Lobos não Choram

De Koryanderi

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-Luce,Luce,Luce.- Aron repetiu meu nome, enquanto avançava, obrigando-me a encostar na parede. Seus músculos... Mais

I - Cidade e Lobo
II- Instintos.
III - Dor.
IV - Cave.
V - Algo novo.
VI - Esqueça a lógica.
VII - Minha perdição.
VIII - Um passado de incidentes.
IX - Sabe o que eu acho?
X - Garras.
XI - Jogue-me aos lobos.
XII- O barco afundou.
XIII - Separados por uma porta.
XIV - Branca de Neve
XV - Lua cheia, lua dos lobos.
XVI - Os lobos ficam em silêncio e apenas a lua uiva.
XVII - Os céus comunicam e avisam.
XVIII - Dar e Receber, o novo instinto.
XIX - Xadrez é uma ótima explicação.
XX - Se fugir, eu caçarei você.
XXI - Não sou herói, sou mais um predador.
XXII - Todos os lobos de olho na mesma ovelha.
XXIII - Em que posição você está? Em que posição eu estou?
XXIV - O lobo muda de pele, mas não muda a alma.
XXV - Pessoas opostas, lobos opostos, alcateia opostas.
XXVI - O porto seguro está cada vez mais longe.
XXVII - O lobo te enxerga melhor, te ouve melhor e te come melhor.
XVIII - Meticulosamente espertos.
XXIX - Energia nova.
XXX - Ratinha.
XXXI - Não pense que isso é um conto de fadas.
XXXII - O grande lobo mau.
XXXIII - Está com medo do escuro?
XXXIV - Envolventes, quentes, ardentes.
XXXV - Já fizemos isso e voltaremos a fazê-lo.
XXXVI - Está ligada a mim e eles sentem.
XXXVII - A festa dos Lobos.
XXXVIII - Foi então que a dança começou.
XXXIV - O mais doce dos aromas.
XL - Estufa, baile e fonte quente.
XLI - Nunca se esqueça com quem está encadeada.
XLII - Um muffin para cada acontecimento.
XLIII - A penumbra.
XLIV - Dois em um.
XLV - Um cocktail para brindar os sumiços.
XLVI - Tortura.
XLVII - Jogos de prazer.
XLVIII - Os lobos não dividem aquilo que é deles.
XLIX - Não se pode esquecer.
L - Quebra-Cabeça.
LI - Uma mentira mentirosa.
LII - Apenas o começo.
LII - Você é um líder.
LIV - Instinto de sobrevivência.
LV - O inicio de um destino.
LVI - Reencontro.
LVII - Selvagem.
LVIII - Raiva.
LIX - A Rainha frágil.
LX - Devassos.
LXI - Zona de perigo.
LXII - Amadurecimento.
LXIII - As três partes.
LXIV - Não intencional.
LXV - O perigo mais perto.
LXVII - Pior pesadelo.
LXVIII - Após o pesadelo.
LXIX - Vida.
LXX - O que teria sido.

LXVI - Pequeno.

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De Koryanderi


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ARON

Ainda que eu esperasse que algo tivesse acontecido - de alguma forma estrondosa - me surpreendeu o fato de que nada se encontrava assim. Pelo contrário, estava tudo em perfeito estado como eu havia deixado ao sair. Apenas se encontrava demasiadamente silencioso. Me senti aliviado ao vê-la bem e dormindo.

Luce se encontrava deitada na cama, com metade do corpo debaixo das cobertas, e ainda que não visse suas pernas, sabia que ela estava encolhida em posição fetal como era normal dela dormir. Aproximei-me dela, sentando na beirada da cama, admirando-a e percebendo que ela não expressava nenhuma expressão, estava pacífica em seu sono pela primeira vez em meio a esta turbulência. Talvez por estar tão emotiva, a fez ficar de alguma forma mais cansada ou talvez fosse a nova condição de seu corpo.

Acariciei seu sedoso e grosso cabelo, tentando deixá-la ainda mais confortável, enquanto ela tentava estar mais íntima do contato, porém sua respiração começou a ficar um pouco irregular e não demorou muito para seus olhos tremularem e de forma sonolenta se abrirem.

Ela deu um sorriso leve ao me ver, enquanto coçava os olhos para se acordar. Quando terminou, apoiou-se com os cotovelos e me encarou.

— O que aconteceu? — Perguntei. Ainda que muito levemente, eu sentia o cheiro de Sebastian em sua pele. O que me fez semicerrar os olhos, contrariado. A besta, o lobo, não gostava disto. A minha pergunta a pegou de surpresa, dado a expressão que ela fez.

— Promete que não vai ficar bravo?

Nos encaramos por um momento, segurando o olhar um do outro e ela não se deixou levar até que eu balançasse a cabeça. Como uma criança pequena, ela se ajeitou na cama, a feição infantil de culpa apareceu e ela me olhava por debaixo das longas pestanas, enquanto mordiscava a unha. Ela puxou a coberta um pouco para baixo, seu vestido listrado aparecendo em primeiro e então seu joelho direito que estava com gaze e esparadrapo, um pouco mal colocado, como se ela mesmo o fizesse. Eu arqueei uma das sobrancelhas.

— Luce...— A censurei e ela se encolheu no mesmo instante.

—Você prometeu!

Respirei fundo, controlando o rosnado de frustração que ameaçava sair, que não era para ela, mas sim pela situação. Pelo dano em seu corpo. Por eu não ter estado lá para protegê-la.

