Uma semana, esse foi o tempo que Edu e Babi demoraram em assumir o que estava acontecendo. A cena ainda não sai da minha cabeça e toda vez que penso nela, sinto como se alguém estivesse me dando um soco no estômago. Era tarde de domingo e Lucas nos chamou para ficar de bobeira na piscina da casa dele. Levamos bebidas, alguns petiscos e colocamos uma musica animada. Os meninos começaram uma brincadeira de saltos para ver quem espalhava mais água, até que Babi decidiu entrar na brincadeira, então ela caminhou até a lateral da piscina e tirou o vestido que estava usando sobre o biquíni e todos ficaram olhando, inclusive eu, que já estava me sentindo deslocada, porque nunca gostei de mostrar o corpo, enquanto Fran e Babi usavam biquínis minúsculos, eu mantinha o meu short e uma blusinha cobrindo grande parte do corpo.
— Depois vocês duas também vão fazer. – ela fala jogando o vestido de lado.
— Vai sonhando. – comento enquanto Fran sorri.
Ela toma distancia e pula na água , jogando água para todo lado. Fábio e Lucas dão risada enquanto Edu está quieto, ainda olhando para Babi. Ela arruma o cabelo e depois a parte de cima do biquíni enquanto anda até ele do outro lado da piscina. Eu acompanho tudo e sinto a boca secar quando ela senta do lado dele na beirada da piscina, seus joelhos estão praticamente se tocando quando ela sorri e fala algo perto de seu rosto. Ele sorri e responde, para minutos depois tocar de leve em sua coxa e por fim eles se beijam.
Lucas é o primeiro a ver e faz a maior festa enquanto Fran faz algum comentário sobre eles terem demorado demais pra assumir e meus olhos se desviam, encontrando os de Fábio do outro lado da piscina e ele entende, tão bem que sorri fraco e sinaliza pra que eu ande até ele, mas eu apenas aceno em negativo e pego o meu copo, tomando o resto do meu refrigerante.
— Você já sabia? – Fran me pergunta.
— O que? Não, quer dizer, eu desconfiava. – tento disfarçar.
— É, acho que todo mudo desconfiava.
Depois desse dia, ver os dois juntos era difícil, mas começou a ser algo tão cotidiano que aprendi a filtrar as sensações e jogá-las pra um canto escuro e inconsciente do meu cérebro, onde eu também guardava o arrependimento que insistia em dizer bem na minha cara "Poderia ser você, mas você não quis".
Fábio e eu nos aproximamos desde o dia que ele esteve na minha casa e temos conversado bastante ultimamente, ele meio que, substituiu o Edu nessa parte da minha vida, pelo menos na escola e nas nossas festas e reuniões de final de semana, porque Edu e eu criamos um tipo de relação diferente, bloqueada pela distancia e a tela de um celular.
Todas as noites, ainda trocamos mensagens e falamos sobre musica, sobre assuntos aleatórios, mas nunca sobre Babi e o relacionamento deles, acho que nessas conversas a gente volta no tempo, para uma época em que ainda éramos apenas nós, Robs e Edu, grandes e inseparáveis amigos.
— Tem certeza que não está com fome? Já são quase três da tarde. – Fran comenta enquanto paramos ao lado de mais uma vitrine do shopping.
— Tenho, essa nova dieta que estou fazendo é rigorosa, mas não me deixa sentir fome. Fique tranquila.
— Você sabe que não gosto dessas dietas milagrosas, além disso, você não precisa emagrecer.
— Não é muito, só quero caber no vestido da festa de formatura.
— Roberta, tem seis meses pra essa formatura, você não precisa passar fome pra perder dois quilos.
— Na verdade são cinco e esquece isso, olha aquele sapato, era o que você queria.
— Exatamente esse! Vem vamos experimentar. – ela comenta toda animada e entra na loja.
Tem alguns meses que comecei essa dieta que vi em um perfil do Instagram e a mulher do vídeo dizia ter perdido peso de forma fácil e sem sacrifício, então resolvi tentar. E realmente, não é fácil fazer dieta, mas acredito nos resultados. São só cinco quilos e depois eu paro, só quero me sentir segura com o meu corpo para poder usar roupas mais justas e biquínis mais bonitos, só isso, é pedir demais?!
Terminamos as compras e pegamos um Uber de volta para casa, Fran desceu primeiro e enquanto eu descia na porta de casa, recebi uma ligação de Fábio, avisando que ele e Lucas viriam de Uber me buscar para o cinema depois das oito. Ele está me chamando para assistir esse filme já tem duas semanas e eu inventei todas as desculpas possíveis, mas
Fábio sabe que estou apenas evitando encontrar Babi e Edu, por isso insistiu tanto e não tive mais argumentos.
Às sete e meia Babi me mandou fotos das roupas que ela estava escolhendo e pediu a minha opinião, eu deveria dizer qual das opções agradaria mais ao Edu. A minha vontade era de dizer pra ela ir nua, já que assim economizava tempo para eles se pegarem durante o filme, mas acabei escolhendo o vestido que eu sempre achei lindo nela.
— Você esta bonita. – Fábio diz assim que entro no carro.
— Está mesmo. – Lucas concorda.
— Obrigado. Cadê a Fran?
— Babi vai busca-la com o Edu.
