Kospi {yoonmin}

By zettaiwa

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Min Yoongi é um acionista milionário que possui um segredo o qual muitos querem descobrir qual é. Sua secretá... More

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Vinte e Sete Mil Dólares

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By zettaiwa


A sala do escritório onde Jimin passava seu dia não era tão espaçosa quanto a de Yoongi, no último andar, com uma vista majestosa para o resto da cidade e artigos caros espalhados por todos os cantos. A dele tinha uma janela grande, um aquecedor que funcionava bem e não o decepcionou durante o inverno inteiro, uma televisão onde ele via as notícias e fingia prestar atenção na cotação da bolsa – um disfarce, era sua desculpa –, um sofá aconchegante, e, acima de tudo, tinha seu melhor amigo o fazendo companhia das dez da manhã até às cinco horas da tarde.

Jimin gostava de acordar cedo, sempre gostou. Era um conforto ver o céu ficando claro aos poucos enquanto ele segurava uma caneca quente ou de chá, ou de café, ou até mesmo de chocolate, olhando o dia nascer através da janela de sua cozinha. Às vezes, deixava uma canção escapar de seus lábios enquanto andava de um lado para o outro preparando algo para comer, sempre voltando para sua bebida, sempre procurando se manter aquecido, até mesmo durante o verão. Costumava ser melhor ainda quando tinha a companhia de sua mãe, na época da escola, porque a mulher também o ajudava com as músicas e acordava tão cedo quanto ele. Agora, fazia aquilo tudo sozinho em seu apartamento, mas não deixava de ser uma rotina agradável.

Um hábito que ele havia adquirido depois do ano novo era o de pegar sua nova caneca, colocá-la no assento ao lado do seu no carro, e ir até seu escritório bem antes da bolsa abrir, apenas para ter alguns minutos de paz. O nascer do sol da sua cozinha era muito bonito, isso ele não negaria, mas se sentia na obrigação de admitir que a paisagem dos arranha-céus que via da janela de sua sala era de outro mundo. Naquele dia especificamente, o sol brilhava com força no céu, fazendo seu trabalho de esquentar Jimin no inverno que castigava Seul. Seria um dia bom, ele estava confiante. A temperatura estaria um pouco mais alta em relação à última semana, e tudo que ele queria era se sentar em sua cadeira, tirar seus sapatos e beber um chá enquanto apreciava a vista.

Jimin ficava segurando a caneca com as duas mãos, os pés apoiados em cima da cadeira, encolhido enquanto mantinha o olhar perdido na vista, imaginando o que as pessoas dentro daqueles prédios altos estariam fazendo no mesmo momento em que ele as observava sem conseguir vê-las de fato. Quando focava mais na distância, vendo os edifícios que chegavam perto do céu, imaginava se Yoongi estava em uma daquelas salas no topo do mundo olhando pela janela perdido em seus pensamentos também. Na época em que ainda não o conhecia, Jimin se lembra de ter lido sua mente enquanto ele fazia exatamente o que o garoto estava fazendo naquele instante. Tudo que ambos queriam era paz dentro de suas próprias cabeças, nem que fosse por alguns minutos, e perder tempo admirando a paisagem era uma excelente maneira de conseguir isso.

A caneca que havia ganhado de Natal já estava vazia e abandonada em cima de sua mesa, mas Jimin continuava com o olhar preso na paisagem e a mente distante, porém nunca dentro da mente de outra pessoa. Uma careta se formava em seu rosto toda vez que ele pensava em como não se sentia mais tão confortável entrando na cabeça de Yoongi para fazer o que bem entendesse, não era mais como antigamente quando tudo que ele fazia era ler os pensamentos do homem apenas para tentar descobrir que tipo de pessoa ele era. Ele podia ter algumas características das quais Jimin o acusou de ter quando colocou seu plano em prática, mas Yoongi não era aquilo. Depois de passar tanto tempo vendo quem ele era sem um filtro para impedi-lo de se esconder por trás de mentiras, Jimin percebeu que Yoongi era uma boa pessoa, talvez não do jeito que ele queria que fosse, mas, mesmo assim, não deixava de ser. E muito provavelmente era aquilo que estava o fazendo mudar quanto ao conforto que sentia ao invadir a mente do mais velho.

Enquanto pensava em como faria para continuar ganhando na bolsa passando menos tempo dentro da cabeça de Yoongi, Jimin não notou que a porta de seu escritório se abriu mais cedo que o normal, imerso demais na paisagem e em suas preocupações para perceber que agora ele tinha a companhia de Namjoon. Não ouviu os passos se aproximando, não ouviu quando sua caneca foi tirada de cima da mesa para ser observada pelo amigo, e só reparou que não estava mais sozinho quando ouviu uma voz familiar chamar seu nome, quicando na cadeira com o susto que havia levado.

"Eu nem vi você chegar." Jimin murmurou e tirou os pés da cadeira, colocando-os dentro de seus sapatos novamente e ajeitando a postura. Seus olhos se arregalaram por milésimos de segundos ao ver que Namjoon segurava a caneca que havia sido presente de Yoongi, mas tentou manter seu tom de voz normal, sem mostrar seu nervosismo. "Ainda está cedo, aconteceu alguma coisa?"

"Não aconteceu nada, eu só acordei cedo demais e resolvi vir para cá." Namjoon girou a caneca em sua mão, aproximou-a de seu rosto e soltou uma risada fraca enquanto via a foto estampada com atenção. "Seu brinquedo te deu isso?"

"Não chama ele assim." Jimin fez uma careta desconfortável, tanto pelo que tinha ouvido quanto pelo que tinha acabado de dizer. Já tinha algum tempo que ele começou a se incomodar de chamar Yoongi daquele jeito, evitando o apelido a todo custo, mas agora que tinha pedido para Namjoon não fazer o mesmo, consolidou muito mais os sentimentos que estavam tomando conta dele aos poucos há meses. "Depois daquele Rolex e do drama que esse maldito relógio causou, ganhar um presente desses foi uma benção."

Namjoon o encarava de olhos arregalados e sobrancelhas quase alcançando o meio de sua testa de tão espantado que ele estava com o que tinha acabado de ouvir do melhor amigo. Desde que Jimin tinha começado com aquela loucura de tentar conhecer Min Yoongi, aquele era o apelido dado por eles dois ao homem – brinquedo, porque era isso que ele era. Só mais uma peça no tabuleiro de Jimin, que fazia o que bem queria, com quem queria, e quando queria. Namjoon já esperava que algum dia o garoto fosse se aproximar demais de Yoongi, até porque eles passavam muito tempo juntos fazendo o que tinham que fazer, mas nunca achou que chegaria ao ponto de Jimin pedir para ele não chamá-lo de brinquedo. Aquele pedido era mais sério do que parecia.

"Você gosta dele."

Jimin fez uma careta de novo e escondeu o rosto atrás das mãos, deixando o peso daquela frase entrar em sua cabeça e se instalar em cada neurônio seu, repetindo a mesma coisa uma porção de vezes: você gosta dele. Não importava como, não importava em que grau, o que importava era que Jimin gostava de Yoongi, queria ter sua companhia e não queria mais chamá-lo de brinquedo porque agora o mais velho era muito mais do que só aquilo. Eles eram cúmplices em seus problemas que apenas eles entendiam, eram amigos, riam juntos, cozinhavam juntos e compartilhavam histórias juntos. Yoongi conhecia sua mãe, Yoongi havia o dado um presente de Natal que aqueceu cada pedaço de seu coração, Yoongi não deixou que ele se perdesse nos pensamentos de Hoseok na noite do jantar em seu apartamento. Yoongi o entendia, e Jimin o entendia de volta. Eles se ajudavam, de certa forma, apesar de tudo que haviam causado um para o outro no passado.

"Jimin, fala alguma coisa, você está me assustando." Namjoon disse com a voz fraca e puxou os pulsos do garoto de leve, fazendo-o rir baixo e olhar para cima com uma expressão preocupada no rosto. "Eu não estou te julgando."

"Yoongi hyung é uma boa pessoa, sabe? Ele se preocupa com os amigos, se preocupa com as pessoas ao redor dele, eu gosto–" Jimin fez uma longa pausa e franziu o nariz, preparando-se para continuar sua frase e colocar para fora de uma vez por todas o que estava martelando em sua cabeça havia semanas. "Eu gosto dele como amigo, como pessoa, como–" Outra pausa, dessa vez mais curta, e acentuada por um suspiro cansado. "Eu não sei o que mais, eu só gosto dele. Yoongi hyung é meu amigo."

