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By JanetheFontes

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Sinopse
Comunicado
Prólogo
1ª Parte
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Nota da Autora
IMPORTANTE

Capítulo Sete

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By JanetheFontes

Segunda-feira...

Adriana nem precisava se olhar no espelho para perceber que seus lábios ainda estavam inchados, mas a realidade no espelho era ainda mais cruel. Parte do rosto parecia mais inchada que no dia anterior.

Não poderia trabalhar daquele jeito, mas não tinha como escapar da faculdade. Tinha um trabalho valendo nota e não podia faltar. O que iria dizer às pessoas?

Muito pior do que o próprio sofrimento era ter de enfrentar os olhares perscrutadores das pessoas, ter de inventar mentiras.

Mas não era a primeira vez que aquilo acontecia, que recebia socos ou tapas de Roberto, embora tivesse de admitir que os golpes estavam cada vez mais violentos e frequentes. Depois, ele pedia desculpas. Sempre pedia desculpas e prometia que ia mudar. Só que tornava a fazer a mesma coisa.

Não, corrigiu-se Adriana rapidamente, ele não tornava a fazer a mesma coisa. Roberto estava cada vez mais descontrolado, e ela cada vez mais sucumbida ao medo, ao desespero.

Ainda estava pensando nisso quando desceu para a cozinha e preparou o café da manhã. Roberto desceu em seguida, mas ela sequer olhou em sua direção. O desprezo, puro e completo era a única coisa que ele receberia daquele dia em diante, ela prometeu a si mesma. Em seguida, foi ao quarto da filha para acordá-la e aguardou ali, sentada na beirada da cama, que a menina terminasse seu banho.

De uma maneira estranha, Letícia permaneceu tão quieta quanto a mãe, enquanto ela vestia sua roupa de escola. Mas, abruptamente, a menina agarrou-se em seu pescoço e a abraçou forte.

−  O que foi, querida? – sibilou Adriana entre os dentes. Ela mal podia falar.

−  Eu amo você, mamãe. – Foi tudo o que a menina disse. – Amo muito você.

Em outro momento, Adriana perceberia a aflição que a filha a apertava, a tristeza em sua voz. Naquele momento, porém, Adriana só conseguia sentir a própria angústia, a própria dor.

Quando enfim se encontrou sozinha em casa, pegou o telefone e ligou para o gerente da empresa onde trabalhava, alegou que caíra da escada. Foi a única coisa que veio à sua cabeça e a mesma mentira que inventou à filha. Depois, deixou-se cair na cama e chorou, pela própria incapacidade de reação.

Daniel procurou a prima durante a aula, mas não a encontrou. Mesmo assim, no encerramento da última aula, como sempre fazia, aguardou por ela em frente à sua sala.

−  Professor, – chamou-o Luiz, um aluno alto e moreno que todos os professores conheciam muito bem, pois, desde o início das aulas, destacara-se como um dos mais engraçadinhos da turma – está aguardando a Adriana?

−  Sim. Ela não veio hoje?

−  Só na terceira aula.

Daniel procurou não demonstrar qualquer apreensão.

−  E já foi embora?

−  Já.

−  OK. Obrigado – agradeceu Daniel, virando-se em seguida para sair.

−  Professor...

O rapaz parecia querer falar mais alguma coisa, Daniel voltou-se outra vez para ele.

−  Pois não.

−  Podemos conversar?

Tudo o que Daniel queria era voltar para casa. Estava cansado e com sono, pois mal conseguira dormir durante o final de semana.

−  Desculpe, Luiz, estou com um pouco de pressa.

−  É coisa rápida.

Discretamente, Daniel conferiu as horas no relógio e depois concordou:

−  Está bem.

−  Antes, permita-me apenas apresentar uma pessoa... – disse Luiz, após fazer um sinal para que uma jovem de cabelos curtos e expressão fechada, que os vigiava a certa distância, se aproximasse. – Olívia, minha noiva.

Daniel reconheceu a aluna no mesmo instante. Ela sentava-se logo atrás de Adriana, ao lado de Luiz.

−  Olá, Olívia.

