Drop of water

By Gessikk

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No dia em que perdeu a noiva, Mitch Rapp mudou. Se afundou no desejo de vingança e toda a sua vida pessoal pa... More

Lost it all
Breezeblocks
Mr. Sandman
Bad intentions
Breathe
Start a war
Born ready
Shape of you
Fetish
Glow
Basic Instinct
Too Serious
Two
Twisted
Bloodsport
Can't Look Away
River
Play with fire
Glass Heart
Hold On
Movement
Skin
Drifting
Pray for me
Even if it hurts
Sweet Creature
Higher Love
Pull Up
Apartment
Mount Everest
Bury me face down
Flames
Dance Again
Continuum
Start a Riot
Into the Darkness
Way Down We Go
Champion
DOOM
All The Things Lost

Stomp me out

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By Gessikk

Oi, leitores! Estão aproveitando o final de semana? Espero que sim! Vim trazer atualização para vocês e a música do título é do Bryce Fox, eu acho que a letra combina muito com boa parte desse capítulo. Estou super animada com os comentários que tenho recebido e nem sei como agradecer!Amei escrever esse capítulo (que como sempre a Érika me ajudou muito) e eu espero que vocês aproveitem.Boa leitura!

**

Os olhos de Scott foram atraídos em direção a porta de madeira que foi aberta. Soltou um suspiro pesado e com os braços cruzados em frente ao peito, analisou melancólico a mulher cambalear com insegurança para fora do banheiro, usando uma blusa azul que ele emprestou e uma calça de moletom de Lydia. As peças estavam desajustadas no corpo esguio, a camisa era larga demais e a calça muito curta para as pernas longas.

— Quer ajuda com os curativos? — aflito, Scott não conseguiu se manter calado, ansioso para auxiliar de alguma forma. A mulher negou com a cabeça, encarando os pés descalços. — Lydia e Amber saíram para comprar algumas coisas para você e o Mitch foi buscar a Irene no ponto de encontro — explicou com as mãos suando de nervosismo, suprindo parte da necessidade de falar.

A mulher não reagiu a nova informação, indo devagar até a cama, onde sentou com cuidado, a expressão denunciando dor e insegurança. Mesmo com o esgotamento explícito, ela mantinha a postura defensiva, pronta para atacar a qualquer segundo. Os olhos atentos, os músculos tensionados. Depois de revelar que tinha algum inimigo infiltrado na CIA, ela se limitou a poucas palavras, sem responder a todas perguntas que foram feitas apesar de ter enxergado sinceridade nos agentes que a resgataram.

Inquieto, Scott trocou o peso do corpo de uma perna para a outra e buscou apoio em uma parede, esperançoso de que isso o ajudasse a permanecer parado. Não tinha ideia de como a mulher estava suportando tudo em silêncio e sem liberar o choro, tendo flagrado algumas vezes os olhos castanhos brilhando com lágrimas reprimidas. Quando ele e Amber convenceram a agente a ir até a van, encontraram Mitch e Lydia, e juntos, decidiram não informar o resultado da missão para a CIA. Se livraram dos comunicadores, Amber despistou a agência com o auxílio do notebook e foram até um motel distante e pouco movimentado, onde alugaram um quarto. Lá, Lydia deu a ideia de chamar a Irene, desde que a vice-diretora prometesse vir sozinha e logo todos os agentes entraram em acordo.

A mulher que foi resgatada só pediu roupas e uma caixa de primeiros socorros, depois se trancou no banheiro para cuidar das feridas. Enquanto costurava dois machucados na barriga, evitou se olhar no espelho, com medo do que teria que encarar, no entanto, os olhos escuros a desobedeceram e por fim, ela se deparou com sua imagem disforme. Exceto pela cor da íris, não conseguiu reconhecer nada em si mesma, seu rosto havia se tornado algo quase inumano, era uma massa inchada e roxa. Não conseguiu encontrar no próprio reflexo nenhum resquício de beleza ou familiaridade. A dor de enfrentar aquela aparência foi muito pior do que a tortura que suportou por semanas, mas ainda assim, ela encontrou coragem para, com uma tesoura, tentar acertar o cabelo raspado grosseiramente, cortando os tufos espalhados de forma irregular na cabeça.

Durante o banho demorado de água morna, algumas lágrimas despencaram nas bochechas, mas a mulher não se entregou ao choro compulsivo que tentava dominá-la. Continuou firme, certa de que não poderia fraquejar na frente de desconhecidos. Vestiu as roupas emprestadas e assim que saiu do banheiro, foi refém do olhar do Scott que parecia incapaz de ficar quieto.