"Eu já esperava que isso fosse acontecer." Namjoon abriu um de seus sorrisos mais bonitos, daqueles que não mostravam seus dentes, mas mesmo assim ocupavam seu rosto inteiro. Seus olhos sumiam, suas covinhas apareciam, e ele ficava dez anos mais jovem com aquela aparência. Sentou-se na cadeira e empurrou a caneca na direção de Jimin, que não teve coragem de tocá-la, nem para afastar e nem para puxá-la para mais perto. "Então vocês dois se esqueceram da ameaça que você fez a ele, hm?"

"Ah, droga." Jimin murmurou e voltou a cobrir o rosto com as mãos, lembrando-se da maldita ameaça que fez tantos meses antes. O pen drive ainda estava em sua gaveta, trancado com uma chave que só ele possuía e com a segurança extra de um cadeado que só ele podia abrir, e o notebook que tinha comprado exclusivamente para guardar a informação do segredo de Yoongi estava em sua casa, também escondido em um lugar que apenas ele conhecia. Mesmo assim, ainda existia, e ele ainda não tinha chegado em seu objetivo de tornar Yoongi em uma pessoa que se importa mais com os outros. "Deixa isso para outro dia, hyung. Por favor. Acho que já deu por hoje de falar desse assunto."

Namjoon, sendo o anjo na terra que era, não tocou mais no assunto durante o resto do dia e ignorou a caneca suja de chá em cima da mesa de Jimin, assim como o garoto havia o pedido antes da bolsa abrir. No entanto, a conversa entre eles com o passar das horas era pouca, e quando acontecia, era tão superficial e acabava tão rápido que era esquecida por ambos poucos segundos depois. Jimin não sabia se Namjoon estava incomodado de saber que ele e Yoongi eram amigos agora, ou se estava dando um espaço que julgou ser melhor para o mais novo. Estava curioso, como sempre, mas não se atreveu a passar nem um segundo dentro da mente do melhor amigo, ainda mais quando o tópico do dia havia sido tão delicado e repentino.

Quando o sol já tinha dado lugar à lua e a bolsa já tinha fechado, Jimin recolheu suas coisas e pegou sua caneca, segurando-a com força e logo em seguida ignorando a existência do objeto enquanto dirigia em direção ao apartamento de Yoongi. Sabia que não era a ideia mais brilhante fazer uma visita ao homem depois do que tinha acontecido mais cedo, depois da conversa com Namjoon, mas seus instintos o diziam para fazer o caminho que ele já conhecia tão bem, ignorando toda e qualquer racionalidade que o dizia para dar meia volta e ir para seu apartamento se entupir de lámen até que toda aquela massa fosse para seu cérebro e virasse bom senso. Jimin suspirou. Era incrível como uma pessoa que lia mentes ainda deixava o próprio coração falar mais alto que a razão.

Quando colocou a senha para destrancar a porta de Yoongi e entrou no apartamento do homem, Jimin não foi recebido pela escuridão e pelos latidos empolgados de Holly como já estava acostumado. O que o recebeu foi o cheiro de fritura vindo da cozinha, os latidos não tão empolgados do cachorro, e algumas luzes da sala já acesas, indicando que alguém estava ali. O garoto olhou seu relógio de pulso e viu que tinha chegado na mesma hora de sempre, nem um minuto a mais, nem um minuto a menos, então como Yoongi já tinha chegado quando era quase uma certeza de que ele chegava primeiro? Jimin tirou seus sapatos e andou com passos apressados até a cozinha, vendo Yoongi de costas para ele murmurando alguns palavrões enquanto se afastava do fogão, apenas para voltar logo depois.

"Hyung?" Jimin disse com a voz tão baixa que foi uma surpresa Yoongi tê-lo escutado, olhando por trás de seu ombro por breves segundos antes de voltar a prestar atenção no fogão, murmurando um 'hmmm' como sinal de que estava ouvindo. "Você chegou cedo, eu sempre chego primeiro."

"As compras para o jantar já estavam feitas." Yoongi respondeu, simples, e Jimin sentiu seu coração se apertar em seu peito. "Resolvi me adiantar porque estava com fome, acho que você vai gostar do cardápio de hoje."

"Ah, vou?" Jimin se aproximou de onde Yoongi estava, mas mantendo uma distância segura do fogão com medo do óleo quente espirrar nele por qualquer motivo que fosse. O cheiro estava bom, mas ele ainda não sabia dizer o que o mais velho estava fazendo. "Posso saber por que?"

"Isso que você está vendo é tonkatsu, Park Jimin." Yoongi apontou para a panela em cima do fogão e olhou para o lado, sorrindo satisfeito ao ver o garoto arregalar os olhos e abrir a boca em um formato oval, surpreso. "Lembro que você mencionou uma vez que gostava, e eu sou um homem de agradar meus amigos."

"É, você tem razão, eu gosto." Jimin murmurou e olhou para a panela, perdendo como Yoongi o encarava com certa expectativa, como se esperasse que ele fizesse algo a mais além de agradecer. Foi longos segundos depois que Jimin levantou o olhar e sorriu para o mais velho, que mantinha uma expressão perto de neutra no rosto. "Obrigado, hyung."

Jimin gostava de testar seus limites quando se tratava de contato físico com Yoongi. Às vezes, fazia sem nem pensar, como tinha sido da vez dentro do closet do homem quando a rotina do jantar começou; fazia porque seu corpo o mandava, como havia sido no jantar depois de toda aquela cena que se passou pela cabeça do mais velho; ou fazia por querer, como havia sido no Natal com o beijo na ponta do nariz. Ele sabia que não podia ter exatamente o que queria porque, segundo Yoongi, traria problemas demais se eles fizessem alguma coisa de fato. Nenhum deles queria destruir uma relação que não era nem para ter sido construída de início, então deixavam as coisas como estavam. Mas Jimin não podia simplesmente dizer que não tinha vontade de tocar, nem que fosse para brincar com os dedos longos de Yoongi enquanto eles se distraíam com qualquer programa que passasse na televisão depois de comerem, porque ele sentia muita vontade de tocar sua pele na do homem. Então, em um teste – e uma vontade maior do que ele era capaz de compreender –, Jimin se aproximou mais e colocou uma mão por baixo da camisa que Yoongi usava, apertando de leve sua cintura, sentindo como o mais velho havia permitido o toque.

Uma mão virou duas, um aperto singelo virou um abraço, e logo Jimin estava atrás de Yoongi, com o queixo apoiado no ombro do mais velho enquanto acompanhava seus movimentos de um lado para o outro preparando o jantar deles. Ninguém falava nada, talvez por medo de dizer alguma coisa e estragar o momento, talvez por medo de botar um significado em algo tão simples, mas não era desconfortável. Jimin até fechou os olhos por alguns segundos e apoiou a testa onde antes estava com o queixo apoiado, respirou fundo e apertou um pouco mais Yoongi em seus braços, ouvindo uma risada fraca em resposta. Aquilo não precisava ser alguma coisa. Eram apenas dois amigos dividindo um carinho especial, nada demais. Eram cúmplices, tinham desculpa para ficar daquele jeito. Só eles se entendiam, mais ninguém. Não era nada.

"Vai trocar de roupa, Jimin." Yoongi colocou o braço para trás, apertando a cintura do garoto como forma de acordá-lo para a realidade, sem tirar a atenção do jantar que preparava nem por um segundo. "Hoje o clima está mais agradável e o céu está limpo. Nós vamos comer lá fora."

"Vou pegar seus casacos mais quentinhos." Jimin ficou na ponta dos pés por um segundo para deixar um beijo molhado na bochecha de Yoongi, que reclamou e secou a pele enquanto o garoto ria de sua reação. "Te encontro lá fora."

Depois de se trocar e guardar as roupas que tinha usado durante o dia inteiro em uma sacola, Jimin olhou para o lado de fora através da porta de vidro e sorriu, vendo Yoongi encolhido sentado em uma das espreguiçadeiras e olhando para o céu sem nem se mover. O garoto sentiu um calafrio correr pelo corpo assim que o ar gelado da noite bateu em seu rosto, mas logo se acostumou com a temperatura enquanto caminhava em direção a Yoongi e ouvia os passos de Holly o seguindo. O mais velho olhou para o lado assim que Jimin ficou próximo o suficiente, agradecendo pelo casaco e o vestindo quase que de imediato, soltando um grunhido aliviado por estar mais aquecido depois de passar alguns minutos no frio sem proteção. Jimin se sentou ao seu lado e agradeceu pelo prato de comida que Yoongi o deu logo em seguida, sem perder tempo antes de começar a comer.

