Três Garotas

By GhostGold

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Em uma dia qualquer, ele entra em um ônibus e precisa escolher um lugar para se sentar. Cada assento vago est... More

Capítulo 01
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12

Capítulo 02

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By GhostGold

D-02.

O ponto em que desceriam se aproximava.

Ainda nervoso, mas levado por uma motivação obscura e incomum, ele se decidiu e falou:

— Desculpa, mas... Para onde você está indo? — A voz saiu baixa, quebrada e desafinada.

A morena sorriu irônica e fechou os olhos por um momento, numa expressão de leve surpresa. Entretanto, respondeu aparentemente serena, junto de um suspiro prolongado:

— Vou fazer compras. Gosto de sair no finalzinho da tarde, a cidade parece ficar bem mais tranquila. Por quê?

Ele engasgou a resposta, dando risos nervosos. Perdeu-se em vogais tentando formular alguma coisa. O sorriso sutil dela foi substituído por uma curiosidade felina. Ela o observava da cabeça aos pés com seus olhos escuros enquanto esperava a resposta.

— Nada, só que... A música que você estava escutando... Ela estava alta e eu consegui escutar e... — Ele engasgou novamente. Ela aguardou que completasse a frase. O ponto em que desceriam estava a dois quarteirões de distância. — Eu me interessei pelo que consegui ouvir, queria perguntar a banda. Eu vou fazer compras também. Você vai sozinha? Pode parecer idiota, mas eu posso te fazer companhia.

Ela deu um sorriso amargurado e soltou uma risada baixa e seca em resposta. Mas pareceu mudar de ideia depois de alguns momentos e disse, como que interessada na experiência, que gostaria sim de ter alguém para conversar no caminho.

Ele retribuiu um sorriso aberto e deixou escapar um suspiro de alívio. O ônibus finalmente parou para descerem. Começaram a caminhar em passo lento, olhando para a cidade calma e para o céu alaranjado.

— O que você estava escutando mesmo? Você ainda não disse... — Ele relembrou, agora mais confiante.

— É a trilha sonora de um filme. — Ela respondeu simplesmente, desinteressada em se prolongar no tema.

Ele insistiu, perguntando qual filme era. Ela respondeu, mas ele não reconheceu o nome e então este assunto secou totalmente.

Mesmo assim, passaram mais alguns minutos trocando pequenas frases. Pareciam ambos intimidados um pelo outro. Ele em dado momento perguntou para ela qual era seu nome. Ela disse se chamar Diana. Foi logo depois que ele percebeu que não estavam seguindo o caminho em direção ao supermercado: na verdade, estavam se intrincando em pequenas ruelas de um bairro residencial de classe média. Incomodado, se viu novamente num impasse.

Ele questiona a rota que estão tomando? Apenas segue ela pelo caminho desconhecido? Ou tenta pedir desculpas pelo incômodo e abandoná-la?

P-02.

A ruiva esperava de pé enquanto ele decidia o que fazer.

O rosto dela aparentava certa impaciência e o celular em sua mão permanecia ligado, com seja lá quem estivesse na linha aguardando.

Ele não estava acostumado a ser tratado daquela forma ou se encontrar naquele tipo de situação, mas os modos importunos da garota pareciam incitá-lo a agir com o mesmo nível de audácia.

— Posso ir com você, mas quero meu celular de volta. Você tinha prometido que ia usar rápido.

Ela sorriu com certa malícia. Despediu-se da pessoa com quem falava usando poucas palavras e, ainda de pé no mesmo lugar, encerrou a ligação e estendeu-lhe seu telefone de volta. Ele pegou o aparelho e guardou no bolso, levantou do banco também e acompanhou a desconhecida para a saída do ônibus. Na porta, enquanto esperavam o ponto chegar, ela o encarava sorrindo, como se não acreditasse de fato que ele resolvera mesmo acompanhá-la. Ele, por sua vez, permanecia com uma expressão ligeiramente séria, mas se sentia bastante animado. Não fazia ideia do que o esperava dali em diante, mas percebeu, surpreso, que na verdade gostava bastante disso.