— A gente vai descobrir quem foi que revelou a sua identidade, — o McCall se xingou mentalmente, mas não conteve o impulso de voltar a falar — o filho da puta vai pagar e você vai ficar bem.

A mulher virou a cabeça para Scott, o atingindo com um olhar triste e sem esperança. Ele engoliu em seco e tentou fazer uma expressão segura, querendo trazer confiança, esforço que ela percebeu sem dificuldades. Com um suspiro contido, ela ajeitou as pernas em cima do colchão barato, a coluna ereta apoiando contra a cabeceira da cama. Dominada pela exaustão, a postura defensiva cedeu aos poucos e as pálpebras cobriram os olhos escuros por apenas alguns segundos. Lutou contra o sono se remexendo no lugar, grata pelo remédio que tomou que diminuía as dores no corpo.

— Você quer dormir, não é? Claro que sim, deve estar exausta! — Scott voltou a falar, hiperativo diante a situação desconfortável — Eu posso alugar outro...

O homem se calou quando a mulher negou com a cabeça, sem forças para expor em palavras que precisava participar da conversa com a Irene. O McCall espremeu os lábios um no outro e decidiu esquecer o assunto de imediato, pois jamais contestaria qualquer decisão daquela mulher tão ferida. Seu corpo queimava de raiva e angustia, desesperado para ajudar e se vingar do sofrimento que ela tinha passado.

— Eu vou só... vou ficar calado e deixar você em paz — a voz grave soltou a frase vacilante e Scott se desencostou da parede, considerando a ideia de sair do quarto ao perceber que não conseguia ficar em silêncio. Antes que chegasse até a porta, a mulher falou baixinho:

— Malia.

— O quê? — Surpreso com a palavra dita sem contexto, Scott parou no lugar ao perguntar.

— Meu nome é Malia.

Scott pronunciou um breve som de compreensão e se satisfez com a revelação do nome, sorrindo com discrição, no entanto, não pode pensar em nenhuma resposta porque a porta do quarto foi aberta. Mitch entrou, sendo seguido por Irene. Rapp vasculhou o lugar com o olhar e apesar da expressão séria de costume, havia algo diferente nos olhos avelãs. Antes que qualquer um pudesse falar, ele se apressou em perguntar para o McCall:

— Lydia ainda não voltou? — O zelo mal escondido na voz e na postura fizeram com que Scott prestasse mais atenção em Mitch, analisando por alguns segundos antes de responder, a testa franzida.

— Ela mandou mensagem avisando que já está vindo — assim que falou, Scott observou a postura de Rapp relaxar.

Os homens começaram a explicar em uma versão reduzida sobre os ocorridos na missão. Irene e Malia ouviram com atenção, sem intervir. Quando Scott finalmente falou sobre a informação de ter um infiltrado na CIA, a vice-diretora focou na agente resgatada, o questionamento cobrindo o rosto. Bastava olhar para Malia por alguns instantes para ter certeza de que ela não tinha forças para explicações longas, parecia prestes a desmaiar a qualquer momento, no entanto, Irene perguntou:

— É uma acusação muito séria, você tem certeza disso?

— Absoluta — ao responder, Malia encolheu os ombros e uma única lágrima se desprendeu dos olhos, desabando sobre a maçã do rosto. Irene afirmou com a cabeça, pensativa, confiando na fala breve.

— A alternativa mais segura é mentir sobre a missão. Se há alguém infiltrado, ele precisa acreditar que o plano deu errado e que ela morreu sem ter chances de revelar sobre quem a denunciou para a gangue. — Irene se pronunciou com a testa enrugada de preocupação, a voz séria. Malia engoliu em seco, porém, não se opôs.

— Como a gente vai arrumar um corpo ou...

— Vou cuidar de todos os detalhes. Vocês precisam se preocupar em criar uma história convincente com a Amber e a Lydia para colocar no relatório e não podem falar sobre isso com mais ninguém. — A líder interrompeu Scott, convicta. — Precisamos ser cautelosos, não sabemos em quem confiar.

— Onde eu vou ficar? — Malia perguntou receosa, a voz baixa.

— Não se preocupe, querida. Tenho meus contatos e vou conseguir colocá-la em um hotel seguro com uma identidade nova para se esconder enquanto for necessário — a doçura incomum de Irene fez Malia se retesar no lugar — e vou trazer um médico para se certificar de que está bem.

