Com o final do intervalo, me preparei para os olhares que receberia quando todos voltassem para a sala, mas na verdade, meu único pensamento era saber o que a Babi faria e o que o Edu faria caso ela tentasse algo, porque durante a nossa discussão lá fora, ele quase não se moveu pra defender nenhuma de nós duas e eu não sei se isso é bom ou ruim.
Os alunos começam a voltar e não vejo nem sinal de Babi e Edu, apenas Fran entra na sala, mas seu rosto está sem emoção e ela sequer olha para os lados quando senta em sua cadeira e se concentra em seu caderno. Fábio me lança um olhar questionador e eu apenas dou de ombros sem saber o que dizer, já que todos voltaram, mas nada de Babi e Edu, até mesmo o professor está na sala, e eles não.
As últimas aulas tomam toda a minha atenção e procuro deixar o assunto Babi de lado, ela provavelmente foi pra casa e pediu pra Fran levar suas coisas depois que a aula acabar.
— Quer companhia até em casa? – Fábio comenta assim que saímos da sala de aula no fim do dia.
— Mas sem corrida dessa vez. – sorrio.
— Eu poderia jurar que vocês dois estão se pegando escondido. – Lucas aparece do nosso lado.
— E porque eu esconderia isso?
— Sei lá, por causa do Edu?! – ele me encara.
— Fala sério Lucas, o Edu não é e nunca foi meu dono ou qualquer outra coisa, se eu estivesse com o Fábio ou qualquer outra pessoa, não teria motivo nenhum pra esconder.
— Isso aí. – Fábio me apoia.
— Tá, foi mal. Vou parar com isso.
— Algum sinal do Edu? – Fábio pergunta ao nosso amigo.
— Nada, falei com a Fran e ela disse que os dois ficaram conversando na cantina e depois sumiram.
— Devem estar por ai se reconciliando como dois gatos no cio. – comento e recebo olhares curiosos.
— Ela é sempre assim ou isso é novidade?
— Lucas, de hoje em diante você vai ver uma Roberta que não conhece. A que não precisa se portar como as amigas pra se encaixar na turma.
— Sério que você fazia isso?
— Sim, mas isso acaba hoje.
— Legal.
— Vai caminhando com a gente? – Fábio o estuda quando ele continua no mesmo caminho que nós.
— Vou, quero ver qual é a dessa caminhada.
— Vai ser bem interessante te ouvir reclamar depois das duas primeiras quadras. – Fábio debocha e nós rimos.
Enquanto andávamos até em casa, conversamos sobre os nossos planos para o fim das aulas, sobre faculdade e outras coisas relacionadas ao futuro e a grande verdade é que nenhum de nós sabe bem que rumo seguir ainda. Fábio diz que quer seguir com os esportes, mas ainda não decidiu qual deles, Lucas gosta de esportes também, mas não tanto quanto Fábio e por isso não tem opção, já que dentre as matérias acadêmicas, nada lhe chama a atenção. E eu, bem, meu sonho sempre foi a música, mas não sei se quero seguir por esse caminho, sem contar que entrar para uma faculdade de música é bem difícil.
— Bem, vou me despedir de vocês por aqui, tenho que passar em outro lugar.
— Alguma nova conquista Lucas? – brinco.
— Talvez, mas ainda é cedo pra dizer. – pisca pra mim e pega outro caminho enquanto Fábio e eu continuamos em direção a minha casa.
— Você acha que ele tem um novo rolo?
— E quando é que o Lucas não tem? – brinco e rimos.
— Como você está depois de tudo?
— Estou bem, um pouco anestesiada ainda, afinal não recebi os resultados do que falei.
— Acha que o Edu vai te procurar pra conversar?
— Não, eu estava me referindo à opinião de outras pessoas, ou você acredita que ninguém vai se doer pela Babi?
— É, provavelmente vão, ainda mais as meninas que querem ser uma "seguidora" dela.
— É estranho perceber que eu era uma dessas garotas até poucas horas.
— Você não era assim, você era amiga dela.
— E será que ela era minha amiga? Ou foi algum dia?
— Não pense nisso, você é incrível e merece ter amigos de verdade, se ela não quer isso, azar o dela.
Paramos na porta da minha casa e sentamos na escada da varanda. Fábio estava estranho, calado demais pra falar a verdade, ele é sempre falante e nunca nos faltou assunto, mas começava a aparecer um silencio estranho e isso me deixou um pouco desconfortável.
— Você está bem?
— Estou, é só que te ver falar tudo aquilo da Babi me fez pensar no porque eu ainda gosto dela.
— Ah...
— É, eu sei, não faz sentido já que ela nunca olhou pra mim e muito menos vai.
— Ei! Para com isso, você é um cara incrível, e com certeza merece coisa melhor. – torço o nariz.
— Nós merecemos pessoas melhores, você uma amiga e eu uma namorada.
— Namorada?! Você?! Pensei que você era como o Lucas, que pega, mas não se apega.
— Credo! Você falou igualzinho a ele agora. – ele me empurra de leve e eu revido.
