Trauma, transtornos, a depressão é uma doença difícil de controlar. A sua mente lhe engana, você mesmo se machuca e aos poucos vai perdendo o ânimo para viver. Vai deixar de lado hobbies, amigos, sonhos, dons, a família, seus objetivos e fica entocado em um único lugar.
Eu preciso ajudá-la, preciso que ela viva, que ela perceba o quanto é encantadora, o quanto é linda e inteligente. E o sorriso dela, meu Deus… Como pode aquele riso tímido e discreto ter um efeito tão grande sobre mim? Espero que ela desenhe, que ela consiga!
A ajuda de um psicólogo é muito importante, mas infelizmente não fazemos milagres. O paciente precisa estar disposto a melhorar, a lutar para vencer o que está lhe torturando. Eles decidem qual caminho seguir, nos mostramos apenas a solução, onde está o verdadeiro problema. Solana terá muitos obstáculos para vencer, perdoar a família e a si mesma, esquecer é impossível, o trauma foi bastante impactante. No entanto, ela pode conviver com a perda, sem causar mal para seu psicológico.
─ Simon. ─ Senhor Sérgio acena quando estou voltando para a Cabana.
─ Boa tarde. ─ cumprimento educadamente.
─ Estava falando com a Solana, como ela está?
─ Está se recuperando. É difícil, mas aos poucos estou conseguindo entendê-la.
O homem limpou o suor na festa.
─ Maravilhoso, eu estou pensando seriamente; ─ hesita por um momento, ele tombou a cabeça para trás, observando as nuvens. ─ vou conversar com ela. Solana precisa entender as minhas escolhas no passado.
─ Tem certeza? Sol está no começo de um tratamento, ainda estou avaliando o caso. Talvez, ela possa precisar de uma medicação.
Sérgio me encarou, com uma expressão séria.
─ Remédios controlados?
Eu afirmo com a cabeça.
─ Jesus Cristo, isso é desnecessário!
Não sou o tipo de pessoa que culpa alguém por algum fato ocorrido. Não sou o tipo de pessoa que aponta o dedo e julga. Não é da minha índole, mas tudo o que está acontecendo com a Solana é resultado do afastamento da família.
─ Não é aconselhável o Senhor iniciar uma conversa com a Solana sobre o passado agora. Espero um mês ou dois, espere…
─ Rapaz; ─ corta-me. ─ Eu admiro a sua profissão ter o dom de ouvir e entender a mente das pessoas é incrível. Mas quero lembrá-lo que eu sou o pai da Solana e tenho todo direito de expressar meu arrependimento.
Meu Deus, será que é tão difícil compreender? Agora posso compreender o porquê Sérgio Malta sempre toma decisões erradas, até mesmo na administração da fazenda. Ele é um homem teimoso e precipitado, são os funcionários mais antigos que mantém essa fazenda de pé, que conduz a produção das sementes, do óleo… DE TUDO!
─ Sérgio, a sua filha começou a desenhar agora… Acabei de entregar um caderno de desenha a ela. Espere uma semana, apenas uma semana.
Coçou a barba, pensou por alguns segundos e disparou: ─ Vou aproveitar a oportunidade, a festa será divertida. Com certeza contribuirá para uma boa conversa.
─ Tudo bem! ─ chutei uma pedra, irritado. ─ A escolha é a sua; mas não estarei no churrasco para assistir o show gratuito que a sua filha dará.
O homem mudou a sua fisionomia, ficando desconfiado. Eu apenas girei pelos calcanhares e segui adiante. Esse filho de uma mãe!
Eu não sei porque estou tão enfurecido com a decisão do Sérgio, quer dizer… Na verdade eu sei, Solana é uma garota boa, que tem um coração puro, uma garota que se encanta com uma cachoeira e com campos de girassóis. Que enfrenta uma crise de pânico ouvindo uma simples lenda. Que entregou sua confiança para a primeira pessoa que não julgou o seu comportamento, apenas entendeu. Eu não vou comparecer nessa festa, não vou… Parei de andar, a uma movimentação estranha na entrada do Chalé.
─ Não pode ser… ─ Sussurrei.
De longe consigo ver o meu irmão mais velho, rindo com meu pai. E abraçando a minha avó, os seus filhos correm no jardim, brincando e gargalhando. Corri até as escadas, radiante com a visita.
─ Fabian, lembrou que tem família? ─ gracejo.
─ Eu estava me perguntando aonde você estava, é bom revê-lo Simon. ─ abraçou-me. ─ Senti saudade, cara!
─ Que surpresa maravilhosa. ─ Argumenta a minha avó, com lágrimas nos olhos. ─ Vou preparar um delicioso café.
─ Eu aceito, tudo que a Dona Germana oferece é primoroso.