**

Duas semanas depois...

Os dedos de Lydia batucavam no balcão de madeira, a expressão tomada por dúvida ao analisar as garrafas de bebida expostas nas prateleiras de vidro a poucos metrôs a sua frente. Com um suspiro cansado, se rendeu a indecisão e virou o corpo em direção ao barman, abrindo um sorriso gentil e pedinte. O rapaz atendeu de imediato ao chamado silencioso, indo até ela após passar a mão pelos cachos dourados que pendiam sobre a testa lhe conferindo um ar angelical.

— Como posso ajudar?

— Qual bebida você indica para alguém que precisa esquecer os problemas? — com a voz melodiosa, Lydia pronunciou a pergunta, inclinando o corpo para frente, os cotovelos apoiados no balcão.

— Depende de qual tipo de problema. É algum amor não correspondido? — dando total atenção a cliente, o loiro fez uma expressão pensativa, os olhos escuros curiosos. A mulher sorriu, feliz com a distração para o estresse que pesava em seus ombros.

— Olhe bem para mim... — fazendo uma pausa dramática, Lydia se distanciou um pouco do balcão e gesticulou para o próprio corpo, os dedos roçando no vestido. — Você acha mesmo que tenho dificuldade para conseguir alguém que eu quero?

O barman riu alto e negou com a cabeça. O sorriso de Lydia aumentou e ela voltou a se apoiar no balcão, relaxando ao focar na situação que se desdobrava no presente, conseguindo parar de pensar por alguns instantes na missão que tinha acontecido duas semanas atrás.

— Tudo bem, então qual é o problema? — ainda risonho, o profissional voltou a perguntar, a voz tranquila.

— Trabalho — a Martin confessou com um balançar de ombros, o rosto denunciando sentimentos que ela desejava reprimir.

O barman de cachos loiros se calou, analisando a mulher a sua frente. Contrariando as expectativas ruins que Lydia sempre tinha em relação a homens desconhecidos em qualquer bar, os olhos escuros tão atentos não continham nenhum tipo de malicia.

— Meu conselho é que você pegue um drink bem doce e fique reclamando que tem pouco álcool, — a frase dita em meio a um novo sorriso surpreendeu a ruiva, que ergueu uma sobrancelha em forma de interrogação — enquanto estiver bebendo liga para o cara que você gosta, convide para vir aqui e converse sobre os problemas no trabalho.

— Você é um péssimo barman, sabia? Entrei aqui disposta a encher a cara e essa é a sua sugestão? — intrigada e com a voz naturalmente divertida, Lydia provocou o rapaz.

— Por favor, só não conte para meu chefe que eu incentivo os clientes a não ficarem bêbados — o homem sussurrou com um sorriso brincalhão, se aproximando da ruiva para que ela ouvisse apesar dos ruídos em volta deles.

— O seu segredo está seguro comigo — ela prometeu colocando o dedo indicador sobre os lábios grossos como quem pede silêncio — e traz para mim o drink mais sem graça desse lugar.

O homem riu, murmurou uma breve afirmação e se afastou ainda sorridente, virando para as garrafas de bebida. Lydia desfocou a atenção, pegando o celular esquecido em seu colo. Encarou a tela escura do aparelho e ponderou em silêncio a possibilidade de seguir à risca o conselho do barman e ligar para Mitch. Se perguntou se ele aceitaria o convite de ir até o bar e quis imaginar que sim, que ele acabaria cedendo.

Em meio ao turbilhão de pensamentos e preocupações, a gradual evolução do relacionamento com o Rapp era um surpreendente alívio para a Martin. Ela notava o jeito que ele a olhava, como sorria mais e tentava manter uma conversa descontraída quando estavam juntos. O jeito que ele se preocupou com ela na missão ao ponto de limpar o sangue de seu corpo e a maneira como parecia natural buscar conforto unindo as mãos... Lydia se sentia sem fôlego só de pensar. A atração que sentia por ele desde a primeira vez que o viu começava a arrebatar sua mente e emoções.

Desbloqueou o celular e procurou o contato de Mitch, encarando o número que se exibiu na tela. Suspirou, hesitante ao raciocinar se era uma boa ideia transformar a noite que reservou para sair sozinha em uma espécie de encontro com o parceiro de trabalho. Nas últimas vezes que o viu, as horas foram regadas de tensão por causa da urgência em se discutir o que fazer em relação a agência e a mulher que resgataram, Malia. Então, no decorrer daquelas semanas, não tiveram nenhuma oportunidade de compartilharem um momento descompromissado. A última chance que tiveram de ficar juntos sem preocupação resultou na quase transa na sala de arquivos da agência.