— Certo, então podemos ir. – aviso o motorista do Uber.
— Claro. – ele sorri e volta sua atenção para o trânsito.
— Espero que tenha pipoca doce dessa vez, da última fiquei sem a minha favorita.
— Fala sério Lucas, você parece uma criança mimada às vezes. – Fábio ri.
— Às vezes não, sempre. – comento e Fábio ri ainda mais.
Encontramos nossos amigos na fila da bilheteria e evitei ao máximo o contato visual com Edu, mas ele aproveitou que Fran e Babi foram ao banheiro e veio até mim. Fabio me olhou da fila de pipocas e eu sorri de leve, alegando que estava tudo bem.
— Você está bonita.
— Obrigado. A Babi também. – comento sem emoção.
— E qual é a expectativa para o filme?
— Estou animada, a resenha que vi no Facebook elogiou bastante.
— Espero não estarem errados, ou serão as duas horas de filme mais tediosas.
— Não pra todo mundo. – brinco e ele parece não entender.
— Vamos, comprei pipoca dupla, então você pode sentar do meu lado e dividimos, tudo bem? – Fabio chega perto de nós e Edu parece não gostar.
— Claro, até porque não consigo comer tudo isso de pipoca e você ficaria sem na metade do filme. – brinco e Fábio joga uma pipoca em mim.
— Exagerada.
— Vamos, o filme já vai começar. – Babi volta e se pendura no ombro de Edu enquanto sorri pra mim de forma exagerada.
— Vamos. – Edu concorda e sai na frente com a namorada.
O filme realmente era divertido e Fabio me fez rir boa parte do tempo com seus comentários idiotas, mas foram esses comentários que fizeram toda a diferença e tornaram o filme ainda mais divertido. Voltamos para casa comentando nossas cenas favoritas e falando sobre teorias para a continuação da franquia. Fabio sugere que o vilão ainda não morreu e vai tentar destruir a terra no próximo filme, eu já acredito que aparecerá um novo
vilão, ainda mais poderoso e difícil de derrotar.
— Boa noite meninos, até amanha.
— Ate amanhã Rob's.
— Não perca a hora, tem aula de educação física. – Lucas me lembra, só porque odeio essa aula.
— Obrigado por lembrar, vou chegar na terceira aula. – mostro a língua pra ele.
— Até parece, você não perde uma aula sequer.
— É, eu sou uma idiota. – concordo e eles se divertem enquanto o motorista do Uber sai com o carro.
Acordo com o meu despertador e faço o circuito rotineiro para ir à escola, banho, roupa, cabelo, maquiagem, café e carona com a minha mãe enquanto leio ou escuto uma música. Desde que Edu começou a namorar Babi, eles vão juntos para a escola, ou seja, ele vai pelo caminho oposto ao meu, por isso não me deu mais caronas e nós não chegamos mais juntos na escola.
Entro na sala e os dois estão sentados no fundo da sala, em um clima bem íntimo e tento voltar sem ser vista, mas encontro Lucas no meu caminho e ele fala meu nome um pouco mais alto, fazendo com que Babi olhe em minha direção e sorria.
— Rob's, não vimos você ai.
— Ah, tudo bem, não queria atrapalhar.
— Imagina, você não atrapalha, não é amor.
Até mesmo Edu está surpreso com isso, Babi nunca o chamou assim, então tudo que ele faz é acenar em positivo com a cabeça e baixar os olhos em seguida.
— Todos para seus lugares, vamos começar a aula. – o professor nos surpreende e eu sequer havia notado que a sala já estava cheia.
Nossa primeira aula, de literatura, passou rápido, e quando fomos levados para a quadra na aula de educação física, me lembrei do porque nunca gostei dela. Sou péssima com esportes, não tenho habilidades quando o assunto é correr ou arremessar uma bola. Por isso fico mais afastada e tento evitar que a bola de handebol chegue até mim.
O calor é forte e o suor faz meu cabelo grudar na testa, assim como gotas de suor deixam uma sensação salgada na minha boca. Olho para o campo ao lado e vejo os meninos jogando futebol, Fábio acaba de fazer um gol e brinca com a bola, colocando ela debaixo da camisa e fingindo ser uma mulher grávida. Eu dou risada e ele pisca pra mim, até que uma bola atinge o meu braço e eu me assusto, voltando a prestar atenção no meu jogo.
— Roberta, acorda! – Babi ri do outro lado da quadra com a bola nas mãos.
— Desculpa, vou sair por uns minutos, estou morrendo de sede.
Ando até uma das torneiras e jogo um pouco de água no rosto, depois pego minha garrafa de água e bebo uma boa quantidade. Sinto meu estômago roncar e respiro fundo, sei que já fazem três horas que comi aquela bolacha de água e sal, então preciso esperar mais duas horas até poder comer meia maçã.
Caminho de volta para a quadra depois de beber mais um pouco de água e observo os dois jogos, com certeza os meninos gostam mais dessa aula do que as meninas, por isso voto para substituir por aulas de dança esses jogos todos.
Minha visão fica um pouco turva e paro bruscamente tentando fazer meus olhos focarem, pisco algumas vezes e eles voltam ao normal, então vejo Fabio caminhando até mim e sorrio, mas uma nova tontura me atinge e sinto meu corpo fraquejar enquanto tudo fica escuro.