"Teve uma vez que você comprou pizza depois que eu te pedi, e você usou nosso acordo de paz como desculpa para ter me agradado." Jimin comentou com um sorriso de canto no rosto, usando um braço para se apoiar na espreguiçadeira onde estava sentado ao lado de Yoongi. "Qual é a desculpa dessa vez?"

"Não tem desculpa." Yoongi deu de ombros e colocou um pedaço grande demais da comida em sua boca, procurando maneiras de atrasar o que tinha para dizer. Jimin observava seu perfil com atenção, segurando o ar em seus pulmões na expectativa do que estava prestes a ouvir. "Fiz porque quis, porque eu sabia que você gostava. Acho que a gente já passou dessa fase de acordo de paz."

"É, passamos." Jimin abriu um pequeno sorriso e olhou para seu prato, onde a comida ainda estava inacabada. Holly fazia sua cara de pidão, com os olhos brilhando por conta da iluminação fraca da cobertura, mas Jimin não prestava atenção nele. "Quem diria, não é mesmo? Nunca imaginei que acabaria virando seu amigo."

"Acredite em mim, eu também não." Yoongi disse com uma pitada de sarcasmo em sua voz, que talvez passaria despercebido se fosse qualquer outra pessoa além de Jimin ouvindo. O garoto sabia o que aquilo significava, tinha pensado naquilo mais cedo e pediu para que Namjoon não falasse sobre. Agora não seria diferente, queria continuar mantendo o pensamento bem longe. "Mas aqui estamos nós. Gostou do tonkatsu?"

"Claro que sim, você cozinha bem." Jimin murmurou e olhou para a frente, vendo a tão familiar banheira de hidromassagem coberta há tanto tempo por conta do inverno que castigava a cidade. Uma sobrancelha sua se arqueou, pensando na ideia que tinha acabado de ter. "Hyung, há quanto tempo você não usa essa banheira?"

Yoongi olhou para a banheira, um pouco distante de onde eles estavam sentados, porém em seu campo de visão quando olhava para frente. Ele se lembrava bem de quando tinha comprado aquela cobertura, e grande parte do motivo para ter escolhido justo aquele imóvel foi a hidromassagem – o resto dos apartamentos que viu tinham piscinas, ou seja, seriam totalmente impraticáveis no inverno. Yoongi percebeu que uma banheira ou uma piscina não fariam a mínima diferença no ano anterior, quando teve a brilhante ideia de ligá-la na noite mais fria que fazia em anos depois de voltar de uma festa com Seokjin. Tinha sido divertido na hora e ele só conseguiu rir quando derramava champanhe na água, mas foi Seokjin que reclamou até a língua ficar dormente no dia seguinte quando foi obrigado a levar o amigo ao hospital depois de receber uma ligação de um Yoongi muito doente.

"Sem chance." Yoongi respondeu antes mesmo que Jimin pudesse fazer a pergunta, voltando a dar atenção ao seu prato para ignorar o biquinho que ele sabia que o garoto estava fazendo com os lábios.

"Você nem me deixou fazer a pergunta!"

"Eu não preciso ler mentes para saber o que você ia pedir." Yoongi olhou para o garoto com uma sobrancelha arqueada, recebendo um rolar de olhos dramático como resposta. "Hoje o clima pode ter ficado mais agradável, mas ainda está frio demais. Não é uma boa ideia, confie em mim."

"É só a gente correr bem rápido enrolado em toalhas depois de sair da banheira." Jimin colocou o prato que estava em seu colo de lado e se aproximou de Yoongi, tentando colocar no rosto uma expressão parecida com a que Holly fazia quando via os dois jantando e queria a comida. "Por favor! A água é aquecida, é só a gente ficar com o corpo todo do lado de dentro e depois sair correndo pro apartamento."

Não havia muitas coisas no mundo que eram capazes de convencer Min Yoongi de alguma coisa quando ele estava convicto que tal coisa tinha tudo para dar errado. Ele já sabia que não podia dar certos tipos de alimentos para Holly, não importava o quanto ele chorasse e arregalasse os olhinhos brilhantes; sabia que não podia apostar nada com Kim Seokjin porque muito provavelmente iria perder, e sabia que em circunstância alguma podia dizer a Kim Taehyung que ele não conseguiria fazer alguma coisa porque dois dias depois ele bateria na porta de sua casa para mostrar que tinha conseguido. Agora, um Park Jimin o encarando com um biquinho nos lábios era o suficiente para fazê-lo se levantar e ir atrás de toalhas enquanto resmungava, perguntando-se por que ele era tão fraco.

Ele agradeceu aos céus por ter pedido para limparem a banheira naquela semana, caso contrário os planos seriam estragados em questão de segundos. Yoongi não ouvia mais as comemorações de Jimin enquanto ia atrás da maior quantidade de toalhas que conseguia carregar em suas mãos, e mesmo se ouvisse, tentaria ignorar todas porque não acreditava que tinha se rendido tão fácil a um olhar pidão. Devia nunca ter pedido para o caseiro limpar coisa nenhuma, assim não teria concordado com nenhuma ideia idiota. Seokjin brigaria com ele com toda a razão no dia seguinte quando amanhecesse doente, mas pelo menos por agora poderia dar a Jimin o que ele havia lhe pedido. Era surreal. Yoongi estava começando a suspeitar que havia enlouquecido depois do Natal quando deu aquele presente ao garoto.

"Nós temos regras." Yoongi disse com a voz alta fechando a porta de correr atrás dele, virando-se para frente e vendo Jimin já tirando o casaco que usava, lutando para se livrar da peça de roupa o mais rápido possível. Um suspiro saiu de sua boca enquanto ele andava em direção ao garoto para ajudá-lo, e assim que ele estava vestindo apenas uma camiseta branca e seu cabelo estava bagunçado, Jimin sorriu e assentiu, mostrando que estava o ouvindo. "Eu não me incomodo que você molhe meu chão, a única coisa que eu quero é que você vá correndo para o lado de dentro assim que sair da banheira, entendido? Seca só o necessário aqui fora e vai para a sala, eu já liguei o aquecedor."

"Sim, senhor!" Jimin bateu continência e encheu o peito de ar, mas logo soltou uma risada ao ver que Yoongi bateu na própria testa por conta daquela cena. "Mais alguma coisa?"

"Nada de fazer xixi dentro da minha banheira. Na pior das hipóteses, larga a roupa aqui fora que amanhã eu cuido disso, e eu já separei os tabletes de vitamina C na cozinha para nós tomarmos depois." Yoongi disse levantando um dedo de sua mão para cada regra que implantou, vendo Jimin assentir rapidamente enquanto prestava atenção em seu rosto com o olhar sério. O mais velho respirou fundo e andou até as escadas de madeira que davam caminho para a hidromassagem, colocou as toalhas em cima e tirou seu casaco com um grunhido, já querendo o vestir de novo ao sentir o frio que fazia. "Vamos logo antes que eu mude de ideia."

Jimin foi impaciente e tirou as roupas antes mesmo que a água da banheira estivesse quente, reclamando do frio que fazia enquanto andava em círculos vestindo apenas sua cueca para se aquecer da forma que podia. Yoongi já estava se tremendo todo e ainda usava a maior parte de suas roupas, não conseguia nem imaginar como o garoto estava suportando ficar daquele jeito. Assim que o vapor da água quente começou a sair da hidromassagem, Jimin subiu as escadas apressado e entrou de uma vez só, sem nem deixar seu corpo se acostumar direito à temperatura, sentando-se e soltando um gemido tão longo e obsceno que Yoongi travou em seu lugar, perguntando-se pela milésima vez onde ele estava com a cabeça quando cedeu às vontades do garoto.

Com calma, Yoongi tirou a calça de moletom que usava junto da camiseta branca, mas antes de entrar na banheira, colocou os chinelos que sabia que tinha guardado em um compartimento ali por perto de frente às escadas, já pensando na hora que eles voltariam para a sala. Assim que seu corpo estava completamente imerso na água quente, Yoongi também deixou um gemido longo escapar, entendendo agora porque Jimin tinha feito aquilo. Já fazia tanto tempo que ele não entrava na hidromassagem que tinha até se esquecido como era bom, ainda mais quando poucos segundos antes ele estava passando frio do lado de fora. Acomodou-se em seu lugar, fechou os olhos e apoiou a cabeça na borda, murmurando satisfeito ao sentir seus músculos relaxarem por completo. Talvez aquela ideia não tivesse sido tão ruim assim.

