Eu deveria ter ficado em casa.
Era óbvio que eu gostava bastante de festas e bebida de graça. Mas essa festa estava para lá de meia boca.
A cerveja que eu tinha em minha mão já havia esquentado enquanto eu olhava o celular pela oitava vez desde que cheguei aqui.
Meus amigos estavam na mesa de beer pong enquanto eu me mantinha jogado no sofá. As pessoas dançavam e bebiam na sala que se tornou uma pista de dança improvisada.
Eu estava prestes a me levantar para me livrar daquela cerveja horrível quando a porta da sala foi aberta e então a razão de toda minha angústia, desde que cheguei aqui, apareceu ali. Com uma blusa rosa de alcinhas, um jeans bem colado ao seu corpo e sua jaqueta, preta, de couro, Maeve Walsh surgiu no meu campo de visão. Ela tem um rosto angelical. As pequenas sardas em seu nariz a davam um ar de inocência, mas acredite em mim, ela não era tão inocente quanto aparentava.
A garota dos cabelos castanhos passou por entre as pessoas acompanhada de Charlise, sua amiga chiclete. Elas sempre estavam juntas, e quando eu digo sempre, é sempre mesmo. Maeve e Charlise moravam juntas desde o primeiro ano da faculdade, que planejaram entrar juntas, para cursar a mesma coisa: Jornalismo e Produção Editorial.
Eu sei de muita coisa sobre Maeve, mas não somos amigos. No máximo conhecidos.
Eu pretendia mudar isso.
Depois que as duas sumiram pela cozinha eu coloquei a garrafa que estava em minha mão no chão e caminhei a passos calmos até a cozinha para pegar uma cerveja gelada, a garota de cabelos castanhos estava pegando sua bebida na geladeira o que me fez parar para observá-la.
Seus olhos castanhos esverdeados encontraram os meus por um instante antes da mesma me oferecer um sorriso mínimo.
— Quer algo? - seus olhos grandes me observavam por inteiro, então fiz o mesmo.
Os seios desprovidos de sutiã pareciam me chamar e eu senti meu corpo esquentar, mas antes de eu pudesse mudar meu foco, a garota foi mais rápida:
— Meus olhos estão aqui - apontou para os mesmos e eu acabei por torcer a boca em um sorriso
— Cerveja - respondi sua pergunta anterior.
A garota voltou seus olhos para dentro da geladeira e retirou duas garrafas de cerveja de lá. Mas antes que eu as pegasse, Maeve apoiou as tampas na lateral da ilha e puxou-as para baixo, fazendo com que as tampas de metal girassem pelo balcão.
Ela ofereceu uma das garrafas para mim e eu a aceitei, com um elevar da mão com a garrafa, Mae fez um gesto com a cabeça em sinal de brinde e virou um gole do líquido amarelo.
Eu observei-a ingerir a cerveja e a vi engolir o líquido antes de me dar as costas e sair em direção ao jardim.
Confesso que a imaginação pode ser traiçoeira, em alguns momentos, por isso, optei por ingerir o líquido da garrafa em minha mão para afastar pensamentos incabíveis da minha mente.
Ouvi meu nome ser gritado por alguém na mesa de beer pong no jardim e eu caminhei até lá. Robert tinha um copo vermelho em mãos e estava apoiado a mesa.
— Ei, cara. Vamos jogar? - ofereceu-me a bolinha fofa, o sorriso em seus lábios era tão sacana quanto ele.
— Vamos lá, Ethan - Charlise estava do outro lado da mesa com seus cabelos cheios e um decote volumoso.
Eu olhei para a morena ao seu lado que não dava nenhuma atenção a mesa.
— Maevinha - Robert chamou-a e eu a vi revirar os olhos
— Para você, Maeve - ela notável o quanto ela não suportava meu amigo, às vezes, nem eu.
— Vamos jogar? Você e sua amiga, contra eu e Ethan - o sorriso sacana do meu amigo era direcionado a Mae.
Os olhos da garota correram até mim e me analisaram.
— E o que eu ganho com isso? - suas palavras foram direcionadas a mim. Eu mordi o canto da boca antes de respondê-la
— O que você quer? - apoiei a mão na mesa ainda a olhando, um sorriso travesso surgiu em seus lábios
— Seu carro
— Como é? - a encarei
— Seu carro - seus olhos estavam em mim quando ela se aproximou - Acho que eu ficaria bem desfilando com sua Porche, não acha? - Ah, eu achava
— E o que eu ganho? - abaixei a cabeça para que meu rosto ficasse próximo ao seu
— Podemos ver isso depois - seu olhar ainda era desafiador
— Certo. - levantei meu rosto e olhei meu amigo - Podemos?
— Agora - meu amigo falou animado enquanto Danielle enchia os copos com cerveja.
Maeve foi a primeira a jogar acertando a bolinha bem no meio do copo. Eu a observei rir ao me ver retirar a bolinha do copo e virar o líquido de uma vez só.
Foi minha vez de jogar à bola no copo, e quando o acertei em cheio, vi o sorriso da garota se alargar.
Algumas rodadas depois, Charlise e Mae estavam ganhando por um copo. Robert já estava bem bêbado então acabou errando o copo, o que fez o sorriso de Mae cada vez maior, e eu lhe agradeceria por isso, já que seu sorriso é tão lindo quanto o pôr do sol. Mas com isso, eu perderia meu carro.
