Violet sempre foi a mais inteligente, aquele tipo de pessoa magnética que sempre atrai coisas boas. Sempre estava falando dos garotos da Universidade, sempre estava dizendo que recebeu uma declaração de amor. E eu fugindo para noite perigosa do Rio de Janeiro, participando dos bailes, bebendo, freqüentando até mesmo favelas. Mas nunca pensei em usar drogas. A bebida já me confortava, ficar bêbada até esquecer de tudo. Beijar e esquecer, esse era um lema que eu seguia a risca.
Nunca encontrei a minha irmã nas baladas, Violet não frequentava bailes funks ou clubes noturnos. A escolha dela era cinema ou uma “noite de garotas” como ela costumava dizer. Durmia na casa de alguma amiga. É difícil de acreditar, de me convencer que tudo é real. Que a minha irmã teve uma overdose.
Céus, quando eu cheguei no hospital três horas depois, encontro a minha mãe desamparada. Eu não queria demonstrar o quanto estava assustada com tudo, queria mostrar a ela a mulher forte que estou me tornando. Mas quando encontrei a minha mãe tão linda e usando um terno feminino. Eu só consegui abraçá-la e chorar. Nós duas ficamos longos minutos, sentindo conforto uma na outra. Esquecemos até mesmo a presença do Simon e do meu pai.
─ Eu sinto muito mesmo mãe, por tudo!
─ Ela só precisa ficar bem.
─ Vanessa. ─ meu pai pronuncia-se receoso. ─ Como ela está?
Limpa as lágrimas.
─ Estável, ela só precisa acordar.
─ Violet vai ficar bem, nossas meninas são guerreiras.
─ Mãe, quero apresentar o meu namorado. Esse é o Simon, ele é psicólogo e pode ajudar.
─ Boa tarde Senhora. ─ sorriu, estendendo a mão.
Minha mãe fica estática e mal piscada, ela avaliou o Simon dos pés a cabeça.
─ Mãããe, estamos dentro de um hospital.
─ Oh, meu Deus. Desculpe-me; ─ aceita o cumprimento. ─ É um prazer conhecê-lo, me chamo Vanessa.
─ O prazer é todo meu Senhora.
Ela sorriu, enrubescendo. Eu sei, eu entendo ela! Simon é lindo, qualquer mulher ganharia uma corzinha nas bochechas ao encontrá-lo.
─ Vanessa, pode nos contar o que aconteceu? Como? Violet é uma garota estudiosa, uma garota exemplar. ─ Ponderou.
─ Vamos nos sentar.
Escolhemos alguns sofás em um canto no hospital, a minha mãe está apreensiva e acho que um pouco envergonhada também. Ela sempre elogiou a Violet, a filha boazinha que não causava problemas. Bem, no fim a Violet também estava perdida. Só precisávamos notar.
─ Solana; ─ minha mãe encarou o Simon e em seguida meu pai. ─ Me prometa que não vai causar uma confusão.
Por que estou odiando essa ideia? O que está passando pela cabeça desta mulher ou melhor… O que ela vai revelar?
─ Alexandre está esperando alta do médico.
─ Espera aí o que o Xande tem a ver com tudo?
Silêncio, ela não me respondeu. No entanto, minha atenção ficou presa na entrada do corredor. Percebo um casal aproximando-se e o Alexandre ao lado deles, rindo e debochando de alguém ou… Não! Agora tudo está fazendo sentido. Esse almofadinha me paga.
─ VOCÊ; ─ Trovejo. ─ O que você fez com a minha irmã?
─ Amor; ─ Simon segurou no meu braço. ─ sem brigas e discussões. Violet está em observação neste hospital.
Alexandre fechou o sorriso e caminhou calmamente na nossa direção.
─ Cunhada, sogrinha…
─ Não me chame de sogra; ─ diz com os dentes cerrados. ─ Você drogou a minha filha.
─ ELE O QUÊ?
E mais uma vez tentei avançar para estapear a fuça desse cachorro, mas Simon me impede novamente.
─ Eu já falei, Violet é adulta tem 18 anos. Nós estávamos em uma festa, um amigo ofereceu e ela aceitou.
─ E você? Seu miserável, deixou? Deixou ela usar drogas?