O barman voltou a se colocar em frente a Lydia, colocando sobre o balcão uma taça cheia de um drink vermelho. Ela sorriu distraída e agradeceu, a cabeça já distante ao se permitir reviver em pensamentos a sensação de ter as mãos grandes e calejadas de Mitch sobre seu corpo, apertando, apalpando, puxando. Fechou os olhos e agarrou a taça, os músculos das pernas se contraindo ao sentir o corpo esquentar ao rememorar a visão erótica de ver o homem com a coluna inclinada para frente, os lábios finos beijando e sugando seus seios, a barba rala espetando a pele sensível, deixando tudo mais prazeroso.

Arfou e voltou a abrir os olhos, atordoada com a intensidade das lembranças e virou a taça de encontro a boca, ingerindo o líquido doce regado a morangos. A ausência do sabor alcoólico foi inesperadamente boa, o que a que fez terminar o drink em poucos goles, apreciando o gosto que fixou na língua. Agarrou o celular, segura na decisão de ligar para Mitch e de pedir para o barman outro drink igual a aquele. Enquanto fantasiava a ideia de provocar o Rapp até finalmente arrastá-lo para cama, Lydia foi impedida de ligar para o agente ao ser surpreendida por uma voz grave e límpida que surgiu de alguém que sentava ao seu lado.

— O que uma mulher tão bonita está fazendo sozinha em uma sexta à noite? — ao pronunciar as palavras bem-humoradas e paqueradoras, o dono do timbre familiar se ajeitou na cadeira próxima da agente e virou o corpo para ela, um braço apoiado no balcão, a postura relaxada. — Espero que não se importe se eu fizer companhia, Lydia.

A surpresa invadiu o rosto feminino em um rápido lampejo, tomando toda a expressão ao reconhecer o azul cristalino dos olhos da pessoa a sua frente. Reprimiu um arfar assustado e a tensão se manifestou ao apertar a mão esquerda o balcão de madeira, tentando despejar de forma contida a adrenalina que foi descarregada no corpo. O homem inclinou a cabeça para o lado, acompanhando o movimento dos dedos femininos e abriu um sorriso tranquilo, os dentes pálidos brilhando em contraste a barba cerrada e a pele dourada, como se tivesse acabado de se bronzear.

— Naquela festa eu não tive oportunidade de me apresentar, mas acho que seu amigo deve ter falado de mim, — com calma, ele voltou a falar e estendeu uma mão para frente em forma de cumprimento, o sorriso ainda brincando na boca bonita — pode me chamar de James.

Lydia encarou a mão grande que se oferecia para um aperto e se limitou a trincar o maxilar, o rosto doce se moldando em desagrado. Como ele sabia o seu nome? O que estava fazendo ali? As perguntas se formaram e embolaram em seus pensamentos, mas a mulher se apressou em se recompor, limpando a expressão e relaxando os músculos. Não estava disposta a demonstrar qualquer sinal de fraqueza para o homem que matou os jovens inocentes que trabalhavam no hotel luxuoso durante a missão fracassada com Mitch.

James suspirou de um jeito exagerado, quase teatral e recolheu o braço que se estendia, apoiando mais uma vez sobre o balcão. Virou o corpo na direção oposta de Lydia, despreocupado, e acenou para o mesmo barman que tinha a atendido minutos antes. O funcionário se aproximou e James sorriu mais uma vez.

— Eu quero uma dose de uísque sem gelo, por favor. Você vai querer alguma coisa, Lydia? Talvez outro drink? — Solícito, lançou um breve olhar para a ruiva, buscando por resposta.

— Não, obrigada — ela forçou a voz para fora da garganta e de alguma forma conseguiu soar tranquila.

O barman foi fazer o pedido e Lydia se viu incapaz de abrir a boca. Observou em silêncio o homem ao seu lado, desejando gravar cada detalhe que pudesse dar alguma pista sobre quem ele era. Passou os olhos pela silhueta de postura perfeita, observando a roupa casual e focando na pequena tatuagem no pescoço, meio escondida pela gola da blusa cinza. Assim que o uísque foi entregue, James voltou a virar para ela, a íris clara se fixando no rosto feminino com interesse e lentidão.

