VANTE: GIRASSÓIS DE DANTE

Galing kay Gabbieah

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[GIRASSÓIS DE DANTE DISPONÍVEL PELA EDITORA EUPHORIA] Depois de doze anos sozinho, seu pai finalmente encontr... Higit pa

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Epílogo
Bonus!

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Galing kay Gabbieah

Taehyung mais uma vez não foi para a aula, soube disso no segundo em que ele entrou no meu quarto pela manhã, enfiando-se embaixo do meu cobertor e mantendo o silêncio por quase uma hora, enquanto eu terminava de ler um pdf.

– Porque não foi pra aula hoje? – murmurei, minha voz ainda rouca por não ter emitido um som desde que abri os olhos hoje.

– Não 'tô me sentindo bem – grunhiu, cobrindo as orelhas, encolhendo-se com o frio do ar-condicionado – Tá lendo o quê?

– O que você tem? Tá com febre? – ignoro sua pergunta, largando de lado o celular e me virando de frente pra ele.

– Não é nada – nega – O que você tá lendo? Espero que não seja fanfic.

Reviro os olhos.

– Eu não leio fanfic.

– Você tem cara de quem lê fanfic, Hoseok, não tente me enganar – sorriu, erguendo os olhos para bisbilhotar a tela do meu celular – Fala, tá lendo o que?

– Nada – bloqueio a tela, enfiando o celular embaixo do travesseiro e cruzando os braços – Você deveria ler alguma coisa, sabia? Aquelas séries ruins que você assiste, quase todas são adaptações de livros ótimos.

– Pra que ler, se eu já assisti a série? – arqueou as sobrancelhas, me tirando um riso descrente.

– Deus do céu, eu poderia expulsar você da minha cama agora – reclamo e ele ri, se atirando na minha direção e quase montando no meu colo.

– Vai me mandar sair, Hobi? – me roubou um selinho, endireitando-se no meu colo, prendendo o sorriso quando me viu perder a pose – Vai?

– Não – respondi no automático, amolecendo quando ele deitou a cabeça no meu ombro, afundando o rosto no meu pescoço e deixando ali um beijinho.

Passo meus braços ao seu redor, como se ele fosse capaz de fugir a qualquer instante, e o que ele faz quando o abraço é apenas soltar um grunhido, se desmanchando em cima de mim e mantendo o silêncio por minutos inteiros.

Volto a ler um tempo depois, sem deixar de notar que ele me acompanha curioso, pode não estar entendendo grande parte da história, mas seus olhos passam por cada parágrafo e não desviam por nada.

– Ele namora a irmã gêmea dela? – pergunta baixinho e eu faço que sim com a cabeça – E ela vai mesmo furar o olho da irmã?

– Tomara que sim.

– Você não tem cara de quem lê romance, eu já disse isso?

– Já – sorrio, olhando rapidamente para ele – Mas eu gosto, gosto de como tudo dá certo nos livros.

– Acho esquisito alguem que nunca namorou gostar tanto assim de ler romances clichês – provocou – É meio contraditório...

– Então alguém que nunca cometeu um homicídio não pode gostar de ler sobre romances policiais e thrillers? – rebato, e no mesmo segundo ele gargalha, caindo no espaço vazio ao meu lado.

– Tudo bem, você tem um ponto! – continuou rindo, dobrando os joelhos e balançando as pernas de um lado para o outro – Às vezes eu queria que minha vida fosse uma comédia romântica boba, onde ninguém é totalmente infeliz e tudo sempre dá certo no final, todos terminam felizes.

– É... parece bom.

– É perfeito – murmurou – É melhor do que a realidade.

– Mas nem todos os filmes e livros possuem um final feliz, Tae.

Ele faz que sim com a cabeça e solta o ar.

– Eu sei.

Não dizemos nada por um momento, nada além de silêncio e o som das nossas respirações.

– Você acha que a vida é justa?

Solto um ar num tipo de riso ao ouvir sua pergunta.

– Claro que não.

– Você acha que coisas ruins acontecem com pessoas boas sem nenhuma razão? – ele questiona, e imediatamente viro o rosto na sua direção, tentando entender o motivo dessas perguntas agora – Acha que as pessoas merecem tudo o que enfrentam?