−  Olá, professor.

−  Não sei por onde começar – tornou Luiz, raramente embaraçado. – É sobre a sua prima... a Adriana.

−  Como sabe que ela é minha prima?

−  Ela comentou com a Olívia há alguns dias.

−  Certo. E o que gostaria de me falar sobre a Adriana?

−  É que ela... não estava muito bem hoje.

−  Como assim? Ela está doente?

Luiz trocou um olhar com a noiva, antes de responder:

−  Não exatamente.

Daniel franziu o cenho. Mas antes que ele pudesse fazer qualquer pergunta, Olívia tomou a palavra e foi direto ao assunto.

−  Professor, sou policial e trabalho na Delegacia da Mulher...

Ela parou de falar, quando uma turma de alunos passou entre eles. No instante seguinte, baixou o tom de voz para quase um sussurro e continuou:

−  E tenho experiência mais do que suficiente para reconhecer quando alguém é vítima de agressão...

−  Desculpe – interrompeu Daniel, da forma mais polida possível. – O que isso tem a ver com a Adriana?

Uma nova turma de alunos passou por eles.

−  Bem, professor, o assunto é um pouco delicado. E creio que aqui, no corredor, não seja o local mais adequado para falarmos.

Luiz observou sua sala, estava vazia. Todos os alunos já tinham saído.

−  Poderíamos conversar lá dentro – sugeriu. – O assunto não será demorado.

Daniel acompanhou o casal.

−  Ainda não entendi o que aconteceu, onde querem chegar – confessou, quando Luiz encostou a porta. – Aconteceu alguma coisa com a Adriana?

−  Creio que sim – tornou Olívia com seu jeito sério. – Hoje, ela apareceu na classe com o rosto inchado e a boca machucada. Perguntei o que aconteceu e ela me disse que caiu de uma escada. Francamente, não acreditei.

Daniel arqueou as sobrancelhas.

−  E por que não?

−  Como já disse, tenho experiência suficiente para reconhecer quando alguém é vítima de agressão...

−  Acha então que ela foi agredida e mentiu? – Aquilo não fazia o menor sentido para Daniel. – Por que ela faria isso?

−  Por vergonha.

−  Vergonha?

−  Sim. – Ao perceber a negativa no rosto de Daniel, Olívia apressou-se em explicar: – Esse é o motivo pelo qual a grande maioria das mulheres não denuncia seus agressores.

Ele ponderou ligeiramente sobre o assunto. Aquilo ainda não lhe fazia qualquer sentido.

−  Não creio que isto esteja acontecendo. Estive com Adriana neste último final de semana e ela não comentou nada comigo.

−  Isso não me surpreende nem um pouco, professor. Trabalho na Delegacia da Mulher há quase três anos e por experiência posso afirmar que o silêncio é a coisa mais comum em casos assim. Aliás, esse tem sido o nosso maior desafio, levar a vítima a romper o silêncio e denunciar o agressor.

Por mais que se esforçasse, Daniel não era capaz de compreender por que uma mulher, em pleno século 21, se mantinha subjugada ao marido. Porém, mesmo que compreendesse, ele tinha certeza que Adriana não era do tipo de mulher subserviente. Ela era uma mulher inteligente, culta.

−  Sinceramente, eu acho que está havendo algum engano.

−  Escute, professor, a violência doméstica não está atribuída apenas às mulheres pobres e de baixo grau de instrução, não – comentou Olívia, como se adivinhasse os pensamentos de Daniel. – A violência não distingue classe social.

Ele permaneceu em silêncio, enquanto ainda relutava com a ideia.

−  Gostaria muito de poder ajudar a sua prima – ressaltou Olívia – mas esse é um assunto muito delicado, não dá para conversar aqui na faculdade. Além disso, Adriana é uma pessoa muito discreta, não creio que ela vá se abrir comigo. Mas... talvez ela se abra com você.

Daniel não sabia nem o que dizer. Seria possível que Adriana estivesse mesmo sendo agredida?

−  Ela estava muito machucada?