—Explique. — Ordenei. Luce abriu a boca e depois a fechou, repetindo este mesmo movimento umas duas vezes. — Pequena.

— Hum... D-depois de alguns minutos que você saiu, o interfone tocou. Eu não entendi o queriam dizer, estavam falando em russo, então eu desci até o hall do prédio, o porteiro apontou para fora e quando saí, alguém esbarrou em mim e eu caí, ralando o meu joelho no asfalto, um cara me ajudou a levantar e impediu de que eu quase fosse atropelada por uma bicicleta. Depois disso, cada um foi para seu canto. — Explicou. Um momento de silêncio surgiu. — Você prometeu que não ficaria bravo.

Exasperei, gesticulando com as mãos ao alto.

—Dói? — Perguntei, depois de alguns segundos. Controlando o som da minha voz.

—Um pouco. — Confessou. Eu olhei para seu abdômen e depois para sua face, ela logo entendeu o recado. — Está tudo bem. — Deu um meio sorriso.

—Deixe-me ver. — Ordenei, com as mãos já para tirar o esparadrapo e Luce encolheu os joelhos no mesmo instante.

—Não! Vai doer! — Reclamou igual a uma criança.

—Luce...! — A censurei.

—Não mesmo! Você não entende porque nunca deve ter ralado o joelho sem ter se regenerado em alguns minutos. Isso não é justo.

Essa parte ela tinha razão. Em realidade, eu nem me lembrava direito da sensação ou do tipo de dor que isto causava. Suspirei.

—Você tem que ter mais cuidado, Luce.

— Eu sei, mas foi um incidente. Eu estou bem. — Disse, colocando sua mão sob a minha. Ainda que afirmasse, vê-la, nem que fosse um arranhão em sua pele, deixava-me inquieto.

— Então, como foi? — Mudou o tópico. Suas sobrancelhas elevaram-se sugestivamente, enquanto seus olhos mostravam especulação. Apenas dei de ombros. — O que isso significa?

— Não há muito o que falar, porque não houve muito o que ser dito.

— Então...?

— Então, continuaremos com nossa vida e o bebê nasce.

— Simples assim? — Ela franziu o cenho e depois semicerrou os olhos.

— Simples.

Luce me encarou, mas não perguntou por mais. Bem, eu não estava mentindo, porque foi realmente assim que aconteceu. Nada fora dito depois de todo alvoroço, ou por todos terem recebido a notícia daquela forma ou por eu ter corrido para cá, seja qual for, eu não estava mentindo.

—Está me escondendo algo.

—Em realidade, não.

Ela, obviamente, manteve suas desconfianças, mas que rapidamente desapareceram de sua face. Um sorriso torto surgiu em seu rosto, antes de se desfazer. Algum pensamento inoportuno já estava ocupando sua mente novamente. Luce sentou em meu colo, como se buscasse refúgio e eu a recebi, abrindo meus braços para ela, só para em seguida prendê-la neles. Transmitindo segurança.

—O que está passando em sua mente? — Perguntei. Seus olhos se abriam selvagemente em surpresa.

—Também está sendo capaz de ler minha mente? — Riu de sua própria brincadeira. Não, eu não conseguia ler a mente dela, mas por estar constantemente recebendo informações de seus sentimentos, era quase como se eu pudesse ler. Luce suspirou e balançou a cabeça negativamente como se tentasse apartar de sua cabeça, qualquer que fosse tal pensamento.

—Como se sente? Está enjoada?

—Estou bem. Por agora nada de enjoos. —Sorriu, orgulhosa de si mesma.

Por puro instinto do lobo, rocei minha face contra a dela em uma carícia. Ela correspondeu e em minhas mãos, senti sua pele se arrepiar. Fechando os olhos, apoiei minha testa na curvatura de seu ombro e pescoço, naquele mesmo lugar onde eu a marquei em nossa primeira noite juntos. Inalei profundamente ao aroma de sua pele, a doçura de seu cheiro que me dava água na boca, fazendo-me salivar. Eu podia provar com apenas um toque de minha língua. Mas algo intervia em minha perfeição. Estava leve em sua pele, mas estava lá. Sim, o cheiro do toque de Sebastian. Mesmo estando agradecido por ele ter a salvado quando eu não pude, era muito difícil superar essa coisa bestial que sentia raiva por pelo cheiro que ele deixou nela. Porém, eu tinha que controlar. Isso era o que ela menos precisava agora.

Derrotado, suspirei, abaixando-a de encontro a cama macia e colocando-me parcialmente por cima dela. Pegando-a de surpresa. Um grunhido misturado com um resmungo saiu de mim, enquanto escondia minha cabeça em seu ombro e cabelo, tentando respirar o máximo do cheiro dela e trabalhando para ignorar aquilo que estava me irritando.

— Aron...?

Eu senti quando ela movimentou a cabeça para tentar olhar minhas reações. Antes que ela continuasse com sua indagação, roubei-lhe um beijo. Suave.

Luce piscou repetidamente, os cílios longos e enrolados emoldurando os olhos cristais que me encaravam. Havia um brilho especial nos olhos de cor diamante ou talvez por que eu sempre que a olhava, a reconhecia como minha companheira. Eu via naqueles olhos, luz, felicidade, amor...

— Eu te amo. — Murmurei. Ela riu levemente.

