Capítulo 10

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São sete horas da noite no relógio preso na parede do meu quarto. Na minha cama nasceu pregos e não consigo ficar deitada. A brisa deliciosa adentrava pela janela aberta, trazendo com ela aquele aroma de sândalo. Por que ele não insistiu hoje? Ah, chega de pensar!
Pensei no Simon a tarde inteira e agora a noite também? Não, vou me certificar, ele pode ter se machucado ou… Sei lá, que se foda. Volto a me sentar na cama… Mas se ele nunca mais tentar conversar comigo?
Calço meu tênis e desço as escadas correndo, na sala de visita não encontro nenhuma alma viva. Agradeço aos céus por essa dádiva, não suporto dar explicações.
Simon comentou que a Cabana fica nos fundos da Mansão, com a lanterna do celular vou iluminado o caminho. Não era totalmente escuro, meu pai teve a brilhante ideia de adicionar luzes de led em algumas árvores, facilitando a caminhada de noite.
Sigo em uma pequena passarela de tijolos, fazendo-me lembrar do Mágico de Oz, andei por mais ou menos 20 minutos até avistar uma cabana, que mais parecia um chalé para ser exata. Era como um refúgio de madeira em meio às árvores gigantes de eucalipto. O segundo andar era cercado com uma bonita varanda, mantendo o beleza tradicional e rústica de um chalé antigo. Combinando diversos materiais, como pedras ao redor de uma escadaria para entrada de um bonito jardim. As flores dão um colorido e um toque de romantismo à residência. As madeiras envernizadas brilham com as luzes gota de orvalho, que enfeitava a varanda. Uau!

Parei em frente a porta, com uma aldraba em formato de flor destacando-se. Bato ou não? Não! É claro que não, não compreendo. O que estou fazendo aqui? Jesus, estou perdendo a noção. Dou meia-volta, mas antes de dar o primeiro passo a porta é aberta atrás de mim.

─ Eu estava com um ótimo pressentimento. ─ Diz uma senhora morena, com os cabelos longos e um pouco grisalhos, que batiam no ombro. A senhora tinha aquele típico sorriso amistoso. Não era alta, com uma estatura mediana.

─ Boa noite. Eu, eu… ─ pense Sol, você precisa inventar uma boa desculpa.  ─ Tia Nana, me contou que a Senhora faz um ótimo creme hidratante com óleo de Girassol.

A senhora gargalhou.

─ Você deve ser a Solana, entre… ─ ela deu um passo para trás, abrindo espaço para adentrar na sala. Era comum, não havia uma decoração elegante e sofisticada. Era uma simples sala contemporânea, mas muito organizada e o aroma de sândalo. Hmm, muito bom!

─ Eu sei que é tarde, mas…

─ Tarde? Tsc Tsc, besteira. Venha comigo. ─ a senhora segurou na minha mão, eu fiquei em alerta com o toque íntimo. ─ Meu nome é Germana, a benzedeira da fazenda. Como todos dizem. ─ Sorriu.

Passamos por uma cozinha ampla e bonita e seguimos por um corredor estreito e depois… Oh! Estávamos em uma área, em frente de um outro jardim. Mas esse era diferente, com belíssimo caramanchão florido, bancos feitos com troncos de árvores, lanternas em cima de uma mesa de piquenique. Uma churrasqueira assando saborosos pedaços de carne, e sentado em um dos bancos tocando um violão, estava o Simon. Um senhor o acompanhava, bebendo uma cerveja e rindo enquanto o filho cantarolava uma música:

─ Eu não sabia que doía tanto uma mesa num canto, uma casa e um jardim. Se eu soubesse o quanto dói a vida, essa dor tão doída não doía assim. Agora resta uma mesa na sala e hoje ninguém mais fala do seu bandolim. Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim!

A sua voz era grossa, calma e um pouco melancólica, a letra da música me fez recordar de um garoto, de olhos verdes-claros e cabelos escuros como noite. Da nossas pinturas juntos e dos segredos contados, dos incentivos e do mesmo amor compartilhado.

─ Simon. ─ Chamou Dona Germana, fazendo-me acordar, chutei para longe as lembranças.

O rapaz parou de cantar e nesse exato momento nosso olhar se encontrou, o tom avelã se misturou com o castanhos dos meus olhos. E fico encantada, hipnotizada, completamente fascinada. Mal notei quando o Simon aproximou-se, tudo ficou em câmera lenta.

Girassol (Até 20 Agosto) Where stories live. Discover now