−  Um lado do rosto dela estava bem inchado – tornou Luiz. – E embora ela tenha tentado disfarçar com a maquiagem, todos na sala perceberam. Foi o comentário geral, depois que ela foi embora... Sabe como é que é, né? Este tipo de coisa acaba mesmo despertando a atenção de todo mundo... Acho que ela só veio à aula porque tínhamos um trabalho valendo nota. E a professora Cleuza já havia alertado na semana passada que ninguém poderia faltar à aula de hoje.

A raiva dominou Daniel de tal forma que ele teve de fazer um enorme esforço para se controlar.

−  Oh!, céus, eu mal posso acreditar nisso.

Luiz colocou a mão no ombro de Daniel, num gesto amigo.

−  Desculpe pela nossa intromissão, professor. Não queríamos ser portadores desse tipo de notícia, mas nos achamos na obrigação de lhe contar. Sua prima está precisando de ajuda. E muita!

−  Obrigado pela preocupação de vocês.

Luiz lançou-lhe um olhar firme.

−  Não há de quê. E conte conosco para o que precisar.

Desorientado, Daniel despediu-se de Luiz e Olívia e foi para casa. Mas ele mal soube como chegou ali sem ter acarretado um acidente de trânsito. Imaginou o rosto machucado de Adriana durante todo o caminho. E não se conformou por não poder fazer nada naquele momento para ajudá-la. Ele queria muito fazer alguma coisa. Mas não lhe restava alternativa a não ser esperar, já que não tinha sequer o número de seu telefone.

Entrou no quarto e estirou-se na cama. Precisava agir. Precisava fazer alguma coisa. Mas o quê? O que poderia fazer? Aquela sensação de inércia, de impotência, o deixou ainda mais aflito.

Ficou remexendo-se no leito por longo tempo procurando uma solução. Pense! Pense! Pense!

Foi inútil. Sua cabeça não lhe trazia soluções, apenas o rosto de Adriana.

Alguns dias depois...

Durante todos aqueles dias Adriana não conseguira dormir direito, sufocada pela raiva de si mesma e inconformada com a própria incapacidade de reação, com a falta de coragem. Perdera a conta das horas que passou com os olhos abertos na escuridão do quarto, chorando de revolta, de tristeza.

Acendeu a luz do banheiro e olhou-se no espelho, o inchaço em seu rosto já havia desaparecido por completo e ela estava pronta para voltar à ativa, depois de passar alguns dias afastada do trabalho e da faculdade. Todavia, a imagem que via não lhe agradava. A mulher fraca e submissa refletida no espelho não era ela. Recusava-se a acreditar nisso. Sempre admirou pessoas fortes, determinadas, corajosas, e aquela que aparecia era completamente diferente disso, completamente diferente da mulher que idealizou ser.

Fechou os olhos diante do espelho e disse a si mesma que precisava reagir. Tomar pulso da própria vida. Não poderia ficar presa a um casamento que havia tempo tinha sucumbido ao fracasso, permanecer nas mãos de um déspota que dizia amá-la, mas que a maltratava sem dó ou piedade.

Reaja! Vamos, reaja! Não deixe que ele a domine assim. Mostre o que é capaz, ela repetia em pensamento, várias e várias vezes. Entretanto, mesmo enquanto dizia essas palavras, todo o seu corpo vibrava de medo.

−  O que estava fazendo? – perguntou Roberto com voz suave, quando ela retornou ao quarto, muito tempo depois.

Ela não respondeu, apenas começou a se aprontar, embora não fosse nem seis horas da manhã.

−  Oh!, meu amor, quando vai me perdoar? – Ele transbordava de remorso. – Quando vai voltar a falar comigo? Por favor, não faça assim. Eu não aguento mais isso.

Apesar de estar gritando por dentro, Adriana continuou calada. Havia quase uma semana mantinha-se assim.

−  Eu sei que não mereço seu perdão, Dri. Mas, por favor, me perdoe. Eu prometo que vou mudar. Preciso apenas de uma chance. – E desatou a chorar. – Juro que vou mudar.

−  Pare com isso – pediu ela, antes de arriar na beirada da cama e começar a chorar também. – Você sabe que nunca vai mudar.