Acho que devo combinar isso direito.
Porém, na minha última jogada, a bola quicou em um copo, fazendo com que o jogo empatasse. O próximo a acertar, ganhava.
Eu fui o primeiro e acertei o último copo cheio a frente das garotas, Mae manteve seus olhos nos meus quando virou o liquido de uma vez só em sua boca. A garota pegou a bolinha e arremessou na direção do copo a minha frente, entretanto, a bola passou por cima do copo caindo no chão.
O sorriso da garota já bêbada sumiu e ela me encarou. Pisquei para ela com um pequeno sorriso nos lábios.
— Certo, vocês venceram. O que quer? - cruzou os braços e acabou cambaleando um pouco ao se afastar da mesa
— Primeiro, eu vou te levar pra casa. Terei tempo para decidir isso - avisei me aproximando
— Tá bom, papai - revirou os olhos
— Charlise - chamei-a
— Esquece, eu não vou embora agora. - falou de costas para mim
— A chave?
— Em baixo do vaso - olhou-me rapidamente
— Vamos - peguei a mão da garota alcoolizada e a conduzi até o meu carro.
O apartamento onde Mae morava era próximo a faculdade. Muitos universitários residem por lá. Fiz algumas visitas até o quarto de algumas moradoras de lá.
Segui pelas ruas em baixa velocidade, considerando que o nível de álcool no meu corpo é um pouco elevado, eu não sou a melhor pessoa para conduzir um carro, mas estou o fazendo.
Ao estacionar o carro, notei que a garota sentada no banco do passageiro estava dormindo. A respiração calma e ritmada, a feição serena e limpa de qualquer expressão irônica a deixavam ainda mais bonita.
Ela estava tão linda.
Mal me importava com a maquiagem borrada e a baba que escorria pelo seu rosto. Aproximei minha mão para afastar um pouco dos cabelos que estavam em seu rosto e a ouvi resmungar com meu toque.
Eu precisava acorda-la, o porteiro não liberaria a minha entrada com ela desacordada, então levemente toquei seus lábios com a ponta do meu dedo, Mae fez uma careta adorável e apertou os olhos.
— Mãe, me deixa - resmungou
— Não é a mamãe - falei em um tom baixo e com isso ela deu um pulo no banco
— Cacete, Ethan, que merda é essa?
— Estamos na porta do seu prédio, você precisa passar pelo porteiro - disse calmamente enquanto ela apertava os olhos
— Deus, tá certo, vamos. Eu preciso da minha cama - reclamou abrindo a porta do carro, porém, eu a puxei de volta. - Como quer que eu passe pelo porteiro se não me deixar sair do carro? - reclamou
— Eu faço isso - referi-me a porta.
Sai do carro, sei a volta no mesmo e abri a porta para ela.
— Quanto cavalhei... - antes de concluir sua ironia, seu corpo fraquejou e eu a segurei
— O que ia dizendo? - debochei e a ajudei a caminhar até a portaria.
O homem com um bigode enorme sobre a boca apareceu na porta lateral da cabine e imaginei que fosse o porteiro.
— Algum problema, senhorita Maeve? - me olhou de relance
— Não - fez um pequeno bico
— Ela bebeu um pouco a mais - expliquei e fazendo o velho me encarar
— Em quanto tempo quer que eu interfone para que o rapaz desça? - voltou seus olhos a garota apoiada em meu corpo
— Não precisa se preocupar - atrapalhou-se ao falar
— Certo. - o velho destravou o portão - Estarei de olho em vocês - avisou e eu lhe ofereci um sorriso forçado.
Caminhamos pelo saguão do prédio, parando em frente aos elevadores.
— Em qual andar você mora? - perguntei a garota sonolenta
— Oitavo - ela cambaleou para dentro do elevador e eu a segui, segurando-a contra meu peito não recebendo nenhuma recusa de sua parte - 8A - avisou assim que as portas do elevador se abriram.
Eu caminhei para fora ainda abraçado na garota, peguei a chave em baixo o vaso e destranquei a porta.
O apartamento mal iluminado parecia arrumado. Ameacei ascender as luzes, mas Mae me barrou, caminhando até o quarto da direita, enquanto segurava minha mão.
Tentei ignorar o pequeno choque que meu corpo sofreu pelo contato. A luz do quarto também não foi acesa, a garota apenas desfez-se dos sapatos e se jogou na cama.
Eu a observei tirar sua jaqueta e se acomodar na cama de casal e ainda sonolenta, ela abriu seus olhos em minha direção e perguntou:
— Vai ficar em pé aí?
— Vou esperar até que Charlise chegue
— Vai ficar em pé?
— Vou ficar na sala
— Pode se deitar aqui, tem espaço - sugeriu e eu tinha certeza que essa sugestão só existia pelo nível de álcool que havia em seu sangue
— Estou bem
— Eu não vou pedir duas vezes - seu tom era um tanto autoritário e eu acabei por me sentar na cama - Tire os tênis. - pediu - Você não tem chulé, tem?
— Um pouco - ri
— Abra a janela então, não quero morrer - eu neguei com a cabeça e fiz o que ela pediu - Agora pode deitar - ela disse se livrando do travesseiro que abraçava e o substituindo pelo meu corpo.
Eu poderia me acostumar facilmente com isso, mas preferi deixar a ilusão para trás quando o sono me tomou.