O Jogo dos Segredos [1] DEGUS...

By GusttavodeAssis

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DISPONÍVEL NA AMAZON EM E-BOOK DISPONÍVEL EM FÍSICO NA UICLAP Quando o corpo de Alec e Rebecca Luporini são e... More

sinopse + personagens
prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
PRIMEIRO INTERLÚDIO
Capítulo 4
Capítulo 6
Capítulo 7
Agradecimentos & Novidades
AVISO DE RETIRADA EM 10/09
LIVRO FÍSICO & NOVA EDIÇÃO

Capítulo 5

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By GusttavodeAssis

QUARTA-FEIRA, 1º DE ABRIL DE 2122.

Querida, acorda!

Lola acordou com alguém sacudindo seus ombros. Ela estava deitada, coberta pelo edredom confortável. As cortinas esvoaçavam na janela com a brisa fresca da manhã. À frente da cama, uma penteadeira branca com lâmpadas cheia de maquiagens e um espelho emolduravam o cômodo. Duas escrivaninhas estavam ao lado da cama. Lola rolou para o lado, cobrindo a cabeça com um travesseiro rosa.

— Lola, acorda, meu anjo! — disse a voz novamente. Uma mulher de cabelos ruivos ondulados pairava sobre ela. Usava um roupão branco e nenhuma maquiagem sobre o rosto.

Lola se virou, olhando para Rafaela. Seus cabelos estavam desgrenhados pela noite mal dormida e o rosto marcado pelas inúmeras voltas sobre o travesseiro. Lola sentou, olhando ao redor do quarto loucamente.

— O que foi? — ela perguntou, soltando um bocejo. — Nossa! Que horas são?

— Você perdeu a hora, doidinha! Tem trinta minutos para se aprontar! — exclamou a Sra. Queiroz. Ela rebolou pelo quarto de Lola, tirando do guarda-roupa o conjunto do tradicional uniforme do Advanced School. As cores principais do colégio eram apenas três: preto, vermelho e dourado. — Eu acho esses uniformes uma gracinha! Que saudade dos meus tempos no Advanced!

Lola olhou para si mesma através do espelho assim que se colocou de pé. As olheiras pesavam as pálpebras. Ela ainda digeria a ideia dos pais estarem mortos. Mesmo após um mês ter se passado desde que encontraram os corpos, Lola ainda não acreditava naquilo.

O coração acelerou.

Os olhos acumularam as lágrimas que tentava esconder. Não choraria de novo. Havia sobrevivido ao primeiro mês, poderia aguentar mais um. E depois mais outro. A terapia com Márcia estava ajudando, ela se sentia bem em poder desabafar e colocar tudo para fora.

Frequentar as aulas fora um desafio. As pessoas faziam comentários, outras se aproximavam para dizer que sentiam muito e se solidarizavam com a dor dos irmãos. Era difícil para Lola se concentrar nas aulas, mas ela estava conseguindo passar pelo luto. Tinha Serena e Patrícia ao seu lado, assim como os outros amigos.

— Você está se sentindo bem? — Rafaela perguntou, preocupada com a sobrinha. — Eu sei que já faz um mês que tudo aconteceu. Você e o seu irmão não tocaram mais no assunto. Se quiser ficar em casa hoje...

— Não, está tudo bem, tia! — Lola finalmente disse. — As pessoas ainda comentam sobre eles, os jornalistas ficam atrás da gente, mas não tem o que fazer. Se eu não enfrentar isso, como vou conseguir...

— Superar? — Rafaela ecoou baixinho, acomodando-se sobre a cama. — Sei que está sendo difícil para vocês dois, mas seu tio e eu faremos de tudo para vê-los bem. Então, se quiserem conversar, sabem que podem nos procurar. Os meninos também.