– Não, tem muito filho da puta se dando bem por aí, enquanto muita gente boa só toma no cu – respondo, tirando uma risada dele pelo meu jeito de falar – Tem gente que paga pelo que faz, e tem gente que não, o mundo é assim.

Ele concorda, para então virar na cama de frente para mim, deitado de lado e com as mãos enfiadas debaixo da bochecha.

– Acha que todo mundo é feliz um dia?

Ele questiona, mais uma vez, me olhando como se tudo o que eu dissesse fosse a única e mais absoluta verdade.

– Acho, acho que a vida é feita de momentos bons e momentos ruins, ninguém é cem por cento feliz ou triste o tempo todo.

Ele pisca e então solta o ar, balançando a cabeça em afirmação.

– Às vezes eu tenho a sensação de que o que eu sinto é real – murmura, tão baixo que não tenho certeza de que ouvi certo.

– E o que você sente?

Taehyung sorri, dando de ombros.

– Não sinto nada.

– Nada? – arqueio as sobrancelhas.

– Nada, é como se nada fosse real, como se nada importasse de fato, como se... como se eu estivesse morto.

– Sei como é – digo, me perdendo nos meus pensamentos, na última memória que tenho de quando me senti assim.

E a última vez foi depois que a minha mãe faleceu, a sensação era de que a dor nunca iria passar, que eu viveria aquele inferno pra sempre, a dor não foi embora, mas hoje em dia não me afeta tanto, é algo pequeno dentro de mim com o qual eu tenho que lidar dia após dia.

– Sabe?

– Sei... – suspiro, penso em dizer a ele o motivo, mas esse é um assunto que eu evito tocar, justamente por odiar a reação das pessoas e o quão constrangidas ficam ao ouvir. A verdade é que, nunca vai haver um jeito de dizer "minha mãe morreu" sem parecer que o mundo está acabando e eu nunca fui feliz por conta disso.

Eu sou feliz, por mais que eu tenha passado por um inferno, eu sei que sou feliz. Por mais louco que seja pensar, que minha o meu caráter e personalidade foi formado com base em um puta trauma, pensar que se o acidente não tivesse acontecido eu seria alguém totalmente diferente, ainda sim, tenho amor próprio o suficiente para não me importar, também possuo sanidade o bastante para me impedir de surtar por isso.

Gosto de quem sou atualmente, apesar de tudo.

– Mas passou. Tudo passa – abri um sorriso ao me virar de frente para ele.

Ele balançou a cabeça em afirmação, esboçando um sorriso e voltando para perto de mim, com o rosto enfiado no meu pescoço e se aconchegando pertinho de mim.

Odeio grude, detesto, repudio, mas por alguma razão ficar de grude com ele até que é bom, é gostosinho.

Volto a ler, me arrepiando a cada vez que sinto sua respiração fraca na minha pele, as mãos enfiadas dentro da minha camisa, raspando as pontas dos dedos pela minha pele e é bom, assim como é bom sentir o cheiro do cabelinho dele.

E todo esse momento é quebrado quando meu celular começa a vibrar, Taehyung reclama, resmungando baixinho.

Leio o nome de Jimin no visor, soltando o ar num suspiro apreensivo antes de atender.

– Alô?

– Hobi, tá ocupado hoje?

– Não...

– Tem certeza? Porque eu queria que me ajudasse com a mudança.

– Precisa de mim agora? – olho de relance para Taehyung, quieto, mas ainda me tocando por dentro da camisa.

– Sim.

– Tá, posso ir até aí e te ajudar.

– Você vai ficar aqui, Hobi – Taehyung murmurou no pé do meu ouvido – Vai ficar comigo – decidiu por mim, o que automaticamente me fez enfiar os dedos no seu cabelo, começando um cafuné – Vai ficar comigo...

– Sério? Vou te mandar minha localização. Obrigado, Hobi – agradeceu fingindo choro.

– Tudo bem, já estou saindo – aviso antes de desligar, quase no mesmo instante recebo uma mensagem com o endereço dele anexado.

Largo o celular no colchão e me viro pra Taehyung que praticamente se recusa a deixar que eu me mexa, ele faz pressão contra o meu corpo e continua me apertando, com o rosto afundado no meu pescoço.

– Fica aqui comigo – pediu manhoso – Por favor.

– Eu não vou demorar – aviso, tentando não deixá-lo frustrado, mas obviamente não funciona.