Roberto sentou-se ao lado.

−  Eu juro que dessa vez vai ser diferente.

−  Oh, Deus, Deus... Quantas vezes você me prometeu isso? – perguntou, entre soluços. – Quantas?

−  Por favor, me dê apenas mais uma chance – implorou Roberto. – Eu a amo muito, Dri. E amo muito nossa filha também. Jamais posso admitir perdê-las. Acho que ficaria louco sem vocês ao meu lado.

Ela fez um esforço para controlar as lágrimas.

−  Amar não é isso, Beto. Amar é se entregar, confiar, não impor limites. É respeitar o outro. É acreditar.

−  Mas eu a amo, Dri. Por favor, acredite.

−  Como eu posso acreditar? – Ela esfregou o rosto com as mãos e removeu as lágrimas. – Você me trata como um objeto, algo que faz o que quer. E quando eu contrario a sua vontade, você age como se fosse um animal. Se você me ama o quanto diz, deveria procurar um tratamento para aprender a controlar esse ciúme doente. Ele está nos destruindo.

−  Você é muito bonita, Dri, e eu me sinto inseguro. Pensa que não vejo os olhares prolongados de outros homens para você? Lá mesmo na empresa isso acontece repetidas vezes. E isso me corrói por dentro. Tenho medo de perdê-la.

−  Pois se tem tanto medo de me perder, deveria controlar essa sua insegurança, esse seu ciúme.

−  Eu vou mudar.

Adriana suspirou. Quantas vezes ele tinha lhe prometido isso? Era capaz ainda de lembrar? Não, respondeu a si mesma. Foram muitas e muitas vezes.

−  Gostaria muito de acreditar que mudará – disse, cansada. – Mas não consigo.

Ele estendeu os braços para abraçá-la, enquanto pedia:

−  Vamos tentar de novo, Dri. Eu garanto que tudo vai ser diferente de hoje em diante.

−  Você já me prometeu isso e não mudou nada – replicou ela, esquivando-se dos braços dele.

−  Apenas mais uma chance, Dri. – Ele se ajoelharia aos pés dela e imploraria, se preciso fosse. – Eu prometo que não vou decepcioná-la desta vez.

Adriana ficou pensativa. Ele parecia verdadeiramente sincero e arrependido. No entanto, quantas vezes tivera a mesma impressão? Quantas vezes acreditou que ele poderia mudar?

Lembrou de quando o conhecera. Estava em um barzinho muito popular em Santos, junto a uma amiga, e ele chegou com um grupo de amigos e começaram a paquerar. Poucos minutos depois, ele e um dos rapazes, que também estava paquerando sua amiga, se aproximaram. Começaram a conversar e ela o achou interessante, inteligente, encantador. Parecia também muito maduro e tinha um papo agradável. Tão agradável que não demorou muito a conquistá-la, pois em poucos meses ela já se encontrava completamente apaixonada.

−  E então, Dri, terei uma nova chance? – perguntou Roberto, interrompendo suas lembranças.

−  Só se me prometer que vai parar de me seguir na faculdade. Não sou do tipo de mulher que precisa ser vigiada.

−  Eu sei que não é.

−  Mas age como se não soubesse...

−  Não vou mais fazer isso. Prometo.

Ela lançou um olhar duro.

−  Quero que compreenda que terá de mudar mesmo... Não posso continuar vivendo deste modo... Tenho uma vida e quero vivê-la. Não vou deixar de gostar de você por isso, não sou uma mulher leviana.

−  Eu vou mudar. Você vai ver – tornou Roberto. Em seguida, abraçou-a forte e procurou por sua boca, beijou-a com loucura enquanto dizia: – Eu a amo demais. Por favor, não me deixe, Dri. Por favor.

Adriana sentiu as lágrimas aflorarem novamente. Queria muito acreditar em tudo o que o marido sussurrava ao seu ouvido, porque apesar de tudo ainda o amava. Mas por mais que se esforçasse em acreditar, no fundo sabia que Roberto nunca mudaria. Nunca.

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Sentimento Fatal - Janethe Fontes 

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