— Estou brincando, sei que você é diferente do Lucas, aliás, essa fase do Lucas logo passa também e ele vai se apaixonar pra valer.
— Sério?! – ele me olha segurando o riso.
— Não, o Lucas nunca vai deixar de ser galinha. – constato e ele concorda rindo.
— Preciso ir. – Fábio levanta olhando a hora no celular.
— Obrigado. – também me levanto.
— Pelo que?!
— Não só por ter me apoiado e ajudado hoje, mas por todos esses dias. – sinto minha voz falhar.
— Ei, não precisa agradecer, amigos são pra essas coisas. – ele me puxa para um abraço.
— Obrigado.
— Até mais Rob's.
— Até.
Entro em casa e minha mãe está no sofá, seus olhos estão fixos na TV e ela finge não me ver entrar, mas a conheço bem o suficiente para saber que ela estava espiando a minha conversa com Fábio. No entanto decido continuar o seu teatro e passo direto por ela, indo para o quarto. Coloco minhas coisas sobre a cadeira da escrivaninha e tiro os sapatos antes de deitar na cama.
Meu celular toca e atendo sem olhar quem está ligando, meu primeiro erro da noite.
— Preciso falar com você.
— Edu? Esta tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
— Posso ir até a sua casa?
— Não! – falo rápido demais.
— Porque não?
— É que... Eu... Ah...
— O Fábio está com você?
— Não!
— E porque não posso ir até aí?
— Porque eu não quero.
— Roberta, por favor, a gente precisa conversar.
— Você terminou com a Babi?
— Não.
— Então não temos nada pra conversar, não quero aquela louca fazendo outra cena.
— É isso que você quer? Que eu termine com ela?!
— Eduardo, eu quero que você me deixe em paz. Estou cansada de ser pressionada, questionada. Faça o que você quiser só não me use como desculpa. – falo irritada e desligo o telefone.
Desligo o celular e coloco dentro da gaveta do criado mudo, meu segundo erro da noite.
Não demora muito e minha mãe aparece na porta e me olha desconfiada, então respiro fundo e sento na cama a chamando para sentar ao meu lado. Ela me olha por um instante e então deito a cabeça em seu colo enquanto conto tudo que aconteceu na escola hoje.
— Você gosta ou não do Eduardo?
— Não sei mãe. É complicado sabe, eu sempre vi ele como meu amigo, meu melhor amigo.
— Até ele te beijar.
— Não, até mesmo depois disso eu o via como amigo, tanto que preferi não ficar com ele pra ter a sua amizade.
— Mas...
— Mas então ele ficou com a Babi e um ciúme idiota começou a aparecer e confundiu tudo aqui dentro.
— Você não sabe se esse ciúme é da amizade que você estava perdendo posto para ela ou se era porque ele estava beijando ela ao invés de você.
— Mais ou menos isso.
— E porque não aceitou conversar com ele agora?
— Porque tenho medo.
— Medo de que?!
— Do que pode acontecer.
— Como assim?
— Sempre que fico perto dele a gente briga, eu sinto tanto a falta do meu amigo de antes e não tem mais nada dele lá. A Babi fez uma lavagem cerebral nele. – falo irritada.
— Roberta você está se ouvindo? Porque a Babi tem que estar em tudo que você faz e fala?!
— Porque eu estou com raiva dela? Porque eu não quero admitir, mas o que ela me disse doeu mais do que eu esperava?! Pois é, deve ser isso. – limpo as primeiras lágrimas.
— Filha, não fica assim. Você não tem motivo pra sentir inveja dela, você é uma menina linda, doce, inteligente.
— Não sei não mãe... – sinto o nó na garganta aumentar.
— Roberta, olha pra mim. – segura meu rosto e olha no fundo dos meus olhos. — Você é linda, não só por ser a minha filha, você é linda porque eu vejo além da aparência, você é linda por dentro filha e isso ninguém pode tirar de você e nem dizer o contrário. Beleza exterior todo mundo pode conseguir com cirurgias, maquiagens e belas roupas, mas beleza na alma, poucas pessoas conseguem e você é uma delas.
— Eu te amo mãe.
— Também te amo.
— Acho que não vou jantar hoje, tudo bem?
— Porque não?!
— Estou com dor de cabeça, vou tomar um banho e tentar dormir. Prometo que mais tarde como alguma coisa.
— Promete?
— Prometo. – sorrio e ela me abraça antes de sair do quarto.
Tomo banho assim como disse a minha mãe e deito na cama com apenas a luz do abajur acesa, coloco uma música em volume bem baixo para tocar na caixinha de musica que fica na estante e fico olhando para o teto, até penso em ligar o celular novamente, mas prefiro esperar até que seja bem tarde, assim ninguém mais estará acordado para me mandar mensagem ou me ligar.
Já são quase três da manha quando ligo novamente o celular e programo o despertador para o horário que costumo acordar para ir à escola. Aparece notificação de várias mensagens, algumas ligações de Eduardo e duas notificações do Facebook, mas ignoro todas e volto para a cama, pegando no sono minutos depois. Meu terceiro erro da noite em dose dupla, não comer nada e ignorar as mensagens que me preparariam para os dias seguintes.