Ela sorriu orgulhosa.
─ E a Larissa? ─ Questiono um pouco confuso.
─ Vai passar uma temporada com a mãe, ela está doente. Problemas respiratórios, escolhi ficar algumas semanas na fazenda. Você, sabe… ─ diminuiu o tom da voz, com certeza para nossa avó não ouvir. ─ Prefiro ver o diabo na minha frente e não ver a minha sogra.
Gargalhamos em conjunto.
─ Crianças, venham cumprimentar o Tio Simon.
Os dois moleques correm na minha direção.
─ Oi Tio Simon, você continua igual um bode. ─ disse Charles de sete anos.
─ Nossa, um bode? Estou péssimo.
─ Papai disse que você tem disfunção erétil, por isso que é feio e não tem namorada. ─ Conta Ronald de 4 anos.
─ O quê? ─ encarei o meu irmão indignado. ─ Que conversa é essa?
Meu irmão ficou constrangido, e acertou um tapa de leve na cabeça do filho mais novo.
─ Respeito e educação, moleque. ─ suspirou. ─ Não era do Tio Simon que estávamos falando, e o que eu falei sobre ouvir atrás da porta?
Meu irmão é Urologista, mora na cidade com a esposa e os filhos. É meu irmão por parte de pai, do primeiro casamento do Senhor Otávio. Digamos que meu pai mantém uma relação amistosa com a primeira esposa, ela até passou alguns dias na fazenda no começo do ano. Mas é uma perua que adora viver em cassinos clandestino. Infelizmente, meu pai mesmo sendo um homem bom e honesto não teve sorte com as mulheres que surgiram no seu caminho.
─ Você pare de brigar com seus filhos, podem brincar crianças. ─ Diz nosso pai. ─ Mas brinquem no Jardim, não saiam caminhar na fazenda sem a nossa autorização.
─ Está bem! ─ Responde o mais velho.
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A minha avó arrumou uma mesa na varanda do Chalé, conseguimos ficar de olho nas crianças e conversar. O sol já estava se pondo no horizonte e mesmo em meio a uma conversa descontraída com minha família, eu não conseguia parar de pensar nela. Como ela está? Será que conseguiu desenhar? O meu mundo está girando ao redor dela, eu posso entender essa obsessão. Eu entendo perfeitamente, mas é correto? É correto amar uma jovem mulher, com transtornos e o pior: É A MINHA PACIENTE!
─ Simon? Você vai vender o consultório? ─ Grita Fabiano, me fazendo sobressaltar na cadeira.
─ Ãn?
─ Ficou louco homem? Perdeu o juízo? Esqueceu o quanto nosso pai lutou para nos proporcionar uma boa educação?
─ Não, eu não esqueci. Eu só não quero continuar na cidade. Posso trabalhar na fazenda.
Fabian me encarava boquiaberto.
─ Pai? Você aceitou?
Meu pai apenas ergueu os ombros, bebericando o seu café.
─ Vó?
─ Simon precisa estar no lugar que seu coração desejar!
─ É sério? Que coração mais mixuruca, por quê não escolheu Páris? Não, é claro que não. Precisava escolher uma fazenda na estrada, em Minas Gerais. ─ bufou irritado.
─ Já chega, você está fazendo uma tempestade em um copo de água. ─ Retruco. ─ Estou trabalhando na fazenda no momento.
─ Juntando bosta de cavalo?
─ O seu irmão está tratando a filha do patrão. A menina tem transtornos e crises de pânico.
Fabiano franziu a testa.
─ Está aqui por uma única paciente? Uma única paciente?
Precisei respirar fundo muitas vezes para manter a calma. Meu irmão é assim, completamente exagerado. Dizem que as mulheres são as rainhas do drama, sinto informá-las, mas os homens conseguem dominar um show dramático.
─ Ela é diferente! Quero cuidar dela, apenas viva a sua vida Fabiano e me deixe viver a minha.
Sabia que nossa discussão não terminaria assim, meu irmão é insistente. Quando tiver uma oportunidade ele vai bater na mesma tecla, voltar no mesmo assunto só para não perder a razão.
─ Eu concordo com o Simon. ─ interrompe a nossa avó. ─ O churrasco vai começar e vamos aproveitar essa noite.
─ Churrasco? ─ Murmurou perdido.
─ Sim, Fabian… É o aniversário da enteadinha do patrão. Não podemos perder.
─ Acha mesmo que eu perco uma boa festa? Vamos!
─ Eu não vou! ─ Falei convicto.
─ Só pode estar brincando. Simon, eu viajei até a fazenda para me distrair e ter um pouco de diversão. Então, acho melhor você tomar um banho e me apresentar para a nova moradora da fazenda.
Fala sério!