deixe aquele homem fazer sua cabeça porque você me conhece.

E eu conhecia mesmo, sabia que minha avó era a maior fofoqueira pelo menos no meu bairro e eu realmente tinha medo de que ela saísse falando por aí sobre o neto que meio que tinha uma vida dupla agora, porém eu também sabia que ela era muitíssimo leal e não comentava muito sobre a sua família por aí, ou seja, eu confiava nela porque ela mais gostava de saber sobre todo mundo do que todo mundo sabendo sobre ela e as pessoas que ama.

Eu não queria chamar atenção quando chegasse no festival, sabe? Não queria que tudo o que aconteceu fosse uma super questão e um assunto quente entre quem estava lá, e mesmo que na verdade pouquíssima gente soubesse e ninguém fosse um dia, ou ao menos não tão rapidamente, ter noção sobre minha parte tritão ou a existência de sereias, foi meio impossível não sentir minhas bochechas queimando quando meus amigos vieram pulando e gritando na minha direção assim que me viram andando no meio da multidão que preenchia a grande praça onde o evento acontecia.

Quase caí de costas no chão quando fui abraçado pelos meus amigos, e se não fosse o olhar de reprovação da minha avó por ela não gostar que ninguém ralasse nem mesmo meu joelho, eles provavelmente teriam feito questão de me jogar no chão para fazerem uma pilha de corpos em cima porque meio que sempre matávamos as saudades descontando ela de alguma forma um nos outros.

Jungkook falava constantemente que sem mim não saberia para quem pediria comida, o que claramente era uma brincadeira já que ele chorava junto de Hoseok que gritava que achava que nunca mais me veria pois achava que eu ia morrer. Yoongi, diferente deles, estava um pouco quieto por preferir que o namorado e o melhor amigo falassem por ele, mas seus olhos marejados não permitiam que ele negasse nada, principalmente porque eu o conhecia o suficiente para saber que ele iria querer um momento sozinho comigo para que chorássemos juntos até nossos corações se acalmarem. Eu gostava da forma que cada amigo meu demonstrava seu carinho e preocupação, era algo que os fazia ser tão eles, e não consegui conter mais e mais lágrimas quando senti seus abraços que vieram acompanhados de um abraço maior já que Namjoon chegou todo com cara de sensível dizendo que definitivamente a cidade não seria a mesma sem mim.

Passar por uma experiência de quase morte e salvar pessoas de um jeito não tão heroico (porque eu fui arrastado ao invés de ir voando ou fazer algo chique e cool como ter sentidos aranha ou algo assim) definitivamente tinha quebrado a minha válvula de lágrimas, porque lá estava eu chorando no meio dos meus amigos e do meu quase-namorado ao invés de rir de todos eles por estarem chorando e consequentemente sendo encarados pelas pessoas que passavam e imediatamente prestavam atenção em toda a comoção sem sentido no ponto de vista deles.

— Você estar aqui quer dizer que só vamos te ver no mês de junho? — Jungkook perguntou todo cheio de manha, provavelmente pronto para me agarrar pelos tornozelos caso minha resposta fosse positiva.

— Digamos que eu seja muito bom com acordos.

— Não me diz que você chegou no oceano com a sua cantada de "aposto um beijo que você me quer", porque essa já é velha e falhou até comigo. — dessa vez foi Namjoon que se pronunciou, o que fez todo mundo rir junto e se soltar do abraço em grupo que aos poucos me sufocava porque o maknae era muitíssimo forte e parecia querer descontar suas lágrimas quebrando meus ossos já que não podia me derrubar no chão.

— Apesar do Oceano ser lindo, eu não jogaria uma cantada dessas nele. — me aproximei de Taehyung para que pudesse segurar sua mão, o que ele fez com um grande sorriso nos lábios. — Eu tenho alguém muito mais bonito comigo e agora ambos temos... Como vocês chamam mesmo?

— Pés! — Jeon respondeu super animado por eu ter feito referência ao filme da sua princesa favorita, e ter relembrado de Ariel o animou para exclamar que deveríamos aproveitar o último dia de festival da melhor forma possível, ou seja, aproveitando das bandas para dançar muito e encher o bucho até termos que abrir o botão da calça jeans pela barriga estar estufada demais a ponto de não caber mais na peça de roupa.