O silêncio tomou conta da cobertura e durou longos segundos antes de Yoongi ouvir um movimento na água, sentindo o corpo de Jimin se aproximar do seu, sentando-se bem ao seu lado. Yoongi não abriu os olhos, talvez se fingisse que não sabia que o garoto queria conversar, ele não falaria nada e deixaria o ambiente silencioso como estava. Mas é claro, claro que nada seria como ele queria que fosse.

"Você não foi a primeira pessoa com poderes que eu conheci, sabia?" A voz de Jimin vinha da sua direita, bem suave, soando um pouco receosa com o assunto que o próprio havia começado. Yoongi abriu um de seus olhos, mostrando o mínimo de interesse para que o garoto continuasse a falar. "Quer dizer, foi a primeira com quem eu tive contato, mas não a primeira que eu vi."

"E o que isso tem a ver com a banheira?" Yoongi perguntou, abrindo os dois olhos e encarando Jimin, vendo que o garoto estava na mesma posição que ele, mas olhando para o céu.

"Eu posso explicar se você me deixar." Jimin franziu o cenho e olhou para o lado também, dando de cara com a expressão debochada de Yoongi. "Posso?"

"Acho que não tenho muita escolha." Yoongi soltou um suspiro e voltou à posição de antes, fechando os olhos para voltar a relaxar. "Vá em frente."

"Bom," Jimin coçou a garganta e fez silêncio por vários segundos. Era possível ouvir o som de sua mão saindo e entrando da água, mas ele não dizia nada, como se estivesse pensando em suas palavras antes de colocá-las para fora. "Eu nunca tive muito medo que descobrissem dos meus poderes porque eu não entendia que as consequências podiam ser bem... ruins." Ele fez uma pausa longa, e Yoongi quase soltou um riso debochado ao ouvir aquilo. "Não pesquisava muito sobre isso, nem via muito as notícias, então não tinha ideia de como podia ser prejudicial, sabe? É tudo muito secreto."

"Eu sempre tive medo." Yoongi comentou em um murmúrio, decidindo que não deixaria Jimin fazendo um monólogo, afinal de contas, o assunto era constante na vida de ambos. Principalmente na vida de Yoongi, agora. "Desde que minhas primeiras visões começaram, meus pais me fizeram ter medo. Acho que eles não queriam perder o filho ou algo parecido, até porque crianças sempre querem contar essas coisas para os amigos."

"É, talvez nem todas as crianças." Jimin respondeu no mesmo tom e ficou quieto por vários segundos. Yoongi teria olhado para o lado para saber como estava sua expressão se ele não tivesse continuado a falar pouco depois. "Bom, eu não tinha medo, acho que eu só tinha–" Jimin se interrompeu no meio de sua frase, fazendo Yoongi franzir o cenho com o quanto aquilo havia sido repentino. Antes mesmo que pudesse perguntar qualquer coisa, o garoto continuou. "Enfim, esse não é o ponto. Tinha uma garota na minha escola que era conhecida por ser bem esquentadinha. Eu não ligava muito porque eu dava atenção para as fofocas do pessoal, mas teve um dia que não teve como não ligar."

Yoongi ia fazer uma piada sobre como Jimin estava sendo dramático, mas, por sorte, abriu os olhos para encarar o perfil do garoto antes de dizer qualquer coisa e viu como ele estava distraído, o olhar distante, preso na memória que estava repassando em sua mente. O homem se ajeitou em seu lugar e virou seu corpo para o lado, dando toda a atenção a Jimin, sabendo que ele precisaria daquilo para continuar a falar. O assunto parecia ser mais sério do que Yoongi imaginava.

"Tinha uma garota que adorava provocar a esquentadinha só porque ela dava atenção, sabe? Fazia ela rir, fazia os outros rirem também." Jimin semicerrou os olhos, lembrando-se da exata cena que tinha presenciado. "Era sempre com o corredor cheio, com todo mundo vendo. Sempre tinha uma audiência, e eu estava lá, mais uma vez, só querendo passar naquele mar de gente e ir para minha sala logo."

"Isso não vai terminar bem." Yoongi murmurou e Jimin riu debochado, concordando com a cabeça antes de continuar.

"Na hora que a esquentadinha foi responder uma provocação da garota, o bebedouro do lado delas estourou junto. Começou a voar água para tudo que foi lado, até molhou um pouco os livros que eu estava segurando." Jimin soltou um suspiro e mordeu o interior da bochecha, tirando sua mão de dentro da banheira, deixando algumas gotas caírem de seus dedos, e botando-a na água de novo. "Eu virei para a cena na hora. Fiquei irritado, né, mas aí a esquentadinha fez uns movimentos com as mãos e o bebedouro secou num piscar de olhos."

Yoongi travou a mandíbula enquanto ouvia aquela história. Além de ser descoberto, seu maior medo era usar seu poder sem querer na frente dos outros de forma que vissem o que tinha acontecido, mesmo que fosse difícil em seu caso. Como a 'esquentadinha' tinha feito, aparentemente.

"É impossível de se imaginar um corredor de um colégio de ensino médio ficar quieto, mas aconteceu." Jimin balançou a cabeça e fez uma careta, lembrando-se de tudo. "Foi horrível. Os cochichos ao meu lado começaram aos poucos, eu ouvi o nome aberração tantas vezes saindo da boca das pessoas, a menina estava apavorada, sem saber o que fazer. Eu até li a mente dela para confirmar o que todos estavam falando, e eu nunca li tanto medo em uma pessoa."

"E o que aconteceu com ela?" Yoongi perguntou sentindo o coração acelerar. Ele teve uma crise só de imaginar como seria se fosse descoberto com Jimin contando a todos sobre seu segredo, não podia entender o que a garota passou.

"Sumiu." Jimin deu de ombros, fazendo um bico com os lábios. Seus olhos estavam mais brilhantes que o normal, e Yoongi deixou que uma de suas mãos fosse até a coxa do garoto, dando-lhe um apertão reconfortante. "Não apareceu na escola no dia seguinte, e nem nunca mais. Tentei procurar o nome dela para ver se alguma coisa tinha acontecido, mas você sabe que se pegam uma pessoa para fazer testes, dão ela como morta, não como rato de laboratório. Não apareceu nada sobre ela, então suponho que ela só tenha se mudado para bem longe. Assim espero."

"Por que não leu a mente dela?" Yoongi perguntou, mas ao ver a careta de Jimin piorar, soube que não tinha feito a melhor pergunta.

"Quando as pessoas morrem, é como se eu tivesse um... bloqueio? Não dá para entrar na mente de alguém que não tem mais uma mente." Jimin fez uma pausa e olhou para Yoongi, focando a atenção em cada centímetro no rosto do homem, menos em seus olhos. "Eu prefiro achar que ela se mudou para bem longe para voltar a viver uma vida normal, do que descobrir desse jeito que ela virou cobaia e acabou morrendo."

O barulho da água se movendo era o único que preenchia o ambiente. Yoongi já estava começando a ficar incomodado com a temperatura que escolheu para a banheira, mas não queria sair dali, não agora, não quando Jimin parecia estar fazendo apenas uma pausa para continuar a falar. O garoto via as gotas caindo de seus dedos, inseria a mão dentro da água de novo e ficava nesse movimento, observando com atenção o que fazia. O silêncio entre eles era tenso, com palavras que queriam ser ditas, mas ainda precisavam ser repensadas algumas vezes antes de serem colocadas para fora. Um longo suspiro mostrou como a mente de Jimin estava perturbada, e sua mão parou no limite da hidromassagem, nem do lado de dentro, nem do de fora.

"Eu quis me afastar de alguns amigos naquela época porque a esquentadinha virou assunto por meses, e é claro que eles não pararam de chamar a menina de tudo quanto foi nome." Jimin afundou sua mão dentro da água e não a removeu, mas olhou para o lado para ver a reação de Yoongi. "Mas não acha que ia ser suspeito? Eu tive que me proteger, e passei tempo demais ouvindo aquelas coisas. Eles falavam que ela devia ter ido para uma casa com outros esquisitos que nem ela, como o X-Men."