Taehyung se afasta para me encarar, bufando em demonstração de raiva e voltando a se enfiar debaixo dos cobertores, puxando até que cobrisse suas orelhas, nariz e boca, com nada mais do que seus olhos para fora.

– Foi mal... – murmuro. Sei que não tenho obrigação nenhuma com ele, mas não gosto de saber que ficou chateado ou irritado com algo que eu fiz.

Não sei por quantos segundos ficamos parados, encarando um ao outro até ele começar a levantar.

– Tudo bem – sussurrou. Taehyung se coloca de pé e com a cabeça baixa ele sai do quarto, esfregando o rosto e saindo sem dizer mais nenhuma palavra sequer.

Ouço a porta do seu quarto bater e isso me pega, eu não deveria sentir culpa, não mesmo. Encaro o teto por quase dez minutos inteiros, me odiando por deixá-lo, mas o faço mesmo assim.

Quando atravesso o corredor vejo a porta do quarto ainda fechada, não tenho nenhum sinal dele antes de sair de casa.

Levo quase trinta minutos para chegar no endereço marcado, onde Park Jimin me espera na calçada.

Abre um sorriso de orelha a orelha quando me vê, me arrastando pela mão quando chego perto o suficiente.

Me dou conta de que é a primeira vez que passamos um tempo sozinhos desde que ele voltou, ainda que seja enquanto subimos e descemos com caixas na mão, reclamando desse calor maldito a cada dez minutos.

Quando acabamos, estávamos sentados no chão do apartamento, beiram meio dia e Jimin diz não ter nada programado pelo resto da tarde, essa informação me fez ficar por mais algumas horas.

Pedimos comida e quando dei por mim estávamos deitados no piso, rodeado de caixas e móveis fora do lugar, olhando para o teto e conversando sobre o tempo da escola, sobre cada besteira que fizemos e sobre o quanto éramos imbecis naquela época.

– Caralho, como eu senti sua falta, Hoseok – ele diz depois de um tempo, virando o rosto para me encarar e sorrindo quando o olho de volta, está tão perto que posso contar cada sarda que tem em sua pele, nas bochechas e na ponta do nariz – De conversar com você, eu tinha esquecido do quanto era bom...

– Para de dizer essas merdas – faço careta, tentando disfarçar o quanto me afetou ouvir isso, tenho medo de que possa escutar o som do meu coração agora.

– É sério – riu, virando o corpo na direção do meu e usando um dos braços como apoio – Lembra de quando saiamos da escola e íamos direto pra sua casa, ficávamos o dia inteirinho sem fazer nada, fofocando sobre os outros e comendo besteira.

– Eu lembro que uma vez fomos eu e você pra praia – abro um sorriso fraco, gosto dessa memória porque foi quando me dei conta do quão fodidamente apaixonado eu estava por ele – O Yoongi tinha matado aula, estava doente, não lembro... – encaro o teto, com medo de ficar sem graça sob os olhos dele – Passamos o dia todo na praia, você ficou puto porque bobeou com a mochila e algum filho da puta roubou – começo a rir e ele me acompanha, mostrando os dentes enfileiradinhos quando ri e joga a cabeça pra trás – Eu lembro de ouvir você xingar por umas meia hora, vermelho de raiva.

– Como eu odeio isso! – ele me corta para expressar sua indignação – Eu não posso sentir nada que meu rosto fica parecendo um pimentão, não dá nem pra esconder o ciúme, a raiva, ou disfarçar a cara de choro, porque em segundos o meu rosto fica todo vermelho, que ódio! – gesticula em frustração e eu me desfaço numa risada alta, quase passando mal de rir quando seu rosto começa a ficar vermelho, exatamente como ele acabou de descrever.

– Eu sei, você fica vermelho por qualquer coisa – digo entre uma risada fraca.

– E naquele dia eu ainda fiquei queimado de sol – reclama, fazendo um bico com os lábios – Por que você está lembrando desse dia horrível, Hoseok?

– Porque eu gosto desse dia, chupamos uns três picolés e coco cada um, nadamos e vimos o sol se pôr – pressiono os lábios para esconder um sorriso – Então pegamos um ônibus de volta pra casa. Foi bom pra caralho...

– É – ele suspira e volta a se deitar ao meu lado – Foi mesmo.