— O que realmente aconteceu hoje? — Seu riso delicado foi música a meus ouvidos, mas o som foi diminuindo à medida que ela percebeu que eu estava sério. Se aproximou o bastante para poder falar ao pé de meu ouvido as mesmas palavras.

Luce se prendeu a sua fachada de corajosa e se encontrava ao meu lado no carro, com as mãos suando, sua face estava sem expressão, porém isso não nos enganava, já que seu coração batia em um ritmo descompassado. Achava que seria prudente vê-los, já que, em sua concepção, ela era boa parte desta equação.

Sua aparência estava particularmente infantil nesta manhã, vestida com uma jardineira jeans, camiseta branca de mangas longas - onde ela arregaçou as mangas - sapatilhas escuras, um dos joelhos enfaixados, este sendo o motivo para ela ter deixado as pernas amostra.

Quando o carro parou, ela colocou algumas mechas de cabelo atrás da orelha, logo depois, se agarrou ao banco e em alguma espécie de meditação particular, tentou acalmar sua respiração.

—Bem, vamos? — Virou para me perguntar. Eu confirmei com a cabeça e saí do carro, dei a volta e peguei sua mão. Caminhando lado a lado com ela.

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LUCE

Eu sabia que havia algo errado no momento em que todos pararam de falar para nos fitar. Eu odiava ser o centro das atenções e isso nunca iria mudar, mas aparentemente, aqui, isso estava se tornando bem comum.

Apertei a mão de Aron inconscientemente, pedindo por qualquer auxílio que fosse. O olhar de todos sobre nós, fez com que eu me encolhesse a fim de buscar um refúgio. Parecendo saber de meu incômodo, ele se aproximou mais de mim, fazendo-me consciente de grande corpo ao meu redor.

Minhas desconfianças sobre "tudo ter saído certo" se concretizaram. Não parecia que tudo deu certo, parecia mais como se tivesse crescido um terceiro olho em minha testa.

—Aron...? — O chamei, quase que inconscientemente. Eu sabia que alguma hora teria que ver os pais de Aron, sabia que este momento era perto de acontecer, mas preferia algo mais privado e isto, por fato, estava longe de acontecer. Ao longe, observei o olhar curioso de Heaven e Rick e até mesmo de Caleb, que abraçava a Sophie. — Depois de você. — Gesticulei para que ele andasse na frente, minha voz mal saindo no processo. Eu sentia os olhares em nós. Surpresos? Curiosos? Julgando-nos? Eu não tinha certeza, mas estavam lá.

De repente o sentimento de enjoo bateu, com ele eu senti o refluxo e eu não estava cem por cento certa de que nesta ocasião era só por doença matinal. Respirei fundo, para quem sabe para de suar frio e quem sabe não vomitar no meio do saguão com um monte de pessoas me encarando. Era inútil tentar me fazer de forte quando neste exato momento, eu estava acuada e medrosa.

Diferentemente de mim, ele estava potente e confiante, era como se ele ignorasse o fato que tínhamos olhares em nós. Em realidade, parecia que ele realmente ignorava. Como ele conseguia fazer essas coisas? Neste exato momento eu estava parecendo um coelho ouvindo tiro de fuzil; pronta para correr. Não pude deixar de exalar a respiração, quando me encontrei sozinha com Aron andando no corredor. Mas o sentimento não durou muito, principalmente por que nós nos encontrávamos caminhando em direção a quatro pessoas conhecidas. Duas delas exalavam que todos os obedecessem, um dos dois me dava arrepios na espinha. Agarrei-me ao braço de Aron.

—Mãe, pai. — Aron acenou com a cabeça. Mikhail estava com o maxilar travado, Eleonor o olhava intensamente, mas os dois voltaram suas devidas atenções a mim ou melhor dizendo, ao meu abdômen. Instintivamente escondi boa parte do meu corpo em Aron e senti os músculos do braço, a qual me agarrava, se contraírem.

—Luce. — A voz de Megan foi apaziguadora para o meu nervosismo. Ao seu lado, seu pai se punha em postura.

— Olá, jovem. — Me cumprimentou e eu tentei sorrir. Não sei se fiz o meu melhor trabalho.

—Luce, querida, você pode nos dar um momento para conversar com Aron? — Eleonor falou, ela sorriu gentilmente, ainda que sua voz carregasse secretamente uma espécie de ordem. Um pedido que eu não pudesse negar. — Nós gostaríamos que você fosse com Vicktor e Megan a ala médica. Encontraremos você em alguns minutos.

O que? Ala médica? Médicos? Para que médicos? O que estava acontecendo? Olhei para Aron tentando pegar alguma pista do que estava acontecendo aqui. Seus olhos descem da face dos seus pais, para se concentrar em mim, semicerra um pouco os olhos e eu balanço a cabeça levemente e negativamente, nesta nossa conversa particular por gestos.

Eu não gostava disto. De médicos.

— Está tudo bem, Luce. Vamos? — Senti a mão de Megan pegar a minha.

Contragosto, desfiz do aperto de minha outra mão no braço de Aron e ainda indecisa, segui com passos arrastados a Megan em Vicktor. Até que finalmente a sensação de algo errado e coisa envolvidas com médicos venceu e eu travei.

— N-não. — Sussurrei. Megan parou quando sentiu que eu parei.

—Luce?

—Não quero...

— Tudo bem, Luce. — Ela tentou me puxar e eu recuei. Tento voltar para Aron, mas o aperto da mão de Megan parece indestrutível, ainda que não me machucasse.