Desceram do ônibus. Ela andava em passos rápidos e com pequenos pulos ansiosos. Em tom provocativo, declarou:

— Vamos, não posso ir devagar pra te acompanhar, mais rápido! Já estamos bem atrasados.

Ele sorriu e a acompanhou de perto. Passaram por quatro quarteirões de um bairro residencial e finalmente chegaram ao seu destino: a casa dela, de paredes esverdeadas, dois andares e um grande muro de cimento que impedia visualizar qualquer coisa mais. A garota pediu que esperasse na porta enquanto deixava sua mochila e se trocava. Ele, num pequeno instante antes que ela abrisse o portão e desaparecesse atrás dos muros, aproveitou para avisar:

— Espero sim, mas antes quero perguntar uma coisa. — Sua voz saiu ligeiramente desafinada e insegura, mas ela prestou atenção, se virou para escutá-lo e disse, com palavras rápidas e com pequenos gestos nervosos de mãos:

— Sim, pode dizer. Mas depressa! Vamos nos atrasar.

Ele questionou para onde iriam exatamente e qual era o nome dela. Deu-se por conta de que até agora não tinham sido propriamente apresentados. Tudo parecia seguir num ritmo apressado demais, impedindo que pensasse nesses pequenos detalhes. Estava na frente da casa de uma garota de quem, até agora, não sabia absolutamente nada.

— Vamos para uma festa, eu disse. Mas eu preciso me trocar antes. Sou Pamela, mas pode me chamar de Pam. E seu nome, qual é? Acho que me esqueci de perguntar.

Ele respondeu com a voz baixa e quebrada e Pam, ao receber a resposta, sorriu por um instante e entrou rapidamente. O portão de ferro fez um baque surdo e bruto quando ela o fechou. Ele mal teve tempo de entender exatamente o que acontecera.

Pouco mais de dez minutos depois, ela voltou. Usava um vestido preto, batom vermelho vivo e estava de saltos. Seus cabelos ruivos caiam pelas costas e pareciam brilhar em contraste com suas roupas escuras.

Ela o pegou pela mão, sem dar tempo para maiores comentários, e saiu andando em passo apressado, guiando-o pelo bairro. Voltaram para o ponto de ônibus e sentaram-se lado a lado esperando pelo veículo que os levaria para a festa.

— Minhas amigas vão gostar de você — ela declarou, simpática. A menina parecia apenas agora, finalmente, ter tempo para analisar aquele que tão espontaneamente convidara para acompanhá-la.

Ele estava totalmente tomado por aquela situação. Tudo parecia ser veloz e espontâneo demais, dificultando que agisse como normalmente fazia e pensasse muito. Vivia uma pequena oportunidade agora e não gostaria de desperdiçá-la. Tinha medo de perdê-la onde quer que fossem caso não conseguisse se tornar interessante o suficiente antes de chegarem lá.

Poderia perguntar para ela sobre a festa para onde iriam. Mais detalhes, talvez? Algo sobre os amigos que ela dizia ter? Poderia começar uma conversa rápida baseada nisso. Ou poderia também agir de forma menos amigável e pedir para que ela diminuísse um pouco o ritmo. Toda aquela correria parecia estranha de alguma forma. Em último caso, poderia também permanecer em silêncio. Ela parecia não se incomodar com o que quer que ele fizesse e, infelizmente, parecia não ter mais do que uma pequena e excêntrica atenção por ele.

Ele deve perguntar sobre a festa? Alertá-la para que fossem mais devagar? Ou continuar quieto?

M-02.

Ele engasgou por alguns segundos, tentando decidir o que fazer e sentindo o nervosismo em sua garganta.