Sinto na ponta da língua cada palavra que quero dizer a ele agora, colocar para fora cada resquício desse sentimento que escondi dos olhos, que guardei tão fundo que até esqueci estavam ali. Olho para ele só para gravar bem cada mecha do cabelo laranja e rebelde, os cílios, as sobrancelhas, os brincos pequenos e discretos que usa, que nem mesmo sei quando fez os furos, quero dizer o quanto eu apreciava cada partezinha sua e o quanto sua opinião significava pra mim, dizer que nunca fiquei bravo de verdade, porque estava apaixonado demais para brigar por alguma besteira, dizer que cada beijo que demos enquanto bêbados e fingimos que nunca aconteceu, foi o motivo de cada uma das minhas noites mal dormidas. Tenho muito a dizer a ele, muito mesmo, mas agora não sei se vale a pena, não sei se tem porque trazer isso de volta, se já faz quase uma eternidade.

Eu tenho que superar essa merda.

– É melhor eu ir – pigarreio, me levantando para ir até o balcão onde deixei minhas coisas.

– Já? – se sentou, cruzando as pernas e franzindo o cenho – Não quer ficar mais um pouco?

– Não – enrolo, enfiando o celular no bolso e a carteira – Eu disse pro Tae que voltava logo – lembro, já com as chaves do carro nas mãos.

– Tae... – ele faz careta como se tentasse lembrar de quem estou falando, então ri, balançando a cabeça em concordância – O filho da sua madrasta, claro, esqueci – se levantou – Ele é crescido, Hoseok, sabe ficar sozinho por algumas horas.

– É – concordo com ele – Mas eu disse que não ia demorar, então...

– Tá, eu entendo – suspira, me acompanhando até a porta e sorrindo quando passo por ela – Pode aparecer qualquer dia...

Faço que sim, acenando ao fazer caminho até o elevador, Jimin continua parado na porta do apartamento até o elevador chegar e eu entrar.

Não o tiro da minha cabeça nem por um segundo durante o caminho de volta, me sinto um idiota, um belíssimo idiota por deixar que uma besteira dessas mexa tanto assim comigo, me sinto patético.

Quando chego em casa meu primeiro pensamento é ir direto para o quarto, deitar na cama e talvez morrer, mas no segundo em que ponho os pés no segundo andar e me deparo com as escadas do sótão abaixadas, deixo a curiosidade falar mais alto, confiro se Taehyung não está em seu próprio quarto, antes de subir degrau por degrau daquela escada, me sentando no piso do sótão.

Paraliso quando encontro Taehyung sentado no chão, pintando, com as mãos sujas de tinta vermelha, com os fones de ouvido na orelha, tocando tão alto que tenho certeza de que ele sequer me ouviu chegar, está com a cabeça baixa, o cabelo cobrindo quase todo o seu rosto.

Ele funga, usando o punho para esfregar o nariz e pressionando os lábios, passo um bom tempo ali até ele largar o pincel e erguer a cabeça, afastando o cabelo do rosto e respirando fundo, é nesse instante que ele me nota, é nesse instante em que me dou conta de que está chorando, os olhos vermelhos, as lágrimas escorregando pelas suas bochechas.

– O que foi?

– Nada – ele negou de forma exagerada, secando o rosto e pigarreando – Pode descer? – engasga – Eu não gosto quando sobe aqui pra bisbilhotar – resmunga, sua voz falha na última palavra – Sai daqui.

– O que aconteceu? – insisti, com ele todo encolhido no canto, balançando a cabeça em negação – Foi alguma coisa que eu fiz?

– Não...

– Então o que foi?

– Não foi nada, Hoseok, que merda... – ele engasgou num soluço, se desfazendo num choro desesperado que me faz levantar instintivamente para ir até ele. Me sento ao seu lado, só para puxá-lo para dentro dos meus braços, exatamente quando Taehyung praticamente se desmancha, deitando a cabeça no meu ombro.

Meu coração acelera, cada partezinha de mim dói por sentir seu corpo frágil no meu, tremendo a cada soluço.

– O que aconteceu? – questionei baixinho, subindo uma das mãos até o seu cabelo, o afastando do rosto para que não grude em seu rosto.

– Nada – resmunga, guardando o rosto dentro do meu peito – Me deixa sozinho – continuo, indo contra tudo o que diz quando se aninha dentro do meu abraço.