Eu estava pronto para começar a andar em meio a multidão com os meus amigos, porque, por incrível que pareça, o dia de encerramento do festival era o mais legal e cheio de todos, mas ver meu pai ali no meio, apenas esperando pela sua vez de me abraçar, me fez desviar de qualquer caminho possível para correr até ele e o abraçar com o máximo de força que eu tinha.

Se eu fosse parar para pensar um pouco, estar junto de Jin naquele aquário de ar dentro do mar me fez perder completamente a noção de tempo até porque tudo havia acontecido no segundo dia de festival e agora estávamos no último dia, que era um domingo bem ensolarado. O Oceano tinha me avisado que todo o processo demoraria um bom tempo, já que envolvia um feitiço a mais por termos feito um acordo onde, não apenas eu, mas todas as sereias e tritões teriam o direito de permanecer em terra se fosse este o seu desejo; então, estar envolvido nesse processo não só fez com que tudo fosse demorado porque minha parte humana morreria para dar lugar a toda minha essência de tritão e auxiliar a trazer o equilíbrio de volta, mas também porque outras sereias poderiam querer tirar vantagem do novo acordo que as oferecia um novo ponto de vista para viver como gostariam.

Pensando por esse lado, talvez minha avó ter falado o que tinha acontecido comigo tivesse sido algo bom, já que permanecer desaparecido por alguns dias criaria uma situação bem desagradável para todo mundo, não só pelo sumiço repentino, mas também porque eu sabia que envolveriam a polícia e tudo e depois seria complicado de fechar um caso sem uma resolução que fizesse sentido para os policiais. Independente disso, eu sabia que minha falta tinha sido sentida, e talvez por isso agora meu pai estivesse tocando meus braços e rosto a procura de qualquer mudança grande demais em minha versão humana.

— Eu sabia que você faria a escolha certa. — por fim, meu pai falou com um grande sorriso em lábios enquanto deixava um cafuné em meus cabelos do mesmo jeito que fazia quando eu era criança e precisava de uma boa história para conseguir dormir.

— Sabia?

— Não que eu soubesse de tudo, a sua avó fofoqueira acabou me atualizando sobre toda a situação logo que viu a maré subir antes da hora, mas imaginei que você seria como sua mãe.

— Impulsivo e sentimental? — tentei adivinhar.

— Isso também! — ele riu, me dando um leve tapinha no ombro como forma de punição pela minha impulsividade a qual ele sempre tinha feito certas críticas por isso já ter acarretado consequências nada agradáveis no passado. — Acho que no fundo eu sempre soube que você era parecido demais com ela... Com escamas, a pele brilhante e tudo.

E eu fiz questão de deixar um beijinho na bochecha do mais velho do mesmo jeito carinhoso que sempre fiz antes de voltar para perto de Taehyung, o que ele pareceu entender já que eu via perfeitamente em seus olhos o olhar que ele sempre tinha quando pensava que queria poder fazer o mesmo com minha mãe quando ela partiu.

Sabe, de tudo da minha vida humana que eu imaginava que não conseguiria viver sem, meu pai era, definitivamente, o primeiro item da lista. Nós nunca tivemos um relacionamento complicado, na verdade sempre parecemos mais os melhores amigos do mundo do que pai e filho, e perceber que eu sentiria tanta saudade de alguém tão importante pra mim me fez notar que, por mais impulsivo e sentimental que eu fosse, eu ainda tinha um pouco da sua racionalidade comigo quando precisava fazer escolhas importantes. Ter feito um acordo onde sereias e tritões poderiam ficar na terra se optassem tinha sido algo pensando em tudo de bom que eu poderia fazer, claro, mas também tinha sido uma opção viável para que eu não perdesse o que era mais importante, que era a minha família.

Não que com família eu fale apenas do meu pai ou dos meus avós, meus amigos eram tão minha família quanto qualquer um que tivesse ligação de sangue comigo, e ver que tudo tinha dado certo o suficiente para que eu pudesse os ver novamente me fez sorrir ainda mais animado, o que só pareceu aumentar quando o tritão me puxou para junto dos meus amigos na pista de dança improvisada que sempre criavam no último dia do festival.