— Não é isso, tia. — Lola balançou a cabeça. — Eu nunca vou superar isso. O máximo que pode acontecer é eu me conformar com a morte deles. Arthur e eu conversamos muito durante essas semanas. Não tem sido fácil, mas estamos conseguindo. As meninas estão nos ajudando muito também, no colégio. No fim das contas, somos todos sobreviventes.

E então Lola olhou para a escrivaninha ao lado e para as coisas que havia jogado sobre ela na noite passada. Seu celular ainda estava lá, e a tela piscava uma nova mensagem de Tulio. Ao lado do celular, um cartão de visitas. A realidade trouxe de volta a lembrança do cerimonial de Alec e Rebecca, um mês atrás, em que Otávio Roriz Vegra, detetive particular, apresentou-se a eles.

Ela observou a tia checar as aulas que teria naquele dia, na ficha que havia pregado em seu fichário. A Sra. Queiroz deixou a mochila cair sobre a cama e fechou-a firmemente. Rafaela seria a única figura materna que Lola teria a partir de agora.

A Sra. Queiroz apontou para Lola e para a roupa do uniforme que havia deixado sobre a cama. As meninas do Advanced School usavam uma saia que descia até nos joelhos, sapatilhas pretas confortáveis, camisa social por dentro da saia e um blazer preto com o brasão do AS. A gravata com listras em preto, vermelho e dourado também era um item obrigatório do uniforme.

Lola suspirou alto, e então se preparou para trocar.

— Espero você para o café em dois minutos. — Rafaela já marchava para fora do quarto.

— Espera! — Lola protestou. Sorriu. — Obrigada por tudo. — A Sra. Queiroz deu-lhe um sorriso delicado e fechou a porta.

Lola olhou para o quarto silencioso sentindo um medo colossal. Ela estava ficando vulnerável a cada dia que passava e temia não conseguir suportar a dor que sentia por dentro. Os remédios ajudavam, mas não queria ficar presa a eles a vida toda. Aquilo parecia queimá-la. Ela pulou sobre a cama novamente, e rolou para pegar o smartphone.

Respondeu a mensagem de Tulio e bateu os olhos sobre o cartão de Otávio. Não entre em contato com esse cara, Lola, você nem o conhece, sua mente aconselhou, mas ela não deu ouvidos.

Lola discou o número destacado no cartão e esperou.

— Otávio Vegra, bom dia — a voz dele soou do outro lado. O coração de Lola disparou.

Ela pigarreou.

— Olá, bom dia! — disse ela, insegura. — Aqui é Lola Luporini falando. Você nos abordou no funeral dos meus pais, há um mês.

— Estava me perguntando quando receberia sua ligação, Lola — Otávio confidenciou. — Queria ter falado com vocês naquele dia, mas o seu tio apareceu.

Lola assentiu. Lembrou-se do que Arthur dissera, sobre ter escutado a conversa dos dois na capela do Velório Municipal e se perguntou o que Enrico e ele escondiam.

— Você nos procurou por algum motivo especial? — Lola lançou sem enrolar demais. — Queria nos oferecer seus serviços de detetive?

— Na verdade — Otávio murmurou. —, eu gostaria de conversar com vocês sobre a noite em que eles sumiram.

— Como assim? — Lola se empertigou.

— Seus pais contrataram os meus serviços no ano passado, Lola — Otávio confessou. — O que acha de nos encontrarmos mais tarde? Quando sair do colégio.

Isso é loucura!, Lola sussurrou para si mesma, mas esse homem deve saber de alguma coisa.

— Tudo bem! — Lola exclamou. — Me encontre no boulevard após o meio-dia!

Lola desligou, sentindo-se nervosa e ansiosa.

Meu Deus, o que eu acabei de fazer?, ela se repreendeu, por que eles contrataram um detetive particular? Lola pensava em possibilidades quando a porta do quarto abriu, de repente. Arthur passou por ela com a mochila nas costas e um livro nas mãos.

— Que cara é essa? — Lola perguntou ao irmão. Arthur fechou e trancou a porta. Ele estava pálido feito um folha de papel. — Parece que você acabou de ver um fantasma!