Engulo cada uma das minhas perguntas, tentando respeitar o espaço dele e o fato de que não quer conversar agora, passamos um bom tempo ali, embolados um no outro até ele finalmente parar de chorar.

Eu nunca tinha visto ele assim antes, na verdade, não me lembro da ultima vez que vi alguém assim, tão abalado com algo.

É desesperador não saber o que fazer.

Escorrego os dedos pelo seu cabelo, encostando os lábios na sua testa e deixando ali um beijinho. Ele funga, torcendo os próprios dedos em seu colo.

– Quer conversar?

– Não.

– Tudo bem – murmuro, não movendo um músculo por mais um tempinho, até ele começar a se desprender de mim.

– Eu vou tomar um banho – avisa, passando pelas coisas largadas no chão, a tinta, o pincel e a tela deitada ali. Taehyung estava pintando um coração.

Saio do sótão logo depois dele, a porta do banheiro estava fechada, ouço o som da água do chuveiro então vou para o meu quarto.

Em momento algum consigo esquecer essa merda, quero saber o que porra fez ele chorar tanto assim, saber quem foi o filho da puta responsavel por isso, isso se esse filho da puta não tenha sido eu.

Quando sai do banho, Taehyung se tranca no quarto, fica lá pelo resto do dia, não desce pra jantar e nem mesmo sei se ele foi ao banheiro em algum momento. Não consigo pensar, não consigo me distrair porque ele não sai da minha cabeça, passei alguns bons minutos olhando para a tela do computador até me dar conta de que não estou prestando atenção em absolutamente nada que passa na tela.

Me assusto quando Taehyung entra no quarto no meio da madrugada, vestindo roupas compridas e o cabelo preso, ele se escora na porta fechada atrás de si, me encara como se esperasse por um convite para se aproximar e minha resposta para isso é dar espaço na cama, afastando o cobertor e ele vem correndo.

– Tudo bem?

Ele faz que sim, afundando o rosto no travesseiro.

– Tá assistindo o que?

– Sei lá – faço careta, sequer sei o nome dessa série idiota que estou vendo – Quer escolher alguma coisa pra assistir? – questiono, com uma necessidade absurda de agradar e Taehyung pode até não perceber isso, mas aproveita a oportunidade para pegar o computador e o colocar no seu colo.

– Tae... – chamo num murmuro, ele solta um "hm" e tomo isso como brecha para continuar – O que foi que te chateou hoje cedo?

– Nada.

– Foi alguma coisa que eu disse?

– Não teve nada a ver com você, esquece isso – retruca, rude o suficiente para me fazer calar a boca por um instante, mas não me seguro por muito tempo.

– Então o que foi?

– Não foi nada, esquece essa merda.

– Tá... Foi mal – me deito de barriga para cima, com os olhos fixos no teto – Tem certeza de que está melhor agora? – arrisco mais uma pergunta, com medo dele gritar comigo.

– O problema é que eu penso demais, Hoseok, e se eu penso demais eu surto! – diz alto, tirando o foco do computador e o trazendo para mim – É uma coisa minha, tá bom? Esquece isso!

Não respondo, em vez disso me mantenho quieto durante os segundos seguintes. Ele solta o ar de forma cansada, escolhe um filme, coloca o computador entre nós dois e se deita.

Acabamos vendo um filme de terror, que nos primeiros dez minutos já me dão vontade de abaixar a tela e ligar as luzes.

Mas Taehyung gosta, e se ele gosta, eu posso aguentar duas horinhas de tortura.

(...)

– Hoseok, me leva pra comprar giz de cera? – Taehyung grita do topo da escadaria, no segundo seguinte ouço passos apressados, para logo depois ele invadir a sala e pular no estofado ao meu lado.

– Giz de cera? Quantos anos você tem? Sete?

Ele revira os olhos, caindo deitado de costas no meu colo, para quando eu abaixar a cabeça, me deparar com suas orbes castanhas e brilhantes.

– É pra um trabalho da escola – justifica, erguendo o dedo para tocar meu queixo – Me leva?

– Não sei, não – grunhi, fazendo careta – Eu tô morrendo de preguiça agora.

– Por favor, você tem carro! – choramingou.

– Não pode ser depois?

– Não! – grunhiu, segurando minha nuca e me puxando para baixo até que meu rosto estivesse próximo ao seu – Agora, eu quero ir agora – ditou, se erguendo o suficiente para me dar um selinho – Levanta – então se coloca de pé, calçando o chinelos e pegando da tigela as chaves do carro.

