LORA BERTHOLDI
Não demorou muito e fui arrancada do quarto, como um animal. Lutei, chorei, gritei, mas tudo em vão. Lucca mandou que me sentassem na sala e me prendessem com cordas e mordaças.
A sensação de impotência era imensa e eu não tive força para lutar contra a maré que se formava diante a mim. O maledetto observava tudo friamente e a única coisa que passava em minha mente era: punição.
Ele queria me punir pela invasão a sua fortaleza protegida, queria me punir por eu não o querer e por amar outro, seu pior inimigo.
Estava vivendo um clichê romântico de livros, algo que literalmente detestava e que jamais me imaginaria vivenciando.
Era uma droga ser a mocinha indefesa.
Autores e autoras vamos mudar isso?
Chega dessa merda Shakespeariana e vamos para uma mocinha totalmente fodástica. Daquelas que arrebentam a cara do vilão e ainda sambam na cara da sociedade.
Eu seria esse tipo de mocinha.
Mas infelizmente não nesse momento.
Seria cômico, se não fosse trágico.
Apenas mais um clichê.
Voltamos a narrativa, porque não quero matar ninguém do coração.
Olhava incessantemente ao relógio pendurado e a hora não parecia passar, não fazia ideia o que Lucca tanto esperava.
Ele estava na mesma posição a muito tempo, olhava sem piscar os olhos para a porta e um sorriso macabro cobria seus lábios. Era a personificação do próprio demônio encarnado.
Todas as sensações ruins pareciam habitar em meu corpo, o medo era o pior de todos e a dúvida de saber o que Lucca faria apenas piorava todo o resto.
Só que tudo fez sentido quando a porta se abriu, quando em uma súplica pedia pra Fellipo não se aproximar e prestar na armadilha que o aguardava. Mas eu não pude ser a mocinha que salvava o dia, eu estava amarrada e amordaçada demais para isso.
Eu assisti todo o plano de Lucca se concretizando. Exatamente da forma que havia arquitetado e o pior era aquele sorriso doentio em seus lábios.
Ele não amava ninguém, ele era um monstro, não havia outra possibilidade.
Chorei copiosamente, como um bebê ao ver Fellipo ser golpeado na cabeça e jogado no sofá como um mero nada.
Ele foi amarrado, amordaçado e tudo em pouco tempo.
— Ainda falta mais um pra nossa reunião, nosso querido Lorenzo.- Lucca falou com calmaria.
Uma calmaria que não combinava com o seu gênio, porém sua frieza era só mais uma nuance do seu caráter horrendo. Eu não me lembrava quando ele havia se tornado desse jeito, ele era tão brincalhão e doce.
Era como se ele tivesse sofrido uma lavagem cerebral.
Eu queria o responder a altura, mas aquela maldita mordaça não me permitia. Olhava com preocupação para Fellipo, só o queria perto de mim.
— Não se preocupe, seu namoradinho ainda não está morto.- Lucca me lançou um olhar sombrio.
Aquele ainda me dava arrepios, ele faria de tudo para mandar Fellipo para 7 palmos abaixo da terra, não era nenhuma novidade.
— Tirarei sua mordaça, mas sem gracinhas.- Se aproximou retirando a mesma com pouca delicadeza.
Tocando em meus lábios e me puxando para a sua direção. Ele encostou seus lábios nos meus, mas não o retribui, jamais faria isso.
Ele se afastou com brutalidade.
— Por que não me ama, Lora?- Seu olhar raivoso e o tom de sua voz me fizeram ter pena dele.
Mas Lucca era maluco, ele não aceitava a realidade.
— Eu não sei...- Suspirei. — Eu amo outro, me deixe ir embora.- Supliquei.
Ele olhou pra mim por um segundo pensantivo, inocentemente achei que ele iria considerar, ledo engano.
— Não a deixarei ir, vocês todos vão pagar a toda humilhação que me fizeram passar!- Ele esbravejou.
E me sentia culpada por isso.
[...]
Eu realmente gostava da companhia de Lucca, ele era um bom garoto, me tratava tão bem e me dava toda a atenção que sempre quis. E por pura conhecidência ele era filho da nossa empregada do interior e veio até a Sicília para trabalhar com o meu pai.
