Hoje está fazendo quatro dias que a minha irmã está em uma cama no hospital. Ela simplesmente dorme, está usando fraldas e o soro a mantém hidratada. Eu não consigo sair de perto dela, minha mãe precisou se afastar do trabalho. Mesmo com os meus protestos, ela ainda está em experiência no jornal, pode perder o cargo de colunista a qualquer momento. Não quero ninguém sofrendo. Já basta!
Em meio a um quarto de hospital, me ajoelhei no chão. E pela primeira vez em seis anos, um nome proferiu da minha boca.
─ Oi Bastian, quanto tempo? Acho que você está em um lugar lindo neste exato momento. Eu sei que deve estar desapontado e triste comigo. Tínhamos planos e sonhos lindos. E sei que gostaria que eu realizasse todos. Mas não suportei, não fui forte o bastante. Me perdoa, eu prometo que a partir de hoje, eu não vou mais pensar e chorar por sua partida. Vou lembrar de você, sempre com um sorriso no rosto como deveria ser. Vou pronunciar o seu nome sentindo uma alegria imensa em meu coração; ─ limpo as minhas lágrimas. ─ Você sempre será lembrado, Sebastian eu sempre vou te amar. Mas não vou suportar ficar sem ela. Quero acreditar que o seu amor nos guia, que você se tornou nosso guardião no céu. Ilumine nossa Violeta. Você sabe, as violetas são consideradas a flores mais delicada dos jardins. Ajude nossa família, nos ajude a conseguir seguir em frente. E que todas as fases ruins sejam vencidas.
Continue ajoelhada, esperando uma resposta ou não sei ao certo. Apenas, fiquei ali... Chorando baixinho e sentindo um alívio na alma.
─ Uma bonita oração; ─ a voz rouca da minha irmã, me fez soltar um soluço alto e desesperador.
─ Vih? Violet... ─ Levanto-me para encará-la, para ter certeza que não estou sonhando.
─ Oi Solana, você está linda!
Cubro a minha boca com mão, para impedir o choro estrondoso.
─ Jesus Cristo. Eu não morri, só estou com a visão um pouco estranha.
─ Um médico, eu preciso chamar um médico... ─ corri até a porta, mas hesito. ─ Você vai ficar bem?
─ Solana, sem drama. Eu estou bem e com muita fome. Então por favor, chame longe esse médico.
─ Sim, é claro.
Abro a porta e corro pelos corredores, chorando, rindo, pulando, eu já não sei qual é minha reação. Só sei que estou feliz. A minha irmã acordou.
─ Solana? ─ Simon caminhou apressado, segurando duas sacolas plásticas. ─ Por que está correndo? Por que está chorando?
─ Preciso encontrar um médico; ─ Digo eufórica. ─ Violet acordou e está conversando. E Simon... Minha irmã está bem!
─ Sérgio, estava falando com o médico cinco minutos atrás, na sala de triagem.
─ Ótimo, vá até o quarto. Cuide da minha irmã e o que significa essas sacolas?
─ Eu trouxe um lanche é final de tarde, você não come nada desde manhã.
Beijo seus lábios rapidamente, eu não estava sentindo fome. Eu só queria que minha irmã acordasse. No entanto, estou muito grata. Tenho certeza que essa alegria extrema resultará em fome de leão.
─ Eu amo você, amo muito Simon Gustavo.
─ Eu também te amo Solana Malta, agora tenho que cuidar da cópia da minha namorada. Ela acabou de acordar de um quase coma.
Sorri, era impossível esconder a minha felicidade. Meu coração está preenchido por tanta luz e bondade. Esse homem, transmite as energias mais nobres e lindas que existem.
─ Conte para ela que é meu namorado. Preciso ir...
Sem deixar Simon pronunciar mais nem uma palavra. Volto a minha maratona, desci as escadas, corri mais um corredor desviando de enfermeiros e pacientes. Até chegar na sala de triagem. O médico de minha irmã conversava com um paciente, que está com um ferimento da cabeça.
─ Dói quando aperto? ─ questiona.
─ Com licença; ─ observo ao redor procurando meu pai, mas ele não está. ─ Violet Malta acordou, doutor.
─ Ótimo, que boa notícia. Estarei no quarto em vinte minutos.
─ Obrigado!
Não esperei para ligar para o meu pai, ele estava na cafetaria. Contei que Violet estava acordada. O homem praticamente gritou no celular.
❁ ❁ ❁
O médico examinou a minha irmã, os seus últimos exames estão ótimos, porém, a visão... Não será mais a mesma. Não só a cocaína como outras drogas afetam o nervo óptico. Minha irmã foi uma sortuda, apenas o olho direito foi afetado, deixando uma pequena mancha branca na íris-castanha.