Parecendo perceber o quão inconfortável fiquei com a ideia, Aron tenta avançar em minha direção, mas seus pais formam um bloqueio entre mim e ele.

—Fique calmo, Aron. — Eleonor diz. — Não vamos machucá-la.

Mikhail mantém um aperto no ombro dele.

— Recomponha-se Aron. — Ele fala. — Só vamos conversar com você. Ela estará segura e você sabe onde encontrá-la.

Aron parecia estar com dificuldades de captar todas as palavras de seus pais, mas aos poucos foi se concentrando. O que quer que eles tenham visto no momentâneo comportamento dele, era algo que eu não entendia. A coisa desandou mesmo quando Eleonor voltou-se para mim em particular. Andando em minha direção, ela se aproxima o suficiente, olha para a mão de Megan que logo entende o recado e solta meu braço.

— Não tem por que ter medo, Luce. Não faremos nada. Só recomendamos que vá a ala médica por sua saúde e por que, sinceramente, estamos um tanto curiosos de como é a sua gestação. Digamos que você é a primeira humana que vemos a olho nu carregando um dos nossos. Como seu amigo Ethan, não é? Fique tranquila. Além do mais, se você ficar inquieta, ele ... — Seu olhar virou para Aron. — Ficará mil vezes mais. Isso é novo para ele.

Alguém levou em conta que isto também era novo para mim? Não é como se eu ficasse grávida de nove em nove meses ou que eu tinha qualquer experiência nisto.

Não tendo como debater, eu simplesmente abaixo meus ombros e relaxo minha postura. Do outro lado eu observo que Aron também pareceu relaxar no momento em que eu fiz. Eleonor deu um meio sorriso, parecendo aprovar o meu comportamento e então gesticula com a cabeça antes de andar com Mikhail e Aron.

Eu os observo ir, tento a minha atenção tirada quando Megan pousa a mão em meu ombro.

—Vem...?

Eu confirmo com a cabeça. Um pouco perdida em meus pensamentos, sem ao menos reparar no caminho ou nas coisas ao meu redor ou no que Megan falava, eu só realmente presto atenção quando ela me entrega algo.

—O que é isso?

— É para você vestir. — Responde.

Era uma camisola hospitalar, comprida e larga.

— Pra quê? — Arqueio uma das sobrancelhas em confusão.

—Para você se sentir mais confortável. — Riu, fazendo com que todo o caso fosse óbvio.

—Por que? — Perguntei.

— Para Valquíria poder examinar você.

—Quem é Valquíria?

— Anda logo, Luce.

Ela me indicou o banheiro para me trocar. Entro e tranco a porta, tendo o meu tempo de privacidade. Um tempo para pensar. Tirando minha roupa lentamente, pego-me fazendo algo que estava ocorrendo muito ultimamente: Olhando para o meu abdômen. Particularmente, eu não sabia o que esperar, algumas vezes era difícil acreditar que um serzinho estava ali, se formando. Principalmente que o fato do meu abdômen ainda estar plano, deixava muito a imaginação. Algumas vezes, um recente e crescente sentimento aparecia cada vez que eu me deixava levar pela imaginação, outras vezes pegava-me alisando, como um carinho. Aquele gesto tão comum em mulheres em gestação, que muitas vezes, antes desta experiência, me perguntei o que aquilo significava. Era um gesto simples, mas que compreendia agora. E outras vezes, ficava assustada com a ideia de ter um filho. Não é que eu nunca quisesse, a realidade era que eu nunca, realmente, parei para pensar nisso até agora. Agora que eu só queria proteger essa coisinha— Não, não coisinha. Não era... uma coisa. - Esse pequeno.

Mas, o que ele seria? Seria humano? Ele nasceria como um bebê recém-nascido? Ou como eles... Mas, eles nascem em que forma? Humana ou lupina? Como filhotinho? Como bebê? Como isso funcionava? O meu bebê seria ou é igual a Ethan e suas irmãs? Ou de alguma forma ele seria diferente? Como ele seria? Humano? Lobo? Mais lobo que humano? O que ele é? Ele era... meu filho. Independentemente do que ele seria, a única certeza que eu tinha era que ele era o meu filho .

— Luce, você está bem? — Ouvi Megan do outro lado da porta.

— Sim, estou. Só um momento.

De repente me calhou o pensamento. Megan é minha amiga, mas ela estava aqui para garantir mais do que sua amizade. Qual o real motivo? Ela estava aqui para ver minhas reações? Saber o que estava acontecendo? Ou... Ah, entendi. Ela estava aqui para garantir que eu estava aqui.

— Terminei. — Disse, abrindo a porta. Eu, simplesmente, odiava qualquer coisa que me ligasse a hospitais ou qualquer coisa relacionada isso. Desde vacina contra gripe.

— Ótimo. — Sorriu. Ela caminhou ao meu lado, servido de guia. Bem, eu mais ou menos reconhecia este local, pois fiquei aqui quando Lilyan havia se transformado na primeira vez e eles achavam que ela havia me machucado de alguma forma. Mas, parecia que agora eu estava como se fosse numa ala mais particular. Onde tudo parecia mais atento. Megan abriu uma das portas, para uma sala com cama médica alta e de travesseiros e lençóis brancos, gesticulou para que eu sentasse na cama e eu o fiz, enquanto ela se sentava numa poltrona.

— Para que tem ala médica? Não é como se vocês precisassem dela.

