Os Garotos de Raven Town

By SSMissing

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Após dez dias acampando, Pete, Scott, Duece e toda a sua estirpe - formada por dezessete garotos - estão de v... More

p r e â m b u l o
e l e n c o
c a p í t u l o u m
c a p í t u l o d o i s
c a p í t u l o t r ê s
c a p í t u l o q u a t r o
c a p í t u l o c i n c o
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c a p í t u l o o i t o
c a p í t u l o n o v e
c a p í t u l o d e z
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c a p í t u l o d o z e

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By SSMissing

Estou cansado...
Cansado dessa terra podre,
dessa cidade de merda,
desssas casas vazias,
dessas ruas tão cheias de memórias,
tão cheias de nada.
Dessa droga toda...
Estou cansado.
Raven Town,
talvez você possa ser gentil,
uma única vez.
Atenda a meu pedido,
dê-me um pouco de sua misericórdia...
Raven Town,
leve-me para seu túmulo.

— Vincent Ayotte

Lance tomou o volante para si e dirigiu até o motor cuspir fumaça. Assim que o ônibus parou, ele saiu e continuou a andar. Lance costumava ser bem animado, com suas piadas e toda a coisa de atleta... Ele era como um animal selvagem com correntes muito longas – era capaz de muito, quase esquecia-se dos limites e, então, bem perto do que ele mais almejava, a corrente acabava e ele sabia que não conseguiria quebrá-la. Mas o ônibus não era sua corrente. Ele andou e andou e os garotos apenas o observaram. Já havia pânico demais na cabeça pequena daqueles meninos. Qualquer coisa a mais poderia queimar seus últimos bons circuitos.

Vincent ergueu-se, ele havia se agarrado à mochila de Craig sem querer. A mochila de Craig tinha sempre um cheiro de Craig – algo entre almíscar e fumo. Ele não sabia se Craig fumava, mas algumas de suas camisas tinham o cheiro de cigarros, outras era meio perfume meio sabão neutro. Ele não gostava muito de perfumes, isso Vincent tinha notado no primeiro dia em que o viu.

Graig é um cara bem alto, loiro e sabia dar uma piscadela no momento correto. Ele também era fechado, não um pouco... Era fechado em um nível extremamente elevado, como os portões de uma prisão de segurança máxima. Ele jamais contou nada sobre sua vida, se os garotos soubessem de algo – OK, tudo bem, eles descobriram de alguma forma que poderia ser proibida – ele não se importava, mas nada sairia de sua boca.

Seus pais eram um pouco diferentes. A mãe trabalhava, tocava uma rede de lavanderias e estava foto todo o tempo. Ela deveria ter muitas moedas, todos pensavam. Seu pai cuidava da casa, dos estudos das “crianças”, dos almoços e jantares, do lanche e das manchas de tinta nos fardamentos.

As roupas do Pete eram diferentes, ele punha cada muda de roupa suja em um saco plástico e deixava bem no fundo na mochila. Até as garrafas de água vazias ele guardava. Bagunça não fazia muito o seu estilo, mas ele sabia entrar em qualquer sujeira – como daquela vez em que eles precisaram roubar os Sneakers pois o dinheiro que tinham não daria para tantos.

Pearce era difícil de entender, afinal ele não viera com nada. Talvez ele seja o tipo de brinquedo em que as peças são vendidas separadamente. Ou só tenham brincado de mais com ele e as peças gastaram e quebraram e ficaram todas no cominho. Isso o tornava um pouco mais ameaçador. Sem ter nada a perder, Pearce se jogava em qualquer coisa que o fizesse bem. Por isso ele sempre estava machucado. Um arranhão na bochecha, gesso no braço, ataduras no joelho, um ombro deslocado, sangue em sua roupa, em seu caderno, nas canetas, sangue entre as unhas, na cadeira, no chão da sala. Mas sempre havia um sorriso bem aberto em seus lábios, como se todo o sangue derramado realmente valesse algo.

Vincent olhou ao redor, Pete, Craig e Pearce não estavam ali. Ninguém deveria esperar por eles, afinal, todos sabem o que aconteceu à quem não está ali. Mesmo assim, os garotos se revezavam para vigiar os dois lados. Enquanto Lincoln observava Lance dobrar a esquina e se inclinava para continuar observando sem precisar correr até ele, Johann fincava os pés no asfalto, jurando em silêncio que permaneceria assim até que Pete ou Craig ou até mesmo Pearce acenasse no fim da rua, gritasse seu nome, reclamasse sobre a falta de espera.

