Quando dois indivíduos com personalidades distintas, criação e pensamentos diferentes, resolvem se relacionar. É inevitável, vai acontecer os desentendimentos. Principalmente, entre uma mulher com transtornos e um psicólogo formando.
No Rio de Janeiro conheço várias pessoas que apontariam o dedo, dizendo que não éramos feito um para o outro. É várias pessoas para julgar e poucas para ajudar. Sempre será assim!
Simon está distante desde que chegamos na fazenda. E para ser honesta, estou muito irritada. É tão fácil dizer o que está lhe incomodando, mas ele prefere dificultar tudo.
Após um banho e um jantar reforçado, voltei para a Cabana, Dona Germana estava em uma sala usava para o seu lazer, ela assistia o jornal local.
─ Boa noite!
─ Que dia agitado; ─ suspira fundo. ─ Pensei estava irritada com o Simon.
─ Sinceramente, estou muito irritada com ele. Simon está me ignorando.
A senhora encarou meu perfil, com um olhar doce.
─ Ele não está te ignorando, Simon está organizando a situação na sua cabeça para saber como agir. Coisa de psicólogo! ─ pega uma pequena bolsa. ─ O seu pagamento…
─ Oh, não Dona Germana. Eu não preciso de dinheiro.
─ Por favor, menina. Apenas aceite e faça uma senhora mais feliz. ─ abre a minha mão com delicadeza e coloca algumas notas de cem na palma da minha mão.
─ Mas Dona Germana…
─ Chega, está decidido! Você me ajudou muito hoje e merece; ─ acariciou a minha bochecha. ─ Ele está lhe esperando no quarto. Façam as pazes.
Eu assenti, um pouco encabulada por causa do dinheiro. Dona Germana é tão bondosa, é uma mulher compreensiva e amiga. Mas é consegue ser orgulhosa quando deseja, minha ajuda foi de bom grado. Porém, não posso esquecer que eu estou precisando de dinheiro. Subi as escadas e encontro Simon concentrado escrevendo sem uma agenda.
─ Boa noite! ─ bato na pronta.
─ Pode entrar e tranque a porta.
Fiz o que pediu e sento-me na beira da cama.
─ O que está escrevendo?
─ É anotações sobre você; ─ sorriu. ─ Gosto de deixar registrado a sua melhora.
─ Hmm, é necessário escrever sobre mim?
─ É necessário um mural na sua parede com vários desenhos do meu rosto?
Gargalhei, movendo-me para mais perto.
─ É diferente, Simon. Você é minha inspiração.
─ E você é a minha! ─ disse com uma expressão séria.
─ Ainda está irritado? Por que não me conta o que aconteceu para detestar os Luizianas?
─ Não quero falar sobre Taylan, agora que você sabe que não somos amigos. Quero você longe dele.
─ Com ciúmes? ─ provoquei, Simon encara-me com olhos semicerrados.
─ Você é a minha namorada, é normal sentir ciúme de tudo que amamos!
─ Para ser honesta, eu também senti muito ciúmes quando soube que ficou sozinho no celeiro com a Bruna. ─ estalo meus dedos.
─ Tsc, tsc, tsc, não comece a pensar. Eu não estava sozinho com a Bruna, tinha mais funcionários da fazenda no celeiro.
─ Entendo! ─ desviei o meu olhar, observando todos os detalhes do quarto, mas evitando encará-lo. Pensar no Simon com a Bruna me causa enjoos.
─ Ei, meu amor; ─ segurou no meu queixo com ternura, me perdi e me encontrei no tom dos seus olhos. ─ Eu te amo, te amo muito.
─ Eu sei, eu confio muito em você. Mas pensar nos dois juntos é agoniante.
─ Só aconteceu uma vez, agora vamos parar de falar do meu passado.
─ É lá que quero chegar, também quero conhecer o seu passado. Para entender o homem que você é hoje.
Ele riu, aquiescendo.
─ Tudo bem, eu entendo. É difícil esquecer alguns momentos do passado. É ele que move o presente e transforma o futuro.
─ Não faça isso!
─ Isso o que?
─ Dizer essas frases de psicólogo.
Simon inclinou a cabeça para trás, rindo descontraído. Se divertindo com o meu comentário.
─ Solana, você é incrível; ─ percorreu o dedos carinhosamente sobre meus lábios. ─ Bem, Taylan Luiziana era meu melhor amigo. Como moramos em fazendas vizinhas crescemos juntos. Brincando e correndo, estávamos sempre aprontando. Até mesmo quando chegamos na adolescência e iniciamos a nossa vida sexual com um ménage em um palheiro.
─ O que é um ménage? ─ Indago confusa.
Simon ficou paralisado por um instante, ficou encarando meu perfil incrédulo e suas bochechas ganham um leve rubor.
