Gotham - 19:30
— Senhorita Wayne, eu tenho que dizer, eu nunca esperaria alguém como você andando por essas bandas de Gotham, ainda mais visitando o meu consultório. — O psicólogo comentou enquanto apontava ao sofá onde Kate se sentou. — O que a traz aqui?
— Bom, eu não me imaginava tendo que vir procurar uma ajuda psicológica, mas algumas pessoas sugeriram isso. — A Wayne explicou ainda um pouco em dúvida se era o que ela realmente queria. — Que eu deveria arrumar alguém para poder me ajudar com as coisas que eu venho passando.
— Claro, é bem normal pessoas com tanto foco na mídia como você quererem buscar uma ajuda, a vida na fama pode ser bem sufocante. — Ele disse enquanto a analisava com os olhos sem vida. — Mas eu ainda fico surpreso em você ter vindo a um consultório tão humilde como o meu, sendo que você tem a seu alcance os melhores de Gotham e até do país.
— Bom, se algum paparazzi me visse entrando para falar com um dos psicólogos do centro de Gotham as manchetes do próximo dia provavelmente estariam dizendo que eu estava a um passo de entrar no Arkham. — Ela explicou sorrindo com divertimento e mudando de posição na tentativa de ficar confortável no sofá. — Entenda, eu busco muito por descrição e achei que encontraria isso aqui.
— Tenha certeza que encontrará e nada saíra dessas paredes, Kate. — O graduando confirmou e anotou algo em sua caderneta. — Posso te chamar pelo primeiro nome?
— Claro, imagino que teremos várias sessões juntos.
Ele confirmou com um aceno e depois voltou a atenção para a garota. Os olhos azuis esverdeados dele traziam um tom muito calculista e observador, algo que dava a ela uma espécie de calafrios. Porém provavelmente era só uma coisa da cabeça dela.
— Então, pode começar dizendo pelo que você vem passando.
— Bom... — Kat não sabia por onde começar, havia acontecido tantas coisas nas últimas semanas. Ela quase havia morrido, agora não possuía poderes, seu irmão estava desaparecido, a Justiça Jovem havia voltado, mas ela estava proibida de ser uma heroína. Como falar tudo aquilo sem revelar sua identidade dupla? — Primeiramente, eu tenho tido alguns problemas familiares.
— Pode ser mais específica?
— O meu pai vem limitando muita a minha... — Ela pensou em uma ou mais palavras cabíveis. — Liberdade e independência.
— E isso vem acontecendo há muito tempo? Ele fazia isso antes?
— Não, foi algo recente depois que eu acabei passando por algumas coisas que eu prefiro não comentar. — Kate colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha e suspirou, dando continuidade a história. — Ele está sendo super controlador e me proibindo de fazer o que eu quero como se eu fosse uma criança pequena e não uma adulta.
— Os pais normalmente são os principais criadores dos problemas mentais e emocionais dos filhos. Então, você não ficaria surpresa com a quantidade de pais opressores por aí.
— Esse é o problema, ele não é assim. — Ela desabafou.
— Talvez ele sempre fora, mas só revelou isso agora. — O psicólogo sugeriu. — Ou quem sabe isso que você tenha passado tenha feito ele tomar essas atitudes drásticas. Talvez uma boa conversa com ele resolva os problemas atuais que vocês dois vêm tendo.
— Talvez... — Kate murmurou pensativa e achou que para uma primeira consulta já estava bom e havia revelado coisas demais de uma só vez, por mais que de forma mascarada. — Podemos terminar a sessão mais cedo?
— Claro, você quem dá as ordens. — Ele respondeu terminando as anotações na caderneta. — Apenas pense no que eu disse, uma boa conversa talvez seja o que você e seu pai precisam.
A Wayne concordou com um aceno e levantou-se, sendo seguida por ele que apertou sua mão.
— Obrigado por ter me recebido tão em cima da hora, é Victor, certo? — Ela questionou para não se esquecer.
— Isso mesmo, Victor Crane.
Kate acenou positivamente e saiu rapidamente do prédio pequeno e antigo. Pensava em seguir os conselhos dele e no fim de tudo aquela primeira sessão não tinha sido tão ruim assim. Possivelmente acabaria ajudando ela a botar a cabeça no lugar. A garota no momento só queria espairecer um pouco em casa, nada de problemas, porém começou a andar mais devagar pela rua quando notou passos suspeitos atrás de si, olhou para o vidro de uma loja e percebeu que era um rapaz com um capuz escondendo o rosto, junto com um par de óculos escuros.
Kat continuou andando, entretanto parou abruptamente e avançou numa rasteira contra o rapaz. Não adiantou já que ele foi mais rápido em pular e ainda desviar de um soco dela, Kate percebeu rapidamente que ele era bem treinado.
— Calma! — Ele pediu em tom bravo. — Você está chamando atenção demais!
— E você estava me seguindo. — Kate rebateu ainda muito desconfiada.
— Eu apenas preciso da sua ajuda.
— Ajuda com o que? — Ela não acreditaria tão facilmente em tudo o que ele dizia, mas o garoto ao menos parecia sincero nas palavras dele.
— Preciso encontrar o meu pai. — Ele confessou em um tom franco e Kat sentiu um pouco de receio vindo dele.
— Seu pai? — Aquilo não estava fazendo o menor sentido. — Como seu saberia quem é seu pai? Eu não faço nem a mínima ideia de quem você seja.
— O nome dele é Oliver, Oliver Queen.
Kate a princípio não respondeu nada, completamente surpresa.
— Mas agora você já atraiu muita atenção! — Ele comentou num murmúrio baixo olhando para os lados em busca de alguém. — A Liga das Sombras está no meu rastro. Eu preciso ir agora, mas entrarei em contato em outra oportunidade.
— O que? Não! Espera! — Ela gritou em vão vendo ele correr para longe dela.
Antes que Kate pudesse perguntar alguma outra coisa ele fugiu por um beco, pulando uma grade e sumindo pelas ruas do bairro. Ela continuou sem saber direito o que havia acabado de acontecer. Quando a Wayne finalmente acreditou que sua vida estava livre de mistérios por mais algum tempo, outro aparecia para virar tudo de cabeça para baixo.