A cantora que todos falaram e eu preferi não ouvir, agora estava lá estonteante na minha frente, com um vestido de cor sangue vívido, cabelos pretos longos, pele tão clara como a neve e olhos do oceano mais lindo que você possa imaginar.
- Lauren Jauregui, prazer Camila Cabello. – disse estendendo a minha mão.
Ela a pegou e sorriu de uma forma tão doce, uma risada angelical e infantil.
- Adorei o seu vestido. – tratei de elogiar sua veste.
- Também adorei o seu terno. – ela respondeu com um sorriso.
- Só tem um problema com ele... Não é meu, é da Hayley.
- Ops... Depois dou um jeito de elogiar o incrível gosto dela para roupas.
Eu estava encantada, é como se em cada frase que ela dissesse me desse uma vontade de rir de tudo, me sentia boba e submersa, deveria estar com cara de abobada, pois ela pigarreou e me tirou do meu transe.
- Não querendo ser chata, nem te apressar a nada, mas estou apenas esperando o meu pagamento para ir embora.
- Mas não está muito tarde? Não gostaria de dormir aqui?
- Não quero te incomodar...
- Olha o tamanho dessa casa, você vai ter que se esforçar muito para me incomodar.
Mais uma vez sua risada, era como música para meus ouvidos, eu poderia escutar aquele som sempre, se o Itunes colocasse a venda, eu comprava. Ela me olhou por um instante, com receio, mordeu seus lábios, foram poucos segundos, mas me senti presa em um buraco negro eterno.
- Tudo bem, eu aceito. – ela disse por fim.
Não contive o meu sorriso e minha satisfação por ela ter aceitado.
- Me acompanha na bebida? – perguntei a Lauren.
- Como não estou mais no horário de trabalho, acompanho sim. – ela respondeu.
- Mas no horário de trabalho é mais excitante para beber. – disse servindo seu copo.
- O proibido te atrai?
- Muito.
Ficamos um tempo nos olhando e bebendo, enquanto lambíamos nossos lábios, podia sentir o whisky flutuar por sua língua e senti uma enorme inveja do mesmo.
- Era isso que estava fazendo? – Lauren disse cortando o silêncio.
- O que? – respondi.
- Bebendo, notei que você chegou um pouco tarde... Hayley não parava de falar que te mataria... – Lauren riu e eu também ri ao escutar o som da sua risada.
- Hayley é muito dramática, não que eu não goste de drama, mas estar com ela é como estar em uma peça de teatro ambulante.
- Vocês estão juntas?
- Não! Digo, ela é minha secretária, estamos juntas no âmbito profissional, nada pessoal.
- Hum... Entendi.
Lauren bebeu novamente seu copo, o que deixou seus lábios mais avermelhados, minha vontade era arrancar nossos copos e arremessá-los, e coloca-la em cima da mesa enquanto fodia sua boceta, mas não poderia apressar as coisas, não acreditava que ainda não estava dando em cima dela.
- Eu te vi sabia. – mais uma vez Lauren me tirou de meus devaneios.
- Me viu? Onde?
- No bar 27, eu trabalho lá.
- Meu Deus, não brinca!
- O que?
- É você a cantora?
- Se eles não me demitirem hoje, acho que sim...
- Verdade, eles não ficaram muito felizes com sua partida.
- Espero que eles superem.
Mais uma vez ficamos em silêncio, eu não entendia aquilo, é como se eu estivesse prestigiando a companhia da Lauren, porém nunca deixei alguma mulher constrangida, eu sempre fui para o abate, as piadas, o sadismo e simplesmente nada saía, eu me sentia nervosa, como se cada palavra que eu falasse em falso pudesse fazer ela se afastar de mim.
- Se não se importar, eu vou dormir. Estou cansada com a noite de hoje e beber whisky nesse estado me dá sono. – Lauren disse.
- Claro, com toda razão, também me encontro cansada. – respondi com pesar.
Queria mantê-la acordada por mais tempo possível, descobrir tudo sobre ela, seus medos, anseios, seus sonhos, seu gosto...
- Onde irei dormir? – ela perguntou.
- Na minha cama. – respondi e logo depois me arrependi.
Merda... Me segurei por tanto tempo para fazer uma cantada desse tipo? O que ela vai pensar de mim agora, que sou aprendiz de pedreiro? Minha vontade era me desculpar logo em seguida, porém esperei a reação dela, estava preparada para o escarnio.
- Obrigada pelo convite me sinto lisonjeada, mas com uma casa tão enorme, não teria outro lugar para ficar?
- Você quer dormir em outro lugar?
Disse olhando em seus olhos quase em um sussurro e me aproximei deles, senti-me queimar por inteira e poderia jurar que senti sua respiração descompensada.