– Taehyung... – reclamo, me obrigando a levantar e acompanhá-lo para fora – Garoto, espera.

– Vem logo, Hoseok! – gritou já dentro da garagem, ouço o som das travas do carro e logo depois a porta batendo.

Quando chego ele já está no banco do passageiro, os pés no estofado e o celular nas mãos.

Ele joga a chave para mim depois que entro, não dizendo uma só palavra até perceber que não comecei a dirigir.

– Eu não sou o seu motorista, o seu taxista ou sei lá que porra você tá achando que eu sou, Taehyung – reclamo, enfiando as chaves na ignição.

– Vai ficar com raiva de mim?

– Não.

– Tem certeza? – ele vira o corpo na minha direção, e quando olho para ele e para a sua feição mansa, qualquer pingo de frustração vai embora.

– Tenho, gatinho – toco o seu queixo, deslizando os dedos pela sua mandíbula e tirando dele um sorrisinho – Agora vamos comprar a droga do giz de cera.

Ele sorriu, endireitando-se no banco e voltando a atenção para o celular. Sem nem mesmo pedir, Taehyung conecta o celular no carro, deixando rodar uma das músicas da sua playlist.

São pouco menos de quinze minutos até o lugar que ele queria ir, e sei que vou morar aqui quando entramos e Taehyung se permite distrair com absolutamente qualquer coisa que vê pela frente.

O giz de cera perde o brilho quando ele se depara com as inúmeras canetas, pincéis e lápis, o acompanho por toda loja como um cachorrinho, só o assistindo garimpar as prateleiras e enchendo a cesta.

– Você vai ter dinheiro pra pagar tudo isso?

– Eu tenho um cartão – é tudo o que diz, enquanto lê a embalagem de uma caixa de lápis.

Até penso em pedir detalhes, mas muito provavelmente ele ganhou o cartão da mãe, ou é dele mesmo e ela quem paga as faturas, qualquer uma das alternativas faz sentido, era assim que grande parte dos meus colegas da escola bancavam seus gostos estranhos, com cartões de crédito dados pelos pais.

– Tae, dá pra você agilizar com isso? – indago, logo depois de vê-lo ignorar as malditas caixas de giz para ir em direção a prateleira oposta – Taehyung...

– Espera – grunhiu.

Pego duas caixas de giz de cera e as coloco dentro da cesta de plástico vermelha que está segurando, o guiando da forma mais gentil possível até um dos malditos caixas.

– Hoseok, espera...

– Você enrola demais.

– Espera – Taehyung começou a puxar o corpo para o lado oposto que seguíamos, fazendo peso nos pés e fazendo careta ao olhar pra mim.

Abro a boca para argumentar, mas imediatamente ele forma um bico com os lábios, declarando resistência e em poucos segundos vou perdendo toda a vontade de discutir por isso.

– Você já olhou tudo, o que mais você ainda quer? – pergunto baixo, assisto seus olhos caírem direto na cesta e por um tempo ele parece pensar.

– Você é muito chato.

Abro a boca, voltando atrás quando me dou conta de que vou dizer besteira, subo as mãos até o meu cabelo e afasto os fios.

– Eu deveria ter vindo sozinho – reclama, num tom embargado – Se você quer ir embora, pode ir, eu volto sozinho – dispara, passando por mim e esbarrando no meu ombro quando entra numa ala diferente da que estávamos.

– Merda... – resmungo, revirando os olhos para então acompanhá-lo. Dessa vez tento ficar quieto, deixando que mexa em tudo e leia cada embalagem.

Chega a ser confuso, pra não dizer assustador, o quanto ele é complicado e difícil de lidar. Perdi as contas de quantas besteiras já disse que o deixou minimamente bravo comigo, beirando o chateado.

– Vai ficar de cara feia agora? – pergunto, o ouvindo bufar e se afastar de mim, parando quando agarrei seu braço e o puxei de volta – Para com isso, desfaz essa cara – mandei, quase rindo quando ele virou o rosto para que eu não pudesse tocá-lo.

– Me deixa em paz.

Pressionei os lábios, segurando seu rosto entre as mãos e o obrigando a olhar pra mim, o deixando próximo até que o seu nariz toque o meu.