Arthur respirava sofregamente. Ele se aproximou de Lola, entregando o celular nas mãos dela. Lola percebeu que ele tremia da cabeça aos pés. Ele estava enfiado na calça bege do uniforme, com os pés calçando o sapato social bem engraxado. Vestia a camisa social por dentro das calças, com o paletó por cima e a gravata arrematando o visual. Ele estava todo engomadinho. Seus olhos cinza-prata estavam mais expressivos do que nunca.

— Eu acabei de receber isso. — A voz dele falhou.

Lola franziu o cenho e olhou para o celular. Não havia remetente e o número estava bloqueado. A mensagem era apenas uma foto seguida de um texto.

Eu conheço seus segredos e conheço as suas mentiras.

Na imagem, Arthur estava aos beijos com um garoto, escondidos embaixo da arquibancada do campo de futebol do Advanced School. Lola sentiu um arrepio ao se lembrar daquela época. O coração deu um salto dentro do peito.

— Já imaginou o que Enrico faria se visse isso? — Ela se sentiu desesperar. — Meu Deus, Arthur! Isso não pode cair nas mãos dele!

— Eu não tô preocupado com isso — disse ele. — Eu tô pensando em quem está por trás disso, Lola.

Lola pensou rápido. O garoto na foto era Leonardo, seu ex-namorado de mentira. A verdade era que Leonardo era namorado de Arthur, mas fingia um relacionamento com Lola para despistar os pais. Tanto Alec quanto Sergio eram conservadores ao extremo.

— Daniela estava comigo naquele dia! — Lola lembrou. — Ela estava me infernizando para voltar ao time quando vimos você e o Leo juntos.

Arthur umedeceu os lábios.

— E se foi ela que me mandou isso? — Pensou. — Mais ninguém sabia sobre o meu namoro com o Leo naquela época.

— Eu me lembro dela ter apagado a foto que tirou — Lola divagou em meio as lembranças. — E em troca ela voltava para o time, como a líder. Fizemos uma troca.

Arthur riu nasalado.

— E desde quando nós confiamos nela? Tenho certeza que é ela por trás disso — Arthur observou. — Ela nos odeia. Não sei como você ainda conversa com ela.

— Eu não posso fazer nada, Arthur, o Micaías decidiu colocar nós duas juntas na aula dele e temos um trabalho na próxima semana! — Lola respondeu, terminando de se arrumar. — Querendo ou não, Daniela é minha parceira nas aulas dele. E a gente já gasta uma fortuna com a mensalidade daquele colégio, então, o mínimo que eu posso fazer é mandar bem nas notas.

— Você acha que ela seria capaz de contar para o Enrico sobre o Leo? Sobre eu ser gay?

— Não se preocupa com isso, Arthur — Lola acalmou. — Eu vou dar um jeito de falar com ela ou tentar pegar o celular dela sem que perceba.

— Por favor! Você precisa me ajudar com isso! ─ Arthur sentiu a garganta seca arranhar. — Precisa conseguir o celular dela e apagar aquela foto.

— Tudo bem, eu vejo o que posso fazer. — Lola assentiu. — Mas olha só, e se não for ela?

Arthur moveu a cabeça em negativa.

— É ela, Lola! — Ele tinha certeza. — Tem de ser!

— E a mensagem que recebemos no funeral deles? Também foi a Daniela que mandou aquilo para gente?

— N-não sei — Arthur gaguejou.

— Tudo bem, então, mas não fica paranoico com isso! Deve ser só alguém querendo passar um trote na gente! — Lola observou. — Se Daniela fizer algo contra você eu arregaço com a cara dela e foda-se que ela é filha da Leona Nacaratti.

— Não faça nada que possa nos prejudicar — Arthur exclamou. — Você conhece a reputação da família dela, e não quero mais exposição para gente. Só pega o celular dela e dê um jeito de sumir com a foto.

— Pode deixar comigo!

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