Quando Johann sentou-se no meio da rua, Vincent passou a acreditar um pouco na esperança que ele carregava, mesmo sabendo que nenhum dos três voltaria.

– Johann, nós precisamos ir – Lincoln tocou seu ombro e sentiu o garoto tremer sob seus dedos.

– Tudo bem, podem ir na frente. Vou esperar... Só mais alguns minutos – ele respirou fundo e voltou a ficar de pé. – Talvez ele precise retomar o fôlego. Lance foi muito rápido com o ônibus, não daria para acompanhar nem se quisesse.

O sorriso amargo de Johann tinha o mesmo aspecto tosco e taciturno que as lágrimas de Hearth, os impropérios de Scott e o silêncio de Vincent. Ambos gentis como socos, frágeis como navalhas afiadas.

– Mas...

O silêncio assodor incomodava, e mesmo assim permanecia. Nenhum dos garotos diziam o que realmente passava em suas cabeças. Cada olhar era tanto de desprezo quanto de identificação. Vincent apenas não conseguia continuar ouvindo todo aquele nada, o vazio lhe machucava mais que milhares de olhares acusadores, que dedos apontando blasfêmias inexistentes. Ele precisava de palavras, de olhares mais realistas, da confiança em si mesmo que nunca teve. Precisava de oportunidades, da oportunidade que Lance, mesmo com todo aquele silêncio superestimado, inventou para si mesmo.

– Vamos – gritou, ele finalmente estava gritando. – Vamos logo! Eles não voltam mais. Seja quem for que você esteja esperando, nenhum deles irá voltar. Foram todos mortos, engolidos por essa porcaria de cidade. E nós precisamos sair daqui o quanto antes!

Os garotos estavam todos espantados, Vincent nunca foi de erguer sua voz tão alto. Ele é o tipo de cara que vê limites, linhas, fronteiras demarcadas e não ousa atravessá-las sem permissão. Mas parece que as regras não existem em Raventown, todas as fronteiras são rabiscos à giz, um campo inútil e fácil de ser apagado.

– Você quer sumir como eles? Quer ser apagado como um dever de casa? Então fique ai, todos vocês, fiquem aí. Chorem pelos que se foram e eles virão para levá-los. Mas não a mim, eu sobreviverei à toda essa merda, não importa o que precise ser feito – ele já estava andando rápido demais para alguém ouvir suas palavras com clareza, seus olhos vermelhos pareciam prestes à transbordar, mas segurou firme cada gota. – Mesmo que eu precise matar cada um de vocês para isso. Então, por favor, não fiquem parados assim no meu caminho, me sigam ou sejam devorados.

Os garotos se olharam por alguns segundos, Vincent já estava bem distante, seu caminhado tornou-se uma corrida. Lance estava bem à sua frente. Ambos quebrados e colados com aquela falsa força que inunda suas veias. Eles estão trilhando um caminho bem perigoso para quem quer sobreviver, entretando, nessas condições, o único caminho ruim a ser percorrido são as ruas abaixo de seus pés. Fugir deles é a escolha mais sábia a se fazer.

Johann finalmente levantou. Uma última olhada para o horizonte foi o suficiente para fazê-lo entender toda a situação. Se nem Pete, nem Craig, nem Pearce voltariam, então seria melhor que nenhum outro sumisse daquela forma.

– Soube que ele quer concorrer ao senado ou algo assim.

Lincoln parecia estranhamente agraciado com toda aquela situação. Aquela era, sem sombra de dúvida, a melhor das tomadas que ele poderia gravar em seu filme, seria a cena que faria todo o filme valer a pena, e sua câmera estava ali, desligada, pende em seu ombro como um galho seco, sem serventia.

– Com um discurso desses? Não sei, talvez ele perca. Mas... acho que votarei nele.

São metade, agora. Nove garotos em Raventown, desejando fortemente que cada uma daquelas ruas sejam incineradas, dizimadas, assim, magicamente, da mesma forma rápida e insossa com a qual ela tem feito tudo ultimamente.

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