Precisei de um tempo para me recompor. Aquele homem tinha conseguido com alguns minutos me desestruturar por completo. Há tempos eu não me sinto assim e quando minha imaginação começou a me levar por aquele sorriso eu fui chamada de volta para a realidade.
Meu celular tocou
- Alô
- oi amor
- oi Sam
- tá muito corrido ai? Ou você tem uns minutos?
- tá meio corrido
- mas estou com saudades... você nem tem mais tempo para ir me ver
Samuel é o meu namorado. Trabalhamos juntos no passado mas ele acabou deixando a música erudita de lado e entrou de cabeça em produção de música eletrônica
- podemos tomar pelo menos um café?
- ok, um café só porque eu tenho que voltar correndo
- sim senhora, minha workaholic linda
Eu desci e o encontrei no Starbucks do no fim da rua. Estamos juntos à 3 anos mas sinceramente estamos enfrentando alguns problemas.
Ultimamente estamos com cada dia menos coisas em comum e com agendas opostas tem sido cada vez mais difícil de arrumar tempo pra gente se ver.
Ele trabalha de noite e dorme o dia todo. Eu acordo as 6 da manhã todo dia e quando chego em casa ele já saiu pra discotecar ou gravar.
Tentamos morar juntos por 6 meses e foi um inferno, nos víamos ainda menos do que agora e só bringavamos, então ele acabou voltando pro apartamento dele e continuamos a nos ver esporadicamente.
*****
Recebi um recado da Sara dizendo que o Hanson iria precisar cancelar a reunião de hoje em cima da hora. Fiquei um pouco decepcionada, eu confesso, porque estava ansiosa para ver ele(s) de novo. Cheguei na minha sala e liguei pro número que o Taylor havia deixado para contato.
- 3CG records
- Alô, gostaria de falar com o Taylor
- ele não está, quem fala?
- é a Cristina, produtora
Ouvi a pessoa limpar a voz
- oi Cristina. Aqui é o Zachary
Eu gelei, não esperava falar com ele
- oi...
- desculpa cancelar em cima da hora, mas aconteceu um imprevisto e o Taylor precisou sair.
- tudo bem Zachary, queria ver de marcar um outro dia com ele
- posso te ligar mais tarde pra te falar certinho?
- claro
Ficamos um instante em silêncio e percebi que eu não era a única a me sentir nervosa com aquele telefonema
- você marcou alguma coisa para o horário da nossa reunião?
- não que eu saiba, porquê?
- eu estou livre, se você quiser podemos ir em um café conversar um pouco
Fiquei surpresa com aquilo. Afinal, ele estava sendo gentil e queria apemas falar sobre negócios ou estava se aproveitando da situação para benefício próprio?
- para falar sobre o projeto?
- também...
Ok, já tinha entendido. Eu respirei fundo confusa com a idéia de estar flertando com ele
- mas você tem que dirigir até Oklahoma city, Zachary. Não seria melhor marcar outro dia com seus irmãos também?
- eu não me importo de dirigir até ai, se esse for o problema
Eu ponderei por alguns segundos, aquilo não seria profissional da minha parte, mas... talvez eu quissesse também
- já está muito em cima da hora Zachary, você não teria tempo de chegar no horário. Mas se você quiser mesmo, eu tenho um tempo livre depois das 3.
- sem problemas Cristina, estarei aí as 3
Eu não sabia como finalizar aquela ligação que do nada tinha tomado esse rumo inesperado
- bom...
Falei saber o que dizer
- eu te vejo as 3 então
Sua voz era forte e decidida
- combinado
- até mais
Joguei o corpo para trás na cadeira e sorri. Ele era ousado e aquilo me deixou curiosa. Seria difícil passar o restante da manhã trabalhando enquanto pensava naquele café às 3 da tarde e naquele sorriso dele...
*****
A linha interna tocou
- oi Sara
- Cris, você marcou algo agora à tarde?
Eu esqueci completamente de avisá-la
- ah sim, marquei
- aquele rapaz lindo está aqui, sozinho pra te ver, o Hanson sabe?
Ela falou baixinho possivelmente para ele não ouvir
- diz pra ele que já estou indo
Senti uma onda de ansiedade enquanto um sorriso inesperado se formou no meu rosto. Precisei de alguns minutos para me concentrar e mascarar que sua presença mexia comigo de formas nada profissionais.
Eu havia me vestido conscientemente para a nossa reunião de hoje: saia, salto fino e uma blusinha de alça clara com um leve corte aberto nas costas. Fui com o cabelo trançado mas resolvi soltar de última hora.