— Bom, realmente, em sua maioria a ala médica fica fantasma. Você sabe, nós temos uma vida longa... — Disse, sondando para ver o quanto eu sabia e quando confirmei com a cabeça, ela continuou. — E que quase somos imortais.

— Sim, sim. — Balbuciei. — Essa coisa toda de regeneração.

— Isso mesmo. Mas, nós só nos regeneramos se ainda estivermos vivos. Ou seja, se coração estiver batendo. Então, é pra isso que essa ala serve.

— O que está querendo dizer?

— Estou dizendo que serve para fazer, em casos de emergência, com que o coração não pare de bater. De resto, uma ajudinha aqui outra ali, mas o troço de regeneração faz o seu trabalho perfeitamente. Entretanto, muito raramente vem alguém aqui. — Falou. — Mas, falando sério, não é como se algum de nós pudesse chegar em um hospital comum em caso de emergência. — Ela sorriu. Bem, eles estavam certos. Se um deles chegassem num hospital comum e toda aquela coisa de regeneração acontecer, eles possivelmente vão virar atração de circo ou ficar em quarentena. — Então... E você?

— O que tem? — Perguntei. Megan sujeitou as sobrancelhas.

— Foi um tiro certeiro dele, hein?

—Não! — Disse rapidamente. —Não foi assim. — Eu brinquei com meus dedos em nervosismos. — Nós usamos proteção.

—Usaram mesmo? — Ela perguntou e tinha uma carga de ceticismo em sua voz.

—Porque eu mentiria?

—Bem, então você logo lhe deu um herdeiro.

—Eu não estou dando o famoso "golpe da barriga", Megan. — Respondi, incrédula com a sugestão.

—Eu não disse isso. — Falou com sagacidade. Ela apoiou seu cotovelo no braço da poltrona e apoiou a cabeça em sua mão. — Estou dizendo que você lhe deu um filho, você é atualmente a garota mais popular entre os lobos. Até os clãs nórdicos querem lhe conhecer. E, você agora é a peça mais preciosa do clã Romanov.

A medida que ela falava, eu me encolhia mais com um resmungo saindo de meus lábios. A última coisa que queria agora, era ser conhecida por ser uma adolescente grávida do "Príncipe" deles. Antes que eu pudesse reclamar com ela, a porta se abriu. Uma mulher alta, de corpo em formato ampulheta, seios fartos e quadris de dar inveja adentrou. Seu cabelo era comprido, até mais do que o meu, batia em seus quadris e era de um tom loiro acinzentado. Sua pele era branca quase pálida, o nariz era de base fina e um pouquinho batinha no final. Ela tinha maçãs do rosto alta, os olhos em formato de "olhos felinos" e de cor em tom de cinza. Sua presença é intimidadora a qualquer mulher.

—Valquíria.

Peraí, ela é Valquíria? Certamente ela faz jus ao nome que carrega.

—Menina, o que está fazendo? — Ela censurou Megan, com voz forte e feminina. Ainda que revirasse os olhos para a empolgação de Megan, havia um brilho de divertimento em sua voz. —Dê-nos licença, Megan.

—Okay, okay. — Megan pôs as mãos ao alto.

—A propósito, seu pai está lhe chamando. —Valquíria esperou Megan sair para virar a atenção a mim. Quando seus olhos cinzas me encararam, quase me sobressaltei. —Então, você é a jovem que todos estão comentando.

Wow! Como é bom ficar conhecida por ser a jovem que todos comentam.

—Acho que sou. — Murmurei, abaixando a cabeça e abraçando meu corpo em forma de proteção. — Valquíria. — Testei seu nome em minha língua.

—Chame-me de Sigrid. — Falou.

De repente eu me assustei por ter feito a merda de chamá-la por um nome que possivelmente só gente que fosse íntima dela, assim a chamava.

—Perdão. — Disse. Ela riu levemente por alguma expressão que fiz. Provavelmente percebendo o quão assustada eu estava.

—Não é isso, criança. — Respondeu, ainda com um sorriso. — Meu nome verdadeiro é Sigrid. Sou uma velha integrante dos nórdicos. Eles me chamam assim devido a meu passado longínquo e da mitologia das valquírias. — Ela revirou os olhos como se isso fosse uma bobagem.

—Oh... — Foi tudo que conseguiu sair da minha boca.

—Sei que deve estar assustada, mas relaxe. Achamos que se sentiria mais confortável se fosse uma médica mulher, então, aqui estou eu.

— Você é médica?

—Minha longa vida me deu a experiência de conhecer vários métodos, além da medicina atual.

Se ela soubesse o quanto de gente pagaria para ter uma consulta com ela.

—Gostaria que você se deitasse. — Sua mão encostou em meu ombro, fazendo leve pressão para que eu deitasse.

—Veja bem, Sigrid, eu não acho que é necessário isso. — Protestei.

—Está assustada, jovem.

— Bom, sim. É verdade. Mas eu já fiz tudo o que eu precisava para comprovar a gravidez. Não quero passar por isso de novo.

—Não estamos aqui para comprovar. Estamos aqui para saber como é sua gestação. Ou acha que um médico humano saberá lidar com a situação? — A sobrancelha dela se arqueou com descrença. — Aliás, como o humano agiu? — Ela claramente estava se referindo ao doutor que eu consultei.

Eu estava começando a ficar com raiva. Eu não precisava de nada disto.

—Normal.

—Normal?