"Quem dera se nós tivéssemos alguma coisa para nos dar alguma forma de proteção do mundo." Yoongi disse com um riso debochado, tirando uma mão da água e a passando pelo rosto para esquentar sua pele gelada. "Lamento que você tenha passado por isso. Acho que meus amigos nem sabiam que esse tipo de gente existia, ou se sabiam, deviam achar que era lenda. Só Seokjin que..."

"É." Jimin abriu um pequeno sorriso e se aproximou um pouco mais de Yoongi, tirando um de seus braços da banheira e o apoiando ao longo da borda, por trás dos ombros do homem. "Sabe, eu acho até legal conhecer uma pessoa normal que sabe do meu segredo. A única que eu conhecia assim era minha mãe, e acho que mães não contam."

"Não, pais não contam." Yoongi mordeu a própria língua dentro da boca, pensando em como Jimin havia dito aquela frase e em como ele próprio havia dito. Jimin mencionou apenas sua mãe, enquanto ele mencionou seus pais. A pergunta do Natal voltou à sua mente, mas ele decidiu que não era a hora de fazê-la. O clima pesado estava indo embora aos poucos, e Yoongi não queria retomá-lo por pura curiosidade. "Mas eu te garanto que Seokjin é confiável. Eu sei, eu vi se ele ia me dedurar no futuro antes de contar para ele sobre meu segredo. Ele entende como isso é sério."

"Você tem sorte." Jimin disse com a voz próxima demais, bem mais próxima do que Yoongi se lembrava de estar antes. O mais velho olhou para o lado e viu o garoto a poucos centímetros de seu rosto, encarando abertamente seus lábios, sem um pingo de vergonha. Logo, seu outro braço, que ainda estava dentro d'água, passou pela frente de Yoongi e voltou por trás de seu pescoço, fazendo com que Jimin ficasse de frente para ele enquanto o abraçava. "De ter pessoas assim, sabe? Já te falei isso antes."

"Abaixa, Jimin." Yoongi murmurou e empurrou o garoto para baixo pelos ombros, fazendo-o se sentar em seu colo com ambas as pernas à direita de seu corpo, deixando-o em uma posição de lado. Uma de suas mãos relaxou sobre as coxas do garoto enquanto a outra foi para sua cintura, deixando-os mais confortáveis no abraço que Jimin iniciou. "Nós podemos conversar, mas eu não quero que você fique gripado."

O clima pesado foi embora por completo, dando lugar a risadas baixas e quase-beijos que faziam ambos morderem seus próprios lábios em uma tentativa de se impedirem de avançar e acabar com o espaço irritante que os separava. Yoongi resmungava dizendo que se Jimin continuasse colocando o corpo para fora d'água, acabaria ficando doente e não teria tablete de vitamina para salvá-lo, e o garoto ria, ria porque achava adorável o jeito como o mais velho mostrava que se preocupava com ele. Os dois só se tocaram que já tinham passado tempo demais ali quando os dedos enrugados de Yoongi começaram a incomodar Jimin, que os sentia contra sua coxa. Estava ficando cada vez mais tarde, mais frio, e era bom eles saírem o quanto antes para tentarem evitar o que já era inevitável. Yoongi sabia que ficaria alguns dias afastado do escritório no exato momento em que soltou um espirro, fazendo Jimin reclamar porque ele ainda estava em seu colo, apesar do homem ter espirrado para outro lado.

"Eu nem espirrei em cima de você." Yoongi fungou algumas vezes e tentou empurrar Jimin de seu colo, dando o tempo deles dentro da banheira como encerrado. "Vamos logo, já deu, nós dois precisamos de roupas quentes."

Quando Yoongi estava prestes a se levantar para pegar as toalhas o mais rápido possível, Jimin o forçou a continuar na água, dizendo que era melhor eles fazerem uma coisa antes de saírem. Com uma sobrancelha arqueada e uma careta assustada no rosto, Yoongi viu o garoto tirar a cueca encharcada que usava e jogá-la para o lado, ficando completamente nu dentro da banheira. O homem ia começar a gaguejar alguma coisa sobre atentado ao pudor – que nem fazia sentido porque eles estavam em casa, dentro de uma banheira – quando ouviu a justificativa que a peça só ia atrapalhar na hora de sair. Yoongi parou para pensar por alguns segundos e achou a desculpa viável, tirando a própria cueca e a jogando no mesmo canto onde Jimin jogou a sua.

Yoongi quase engasgou com o ar quando viu Jimin sair da água sem nem se importar com o fato de estar nu, pegando logo duas toalhas para se secar o mais rápido possível enquanto gritava por conta do vento gelado que batia contra sua pele quente. Yoongi piscou os olhos algumas vezes e respirou fundo antes de fazer o mesmo, soltando um grito assustado com o frio que estava do lado de fora, vendo suas mãos que faziam o caminho até as toalhas tremendo tanto que nem parecia real. Jimin desceu os degraus apressado e nem se deu o trabalho de cobrir a bunda enquanto saía correndo em direção ao lado de dentro apartamento, ignorando completamente os pedidos de Yoongi para que ele o esperasse. O mais velho xingou baixo e largou algumas toalhas pelo caminho, sentindo o ar batendo em sua bunda também, imaginando como aquela cena devia estar patética se alguém visse de fora.

Já do lado de dentro, Yoongi fechou a porta de correr e escorregou pelo vidro até se sentar no chão, sem se importar em encostar a pele no chão gelado, mas atento o suficiente para cobrir suas partes íntimas e evitar que Jimin o visse naquele estado. O garoto, no entanto, estava jogado em seu sofá com o peito subindo e descendo rápido, a toalha cobrindo seu rosto ao invés de outras coisas, sem o mínimo de vergonha por estar daquele jeito. Yoongi jogou a própria toalha que o cobria para proteger a privacidade de Jimin, levantando-se e indo em direção ao seu quarto com Holly o acompanhando. Ainda sentia algumas partes de seu corpo molhadas, mas tudo o que queria agora era colocar uma roupa e se aquecer, deixando as outras peças do lado de fora largadas por lá. Poderia lidar com aquilo no dia seguinte, agora tinha outros problemas – como os espirros que continuavam vindo e já estavam começando a incomodá-lo.

Enquanto Yoongi estava na cozinha preparando os tabletes de vitamina C, Jimin apareceu com uma toalha amarrada na cintura e o peito completamente exposto. Não que Yoongi estivesse em uma situação muito diferente, afinal de contas, vestiu apenas mais uma das dezenas de calças de moletom que ele tinha em seu closet, mas nunca tinha visto o garoto daquele jeito. Molhado, com algumas gotas de água escorrendo por seu corpo definido. Yoongi engoliu em seco e olhou para os copos, encarando o tom alaranjado que o líquido ganhava do lado de dentro. Devia estar ficando maluco, o caseiro colocou alguma coisa dentro de sua banheira para ele ficar daquele jeito. Só podia ser.

"Vai querer ajuda para recolher as coisas do lado de fora?" Jimin perguntou passando uma mão no cabelo, sem nem notar como Yoongi estava travado em seu lugar enquanto segurava um dos copos com força, assistindo ao tablete se dissolver aos poucos. "A banheira ainda está ligada, nós vamos precisar voltar lá de qualquer maneira."

"Não, você vai para casa, eu lido com isso." Yoongi tentou relaxar seus músculos e balançou a mão livre, um pedido mudo para que Jimin se esquecesse daquilo. Tomou a vitamina C em um gole e fez careta, colocando o copo em cima da pia de novo com um barulho alto demais. "Pode pegar outra roupa no meu closet, só se esquente e vá para casa dormir, já passa das nove da noite."

Jimin ainda tentou argumentar que queria ajudar, mas Yoongi estava firme em sua resposta, dizendo que não precisava e não queria que o garoto ficasse. Ele não entendeu a urgência do mais velho para ficar sozinho, mas não perguntou e também não levou como uma ofensa. Até porque Yoongi não recuou quando ele se despediu com um beijo na ponta de seu nariz, deixando o homem para trás com seus pensamentos a mil. Yoongi precisava de um tempo apenas para ele, precisava entender como eles tinham chegado àquele nível de intimidade, e precisa entender suas reações a tudo que tinha acontecido. Aos poucos, ele via o desejo carnal se transformando apenas em uma vontade de ter Jimin por perto, vontade de tocá-lo sem malícia alguma, e tudo que conseguia fazer era fechar os olhos com forças em uma tentativa de não ver o que estava bem na sua frente. O Natal o deixou maluco, era a única explicação. Todo aquele carinho estava o deixando surtado, todas as conversas sobre seus poderes estavam o dando uma nova visão sobre a pessoa que Jimin era de verdade, e não sobre o que ele achava que era.