Se as lembranças da missão desastrosa com Mitch não estivessem tão vívidas em suas memórias, nunca suspeitaria de James. Aquele homem bonito, jovem e dono olhos azuis brilhantes, parecia incapaz de machucar qualquer pessoa. Havia algo em sua expressão que denotava uma mistura de malícia, superioridade e ao mesmo tempo, falsa inocência. Ele transbordava calma e segurança, não existia nenhuma hesitação, nenhum medo. Lydia quis ser capaz de ler os seus pensamentos.

— Lamento muito a forma como a gente se conheceu, Lydia, — ao falar, James demorou ao pronunciar o nome da agente, se deleitando na satisfação de pronunciar em voz alta — a minha noite seria muito mais prazerosa se tivesse conhecido você aqui, hoje. — As palavras sugestivas foram seguidas de um olhar descarado pelo contorno do corpo da mulher, os olhos claros escorregando por cada curva coberta antes de voltar ao rosto.

— Você não faz o meu tipo, — apesar da irritação e a ansiedade, Lydia respondeu com um desdém calculado, passando os olhos pelo corpo masculino da mesma forma que foi observada por ele — eu precisaria beber muito para você ter alguma chance.

A fala da Martin provocou uma risada de James. Ele balançou a cabeça, lambeu a boca e ergueu uma sobrancelha, a postura provocativa, entretido com a situação. A mulher manteve a coluna ereta, os olhos sérios e atentos. Estava disposta a estender o diálogo por tempo o suficiente para conseguir alguma pista, qualquer detalhe que revelasse algo pessoal sobre James.

— Nunca deixo uma mulher bêbada, Lydia, isso tira toda a graça, — com a voz rouca e lenta, James sorriu entre as palavras, o olhar preguiçoso — mas garanto que depois de conversar comigo por poucas horas você me arrastaria desse bar para foder.

— Não está sendo muito soberbo?

— De maneira nenhuma, agente Martin. Apenas tenho consciência de que sou bom no que faço — fez uma pausa na fala para lamber os lábios — e claro, esse meu rostinho bonito também ajuda. — Riu da própria piada, feliz em provocar e continuou: — Eu vim aqui para termos uma conversa séria, mas se estiver afim podemos esquecer que trabalhamos em lados opostos e aproveitarmos um pouco, o que você acha? Tenho certeza que ninguém vai se importar se ocuparmos o banheiro por uma hora.

Apesar do deboche na voz, a proposta era real e Lydia percebeu de imediato, o que a fez espremer a boca grossa e fechar as mãos. Sentiu a raiva se formar no estômago e subir até a cabeça, aquecendo o rosto, enchendo a pele clara de rubor. Estreitou os olhos e inclinou o tronco para frente, bem ciente da bolsa em seu colo em que tinha uma arma.

— Acho melhor dizer logo o que você quer.

— Pensei que soubesse se divertir, Lydia, mas pelo jeito eu me enganei — com uma frustração fingida, James suspirou e abaixou a cabeça.

— Acha que me impressiona chegando aqui e dizendo meu nome? Está tentando me ameaçar? — Lydia disse em um sussurro, se derramando em sarcasmo ao curvar os lábios grossos para os lados em um meio sorriso. — Eu quero que você me dê um único motivo para não o matar agora.

Diante a intimidação explícita, o humor de James mudou por completo. A falsa tristeza foi substituída de forma brusca por um riso deliciado. Balançou a cabeça, uma mão encontrou o cabelo bem cortado e logo em seguida deu um gole no uísque, o rosto tomado por diversão. Ele não teve pressa em responder, se ajeitando no banco e encarando a bolsa de Lydia, adivinhando com facilidade a presença da arma.

— Eu gostei mesmo de você, Lydia. Naquela noite não teve dificuldades para se livrar dos meus homens e agora quer me intimidar com o quê? Uma pistola? — Ele falou igualmente baixo e imitou a atitude da mulher, se inclinando para frente de modo que os rostos ficaram próximos demais. Descontraído, usou uma mão para apoiar o maxilar. — Aprecio muito mulheres bonitas e com bom senso de humor.

— Não deveria me subestimar desse jeito, eu não preciso de nenhuma arma para me livrar de você. — A confiança adquirida por Lydia através da adrenalina que corria nas veias só foi capaz de aumentar o sorriso do homem. Ele parecia incapaz de se abalar.