—O que você esperava? Não tem como ver nada na ultrassonografia dado ao tempo do bebê.

—Tem certeza?

—Veja bem, o médico só confirmou o que eu e Aron achávamos depois de ter feito cinco malditos testes. Foi constatado hCG, hormônio da gravidez, nada mais do que isso.

—Certo.

—Certo. — Também respondi.

Fechei os olhos tentando pensar em qualquer coisa que não fosse médicos. Logo meu pensamento se concentrou em novamente imaginar o bebê. Era algo que constantemente estava acontecendo. Eu só tentava ver como ele ou ela seria. Nem mesmo quando eu senti a mão de Sigrid em meus pulsos ou em meu tórax fez com que eu abrisse os olhos, já que minha mente estava tão concentrada em imaginar tal imagem. Mas quando um som familiar e estressante soou repetidamente, foi como seu eu despertasse de um transe e entrasse diretamente para um pesadelo.

Abrindo os olhos, olhei para o meu canto superior direito encontrando a máquina que foi o meu tormento na infância. Sua música constante, composta por mim, começou a acelerar o ritmo à medida que entrei em pânico. O bip, bip, bip estava acelerado. Por que isso? Eu não precisava desta merda! Eu precisava me livrar dela. Ao tentar me levantar e arrancar os adesivos que me ligavam aquela máquina, Sigrid tentou me parar.

—Calma, criança.

—Não! — Eu me debati para livrar meus pulsos de suas mãos. — Solte-me!

Mesmo sendo capaz de me parar, Sigrid não o fez, rapidamente soltando meus pulsos quando viu que quanto mais eu me movimentava mais danos a meus pulsos ela fazia ao tentar me parar. Levantei da cama em um salto, sentindo o chão liso e frio em meus pés. Eu só tinha que sair dali e antes que eu desse um primeiro passo, uma picada em meu braço ocorreu. Olhando para onde tinha vindo a fonte, observei algum liquido entrar em minhas veias, aplicado por Sigrid. Antes que ela terminasse, recuei, meu estado de pânico aumentando.

—O que você fez?! — Gritei com ela. Ela só me olhou com aqueles estranhos olhos cinzas.

Sem pensar duas vezes, saí pela porta, deparando-me com um homem mais com aparência de um viking.

—Sigrid?! — Sua voz tinha algum sotaque e era forte, quase um bárbaro. Seus cabelos eram em loiro escuro preso para trás em uma tira de couro, os olhos em tom âmbar. Era quase dois metros de musculatura ali. E ele parecia muito irritado quando olhou para mim e segurou-me pelos braços.

— Vidar, não! Deixe-a. — Sigrid disse.

Seja quem for esse cara, eu corri dele e dela. Ou assim pensei, já que de repente me senti pesada e com visão um tanto embaçada.

—Luce? — Ouvi a voz de Megan. — Luce!

Eu estava tendo problemas para me concentrar, já que muito rapidamente estava me sentindo sonolenta, porém, ainda podia reparar nos olhares de pessoas que se acercaram ante a comoção que eu estava fazendo.

—Megan... — Estiquei minha mão em sua direção, antes de realmente sentir a escuridão me bater.

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ARON

Eu não queria acreditar que estava passando por isso; toda essa situação estava me fazendo revirar os olhos. Já não aguentava mais estar sentado em frente a meus pais ouvindo mais palavras que nem sequer estava interessado em captar. Por isso mesmo, como uma distração de toda essa chatura, concentrava-me em sentir Luce, pensar em Luce ou em nosso filho.

Meus pais pareceram perceber que eu mal prestava a atenção neles. Seja pelo barulho de um dos meus boots batendo no chão repetidamente com impaciência ou pelo fato de que me encontrava de braços cruzados olhando para os mínimos detalhes do teto que meus olhos podiam captar, porque tudo parecia mais interessante do que ouvir a palavra "irresponsabilidade" novamente.

—Acaso está prestando a atenção, Aron? — Eleonor falou.

—Não. — Eu ainda permaneci de braços cruzados olhando para as formas de gesso no teto. Nunca havia reparado que os designers tendiam a seguir algum padrão gótico medieval.

Ela realmente conseguiu chamar minha atenção quando rosnou ante minha resposta.

—Por estar agindo assim, tirei as minhas conclusões de quanto irresponsável você é. Como isso aconteceu, Aron?

—Sério mesmo? — Perguntei, arqueando uma das sobrancelhas.

—Responda!

— Como acha que se faz um bebê?

—Aron!

—Não há outra resposta. Foi isso que aconteceu e ponto final. Vocês já sabiam como nós dois estávamos envolvidos, já que eu a marquei, se esqueceram? — Disse, como se tudo isso soasse óbvio. — Em realidade, nós tiramos toda a dúvida que todos tinham

—Então, ela realmente está levando seu filho? — Desta vez foi Mikhail a falar.

—Eu não acredito nisto. — Murmurei, revirando os olhos.

Mikhail se levantou de sua cadeira e com passos quase inaudíveis, até mesmo para nós, circundou a mesa e eu sabia que ele estava me analisando.

—Ela está levando meu neto? — Sua pergunta soou mais como uma confirmação, ainda assim, eu gesticulei com a cabeça em confirmação. Ele e Eleonor trocaram olhares, enquanto um se aproximava do outro. Um meio sorriso surgiu no rosto de minha mãe e os dois viraram-se para me encarar.