Ao menos não era nos negócios obscuros de papà, Lucca era formado em administração e me parecia bom demais para se meter em qualquer roubada.
Havíamos marcado de nos encontrar em uma balada estourada da Sicília, ele gostava tanto quanto eu e sempre era bom ir com alguém para se divertir.
Fellipo?
Estávamos afastados ultimamente, nem parecia que namorávamos e uns enjôos estranhos tomavam conta de minha rotina agora.
Tinha medo do que poderia ser e adiava a ida ao médico. Porém esse não era o momento para pensar nessas coisas.
O batom vermelho era o destaque do meu look, estava poderosa e pronta para tudo nessa noite.
Saí do carro e já pude avistar a fila enorme que se fazia em frente a boate, para minha sorte conhecia o dono e tinha passagem vip no lugar.
Passei por toda aquela gente deixando pessoas resmungando por passar na frente de todos. Era a vantagem de ser vip.
O som alto me libertou de qualquer outro pensamento que não fosse me divertir durante a noite toda. Logo avistei Lucca no camarote e me parecia que eu não era a única a ter contatos por ali.
Ele estava realmente lindo, seus olhos azuis brilhavam como jóias no meio das luzes e seu sorriso caloroso ao me ver quase me fez derreter. Lucca era o sonho de qualquer mulher, definitivamente.
Era uma pena que meu coração era burro e gostava de sofrer.
— Você está linda!- Ele elogiou ao pé do meu ouvido.
O abracei rapidamente e agradeci suas palavras.
— Digo o mesmo.- Retribui com um sorriso. — Já conhecia a balada?- Puxo assunto.
Tentando dissipar aquele climão de flerte que estava no ar.
— Já sim, o dono é um amigo.- Lucca falou misterioso.
— Gaspar também é meu amigo.- Falo sorrindo com a conhecidência.
Ele se aproxima.
— Quer dançar?- Sussurrou em meu ouvido.
Não tinha motivos que me impedissem de dançar.
— Claro.
Descemos rapidamente do camarote e fomos diretamente para a pista. Lucca pegou em minha cintura e não me incomodei, era só uma dança.
Deixei me envolver pelo o momento e dancei se importar com mais nada, estava precisando me distrair.
Não sei quantas músicas dançamos, mas Lucca dançava bem e nossas risadas se misturavam ao som. Era como se nós conhecêssemos a anos, alguns drinks foram tomados durante todo o processo e a essa altura já estávamos meio altos.
— Tem algo que quero fazer a muito tempo...
— O que?
— Isso aqui.- Lucca me agarrou mais forte.
Beijando meus lábios logo em seguida.
Deixei me envolver pelo o momento e o retribui sem pensar em nada. Nos beijamos sem pressa, estávamos envolvidos em uma bolha só nossa e nem o som era ouvido mais.
Aos poucos a respiração foi faltando e tivemos que nos separar.
Não consegui ter reação ao ver Fellipo parado a poucos metros e olhando tudo aquilo com raiva e decepção.
Tudo foi tão rápido.
Fellipo pulou em Lucca e os dois se embolaram no chão. Ambos desferiam socos e chutes um no outro, e tudo por minha culpa.
O peso do arrependimento estava ali.
Eles já sangravam quando os seguranças foram chamados e os dois apartados. Eu não sabia quem eu acodia, mas meu coração escolhia por mim.
Fui em direção a Fellipo, que nem se quer olhou em meu rosto.
— Eu posso explicar...- Sussurei baixinho.
Totalmente culpada.
— Não me faça ser um babaca com você...- Ele olhou para mim com os olhos em chamas. — Saí daqui.- Fellipo me afastou.
E aquilo era doloroso.
— Eu te amo, Fellipo!
— Não foi o que pareceu...- Ele jogou na minha cara. — Está tudo terminado.- Ele jogou a aliança que usava no chão.
Assim como o meu coração.
Aquela noite tinha dado tudo errado e eu era a principal culpada.
Ele virou as costas me deixando ali, desamparada e com uma dor forte no peito.