- Nessa noite prefiro ficar sozinha Camila.
- Seu desejo é uma ordem Lauren.
Sorria feito uma boba, me sentia uma adolescente, ela disse nessa noite... Nessa noite...
(...)
Um raio de sol entrou em uma fresta pela janela sem ser convidado, me acordando do torpor da noite anterior, logo meus pensamentos entraram em colisão e me lembrei da Lauren. Seu sorriso, seus olhos, seu cheiro doce, ela estava no quarto de hóspedes e já deveria ser tarde, com certeza não me acordou por achar que estaria me incomodando ou algo assim.
Me direcionei até lá, mas quando abri a porta deparei-me com uma surpresa, ao invés de seu lindo corpo desnudo, uma carta estava em cima da cama, com os seguintes dizeres:
"Me desculpa por sair assim sem avisar, mas não tive coragem de te acordar. Obrigada pela noite de ontem e por me hospedar, espero poder repetir mais vezes. – Lauren"
Coloquei a carta em meu coração e comecei a sorrir como uma boba, tanto que não notei uma presença entrar em meu apartamento, mais precisamente no quarto.
- Por que você está com essa cara?
Quase pulei tamanho o susto que levei e coloquei a pequena carta protegida atrás de meu corpo, obviamente até uma criança perceberia que eu estava escondendo algo, com a Hayley não seria diferente.
- Não faz mais isso... Está querendo me matar? – eu disse ofegante.
- Depois de ontem, você ainda tem dúvidas? – Hayley respondeu.
- Tudo bem, vamos conversar, vou para meu quarto me arrumar, mas depois juro que conversamos, ok?
- Não.
- Como?
- O que você está escondendo de mim?
- De você? Por que esconderia algo de você?
- Isso é o que vamos descobrir.
Hayley veio correndo em minha direção, a empurrei e sai correndo do quarto porta a fora, parecíamos crianças correndo uma da outra em meio a sorrisos, não queria que ela visse a carta, porém tudo aquilo estava muito divertido.
- Camila, volte aqui, me mostra o que esconde!
- Se você não é capaz de pegar, não é capaz de ler!
Em um movimento como Matrix, ela subiu em cima da cadeira e pulou por cima da mesa, caindo com o meu corpo no chão, quando ela retirou a carta da minha mão e começou a ler, foi que senti que poderia trazer um problema muito maior do que eu pensava.
- A cantora dormiu aqui? – ela perguntou incrédula.
- Sim, mas não fizemos nada do que você está pensando. – respondi na defensiva.
- Como não fizeram nada do que estou pensando? Você é a Camila Cabello droga.
- E você é a Hayley Kioko.
- Você poderia ter ficado com todas, Camila, com todas, mas por que justo ela?
- Eu não fiquei com ela...
- Tem certeza?
- Você acha que eu teria esquecido se eu tivesse ficado com uma mulher daquelas?
Pude ver que ela se sentiu aliviada e sentou no sofá, quase como se tivesse recuperado o chão em seus pés, que com a minha safadeza eu poderia ter sido capaz de tirar. E isso não era bom para mim, nenhum pouco.
- Por que Hayley?
- Espera... Por que você não aplicou nela uma de suas cantadas idiotas?
- Não quero te contar.
- Se você não me contar o que houve, não posso te contar o que sei.
Hayley estava em um jogo comigo e eu precisava saber. Eu estava me sentindo envolvida demais para dizer tanto faz e nunca mais escutar o nome Lauren na minha mente, eu queria repetir mais noites como aquelas, eu queria fazer com ela coisas que ela desejaria que nunca mais acabassem.
- Eu simplesmente não consegui. – eu disse em redenção.
- Não conseguiu o que Camila? – ela indagou
- Não consegui fazer milhares de brincadeiras com ela, não consegui ir para cima como um leão faz com sua presa, simplesmente não consegui tratar ela de outra maneira que não fosse com respeito.
- Calma, preciso processar essa informação, porque é muito para minha cabeça.
- Piada em momento inoportuno, agora sei como você se sente.
- Camila Cabello se sentiu intimidada por Lauren Jauregui?
- Acho que intimidada não seria bem a palavra correta...
- Meu Deus, esse momento é meu!
Hayley começou a dançar uma espécie de "tchã tchã tchã" o que fez a cena ficar enfadonha e um pouco vergonhosa, não que ela se importasse, até porque rir sobre meu cadáver seria uma das maiores felicidades da vida dela, sem dúvidas. Até que ela parou por um momento e me olhou com uma expressão não tão legal quanto sua dancinha.
- Droga Camila... – ela disse
- O que foi? – respondi preocupada
- Ela tem namorada...
Foi nesse momento que eu entendi a expressão soco no estômago.
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