— Acreditamos que o melhor seja oficializar esse relacionamento. — Eleonor começou. Semicerrei os olhos ao novo discurso estabelecido entre eles.

— Seu filho não vai nascer fora de um casamento. Ele vai carregar o nome do clã em que ele nasceu. — Mikhail continuou.

Oh, agora eu estava entendo onde eles queriam chegar. Eu estava um pouco surpreso, mas certamente a ideia não me desagradou. Quase não conti o sorriso que tentava brotar em minha face.

Luce e eu nunca havíamos conversado com todas as letras sobre casamento. Em realidade, o vínculo que compartilhamos sobrepunha qualquer união que um casamento podia ter. Papéis não podiam competir com uma ligação de um companheiro com sua companheira. Todavia, nada tinha contra ao gosto de fazê-la minha esposa comprovadamente aos olhos dos humanos, mesmo que, aos olhos dos da minha espécie ela já era.

—Certo. — Concordei sem remediar.

—Não parece ter objeção quanto a isso. — Mikhail riu. Era uma das poucas vezes que ria.

—Não tenho. — Sorri. Bem, eu estava certo. Era bem mais fácil lidar com os meus pais.

—Temos que dar a notícia de que ela mais do que oficialmente, é um membro do Clã Romanov. E que está carregando sua prole, o próximo membro do Clã, portanto deve ser protegida. — Eleonor falou.

—Sua mãe está certa. — Mikhail assentiu. — Enquanto a família de Clair...

— Oh, por favor, não me venha com o nome dela. Tenho repugnância.

— Aron. — Eleonor censurou-me e eu apenas dei de ombros, enquanto Mikhail não pareceu se importar com meu comentário. — Parece que teremos que conversar com Hector e Valerie, eles realmente tinham esperança que vocês um dia reatarem.

—Será que eles não entenderam que Luce é a minha companheira? — Rosnei, o lobo arranhando contra a ideia de tomar Clair como companheira.

—Falando nisso. — Mikhail começou a caminhar de um lado para o outro. — Os outros querem saber se eles realmente podem se acasalar com humanos.

—Não foi assim. — Disse a meu pai. — Não é com qualquer humano que funciona, pai. Já tentamos isso em outras épocas, lembra?

—Estamos... Cientes de como as coisas ocorreram. — Eleonor se arrepiou com a lembrança.

—Só funciona com a pessoa certa. — Falei. — Um companheiro. Não adianta fazer mais merda.

Não falamos mais sobre este assunto.

— Por que enviaram Luce a ala médica? — Perguntei enfim.

—Achamos que seria melhor verificar a saúde dela aqui, entre nós. A propósito, o que tinha na cabeça ao levá-la a um hospital de humanos?! — Mikhail falou.

— Não queríamos alertar a ninguém sem ter a confirmação, mas depois de cinco testes eu já nem tinha mais dúvidas. Eles não fizeram nada demais, só perguntas e constataram que já sabíamos. Eu estava todo o tempo com ela. — Mesmo depois de minha explicação, eles não pareciam gostar nada da ideia de eu tê-la levado lá primeiro.

—Também queremos saber como o corpo dela reage ao bebê. Leve em conta que ela é somente a segunda humana a ter um filho com um dos nossos. Não temos um padrão comparativo a não ser Ethan e sua irmã. — Eleonor explicou. — O que acha?

—Eu não sei muito sobre isso, mas ela me parece bem normal. Do contrário, eu saberia.

Antes que pudesse falar mais alguma coisa, eu senti Luce me enviar o sentimento de pânico. Sim, eu estava sabendo que ela estava assustada porque eu estava constantemente aberto a ela, mas agora, sabendo que ela estava acuada e morrendo de medo, me fez levantar em um salto.

—O que foi? — Meus pais perguntaram simultaneamente.

Eu não tinha tempo para explicar, eu só tinha que ir até ela o mais rápido que eu pudesse. Algo estava errado, porque eu quase podia ouvi-la gritando para que eu fosse até ela.

—Aron? — Mikhail e Eleonor indagaram, acompanhando meus passos apressados. Ao entramos onde Luce deveria estar, todos pareciam abrir espaço para nós. Sempre estive acostumado com isso, porque cresci convivendo com este tipo de comportamento. Mas, ainda mais do que isso, eles pareciam não tentar se envolver na situação, mesmo que parecessem curiosos.

Não demorei muito a entender de que onde as pessoas se reuniam para olhar, era a onde ela estava.

—O que está acontecendo? — Perguntei a Rick, que estava tomando o mesmo rumo. Ele maneou a cabeça com uma carranca em sua face que dizia "você não irá gostar."

O abrir estrondoso das portas duplas, foi o som suficiente para que minha família obtivesse a atenção. Os olhares de todos foram para nós. Quando deram espaço para nós vermos o que estava acontecendo, um alto rosnado saiu por minha garganta. O lobo em mim se preparando para protegê-la.

Luce se encontrava desacordada, amparada nos braços de Megan e Sigrid. Eu corri para ela, pegando-a antes que alguém mais o fizesse. Megan se retraiu, logo abaixando a cabeça ao perceber o estado de ânimo em que me encontrava. Eleonor veio a meu auxílio com Luce.

—O que aconteceu? — Semicerrei os olhos para Sigrid, confiando em minha mãe para cuidar de Luce.

