Capítulo 02

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D-02.

O ponto em que desceriam se aproximava.

Ainda nervoso, mas levado por uma motivação obscura e incomum, ele se decidiu e falou:

— Desculpa, mas... Para onde você está indo? — A voz saiu baixa, quebrada e desafinada.

A morena sorriu irônica e fechou os olhos por um momento, numa expressão de leve surpresa. Entretanto, respondeu aparentemente serena, junto de um suspiro prolongado:

— Vou fazer compras. Gosto de sair no finalzinho da tarde, a cidade parece ficar bem mais tranquila. Por quê?

Ele engasgou a resposta, dando risos nervosos. Perdeu-se em vogais tentando formular alguma coisa. O sorriso sutil dela foi substituído por uma curiosidade felina. Ela o observava da cabeça aos pés com seus olhos escuros enquanto esperava a resposta.

— Nada, só que... A música que você estava escutando... Ela estava alta e eu consegui escutar e... — Ele engasgou novamente. Ela aguardou que completasse a frase. O ponto em que desceriam estava a dois quarteirões de distância. — Eu me interessei pelo que consegui ouvir, queria perguntar a banda. Eu vou fazer compras também. Você vai sozinha? Pode parecer idiota, mas eu posso te fazer companhia.

Ela deu um sorriso amargurado e soltou uma risada baixa e seca em resposta. Mas pareceu mudar de ideia depois de alguns momentos e disse, como que interessada na experiência, que gostaria sim de ter alguém para conversar no caminho.

Ele retribuiu um sorriso aberto e deixou escapar um suspiro de alívio. O ônibus finalmente parou para descerem. Começaram a caminhar em passo lento, olhando para a cidade calma e para o céu alaranjado.

— O que você estava escutando mesmo? Você ainda não disse... — Ele relembrou, agora mais confiante.

— É a trilha sonora de um filme. — Ela respondeu simplesmente, desinteressada em se prolongar no tema.

Ele insistiu, perguntando qual filme era. Ela respondeu, mas ele não reconheceu o nome e então este assunto secou totalmente.

Mesmo assim, passaram mais alguns minutos trocando pequenas frases. Pareciam ambos intimidados um pelo outro. Ele em dado momento perguntou para ela qual era seu nome. Ela disse se chamar Diana. Foi logo depois que ele percebeu que não estavam seguindo o caminho em direção ao supermercado: na verdade, estavam se intrincando em pequenas ruelas de um bairro residencial de classe média. Incomodado, se viu novamente num impasse.

Ele questiona a rota que estão tomando? Apenas segue ela pelo caminho desconhecido? Ou tenta pedir desculpas pelo incômodo e abandoná-la?

P-02.

A ruiva esperava de pé enquanto ele decidia o que fazer.

O rosto dela aparentava certa impaciência e o celular em sua mão permanecia ligado, com seja lá quem estivesse na linha aguardando.

Ele não estava acostumado a ser tratado daquela forma ou se encontrar naquele tipo de situação, mas os modos importunos da garota pareciam incitá-lo a agir com o mesmo nível de audácia.

— Posso ir com você, mas quero meu celular de volta. Você tinha prometido que ia usar rápido.

Ela sorriu com certa malícia. Despediu-se da pessoa com quem falava usando poucas palavras e, ainda de pé no mesmo lugar, encerrou a ligação e estendeu-lhe seu telefone de volta. Ele pegou o aparelho e guardou no bolso, levantou do banco também e acompanhou a desconhecida para a saída do ônibus. Na porta, enquanto esperavam o ponto chegar, ela o encarava sorrindo, como se não acreditasse de fato que ele resolvera mesmo acompanhá-la. Ele, por sua vez, permanecia com uma expressão ligeiramente séria, mas se sentia bastante animado. Não fazia ideia do que o esperava dali em diante, mas percebeu, surpreso, que na verdade gostava bastante disso.

Três GarotasWhere stories live. Discover now