– Vamos parar com isso, tá bom? – indaguei baixinho, lhe dando um selinho e Taehyung imediatamente faz que sim com a cabeça – Pega o que quiser e nós saímos pra comer alguma coisa, pode ser?

– Tá – diz num murmuro, erguendo a cabeça para me beijar e eu retribuo no mesmo segundo, descendo as mãos para o seu quadril e o abraçando, puxando para mais perto de mim.

– Vai lá, gatinho – apontei com a cabeça na direção das coisas que ele tinha interesse – Eu vou te esperar.

Taehyung pressionou os lábios para esconder o sorriso, então voltou direto para as prateleiras, comigo ao seu encalço. Até que ele começa a explicar a serventia para cada tipo de pincel, me mostra cada tonalidade das mesmas cores de tinta, fala sobre as pontas das canetas, explica para que serve cada lápis e eu escuto cada palavrinha.

É fofo o jeito como fala das coisas que gosta, das coisas que entende, ele me puxa para o seu mundo, me dando margem acho que pela primeira vez, para decorar cada coisinha.

É estranho pensar que não sei muito sobre ele, nada além das coisas que diz por cima, um resumo de tudo. Ele quase não vai para a aula e eu nem mesmo sei o porquê, ele nunca mencionou nenhum amigo, talvez porque não tenha nenhum, e Taehyung chora sem motivo aparente, se irrita e se chateia com coisas pequenas, mas em momento algum diz o motivo de cada uma dessas coisas.

Começo a entender por um momento, o porquê dele ter grudado em mim, o porquê dele querer tanto falar sobre suas coisas, explicar cada detalhe.

Quando finalmente termina, segue satisfeito até o caixa, despejando todas as suas coisas ali e ouvindo o "bip" do leitor do código de barras, até chegar no limite, e Taehyung parece pensar no que mais consegue comprar. Eu sabia que ele não conseguiria levar tudo isso.

– Tudo bem, eu pago o restante – aviso, tirando a carteira do bolso e procurando pelo cartão certo.

– É sério?

– Sim – balanço a cabeça, me assustando quando ele me abraça de forma repentina, sorrindo largo ao olhar direto para mim.

– Obrigado, Hobi.

Contenho a minha vontade de beijá-lo por isso, espero que pague pelas coisas que já passaram pelo leitor e o vejo começar a embalar com a ajuda do atendente, que em segundos dá início a um diálogo cheio de sorrisos e risadinhas.

– Você desenha então? – ele pergunta, entregando a Taehyung as sacolas.

– Sim.

– Poderia me mostrar um desenho seu qualquer dia desses – ele sorriu, devolvendo a ele o cartão de crédito – Aposto que são tão bonitos quanto o garoto que os faz.

Isso é a porra de um flerte?

Arqueio as sobrancelhas, parando no lugar para ouvir melhor, cutucando o interior da bochecha com a ponta da língua.

Taehyung soltou uma risadinha, pegando das mãos do homem a nota fiscal e mordendo o lábio inferior.

– Obrigado – murmurou.

– Você não vem muito aqui, não é? Eu me lembraria – continuou, agora passando o restante das coisas, mas sem tirar os olhos de Taehyung – Qual é mesmo o seu nome?

– Taehyung.

O cara sorriu, pronunciando o nome dele devagar. Quando finalmente olha pra mim o seu maldito sorriso morre, sei que não estou esbanjando simpatia e provavelmente minha cara agora não é das melhores, mas o jeito que pigarreia me faz ter certeza de que estou pior do que deveria.

Pago o restante das coisas, tomando a nota fiscal da sua mão e a enfiando na sacola, me segurando para não voar no pescoço dele. Ninguém no mundo conseguiu meu ódio de forma tão genuína e rápida.

– Vamos, gatinho – chamo, tocando de leve a cintura de Taehyung e ele se apressa.

– Tchau! – o atendente acena para ele – Até a próxima, Taehyung.

– Tchau... – o garoto acena, sem deixar de sorrir nem mesmo quando já estamos no estacionamento.

Fico quieto enquanto o ajudo a pôr as coisas no porta malas, sacola por sacola.

– Que cara é essa, Hoseok?

– Que cara?

– Essa sua cara emburrada. O que você tem?

– Nada, não sei do que você tá falando – tranco o porta malas e me afasto dele para entrar no carro. Quando estamos lado a lado, começo a me incomodar com o olhar de Taehyung queimando a minha pele – O que foi?