— Quer ir direto ao ponto, tudo bem. — James balançou os ombros largos e terminou o uísque com um último gole. — Primeiro vou dizer o porquê você não vai tentar fazer nada de estúpido. — Virando o corpo para os lados por um breve instante, ele apontou para o barman de cachos louros e depois para uma cliente de cabelo liso escorrido que tomava uma cerveja. — Se você for uma menina má, esses dois vão ser os primeiros a morrer.

A cor fugiu do rosto de Lydia. Sentiu a raiva ceder, dando espaço para o medo ao distinguir o significado das frases calmas que foram proferidas por James. Uma vertigem tomou o corpo ao observar o barman que foi tão gentil com ela e a mulher desconhecida que se distraía com a bebida, os dois sem nenhuma noção do perigo eminente. Quando os olhos azuis voltaram a encarar seu rosto, a Martin não foi capaz de conter o receio. Apesar da diversão permanecer nas feições masculinas, algo mudou, uma ameaça silenciosa se apossou dos traços bonitos.

— A tentativa ridícula de me capturar naquela festa do hotel foi meio irritante, sabe? Mas eu estava disposto a ignorar porque gostei de você e do Mitch. — Daquela vez, o humor desapareceu do timbre grave enquanto ele deixava claro que também sabia a verdadeira identidade de Rapp. — Dei um voto de confiança de que não ia ter mais perturbações até que duas semanas atrás eu tive um grande prejuízo.

Lydia arregalou os olhos com a revelação, surpresa ao raciocinar que James estava envolvido com a gangue de traficantes que torturaram Malia. A boca secou de nervosismo e as mãos se encheram de suor. O medo e o choque a calaram, fazendo com que só observasse com atenção o homem que brincava com os dedos longos sobre o copo vazio. Nos segundos carregados de tensão que se estenderam, um pensamento ainda mais aterrorizante surgiu: isso significava que ele tinha relação com o agente infiltrado na CIA?

— Imagina a minha surpresa quando descobri que foram vocês dois que mataram meus homens naquele galpão? Estava decidido a não revidar e é essa recompensa que recebo?! Vocês me decepcionaram de novo e eu ainda vim aqui disposto a dar um aviso, estou tentando ser um cara legal. — James tirou uma nota de dinheiro do bolso da calça e colocou por baixo do copo vazio para pagar a bebida. — Você parece ter uma vida boa, Lydia. Mora em um apartamento decente, tem seus amigos, foi adotada pela carinhosa Melissa e de brinde ganhou o Scott como irmão. Não estrague isso se metendo nos meus negócios, continue brincando na CIA de pegar os caras maus e não tente me atrapalhar de novo, não vale a pena.

A Martin arfou, os olhos claros se enchendo de lágrimas indesejadas ao ouvir o nome de Melissa e Scott. Eles eram a única família que ela tinha e jamais permitiria que algo acontecesse a eles, não depois de já ter perdido a mãe. Os dedos foram dominados por tremores, a respiração acelerou.

— Não seja egoísta, Lydia. Pense nas pessoas que estão ao seu redor. Dou a minha palavra que se você seguir com a sua vida, não vou fazer nada. — Com os olhos azuis brilhando com uma possível transparência, James ficou de pé e apoiou uma mão pesada sobre o ombro da mulher. — Mitch por exemplo, já carrega tantos traumas. Como acha que ele ia reagir se tivesse que ver você morrendo na frente dele? Fico na dúvida se ele tentaria se vingar ou só imploraria para morrer, sem suportar carregar tanta culpa.

Com um suspiro longo, dramatizando uma falsa tristeza, James libertou o ombro de Lydia, porém inclinou o corpo para frente. Paralisada pelo medo, raiva e angústia, a mulher não foi capaz de reagir quando o homem segurou uma mexa do cabelo ruivo, tirando do rosto e colocando atrás da orelha. Depois, ele depositou um beijo estalado na bochecha pálida, como se fosse um bom amigo se despedindo e sussurrou uma última vez antes de sair do bar:

— E seria uma pena ter que machucar uma mulher tão bonita.

**

 Alguém estava com saudades do James rsrs?? Espero que todo mundo lembre dele, aparece no capítulo 14- Twisted e se vocês não lembram sei que a culpa é minha porque demoro para atualizar.

E ah! O que acharam da Malia? Fiquei feliz que alguns leitores já tinham percebido que era ela, porque achei que ninguém fosse prestar muita atenção. Sei que o capítulo não teve Mapp, mas fiquei muito animada escrevendo e espero que vocês tenham gostado de ler.Estou aberta a ideias, sugestões, falem o que vocês estão mais ansiosos para ver por aqui.Beijinhos!

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