Eu queria impressioná-lo, de forma inconsciente claro, mas tinha escolhido a dedo cada item com essa finalidade em mente.
Peguei minha bolsa, guardei meu celular e abri a porta devagar.
Ele estava sentado em uma poltrona de frente para minha sala e literalmente ficou de boca aberta ao me ver.
Eu sorri e ele tentou disfarçar o seu semblante de surpreso passando a mão no cabelo e o jogando pra trás, me fazendo tremer na base.
- olá Zachary
Ele ficou mudo, apenas sorriu e ficou me olhando admirado
- Sara, estarei fora pela próxima hora, se alguém ligar vc anota o recado por favor
- ok Cris
- vamos?
Eu fui na frente e ele me seguiu. Chamei o elevador e percebi que ele estava me olhando do mesmo jeito de ontem, no meu escritório
- está tudo bem?
Ele saiu do transe que se encontrava e sorriu meio desconcertado por ter sido pego no flagra, de novo
- me desculpa, eu não esperava te ver assim
Eu fiquei sem jeito com o seu comentário, principalmente porque foi acompanhado por um olhar cheio de intenções.
Fui salva pelo elevador que havia chegado. Ele segurou a porta e sinalizou para eu entrar, em seguida me acompanhou e selecionou o térreo, ficando próximo demais para o meu conforto.
Aquele cubículo estava ficando quente demais de uma hora pra outra
- eu não quis te deixar sem graça
- está tudo bem com o Taylor?
Falamos exatamente ao mesmo tempo e rimos juntos
- me desculpa fala você primeiro
Ele passou a mão no cabelo e o prendeu. Quando percebi estava me derretendo toda com aquele rosto vermelho de vergonha dele.
- eu perguntei se o Taylor está bem. Você disse que aconteceu um imprevisto
- ah sim, tá tudo bem. Foi um problema na casa dele, acho que o River passou mal e ele foi levar o menino no médico
- River?
- sim, o filho dele
- ah tá. Agora sua vez, o que você disse mesmo?
A porta abriu e ele desconversou, não respondendo à minha pergunta.
Fomos no final da rua mesmo, no Starbucks. O mesmo que eu estava ontem à tarde, acompanhada do meu namorado.
Ele pediu um mocha tall e eu um Chai latte e escolhemos uma mesa no fundo do restaurante longe das demais, talvez por coincidência, talvez não...
- e você Zachary, tem filhos?
Ele tomou um gole do seu café sem pressa
- me chama de Zac. E sim. 4
Eu me assustei e ficou estampado no meu rosto o susto que eu tomei
- eu sei... é bastante mesmo
Eu tomei um gole do meu chá, precisava dele pra me acalmar. Poxa 4...
- mas então você é casado?
Zac estava olhando pro copo na mesa e quando eu perguntei isso vi seus olhos levantarem, intrigados
- não mais.
- me desculpa a indiscrição
Ele sorriu de lado
- tudo bem, já faz uns 6 meses
Eu não sabia se ficava feliz ou não, afinal por que ele ser casado ou solteiro seria relevante pra mim?
- e você? Me disse que não é casada, mas tem namorado?
- sim. 3 anos já
Vi seu semblante mudar sutilmente. Aquilo seria decepção?
- ele é um homem de sorte
Eu sorri de leve. Na verdade não queria falar do Sam com ele, então mudei logo de assunto
- você disse que queria tratar do projeto?
- sim... isso também
- também?
- queria saber mais sobre você, Cristina
- pode me chamar de Cris
- Cris... - ele pronunciou saboreando o som das letras - combina com vc
Eu foquei na pergunta dele para não me perder ainda mais naqueles olhos cemicerrados.
Contei pra ele um pouco sobre a minha formação
- eu acho lindo violino
- eu amo violino, é a minha paixão principal mas também toco cordas no geral, incluindo piano
- eu queria muito aprender a tocar cordas mas sou desastrado demais. Sem contar o fato de ser ogro. Baterista quer sempre descer o braço e para tocar violino a pessoa precisa ser delicada... acho sexy
Arrepios percorreram minha espinha quando ouvi ele falar aquilo para logo em seguida ele segurar a minha mão sem aviso nenhum, assim de surpresa
- vc tem mãos delicadas, perfeitas para isso
A mão dele era grande, larga e macia. Me acariciou sutilmente a parte de cima da mão antes de soltá-la e eu perdi o norte, fiquei tão alterada que senti as palmas das mãos suadas de nervossismo.