Ela observava o resultado no espelho, não tinha como controlar o meu nervosismo. Minha irmã perdeu completamente a visão do olho direito.
─ Bom, poderia ser pior. ─ Disse Violet sorridente.
Eu não conseguia entender, quer dizer engolir toda essa farsa. Essa máscara que ela usa para fingir que está bem.
─ Poderia ser pior? Violet? Você teve uma overdose. ─ Altero a voz.
─ Shh; ─ faz minha mãe. ─ Violet precisa de calma.
─ É loucura, há quanto tempo você cheira?
Ela não me respondeu, continuou olhando o seu reflexo no espelho.
─ Violet, minha filha. Você precisa nos contar o que aconteceu. ─ argumentou nosso pai.
Simon estava encostado em uma parede no quarto, avaliando-a. Observando Violet da mesma maneira que ele me olhava quando nos conhecemos. Como se estivesse decifrando os nossos segredos.
─ Foi em uma festa não me lembro de muita coisa, está tudo confuso. Só lembro da dor muito forte na cabeça e depois... Nada!
─ Por que não me contou que seu relacionamento estava complicado? ─ eu praticamente choraminguei, feito uma criança que não é convidada para brincar na balança.
─ Nós estávamos bem, Xande queria conhecer lugares e pessoas diferentes.
─ Isso significa usar drogas em uma festa? Ah, pelo amor de Deus.
─ Eu sei o que estava fazendo, Solana. Não sou uma criança.
─ Sabia ao ponto de ficar desacordada por quatro dias e usando até fraldas.
Minha irmã enrubesceu, ela rapidamente encarou o Simon, envergonhada.
─ Já chega, as duas. Não é um momento para discussão.
─ Onde está o Alexandre? ─ Indagou, cabisbaixa.
Só pode ser brincadeira, eu nem vou responder para não perder o carinho da minha irmã.
─ Oh... Vih, meu amorzinho. Alexandre é um rapaz difícil, ele atacou a Solana verbalmente e resultou em uma confusão terrível. A última notícia que tivemos dele, é que estava indo para uma clínica de reabilitação.
Os olhos da minha irmã enche-se de lágrimas.
─ Ele me deixou? Não me visitou um único dia?
Ninguém teve coragem de se pronunciar, ela está tão abalada.
─ Me respondam! ─ Gritou, com os olhos inundando em lágrimas.
─ Violet; ─ Simon quebra nosso silêncio. ─ Eu sei que está passando na sua cabeça: "Por quê comigo?" "Ele me amava, por que me deixou?" "Eu fiz tudo por ele, onde errei?". Eu sei que essas perguntas neste exato momento estão lhe torturando. Estão machucando, ferindo com força o seu coração, mas o Alexandre fez uma coisa muita errada. E você precisa focar na sua situação, em você primeiramente; ─ ele aproximou-se. ─ Eu sei que não é simples, estou falando como se fosse fácil, e acredite deixar um amor é doloroso, mas possível... No momento você precisa cuidar da sua saúde. Ficou desacordada por quatro dias, quase ficou cega. Olhe para esse espelho menina e agradeça por ter saído dessa com vida. Overdoses são extremamente perigosas. Levam a morte.
Minha irmã engoliu em seco, ela não desviou olhar e encarou Simon com raiva, como se ela fosse culpado por tudo.
─ Você é namorado da minha irmã, portanto, cuide da vida dela. Quem você pensa que é?
─ Simon, é psicólogo. Pode ajudar...
Violet gargalhou.
─ É claro, só um psicólogo para aguentar a Solana.
─ VIOLET. ─ Repreende nossa mãe.
─ Não mãe, está tudo bem. Eu não me senti ofendida. Já ouvi coisas piores. ─ ergui os ombros.
─ Vivia nas noites do Rio de Janeiro, bebendo e indo até presa. Não banque a santa, Solana.
─ Não estou bancando a santa, só estou preocupada com você.
─ Foda-se, me levam até o Alexandre quero visitá-lo.
─ Tsc, tsc, escolha errada. Você vai voltar para Minas Gerais comigo. Você, Solana e Vanessa; ─ minha mãe ficou surpresa com a revelação, arregalando os olhos. ─ Dezembro está chegando e com ele, o Natal. Quero uma ceia com a minha família reunida.
─ Depois de seis anos? ─ Alfineta Violet.
─ Sim, Violeta. Depois de seis anos. Eu precisei apenas me esconder em uma fazenda para fugir dos meus demônios. E naquela fazenda que eu estou conseguindo matá-los, foi nessa mesma fazenda que Solana se reencontrou, que acalmou seus traumas e conheceu o amor. É nessa fazenda, no interior de Minas Gerais, que você vai se recuperar desse vício.