—Eu apliquei um calmante nela. — Ela respondeu com algum vacilo em sua frase. Sem pensar duas vezes minha mão se encontrava em sua garganta, levantando contra a parede. Mikhail protegeu minhas costas quando Vidar tentou avançar contra mim e com um ameaçar de rosnado partindo de Mikhail, Vidar retraiu inquieto. — Meu príncipe... — Sigrid falou entre o aperto em seu pescoço. — Ela entrou em estado de pânico. — As duas mãos de Sigrid se apertaram em meu pulso. Contragosto eu a soltei. Tinha coisas maiores a me preocupar.

—Nunca mais faça isso. — Ordenei.

Abaixei-me para pegar Luce no colo, sentido o quão leve era seu peso e como seu corpo se deixava levar por qualquer movimento.

Eu a observava deitada na cama hospitalar, imóvel em seu sono forçado. Um pouco relutante, deixei Sigrid terminar de cuidar dela, analisando todo o movimento que fazia. Ela havia me assegurado que tudo se encontrava bem com Luce. As manchas de meu aperto em seu pescoço já haviam desaparecido. Agora, meus ouvidos captavam a conversa que ocorria no corredor. Vidar estava reclamando de minha atitude com Sigrid, o que pareceu irritá-la. O motivo? Eu não sabia.

Os olhos de Sigrid se transformaram em cinza turbulento, como os de uma nuvem carregada de tempestade.

—Com sua licença, meu príncipe. — Ela disse, curvando a cabeça e eu fiz o mesmo, então saiu. Como eu odiava quando me chamavam assim.

— O que está fazendo, Vidar? — Ela o censurou. — Perdoe-me meu rei, ele não sabe o que diz. — Compreendi que agora ela se dirigia a meu pai. Mas eu me desconcentrei completamente da conversa, quando percebi que Luce despertava. Resmungando um pouco, ela abriu seus olhos lentamente e eu me levantei rapidamente da poltrona, para que o primeiro rosto que visse fosse o meu, fazendo-a mais tranquila.

—Aron...? — Sua voz soou falha e ela estendeu a mão para tocar meu rosto.

— Estou aqui.

Luce suspirou de alívio. Tentando se colocar sentada, eu a adverti.

— Vá com calma.

— Estou bem. — Respondeu. — Mas e o... — Seus olhos se abriram selvagemente.

— Ele está bem também.

Eu a ouvi suspirar novamente.

—Hm... Quero sair daqui. — Resmungou, fazendo uma pequena careta. — Não gosto de estar em camas de hospitais e não gosto daquela máquina. — Ela apontou para a máquina de batimentos cardíacos.

— Por que?

—Por que foi o som mais irritante que ouvi em minha infância.

Imediatamente entendi o porquê ela entrou em pânico.

— Vem aqui. — Disse, abraçando-a e beijando o alto de sua cabeça.

Naquele instante, Sigrid entrou, fazendo com que Luce virasse a cabeça para vê-la.

— Desculpe se estiver interrompendo algo. — Ela pareceu surpreendida.

—Desculpe-me você, por antes. — Luce falou. — Eu tenho alguns problemas com aquela máquina.

Sigrid sorriu.

—Não tem problema. Percebi que desde o início você se encontrava assustada. — Luce timidamente brincou com os dedos, ante ao comentário de Sigrid. — Eu também enfaixei seu joelho novamente. Foi um arranhão feio.

—Obrigada. — Luce agradeceu. — Se importa se dermos uma pausa nisso tudo? Eu acho que preciso de um pouco de ar fresco.

—É compreensível. — Sigrid sorriu mais amplamente e nos deu licença, fechando a porta em sua saída.

Entreguei a Luce suas roupas e assisti com atenção a tirar a camisola hospitalar. Seu comprido cabelo escorreu por seu torso tampando boa parte de seus seios, mas fazia um belo contraste com a pele cremosa e fez com que instintivamente eu erguesse uma mão para tocar. Era um ato inconsciente que ela não pareceu notar. Meus olhos correram mais para baixo, seguindo a linha alba até seu ventre. Mas, minha visão foi cortada pelo jeans da jardineira e pelo tecido de sua camiseta branca. Terminando de prender sua jardineira, ela colocou suas sapatilhas.

═════════════ ════════════╗

LUCE

Sentei na grama, fechando os olhos para sentir um pouco do sol acalentar a minha pele. Eu me distanciei, talvez até um pouco demais, daquele lugar. Mas tudo que agora necessitava era um pouco de paz, de ar. Eu sabia que o que senti ali foi a ponta de um surto. Aquele som do monitoramento cardíaco tinha o dom de trazer pensamentos ruins de minha época ruim na infância e tudo o que menos precisava era algum pensamento ruim neste momento. Mas, todo sentimento ruim que aquele som me proveu, foi apagado no momento em que vi os olhos de Aron quando despertei. Ou a forma como ele me abraçou. Eu me senti protegida.

Também me surpreendi quando Eleonor me abraçou. Sua face estava preocupação e até mesmo em Mikhail? Mas Aron havia dito que nós dois tínhamos que conversar a sós, levando a seus pais a gesticularem com a cabeça em aprovação. Me perguntava o que ele queria dizer quando disse que nós tínhamos que conversar. Sua face estava bastante séria, então, o que quer que fosse era importante. Quando ele estava prestes a dizer, o meu estômago roncou de fome, fazendo com que eu corasse em vergonha, Aron falou que iria pegar algo para eu comer, entre risos.

Ouvindo passos na grama, eu me virei, na esperança que fosse ele.

Semicerrei os olhos.

—Quem é você?         

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