- com mãos desse tamanho o máximo que você poderia tocar seria baixo acústico
Comentei e ele gostou de saber que eu o estava observando. Zac então tirou proveito do momento para pegar a minha mão de novo
- você acha mesmo?
Seus dedos percorriam a minha mão de forma discreta e quem visse de fora não diria que a tensão entre nossos corpos era tão grande que senti todos os pêlos do meu corpo inteiro arrepiar
- certeza, você não conseguiria achar a afinação certa
- bom, eu vivo quebrando as cordas do violão e até do piano na gravadora, então da pra imaginar... o Taylor vive reclamando que eu coloco muita força.
Aquilo me soou sexual demais e eu precisei me soltar dele antes que desse ainda mais bandeira
Conversamos tanto que o tempo voou e quando vi precisava voltar para o escritório.
Saímos dali meio que a contra gosto e ele me acompanhou até a porta do prédio
- Cris, adorei nosso café
- eu também Zac, você é uma ótima companhia
Ele se aproximou e ficamos perigosamente perto demais um do outro
- posso te acompanhar até o elevador?
Eu aceitei porque não queria que ele fosse embora, estava gostando de sua presença e queria mais
O lobby estava vazio por conta do horário e conversamos por mais alguns minutos até ele se aproximar um pouco mais
- sabe Cris, eu te achei uma mulher muito interessante. Uma pena você ser comprometida
Eu prendi a respiração com ele ali tão próximo
- Zac, iremos trabalhar juntos.... não é uma boa idéia misturar as coisas
- exato, iremos trabalhar juntos, futuro. O elevador abriu e ele entrou comigo
- onde você vai?
- ainda não terminei
Ele clicou no último andar
- você clicou errado, eu fico no sexto
- ele sorriu meio sacana
- eu sei
O elevador começou a subir e eu estava entre ele e o espelho do fundo. Uma mão sua ficou apoiada no espelho e a outra tirou o meu cabelo da frente do meu rosto
- você é linda, Cris
- Zac, melhor não
- eu vi como você me olhou ontem. E hoje eu tive certeza que você também sentiu algo
Ele foi em direção à minha boca e quase tocou os meus lábios com os dele
- você não quer?
Eu respirei fundo e fechei os olhos. Aquilo era a deixa que ele precisava para prosseguir. Sua mão foi para o meu pescoço e seus lábios tocaram os meus de forma suave, me dando um selinho, depois outro mais demorado e logo em seguida eu senti sua língua ir de encontro à minha de um jeito mais quente, com vontade e sem pudor.
Eu tremi da cabeça aos pés com sua boca na minha e sua mão me apertando a nuca contra ele.
Senti seu cheiro e fiquei ainda mais entregue, me deixando levar de vez e sentindo meu coração disparar.
Seu toque era firme e decidido e seu corpo veio devagar de encontro ao meu, sua mão livre procurou a minha cintura e ouvi ele soltar um gemido de prazer quando finalmente seu corpo estava totalmente colado no meu.
Senti os efeitos daquele beijo e toque firme por todo o meu corpo e não pude deixar de querer tocá-lo também, mas me contive
Minhas mãos descansavam no seu peito largo e forte e meu corpo pegava fogo de desejo por ele.
A porta abriu no último andar e nos soltamos rapidamente, assustados com o barulho inesperado.
Me recompus e apertei o botão do sexto andar, virei de frente para o espelho e vi meu rosto e pescoço vermelho em um misto de vergonha e tesão.
De repente aquele cubículo tinha ficado tão quente que eu sentia dificuldades para respirar.
Ele sorriu e encostou as costas na parede do elevador do meu lado, enquanto fechava os olhos em um ar de vitória.
- Zac, não deveríamos ter feito isso
Eu tentei racionalizar
- vamos trabalhar juntos - continuei
- mas ainda não trabalhamos.
Ele veio ao meu encontro e me deu outro beijo, tão delicioso quanto o primeiro, me fazendo ver estrelas e perder as forças nas pernas de uma vez por todas.
Pouco antes da porta abrir ele se afastou e sorriu
- quero te ver de novo Cris
Não tive tempo de responder, a porta abriu e algumas pessoas entraram enquanto eu saía desnorteada. Só tive tempo de olhar para ele que ainda sorrindo piscou antes da porta fechar.
Fui caminhando fora de órbita e tinha saído do meu corpo por completo! Entrei no escritório e nem ouvi o que a Sara me falou, estava simplesmente em outra dimensão.
Sentei na minha cadeira e soltei o ar que estava prendendo desde a minha saída do elevador
- meu deus, que homem é esse?