Capítulo 03

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P-03.

A ruiva esperava olhando para a rua.

 Mordia os lábios de tempos em tempos e o barulho constante de seus saltos batendo ansiosos no chão parecia preencher de alguma forma os pensamentos dele.

Não poderiam seguir com aquilo desta forma: logo ele seria "apresentado" para vários desconhecidos e iria com ela para um lugar absolutamente desconhecido, mas até então nada sabia de fato sobre sua companheira. Gostaria de poder conversar com ela, descobrir mais a respeito dela e do lugar para onde iam. Tentando fingir um descompromisso na voz, mas se traindo por gaguejar ligeiramente, ele perguntou:

— Então... Como é essa festa para onde vamos? Quem são essas suas "amigas"?

Pam piscou os olhos, focando novamente seu companheiro. Pareceu surpresa por um pequeno momento de que ele estivesse de fato ali, como se sua distração e nervosismo tornassem-no, de algum jeito quase literal, invisível. Parou de bater os pés, se curvou na direção dele e respondeu, ainda com palavras rápidas, mas falando mais baixo do que antes.

— É uma festa, oras. Cheia de gente, pouca luz, dança, bebida. Sabe?

Ele engoliu em seco. De fato, não sabia. Não era freqüentador deste tipo de ambiente. Mas se manteve em silêncio e ela, talvez notando seu desconforto, prosseguiu.

— E são várias amigas. Algumas da escola, algumas não... Pessoas, só pessoas. Eu ando com elas, mas na verdade é só pela companhia mesmo. Não é como se tivesse grande amizades nem nada assim.

As respostas dela eram evasivas e inseguras. Incrivelmente, isso parecia contrariar bastante toda a sua atitude confiante. Ela não parecia gostar muito de dar aquele tipo de detalhes e também não parecia gostar do rumo que o assunto tomava. Ele, com certo desespero por notar o desagrado de Pam, tentou desvirtuar a conversa para outra coisa qualquer:

— Então... Você estuda, certo?

Ela soltou uma risada sarcástica para a pergunta estúpida e desconexa. Deu de ombros e respondeu mesmo assim, com a voz distante:

— Sim, eu estou no último ano. Repeti uma vez. Aliás, acho que esse é um dos motivos de eu não conseguir me dar muito bem com os outros. Todo mundo parece me julgar o tempo todo...

Ele sorriu de volta, simpático à situação dela. Estava acostumado com coisas parecidas. Sua vida toda parecia estar cheia de pessoas que o pressionavam.

— Não é culpa sua. Gostam de exigir de você porque você parece mais forte do que eles, talvez. Fazem isso porque acham que você é forte o suficiente pra aguentar.

Ela arqueou as sobrancelhas, surpresa e sem palavras diante do que ele dissera. O ônibus chegou. Pam deu sinal e entraram juntos. Ao sentar do seu lado, ela sorriu e então a conversa continuou. Estava menos agitada agora e finalmente parecia prestar atenção nele de verdade. Falaram sobre assuntos de escola e ele contou um pouco sobre seus próprios estudos. Ela ria de suas histórias e se identificava certas vezes. Ele sabia que talvez existisse algum exagero em cada reação dela, mas começava a gostar daquilo. A forma como ela maximizava tudo facilitava seu entendimento do que acontecia.

Desceram aproximadamente vinte minutos depois. Passaram por um pequeno bairro residencial, andando um bocado mais devagar do que antes. Diante de uma casa, jogado na calçada, Pam encontrou um livro roxo e antigo. Pegou-o e folheou algumas páginas. Depois, o jogou no chão com desinteresse e o chutou para longe. A pequena ação gerou um momento de estranha e curiosa raiva silenciosa nele, mas nada disse. Não tinha razão para implicar com um livro qualquer.

Três GarotasWhere stories live. Discover now