O ônibus estava parado em frente de um sinal vermelho e o ponto em que a loira desceria estava apenas a dois quarteirões de distância. Dando mais um passo a frente, ele murmurou a pergunta:

— Desculpa, mas qual é o seu nome?

Embora sua entonação fosse ligeiramente acanhada, a pergunta súbita exibia impacto por si. Ela levantou a cabeça ligeiramente e o encarou por alguns segundos, parecendo maravilhada por ele ter finalmente falado algo. Com a voz igualmente baixa, respondeu:

Megan... Eu me chamo Megan. Por quê?

Ele permaneceu quieto por mais alguns segundos tentando formular uma resposta. Disse seu nome também, em uma voz ainda desconcertada. Um pequeno silêncio tomou lugar enquanto ele tentava formular qualquer assunto para seguir depois disso. Olhou a garota por alguns segundos mais. Os olhos verdes dela continuavam a analisá-lo com um ardor incomum, mas fora isso ela não fazia mais nada. Parecia estar presa em seus próprios modos e incapacitada de tomar as atitudes que queria. Teria que tentar adivinhar sempre o que ela esperava que fizesse e torcer por acertar, já que ela aparentemente não mudaria seu comportamento.

— Desculpa outra vez, mas... Para onde você vai?

Ela continuava o encarando. Respondeu a pergunta aparentemente desinteressada e desconcentrada na própria resposta, como se só a existência dele demandasse o máximo de sua atenção.

— Vou até a casa de uma amiga... Devolver esse livro.

Ela acenou com a mão o livro que carregava em um gesto superficial. Novamente, não falou mais nada. Cada frase que dizia parecia matar qualquer conversa e deixá-lo novamente perdido no que deveria responder. O ponto em que ela partiria chegou e ela desceu do ônibus e permaneceu o encarando, esperando que ele fizesse alguma coisa. Teimoso e obstinado, ele desceu do ônibus também, sem nenhuma confirmação de que ela gostaria de sua companhia. A atitude, porém, pareceu ser bem vista. Pela primeira vez ela sorriu, um pequeno e tímido esboço de alegria e satisfação que não durou mais do que alguns instantes.

Ele se sentiu motivado pelo sorriso, como se aquilo confirmasse que ela aceitava sua presença. Sabendo que ela não perguntaria nada, insistiu em um questionário.

— Posso te acompanhar?

— Acho que sim. — Ela deu de ombros, como se não se importasse muito com a resposta. Sua obsessão por encará-lo parecia ter passado e agora ela admirava o mundo em uma distração contemplativa. Andava em passos lentos e apenas poucas vezes virou para olhar para ele. Quando o fazia, porém, um sorriso ligeiro pintava seu rosto.

Ele gostava daquilo. Ela tinha uma leveza curiosa agora, como se tomar o primeiro passo tivesse tirado deles um grande peso. Também gostava de suas respostas curtas e da forma como ela parecia ficar confortável com o silêncio no resto do tempo.

Andaram alguns quarteirões. A tarde estava ligeiramente quente, o céu estava limpo, a rua era movimentada e várias pessoas iam e vinham ao seu redor.

Megan parou em dado momento e se sentou em um pequeno banco branco de ferro, encostado em um muro e escondido por uma grande árvore ao seu lado. Ele se sentou ao seu lado e esperou, ainda bastante interessado por toda aquela situação.

Sem explicações, ela abriu o livro e começou a ler pequenos trechos. Ele não entendia o significado, mas a leitura parecia ter uma sonoridade e melodia, quase como se aquilo fosse um poema. Alguns minutos se passaram assim, até que ela finalmente fechou o livro e permaneceu quieta, o encarando e esperando alguma reação.

Pedir para ela traduzir os trechos que leu? Apenas elogiar o texto como se tivesse entendido e perguntar se não seguiriam para a casa da tal amiga? Ou permanecer em silêncio para ver se ela dirá algo mais?

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