Yoongi estava apavorado com seus próprios sentimentos e ainda foi obrigado a lidar com um resfriado incômodo que durou longos dias, e lhe custou muitos lenços para limpar seu nariz. Jimin parecia não notar como o mais velho estava com o pensamento longe toda vez que ele ia jantar em seu apartamento, ou então preferia ignorar aquilo pelo bem da noite deles, e também para não causar mais uma das inúmeras brigas desnecessárias que eles carregavam em suas costas. A verdade era que Yoongi estava tentando aceitar, ao mesmo tempo em que uma lembrança martelava sua cabeça de forma insistente. Jimin podia ter mudado em seu conceito, podia ter mostrado que era uma pessoa além das provocações e farpas, mas a droga do pen drive ainda existia, e ele já havia dito que ia até o fim com o que quer que começasse. Não dava para ignorar algo daquele tipo. A conversa sobre o medo de ser descoberto pode ter sido só mais uma, só mais um desabafo com a única pessoa que o entendia.

Jimin podia ter medo, podia ter ciência de que Yoongi também tinha medo, mas podia muito bem ignorar aquilo tudo para priorizar suas próprias convicções.

Aqueles pensamentos não saíam da cabeça de Yoongi de jeito nenhum, principalmente quando o garoto o visitava e eles passavam um tempo juntos depois do jantar. Naquele momento, Yoongi estava deitado entre as pernas de Jimin usando o peito dele como travesseiro, sentindo sua cabeça subir e descer com as respirações do mais novo, ou com qualquer movimento que ele fizesse. Seus olhos estavam grudados na tela de sua televisão, mas ele não prestava atenção em nada do que via. As imagens passavam rápido e os atores arrancavam reações de Jimin, mas Yoongi não se movia, quase não piscava, e só notou que o filme tinha acabado quando a tela ficou escura e Jimin o empurrou de cima dele com uma careta no rosto. Yoongi piscou algumas vezes e o encarou de cenho franzido, sem entender por que o garoto parecia tão irritado.

"Hyung, nós estamos há mais de quarenta minutos assistindo a um filme de comédia e você não esboçou uma única reação." Jimin passou os olhos pelo rosto de Yoongi, tentando procurar algum sinal de alguma coisa para saber o que estava acontecendo com o homem. "Se você não estivesse achando engraçado, você teria reclamado do enredo, mas nem isso você fez. O que houve?"

"Não houve nada." Yoongi tentou desconversar e empurrou Jimin para baixo em uma tentativa de fazê-lo voltar à posição de antes, mas o garoto se manteve firme, sentado, encarando-o de cenho franzido e esperando respostas. "Não é nada demais, ok?"

"Admiro sua coragem de tentar mentir logo para mim, mas é melhor ir falando logo o que está te incomodando porque eu não aguento mais fingir que não vejo que você está distante." Jimin segurou o rosto de Yoongi com uma de suas mãos, forçando-o a olhar em seus olhos para que ele não perdesse nem mesmo um piscar de sua reação. "Anda logo."

Tinha tantas coisas se passando pela mente de Yoongi durante aquela semana, mas a única que ele não podia falar sobre era a que envolvia seus sentimentos recém-descobertos. Ele não deu um nome àquilo em sua cabeça porque não sabia se Jimin estava o lendo, preferindo manter o segredo até mesmo no único lugar que, em teoria, ninguém poderia invadir sua privacidade. Yoongi mordeu seu lábio inferior e olhou para uma das pernas do garoto, que estava dobrada para o lado de fora do sofá, enquanto a outra estava esticada atrás dele, cercando-o de um jeito novo, sem malícia como eles geralmente eram. Se o clima já estava ruim e Jimin estava pedindo por respostas, então Yoongi sentia que tinha o mínimo de liberdade para fazer ao menos a pergunta que estava o incomodando desde que eles colocaram os pés no apartamento de Sohye em Busan.

"Jimin," Yoongi chamou seu nome e respirou fundo, vendo a expressão do garoto se contorcer ainda tentando entender o que estava acontecendo. O mais velho engoliu em seco e tentou reunir toda a coragem que tinha para fazer aquela pergunta enquanto olhava nos olhos de Jimin. "Por que seu pai não estava em Busan?"

Na mesma hora, Yoongi sentiu o aperto em seu rosto se soltar e viu o rosto de Jimin ficar sério. Aos poucos, lágrimas começaram a se acumular nos olhos do garoto e ele deixou que seu braço caísse ao seu lado, como se tivesse se cansado de vestir a armadura que o protegia de qualquer coisa que o mundo pudesse jogar nele. Yoongi se arrependeu de fazer a pergunta quando viu Jimin se levantando do sofá e se afastando com passos lentos, mãos indo até seu rosto para limpar as lágrimas que já caíam, tentando manter um pouco da pose que ele sempre tentava ter. Parecia que horas já tinham se passado quando Jimin finalmente se virou para Yoongi com as mãos na cintura, rosto vermelho e olhos ainda brilhantes. Ele encarava o fundo da sala enquanto mordia seu lábio inferior, recompondo-se para começar a falar e tentar não mostrar o quão abalado estava com o assunto.

"Eu sabia que você ia acabar perguntando isso uma hora ou outra, eu só não estava preparado para acontecer agora." Jimin soltou uma risada fraca e secou com seu polegar mais uma lágrima que caiu, respirando fundo e batendo no rosto algumas vezes para se acalmar e conseguir falar sem que sua voz quebrasse. "Acho que eu nunca estaria preparado, na verdade."

"Você não precisa falar sobre." Yoongi se encolheu no sofá e escondeu as mãos debaixo de suas coxas, tentando não fazer uma careta com o rosto ao ver Jimin daquele jeito. Era, muito provavelmente, a primeira vez que o via chorar de verdade. "Desculpa."

"Não tem problema, eu só fui pego desprevenido." Jimin balançou uma mão querendo mostrar o que tinha acabado de dizer, mas Yoongi ainda conseguia ver as lágrimas acumuladas em seus olhos. "Acho justo te contar sobre isso já que você foi lá em casa e conheceu minha mãe."

Jimin estava parado em frente ao sofá, com as mãos na cintura, olhando para o lado com os olhos ainda cheios de lágrimas enquanto pensava. Yoongi queria insistir que ele não precisava falar sobre aquilo se não quisesse ou não se sentisse confortável, mas, conhecendo Jimin, seria capaz do garoto se irritar e achar que Yoongi pensava que ele era fraco. Optou então por esperar até que o silêncio fosse quebrado quando tivesse que ser.

"Eu vou começar a responder sua pergunta com uma outra pergunta." Jimin tentou abrir um sorriso, mas a ação fez apenas com que mais uma lágrima escorresse por sua bochecha. Yoongi já estava mais do que arrependido de ter aberto a boca. "Você se lembra de quando descobriu que conseguia ver o futuro?"

"Lembro." Yoongi assentiu e respirou fundo para buscar a memória em sua mente quando Jimin gesticulou para que ele continuasse a falar, gaguejando um pouco ao iniciar sua frase. "Eu ainda era criança, devia ter uns sete, oito anos. Meus pais acharam que eu tinha a audição muito boa porque eu falava que o telefone ia tocar, ou que o carteiro estava passando, ou saía correndo para a porta quando meu pai estava chegando do trabalho." Yoongi riu com a memória, lembrando-se das expressões confusas nos rostos dos dois quando perceberam que as coisas não eram tão simples quanto eles acharam que eram. "Teve uma vez que ligaram lá para casa para avisar que minha tia tinha se acidentado, e eu vi minha mãe chorando enquanto falava no telefone no futuro. Aí eu corri até ela, abracei as pernas dela e fiquei pedindo para ela não chorar antes mesmo dela saber a notícia." Yoongi fez uma careta. "Meus pais ficavam assustados quando tudo que eu falava acontecia logo depois, e acho que o que definiu tudo foi quando eu falei que o presidente da época ia ganhar a eleição."

"O presidente?"