– Você tá com ciúmes? – arriscou dizer, rindo quando eu o olhei e revirei os olhos – É sério?

– Não.

– Tá bom, se você diz... – sorriu em provocação, subindo as pernas de volta no banco e aconchegando-se ali – Você disse que nós iríamos comer agora.

Balanço a cabeça, sem dizer uma palavra sequer e isso o incomoda.

– Hoseok – chamou, com um dengo na voz que me fez parar para olha-lo no mesmo momento –Você vai ficar irritado?

– Eu não tô irritado.

Ele suspira, com o corpo todo virado na minha direção.

– Eu quero um beijinho.

– Claro que quer... – viro a cabeça na sua direção, ele pressiona os lábios e se inclina sobre mim.

– Deixa de ser idiota, Hoseok – grunhiu, tomando iniciativa e segurando meu rosto para me tirar um beijo lento, mordendo meu lábio ao terminar – Dirige vai, eu quero tomar sorvete – pediu baixinho, me dando um selinho atrás do outro até que eu jogasse para o espaço a razão para ter me irritado.

Queria muito saber onde ele aprendeu isso, se é um bom manipulador ou se eu quem sou fraco demais para resistir a ele.

– Você compra pra mim?

– Compro – me rendo, segurando sua nuca e o puxando para mais perto de mim, mais perto e mais perto até que ele esteja saindo do lugar.

Minhas mãos descem para o seu quadril e o ajeitam no meu colo, subindo e descendo as palmas pelas suas coxas desnudas, enfiando meus dedos para dentro do seu short e Taehyung se empurrou contra mim, respirando forte e apertando as mãos nos meus ombros.

– A gente podia ficar um pouco aqui – ele murmura, subindo as mãos pelo meu pescoço.

Recusar está fora de cogitação e por quase meia hora inteira nós ficamos trancados no carro, com os vidros fechados, sem escutar nada além do som das nossas respirações, o som do atrito do seu short na minha bermuda a cada vez que se esfrega.

Ele está chupando o meu pescoço quando noto um olhar da porta da loja, do maldito atendente, nos assistindo enquanto atravessa o estacionamento até onde suponho estar o seu carro.

Odeio admitir, mas isso me satisfaz pra caralho.

– Olha lá o seu amigo – aponto com a cabeça na direção do cara, só para ver Taehyung erguer a cabeça e se virar.

São segundos até ele trazer os olhos de volta pra mim e rir.

– Você é muito babaca – e me beijou.

E continuou por mais um tempo, voltando para o seu lugar no carro quando cansou, quase afundando no banco e abaixando os vidros.

– Eu tô com sede – reclama, me tirando uma risada alta que o deixa ainda mais frustrado – É sério – me empurrou – Idiota.

Continuo rindo, no caminho de volta compramos o sorvete que ele pediu, chocolate com morango, muita calda e muito confete, tem mais açúcar ali do que já consumi em uma semana.

Ele esquece completamente a minha existência quando chegamos em casa, sai correndo escada acima com suas sacolas e o pote de sorvete na mão.

Sequer o vejo nas horas seguintes, o que me dá bastante tempo pra pensar.

Pensar em toda essa merda, tudo o que estahmos fazendo. Se estou indo além da relação sexual, mas de todo modo, não seria meio que impossível não misturar os dois mundos?

Ele literalmente mora na mesma casa que eu, no quarto ao lado do meu.

Será que nossos pais ficariam muito bravos se descobrissem?

Talvez eu deva arrumar uma distração, uma distração com nome e sobrenome, talvez assim eu consiga separar as coisas.

Será que consigo mesmo?

Eu não deveria gostar tanto, mas gosto, gosto muito e a gente ainda nem transou!

Eu penso nele quase toda noite E A GENTE AINDA NEM TRANSOU!

MERDA!

🌻

TAEHYUNG MIMADINHO CHATOOOO

colocou o Hoseok na coleira tão rápido que até agora ele não percebeu

os @ dos personagens no ig são thvvante e hobivvante, perguntei se queriam que eles voltassem a postar e como a resposta foi sim, eles estão postando de novo.

meus @ sao gabbieah_ no Twitter e gabbie.ah no IG

até a próxima!

Ipagpatuloy ang Pagbabasa

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