─ Ele também teve uma overdose, havia um casal responsável no meio do grupo e chamou a emergência. ─ Minha mãe fuzilou o garoto, com o olhar. ─ Se dependesse dele, Violet estaria morta.
─ Ah, por favor. ─ Disparou a mulher com um corte Chanel de bico, usando um vestido colado no corpo e rosto cheio de botox e preenchimento. ─ Foi apenas um deslize de adolescentes!
─ Adolescentes? ─ cerro os punhos. ─ Alexandre não é um garotinho.
─ Vocês são os pais desse garoto? ─ Meu pai questiona.
─ Sim, somos! ─ responde um Senhor grisalho, com um semblante cansado e um olhar triste.
─ Simon, Solana e você; ─ aponta para o Alexandre. ─ Saiam, agora é hora de uma conversa entre adultos. Afinal, o seu filho é apenas um adolescente.
─ Pai…
─ Sol, não é momento. ─ censura com a voz ríspida.
─ Amor, vamos. ─ Simon segurou na minha mão e nos afastamos, caminhando para fora do hospital. Acho que um ar fresco, sem um cheiro hospitalar me fará bem.
─ A sua irmã é fraca; ─ disse Alexandre em nosso encalço. ─ Só uma carreira de cocaína e pronto. Ela apagou…
Segurei com toda a minha força na mão do Simon, ele não reclamou. Apenas continuamos andando.
─ Ela deveria ser como você, Sol. Uma vadia da noite e quem sabe…
“POFT”
Em um segundo Simon estava do meu lado, no outro ele estava esmurrando o rosto do almofadinha. Eu fiquei inerte, observando a cena. Simon é robusto, é puro músculos. Um soco foi o bastante para jorrar sangue do nariz e da boca do garoto. Que não conseguia se levantar do chão, alguns enfermeiros apartaram a confusão antes que Alexandre fosse direto para uma sala de cirurgia reconstruir o rosto.
─ A próxima vez que chamar a minha mulher de vadia, você vai direto para o necrotério do hospital.
─ Vou chamar a polícia. ─ disse uma enfermeira.
─ Pode chamar e quem sabe esse almofadinha conta de qual traficante compra as drogas.
─ Simon… ─ Meu pai corre em nossa direção quando presencia a aglomeração de pessoas.
─ Vocês dois ficaram loucos? Brigar em um hospital?
─ Ele-ele, foi-foi… Merda! ─ leva a mão até o nariz para tentar conter o sangramento.
─ Meu pobre bebê, vou processá-los.
─ Acho que não Senhora Sartori, entramos num acordo. Com certeza o seu filho agiu de uma maneira grotesca. Fazendo o namorado da minha filha partir para violência. Simon, é o homem mais íntegro que conheci.
─ Ele me chamou de vadia. ─ Conto, erguendo o queixo e encarando a mulher sem mudar minha postura.
─ Meu Deus, Alexandre está passando dos limites. É hora mudar as regras da nossa família; ─ segura no braço da esposa. ─ Vocês podem levá-lo; ─ diz para os enfermeiros. ─ Com certeza vai aprender a manter a boca fechada com alguns pontos. E chamem a polícia quero denunciar um traficante de drogas.
─ Não, pai. Por favor!
─ Precisamos estancar esse sangue, por aqui por gentileza. ─ Comenta um dos enfermeiros que separou a briga.
─ Muito bem, Simon. Muito bem!
─ Desculpe, eu não deveria ter perdido a cabeça. Nossa, me perdoe Senhora Vanessa.
Minha mãe esbanjava um sorriso gigantesco no rosto.
─ Te perdoar? Rá, capaz. Ele mereceu.
─ Por favor, agora que toda a confusão passou podemos ir ver a Violet? Eu estou muito preocupada. ─ imploro.
─ Sim, é claro. É por aqui…
Minha mãe tomou a frente e movemos no seu encalço. Terei tempo para agradecer o Simon pela loucura de esmurrar um viciado em um hospital. As pessoas nos enganam, Violet sempre falou tão bem do garoto da Universidade, do namorado tão carinhoso e amado. Hoje ele se mostrou ser um sapo horrendo no final dessa história.