"Acho que eles pararam de achar que o filho deles estava possuído por um demônio e começaram a cogitar a possibilidade de eu ser 'especial', você sabe." Yoongi gesticulou e mordeu o interior da bochecha, lembrando-se de quando seus pais o confrontaram para saber mais sobre o que se passava em sua cabeça. "Eu falei que via as coisas acontecendo no futuro, eles acharam bem plausível, e acabaram me educando para não abrir o bico. Naquela época só tinha alguns livros de misticismo sobre essas coisas, então..."

"É, eu sei do que você está falando." Jimin assentiu e cruzou os braços, subindo e descendo a mão direita sobre sua pele, como se estivesse se confortando. "Eu ainda tenho alguns desses livros. Eles tratam de relatos de pessoas de outros séculos que eram que nem a gente. É meio fantasioso, mas dá para tirar alguma coisa dali."

"O livro favorito da minha mãe era sobre a garota que fazia as coisas levitar com a mente. Era a história mais próxima da minha." Yoongi comentou com um sorriso no rosto e viu Jimin rir fraco, sentindo seu coração se acalmar na hora ao ver o garoto mais calmo também. Infelizmente, ele teria que acabar com aquilo, porque sabia que mais cedo ou mais tarde, Jimin falaria sobre seu pai. "E você? Como descobriu?"

"Bom," Jimin voltou a ter uma expressão séria no rosto, apertando ainda mais seus braços, tentando se proteger de alguma coisa. Talvez dos próprios pensamentos. "Eu tinha uns sete, oito anos também. Você deve ter reparado que minha mãe é bem nova, ela–" Jimin fez uma pausa e engoliu o próprio choro, soltando a respiração pela boca para continuar a falar. "Meus pais eram bem novos quando me tiveram. Eram daqueles casais que são prometidos um para o outro pela família, mas que não se gostavam de fato. Quer dizer, minha mãe gostava. Meu pai também parecia feliz, pelo que eu me lembro, mas pode ser só coisa da minha cabeça, eu era só uma criança."

"Jimin–"

"Por favor, eu quero te contar." Jimin disse com a voz tremida, e Yoongi, preocupado, apenas concordou e permitiu que ele continuasse a falar. "Eu não me lembro de detalhes, mas eu lembro que por um tempo eu não via muito meu pai? Ele chegava muito tarde em casa, eu já estava dormindo, e quando ele chegava cedo, não tirava um tempo para brincar comigo." Jimin fez uma careta e fungou, preferindo encarar um ponto qualquer da sala ao invés de olhar para Yoongi, que ainda estava sentado no sofá. "Teve uma vez, e dessa eu me lembro como se fosse ontem, que meu pai chegou cedo. Nós jantamos, e ele parecia bem feliz." Jimin abriu um pequeno sorriso que sumiu na hora, apertando seu braço ainda mais. "Na verdade, acho que nunca tinha visto ele sorrir tanto. Então, sei lá, eu só quis saber o motivo de ele estar feliz? Não tinha malícia, era só uma criança curiosa." Deu de ombros e fez uma pausa, umedecendo os lábios com a ponta da língua. "Só que minha curiosidade acabou despertando essa bagunça que eu tenho dentro da minha cabeça, e eu vi meu pai com uma outra moça fazendo coisas bem indevidas, mas que eu não entendia direito o que eram."

A pausa de Jimin foi bem mais longa dessa vez. Sua expressão de dor se transformou em uma de raiva, e as sombras que se formavam em seu rosto o deixavam ainda mais assustador. Yoongi continuava encarando o garoto, um pouco surpreso ao ver como ele estava, mas não dizia nada. Se fosse para ele ouvir aquela história tão íntima e que falava tanto sobre Jimin, que fosse no tempo dele, sem interrupções.

"Aí eu fiz a merda de virar para minha mãe e perguntar quem era aquela moça que o papai estava beijando." Jimin rolou os olhos e prendeu a atenção no teto, tentando não deixar mais lágrimas caírem. Não adiantava nada suas bochechas secarem, porque logo depois se molhavam de novo. "Meu pai parecia que tinha visto um fantasma, minha mãe não entendia nada. Eu fiquei lá, na mesa, olhando entre eles dois, esperando uma resposta. Nesse meio tempo, meu pai ficou se perguntando como eu sabia, como eu tinha descoberto, não tinha como eu saber. Eu respondia tudo com a maior naturalidade, como se ele estivesse falando, e não pensando." Jimin soltou uma risada debochada e se permitiu chorar, sua voz saindo ainda mais fraca em seguida. "Ele pensou, me perguntou se eu conseguia ouvir o que ele estava dizendo, e eu respondi que sim. Aí ele entendeu que eu lia mentes. Minha mãe tentou ficar calma, mas deu para ver que ela queria saber o que estava acontecendo." Uma tosse engasgada saiu da garganta de Jimin, e agora ele beliscava a pele dos próprios dedos, descontando a raiva como podia. "Eles me botaram para dormir na hora. Eu ouvi a gritaria do lado de fora, mas não entendi. No dia seguinte, a casa estava calma, minha mãe me recebeu com um sorriso de manhã e me levou para a escola."

"Jimin..."

"Eu nunca mais vi meu pai." Jimin disse e inspirou profundamente, soltando a respiração de forma tão agressiva que parecia mais uma bufada. "Ele não se deu o trabalho de inventar uma mentira para mim, não se deu o trabalho de dizer nada. Só sumiu, mas eu nem o culpo, sabe?"

"Ei, Jimin–"

"Para que ele ia querer se despedir do filho que nunca quis ter e que ainda por cima estragou a vida dupla perfeita que ele levava?" Jimin cuspiu as palavras, beliscando a pele de seus dedos com um pouco mais de agressividade, ignorando a dor que sentia e ignorando as tentativas de Yoongi de falar. "Eu era um peso na vida dele, eu e minha mãe, eu devo ter feito um favor para ele naquela noite porque ele se livrou da gente com uma desculpa aceitável."

A respiração de Jimin ficava cada vez mais pesada, e ele desistiu de cutucar a pele dos próprios dedos para andar pela sala, indo e voltando, seus pés batendo com força no chão. Dava para ver como o assunto o irritava e o quanto aquilo o abalava mesmo depois de anos. Yoongi não sabia o que dizer. Seus lábios estavam fechados em uma linha fina e ele acompanhava cada movimento de Jimin com um peso irritante em seu peito, assustado com a reação do garoto. Ele estava acostumado a vê-lo irritado, mas nunca daquele jeito. Machucado. Sentindo-se traído. Eram coisas novas que Jimin estava mostrando a Yoongi, e o mais velho não estava sabendo lidar com aquilo.

"É por isso que eu não tinha medo dos outros descobrirem do meu poder, hyung." Jimin se virou para Yoongi pela primeira vez, a expressão ainda fechada, o cenho franzido e as rugas em seu rosto formando sombras assustadoras em sua feição. "Eu tinha vergonha. Quem ia querer conversar comigo quando eu podia saber todos os segredos da pessoa? Quem ia querer conversar com o garoto que destruiu a própria família por causa de uma merda de poder que nunca pediu para ter? Quem ia aturar alguém enxerido, que controla tudo que acontece ao seu redor?" Jimin disse com os lábios tremendo, tentando não chorar. O tom de sua voz aumentava conforme ele ia enumerando suas perguntas, e Yoongi ia se encolhendo no sofá aos poucos. "Ninguém quer me ter por perto, hyung. Ninguém quer alguém insuportável como eu em suas vidas, ninguém quer uma porra de um garoto que só sabe estragar tudo!"

Yoongi o encarava assustado, as próprias lágrimas brotando em seus olhos. Nunca achou que fosse ver Jimin daquele jeito. O garoto estava sentindo a mágoa e a raiva correndo em suas veias, puras, sem nenhum filtro o impedindo de colocá-las para fora.

"Fala alguma coisa!" Jimin gritou, fazendo Yoongi pular de susto no sofá, encarando-o assustado. "Não fica com essa porra dessa cara de paisagem, fala logo, fala que eu sou insuportável mesmo, você já fez isso uma vez, pode fazer de novo!" Jimin cuspiu as palavras com a voz falhando, suas mãos tremendo, e seu rosto completamente molhado pelas lágrimas. "Ou você vai me obrigar a entrar nessa sua cabeça podre para eu ver tudo o que você pensa de mim de verdade, hyung?"

'Jimin, acalme-se', era tudo que Yoongi repetia em sua mente como um mantra, na esperança que o garoto realmente estivesse lendo aquilo. Ele mesmo tentava se acalmar e assumir a postura mais natural possível, mas a verdade era que estava com medo. Medo do que Jimin podia fazer consigo próprio do jeito que estava, medo do que poderia acontecer.