─ As vezes me esqueço o quanto pode ser ingênua. ─ beija meus lábios. ─ Um ménage é… sexo a três!
─ Então, você e o Taylan?
─ E uma funcionária da fazenda, o nome dela era Daffeny. Era a mulher mais linda da fazenda naquela época.
─ Uau, ela ainda trabalha aqui? Quero muito conhecê-la.
─ Por que? ─ Pergunta-me com um tom de divertimento.
─ Quero parabenizá-la, conseguir dormir com vocês, dois homens deslumbrantes é uma dádiva. Queria ter essa sorte. ─ gracejo.
─ Quer alguém nos acompanhando na cama?
─ Acho que meu namorado não vai gostar de presenciar outro homem me beijando.
─ Com certeza não! ─ Ele me puxou para a cama, deitando-me.
─ Simon, agora não é hora. Quero saber o fim da história; ─ beijo a sua bochecha. ─ É sério.
Simon é o tipo de homem que exige sempre mais, tudo intensamente. Ele não consegue moderar os seus sentimentos, não consegue controlar os seus toques. Tudo é selvagem, avassalador e quente. Mesmo que tentasse não conseguiria dormir com outro homem. Ele consegue suprir todas as minhas necessidades, não só como uma paciente precisando de ajuda. Mas também, como mulher. Ele está me tornando essa mulher forte e experiente. Viver como ele, é aprender. É se redescobrir a cada beijo. Quando estou em seus braços eu esqueço de tudo. Da fazenda, dos meus traumas que aos poucos estou conseguindo deixar para trás.
A minha vida emocional está seguindo em frente. Entretanto, um dia vou precisar encarar a vida profissional e como? Se não conclui o ensino médio? E como contar ao Simon? Ele é um homem formado, mesmo decidindo viver longe da cidade e deixando a profissão de lado, tem um ótimo salário como funcionário da fazenda.
─ Solana, você está pensando demais. O que conversamos? Ficar revivendo seus traumas aumenta as crises, pode até mesmo paralisar a sua capacidade de raciocínio.
─ Ah não; ─ lhe empurro para sair de cima. ─ Não comece seus diagnósticos agora. Pronto, você acabou com clima.
─ Posso deixá-la no clima rapidinho. ─ estende a mão. ─ Venha, a escolha é sua: Um oral até você gozar ou uma discussão desnecessária.
─ Eu preciso contar uma coisa. Com certeza você não sabe.
─ O que eu não sei?
─ Eu-eu, sa-sabe… ─ merda, odeio ficar nervosa.
─ Você está gaguejando.
─ Ain, eu estou tão envergonhada. ─ confesso, quase chorando de desespero.
─ Solana, o que você fez?
Está tudo certo, eu consigo. Respirei fundo tentando controlar os meus batimentos cardíacos.
─ Eu não terminei o ensino médio!
Meu namorado ficou inexpressivo, eu não conseguia identificar o que ele está pensando ou achando de tudo, até que…
─ VOCÊ O QUÊ?
É claro que essa seria a sua reação.
─ Eu sei que você sentirá vergonha, mas eu não conseguia. Toda vez que entrava dentro de uma escola. Era como se as paredes se fechassem ao meu redor, me esmagando; ─ as lágrimas inundam meus olhos. ─ A cena do acidente, o cheiro de sangue, o barulho das sirenes. Tudo me deixava…
─ Atormentada? ─ completa Simon.
Eu afirmo com cabeça, decepcionada comigo mesma. Quantos sonhos em eu tinha e dói muito olhar para trás e perceber tudo que perdi.
─ Me perdoe; ─ paço o dorso da mão no meu rosto para limpar as lágrimas. ─ Eu não mereço você.
─ Já chega, você só tem 18 anos. Sol, você tem uma vida inteira e um mundo te esperando. Sempre terá tempo!
─ E se não tiver? E se eu te perder para o tempo?
Não sei porque estou me sentindo tão aflita. Talvez, por pensar em quem eu poderia ser se não tivesse deixado os traumas me desanimar.
─ Você confia em mim? ─ deslizou a mão no meu cabelo.
─ É claro, sempre. Eu te amo, você é o homem da minha vida.
─ Então acredite nas minhas palavras, você vai conseguir estudar. Você vai conseguir concluir o ensino médio. Sol, meu amor, podemos conquistar as estrelas juntos.
Eu deixei a insegurança de lado, a vergonha, o medo de fracassar mais uma vez. E entreguei para esse homem, ele está sendo aquela luz que tanto procuramos quando estamos sem saída. Aquela chuva no deserto, que nos acalma a alma. Simon tem a cura para dor, para o sofrimento. Tudo nele transmite bondade e compreensão. Preciso aproveitar cada segundo do lado dele, como se o amanhã não existisse.