Como a festa era algo bem mais local do que uma festividade para todo o país, nós aproveitávamos toda essa semana para que pudéssemos apoiar e conhecer bandas e grupos locais, o que sempre era muito recebido já que, como o festival era visto como algo que reunia a todos, o sentimento de que dançávamos ao som de algum parente distante animava a todos. Claro que os organizadores também chamavam grupos de idols bem conhecidos por todo o país, até porque isso atraía ainda mais turistas para a nossa cidade e tornava o festival em algo maior e mais atrativo para todos, então o último dia acabava sendo o melhor para mim por muitos fatores, principalmente quando esses fatores envolviam dança, meus amigos cantando junto comigo e nossos grupos favoritos, e um tritão que descobrira gostar muito de dançar ao ritmo de músicas pop com batidas intensas.

De início nós parecíamos meio atrapalhados, Taehyung não sabia bem o que fazer no meio de uma pista de dança, mas bastou que eu falasse para que ele apenas sentisse a música para que logo estivéssemos dançando juntos como um casal faria, o que envolvia o meu corpo um tanto colado atrás do dele em alguns momentos e ele me segurando pela cintura em outros. Nossos amigos, que só por coincidência também eram belos casais, aproveitavam o momento junto de nós, o que só melhorava quando tínhamos coreografias combinadas que logo ensinamos para o tritão que conseguia pegar tudo bem rápido.

Em determinado momento da festa, depois de termos aproveitado o incrível almoço que meus avós tinham na barraquinha de venda do restaurante deles e ter dançado por mais um tempo junto das outras bandas que tocaram durante a tarde, a última atração do dia foi anunciada por Moonbyul que era a responsável por fazer as apresentações do dia em cima do palco. Todo ano um senhor era o último a tocar no festival, como se fosse uma tradição já que existiam boatos de que a família dele que tinha sido a responsável por ter planejado o festival da maré desde sua primeira edição, então era um momento em que todos se reuniam para assistir o lindo concerto de piano que ele fazia junto de canções originais que ele já havia declarado ser o autor.

Sempre durante aquele momento eu era a pessoa que gostava de ficar mais próxima do palco possível, mas nunca soube explicar o motivo de sempre fazer isso, era como se a energia de todas aquelas músicas sempre me puxasse para cada vez mais perto e era ali que eu me sentia completamente bem e feliz todos os anos. Bastou que Moonbyul começasse a falar como ficou feliz pelo sucesso do festival daquele ano para que eu segurasse a mão de Taehyung e o trouxesse junto de mim para bem pertinho do palco onde ficamos em pé e bem atentos a tudo o que acontecia. No entanto, quando chegou o momento em que o nome do senhor foi anunciado e ele deveria entrar no palco, quase me senti apagar por um momento não exclusivamente por conta da surpresa, mas também pela saudação dita pela voz intensa dentro de minha mente.

— Taetae, o que ele tá fazendo aqui? — perguntei assustado enquanto olhava o homem com terno de corte perfeito caminhar sobre o palco enquanto acenava para o público que aplaudia do mesmo jeito que fazia em todo encerramento de festival quando o senhor tão famoso entrava no palco com seus terninhos alinhados.

Em cima do palco, prestes a sentar no banquinho em frente ao piano, estava o Oceano em toda sua grandeza e beleza, mostrando a todos toda sua elegância até na forma em que ajeitava um pouco os cabelos para que pudesse se sentar e colocar seus dedos longos sobre as teclas. Eu olhei para tudo ao meu redor com certa estranheza, ficando ainda mais confuso com tudo o que acontecia quando as pessoas não pareciam surpresas por ser uma pessoa diferente em cima daquele palco; como elas podiam não ter nenhuma reação quando não era o velhinho do piano tocando ali como todos estavam acostumados?

— Como assim, Chim? Ele vem todos os anos para o último dia de festival.

Todos os anos?! Nada a ver, Tae, todos os anos vem um senhor muito velhinho, ele é o principal cliente do meu pai!

Ah...! — o tritão então riu com gosto assim que a música começou a ser tocada por Jin que parecia concentrado demais em suas teclas para nos ouvir. — Talvez você não visse por conta da essência humana, Chim, mas o tal senhor que toca sempre foi o Oceano, por isso dizem que foi a linhagem dele quem criou o festival... Ele quem criou o festival da maré e é ele quem sempre encerra.