"Para de me pedir para eu me acalmar!" Jimin andou com passos fortes até o sofá, e Yoongi se levantou na hora, tentando segurar as mãos do garoto que foram em sua direção. Aquilo era fora do comum, Jimin estava alterado demais. "Para de tentar camuflar o que você pensa de mim de verdade, eu sei que você me odeia, fala logo!"

"Jimin, acalme-se, por favor." Yoongi tentou usar seu tom de voz mais neutro, mas estava assustado, e por mais que tentasse não deixar transparecer, sabia que estava falhando. "Já passou, acalme-se. Eu já sei sua história, você não precisa falar mais disso. Calma, Jimin."

"Você não tem nada nessa sua cabeça oca, só fica fingindo que quer que eu me acalme, fica fingindo que se preocupa." Jimin dizia com a expressão tremendo, dentes cerrados e mandíbula marcada, os olhos arregalados e as lágrimas escorrendo enquanto Yoongi o encarava, tentando entender o que estava acontecendo. Aquilo não era normal, não podia ser. "Até que você não é burro, consegue mentir para mim dentro da sua própria cabeça, mas eu sei a verdade, eu sei o que você esconde, eu sei que você me odeia!"

Yoongi viu um padrão que ele já conhecia nas ações de Jimin. O estresse, a necessidade de saber mais e mais, o descontrole emocional e a dificuldade em ouvir e absorver o que os outros diziam. Tudo acontecia dentro da cabeça do garoto, a raiva, a vontade de descobrir o que se passava na mente de Yoongi, a sede de ter respostas para suas perguntas. O homem se lembrou de uns meses antes, quando Jimin apareceu em seu escritório e virou sua vida de cabeça para baixo, deixando-o sozinho com uma crise para lidar. Yoongi precisava saber se o seu segredo estaria a salvo nas mãos de seu inimigo, e Jimin precisava saber o que o mais velho pensava dele realmente. As ofensas indicavam que ele não estava normal. Era como se seu cérebro tivesse dado curto-circuito, e estivesse o forçando a ler a mente de Yoongi para saber a verdade.

Yoongi precisava do presente. Hoje é quarta-feira. Já é de noite, está frio lá fora.

E tudo que Jimin precisava era da verdade, dita e lida.

"Jimin," Yoongi segurou o rosto do garoto e grudou sua testa na dele, forçando-o a olhar no fundo de seus olhos enquanto ele ainda tremia por completo, dos pés à cabeça, murmurando ofensas e pedindo a verdade. O mais velho decidiu que não pediria mais para que ele se acalmasse. Só pensaria o que quer que viesse à sua cabeça, e diria tudo, letra por letra. Era uma tentativa de fazer a crise de Jimin passar, e ele esperava que desse certo. "Eu me preocupo com você. Eu me preocupo muito, muito com você, porque eu vejo o Yoongi de dez anos atrás na maneira que você age, e eu sabia o quanto eu sofria." Aos poucos, Jimin parava de tremer, mas as lágrimas ainda embaçavam sua visão. Yoongi não o soltava por nada. "Eu não quero que você sofra. Eu fui um imbecil de ter dito que você era insuportável, você não é, você ainda me irrita, mas você também consegue me acalmar como mais ninguém."

Um soluço escapou da boca do garoto e suas pernas fraquejaram, mas Yoongi estava ali para segurá-lo e mantê-lo de pé, sabendo que aquilo ainda não tinha acabado.

"Você é persistente, você é teimoso, e eu fico feliz de ter você ao meu lado." Yoongi respirou fundo e fechou os olhos por alguns segundos, precisando manter a coragem para continuar contando a verdade daquele jeito, sem gaguejar. "Você deixou minhas noites mais agradáveis, você e Holly– Meu Deus, como eu agradeço por você ter me levado para conhecer o Holly." Yoongi riu e viu Jimin o encarar confuso, mas esboçar um sorriso fraco mesmo assim. "Eu tenho muita vontade de te beijar, e eu quero descobrir por que a gente não pode, porque eu quero consertar isso para poder te beijar até não aguentar mais." Yoongi desviou a atenção para os lábios do garoto e depois voltou para seus olhos, agora muito menos embaçados, muito menos confusos. "Park Jimin, você é importante para mim de um jeito que eu nunca imaginei que seria. Eu te quero na minha vida exatamente do jeito que você é. Sem mudar uma vírgula, sem mudar nada. Eu não te odeio, nunca."

Jimin olhou para baixo e começou a tossir, tentando se esquivar do toque de Yoongi, mas o homem não deixou. Não queria que o garoto ficasse sem apoio logo em um momento como aquele, não quando ele parecia tão fragilizado e confuso depois de ter falado sobre seu pai. Quando Jimin tornou a olhar para o mais velho, seus olhos pareciam ter voltado ao normal, apesar de ainda estarem úmidos com as lágrimas que não tinham parado de cair. Era como se ele tivesse se tornado outra pessoa durante sua crise, como se aquele não fosse o Jimin de sempre. Yoongi levou uma das mãos que segurava o rosto dele para sua cintura, em uma tentativa de mantê-lo de pé. As pernas de Jimin perdiam forças aos poucos, assim como seu corpo já não tremia mais, e sua expressão estava muito mais neutra. Yoongi já não sentia mais um aperto no peito porque conseguia ver que o garoto já estava mais calmo, bem mais calmo, e o cansaço já tomava conta dele.

"Ei, Jimin." Yoongi murmurou e secou algumas das lágrimas dele com seu polegar, precisando segurar o garoto pela cintura com um pouco mais de força quando sentiu que ele ia cair. "Me ajuda a te levar para o meu quarto. Você precisa descansar."

"Eu não consigo." Jimin disse com as palavras arrastadas, sendo quase impossível de entendê-lo. Yoongi fez um esforço para tentar colocá-lo para cima, murmurando um palavrão quando quase o deixou cair. "Hyung, eu não consigo."

"Tudo bem, não se preocupe." Yoongi murmurou e soltou a mão do rosto de Jimin, colocando seu braço por baixo das nádegas dele, tentando puxá-lo para cima como quando pegava Minseo no colo. Seus joelhos estalaram de forma suspeita, mas pelo menos agora ele conseguiria levar o garoto sem muita dificuldade. "Você está mais calmo?"

Jimin não respondeu com palavras, tudo que saiu de sua boca foi um grunhido que Yoongi entendeu como uma resposta positiva. A cabeça do garoto estava apoiada em seu ombro e suas pernas estavam rodeando sua cintura, seus braços caídos ao lado do corpo do homem, sem forças para fazer nada. Carregar Minseo era fácil, mas carregar um adulto com o triplo do peso da garota estava sendo uma tarefa mais difícil do que ele esperava. Jimin soltava uns sons que pareciam com risadas enquanto Yoongi resmungava sobre aquilo, uma tentativa de deixar o clima da noite mais leve, ou de tentar afastar o peso que tinha ficado com a confissão sobre o pai do garoto.

Yoongi tomou cuidado ao deitar Jimin em sua cama, puxando o edredom para cobri-lo da maneira mais delicada que conseguiu. O garoto estava andando sobre uma corda bamba entre a inconsciência e a consciência, seus olhos piscando tão devagar que era quase como se já estivesse dormindo, mas estivesse lutando contra o cansaço. Quando Yoongi decidiu que ele já aparentava estar bem aconchegado, saiu de sua cama e se espreguiçou, ouvindo uma porção de ossos de suas costas estalando. Assim que se virou para trás para voltar para a sala para arrumar tudo e, então, ir dormir no sofá, ouviu a voz fraca e rouca de Jimin o chamando. Um simples 'hyung' que fez seus pelos se arrepiarem e seu coração ir para em seus pés.

"Fica aqui comigo."

Jimin estava beirando a inconsciência. Yoongi podia se deitar, esperar ele dormir, e então faria o que tinha para fazer para, enfim, dormir em seu sofá. Mas ele não tinha coragem, não depois do que tinha acabado de acontecer. Com um suspiro saindo de sua boca, Yoongi afastou as cobertas e puxou um travesseiro para perto de onde Jimin estava deitado, trazendo-o para perto e sentindo a respiração do garoto batendo contra seu pescoço, finalmente pegando no sono.

"Hyung está aqui com você."

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