Capítulo 06

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P-06.

Ele queria deixá-la melhor de alguma forma, procurar algum jeito de ajudá-la com aquilo.

A ruiva agora nem tentava mais esconder sua tristeza e seu rosto, normalmente jovial e amigável, estava fechado numa expressão reflexiva. Enquanto ela quisesse esperar, ele estaria ali com ela, mesmo que passassem a noite inteira juntos, abraçados no estacionamento. Ele não nutria muitas esperanças de que os amigos de Pam fossem aparecer, mas preferiu nada dizer a respeito.

Uma hora se passou e nada aconteceu. O céu já escurecera por completo e os barulhos vindos do prédio estavam altos como nunca. Pam se levantou subitamente, suspirou e deu de ombros. Esperou que ele se levantasse também, encarou-o intensamente. Pegou sua mão, olhou para a festa e em seguida para a saída, aparentemente indecisa de qual rumo tomar. Quando enfim pareceu se decidir e já virava as costas para ir embora com ele, um grito agudo, quase perdido pela música alta, chamou a atenção de ambos.

— Pam!

Viraram e procuraram a origem da voz. Em frente à entrada do prédio, uma garota de cabelos castanhos e sorriso fácil acenava eufórica. Pam suspirou aliviada, deixando aparente sua satisfação. Levando-o junto pela mão, correu até a amiga rindo com uma alegria simples. A garota de cabelos castanhos, que estava suada e parecia tão animada e jovem quanto Pamela, abraçou-a quando se aproximaram.

— Você estava aqui esperando há quanto tempo? A gente estava lá dentro o tempo todo, entramos pelos fundos. Pensei que você não ia mais vir!

Ele se sentiu ligeiramente triste por Pam ter encontrado sua amiga. Esperava poder fugir da festa de alguma forma com ela, mas agora não tinha muitas esperanças quanto a isso. E, para piorar, ao menos no que conseguira desvendar na primeira impressão, a amiga de Pam não parecia gostar muito dele. Encarava-o com um sorriso rasteiro e olhares julgadores, excluindo-o da conversa e passando por pequenos gestos a mensagem de que sua presença não era bem-vinda ali. Ele ignorou os sinais de hostilidade, tentando se manter perto de Pam. Mas a escuridão quase total do lugar, tomada apenas por luzes brilhantes e frenéticas, a música em volume muito além do suportável e a absurda superlotação o deixaram totalmente atônito. Ele não conseguia se guiar corretamente e não demorou muito mais do que alguns minutos para que se perdesse de Pam ali. Tentava reencontrá-la entre a multidão, mas não conseguia discernir absolutamente nenhum rosto. Era impossível identificá-la.

Decepcionado, ele seguiu para a saída. Esperou apoiado no muro por pouco mais de meia hora, perdendo sua atenção no céu escuro e sem estrelas. Pessoas saíam e entravam animadas e em grande parte bêbadas, fazendo com que ele se sentisse ainda pior por sua incapacidade de se divertir. Pam o trouxera com boas intenções, mas ele não conseguira se adequar. Por que a perdera tão rápido lá dentro? E se ela estivesse procurando por ele ainda? Por mais ridícula que fosse a possibilidade, ele não era capaz de deixar de pensar nisso: talvez ela ainda estivesse atrás dele.

Com uma nova carga de ânimo, ele entrou novamente. O salão estava exatamente como antes e ele ainda duvidava que fosse ser capaz de encontrá-la, mas não se conteve em tentar mesmo assim. Andando entre a aglomeração enorme que preenchia todo o lugar, passou mais meia hora procurando por Pamela.

Então, sem qualquer aviso, a música parou. Todos se viraram em direção a um ponto e um pequeno buraco na multidão nasceu longe dali. Entonações de surpresa e questionamentos do que acontecera vinham de todos os lados. Ele se dirigiu à origem do tumulto e encontrou Pam jogada ao chão, inconsciente. Uma mulher estava ao seu lado e tentava acordá-la de alguma forma. Fora isto, uma pequena aglomeração parecia se abrir entre as pessoas que tentavam observar o que acontecia. Sussurros de desaprovação pareciam ter substituído toda a música.

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