Desviei o olhar de Taehyung, que parecia animado por enfim ver o final do festival pela primeira vez sem medo, e foquei minha atenção em Jin que continuava a tocar e agora também cantava a bela música que provavelmente também era de sua autoria. Assim que ele pareceu notar que eu enfim assistia a sua apresentação muitíssimo atento, tirou o olhar das teclas para que pudesse me olhar, sorrir largo, e piscar em minha direção do jeito que o velhinho sempre fizera para mim nos últimos anos.




✦✦✦✦

notas finais

confesso que assim que escrevi esse finalzinho um peso pareceu sair do meu coração, sabe? foi bom demais conseguir encaixar todas as peças e saber que entregaria pra vocês algo que tinha me agradado completamente! inclusive, queria saber de vocês se gostaram, se esperam por alguns bônus, se acham que algo poderia ser melhor e enfim, quero muito mesmo ver o que acham porque acabou que conjurador de marés virou algo importantíssimo pra mim (e quem sabe um dia não vira livro, né?)

novamente queria agradecer toooodos que me acompanharam até aqui, não só por ler as notas finais e enfim, mas por terem acompanhado toda a fanfic apesar de algumas demoras minhas e todo o prolongamento que fiz em uma fanfic que era pra ter apenas cinco capítulos açslkdjç foi maravilhoso passar por todo esse processo de escrita com vocês, sou muito grata por todos que comentaram e se fizeram presentes, mais grata ainda por quem acompanhou tudo e botou fé de que veria esse final lindo! muito obrigada por todo o carinho, por todes que visitaram meu perfil por gostarem da minha escrita e principalmente quem ficou com vontade de me acompanhar daqui pra frente. eu amei escrever pra vocês, adorei poder ver todas as reações e teorias e fico honrada demais por ter leitores perfeitos, 0 defeitos, diamantes lapidados açskldj 


queria fazer um adendo aqui para vocês, leitores pelo wattpad, que eu tive muito medo de não ter alcance e leitores por aqui por nunca ter dado atenção pra esse local de postagem e, felizmente, fui muito surpreendida por ver a quantidade de feedback e carinho que recebi na minha primeira fanfic em andamento que tive por aqui. vocês, definitivamente, foram um dos pontos principais para eu continuar tendo coragem de abrir o arquivo no word e continuar a escrever a história. não tenho palavras para demonstrar o quanto de gratidão tem no meu coração! obrigada por me acolherem tão bem e me incentivarem e usar cada vez mais o wattpad. enfim, obrigadaaa! <3 

como sempre, principalmente nesse cof processo de término cofcof eu estarei lá no twitter (ou aqui nas mps mesmo!) pra encher todo mundo de amor e carinho, dar uns bônus de leve com curiosidades sobre bônus e talvez até dar spoiler da próxima fanfic que, sim, estou planejando alçskjd meu twitter é @shorelline! não tenham medo de chegar em mim, porque só de avisarem que são leitores eu obviamente já vou pular em cima dçaslkjd <3

muuuuito obrigada por tudo até aqui, vocês são incríveis e espero ter agradado com essa história que agora está finalizada e pronta para quem quiser reler, começar a ler sem esperas e repassar para os coleguinhas dçaslkjd até a próxima, chuchus! <3

Continuer la Lecture

Vous Aimerez Aussi

4.5M 270K 67
TRADUÇÃO AUTORIZADA ✔ É UMA PARÓDIA BL (GAY), NÃO SE TRATA DO CONTO ORIGINAL ❌ NÃO É PERMITIDO REPOSTAR ESTA TRADUÇÃO.❌ TÍTULO ORIGINAL: Not another...
1K 97 3
- Todo mundo sabe que só existe uma vez para nascer, e quando nasce... Você se tornar único! De todas as formas que você poderia ter nascido, você na...
142K 4.9K 102
• ✨ɪᴍᴀɢɪɴᴇ ʀɪᴄʜᴀʀᴅ ʀíᴏꜱ✨ •
565K 29.7K 125
Nós dois não tem medo de nada Pique boladão, que se foda o mundão, hoje é eu e você Nóis foi do hotel baratinho pra 100K no mês Nóis já foi amante lo...