Segredos de Vlad(PAUSADO)

By FadinhaBel

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Das catacumbas de um castelo romeno, um incomum caixão é enviado para a Grã-Bretanha, resultando no livrament... More

Apresentação
Designs do Livro
Prólogo: Pássaros e Morcegos
Dedicatória
Só mais uma Manhã: A História de Três Irmãos
Só mais uma Noite, a História de Três Ladrões
Olhos de Anjo e Sangue Puro
Olhos do Mal e o Sangue do Pecado
Fugir de Mim: Entra em cena David Harker
Pequena Luz
Escuridão Prolongada
Novo lar, o Destino sombrio de uma pequena Dama
Novo Lar, um estranho Refúgio para o Príncipe das Trevas
Paz de Espírito
Inconfortável
Sonhos Matinais e Fragmentos Resgatados
Luxo, Ira e Mistério
O Primeiro Teste
Segredos, Reflexo e Visão
Onde vivem as Crianças Cativas
Mais um dia Miserável na Vida de Hank Seward
O Segredo do Ponto Cego
O Número Sete
O Jovem Guerreiro
Pedaços de Verdades
O Segredo da Irmandade
A Morte dos Pássaros Negros
A volta do Anjo da Masmorra
Assuntos Interligados entre o Vampiro e o Detetive
A Sopa de Frango
Ajudinha lindus

Fugir da Cela

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By FadinhaBel

    "Uma vez certo alguém disse:
Destruam esse templo
e em três dias o reconstruirei."

    "Se o destino é consciente,
ele foi bem irônico."

Século XV

     Aquela manhã o pequeno conde deu toda a sua comida para sua companheira de cela, pois o carcereiro não a alimentava acreditando que não duraria muito tempo sem os devidos cuidados. Entretanto o pequeno manteve-se convicto em ajudar a menina o quanto podia, por isso fez questão de insistir que ela comesse seu pão velho e bebesse sua água ferrogenosa, mesmo ela negando a alimentar-se devido a sua dor; seu rosto doía quando mastigava, seu ventre sofria e sua mente a pertubava com as lembranças horríveis que declaravam o triste fim de sua infância.

    Passaram-se três inacreditáveis dias após o ocorrido, a pequena dama continuava fraca mas havia melhorado muito em relação a seu estado anterior, melhorado de ua forma milagrosa, e o conde se alegrou com sua extraordinária melhora física, embora os olhos da mocinha, repletos de sofrência provassem o contrário e a garota permanecesse em silêncio, não dando-lhe uma única palavra, desde o dia em que se conheceram.

    Ele compreendia a solitude da moçinha, mas sua mente infantil desejava saber mais sobre ela, que parecia tão frágil e debilitada. Se deixou vencer pela curiosidade e evitando contato direto com a dama como se estivésse dando-lhe privacidade, dirigiu-lhe a palavra.

– Se a senhorita me permitir a pergunta, – iniciou com a boa educação que recebeu de seus tutores – como veio parar em um covio turco?

   A mocinha sentada na outra parede escondia seu rosto machucado nos cabelos soltos que agora encostavam no chão, as pernas bem fechadas, tentando esconder o que a camisa de seda não cobria, as mãos quietas sobre as coxas, a cabeça apoiada no canto da cela, mantendo a expressão mais quieta cujo o trauma lhe proporcionou.

– Perdoe-me, compreendo que não esteja pronta para falar – se arrependeu de perguntar segundos depois.

    Ele se recordou do dia em que os inimigos o capturaram e o levaram para a Anatólia, onde apodrecia há cerca de um ano naquela cela desde então.

– Estava com meu irmão mais velho na floresta quando os turcos apareceram. Mircea era o seu nome, tentou me proteger e o perdi naquele mesmo dia – confessou observando a garota pelas costas – Quando me sequestraram, o rei inimigo acreditou que o meu pai faria de tudo para me resgatar – seus olhos tornaram-se vazios ao relembrar do dia em que foi capturado, o dia em que perdeu seu irmão – mas meu pai sempre dizia que para vencer uma guerra e salvar o povo, sacrifícios devem ser feitos e que decisões difíceis devem ser tomadas em tempos difíceis, é assim em toda guerra – o olhar vazio do menino vagou para aquele dia, o dia em que desacreditou em seus sonhos recordou do dia em que o carcereiro lançou zombaria ante seu rosto gargalhando em sua frente dando-lhe a notícia de que seu pai não o resgataria. Naquele tempo ele chorou por muitos dias até se acostumar com essa nova vida – Por isso estou preso aqui até hoje – os devaneios cessaram e ele retornou à realidade, unicamente para sorrir sereno à companheira – Esta é a minha história, assim vim parar aqui na Anatólia, dentro da inabalável fortaleza de Egregoz – revelou a última frase com um pouco de desgosto, mesmo assim, fez com o intuito de que a dama se sentisse um pouco mais à vontade perto dele.

   Ele expirou em um certo alívio, apoiou a cabeça e a costa nua na parede suja e empoeirada, esticou as mãos e os pés em um espriguiçar, penteou o cabelo para trás com os dedos, e deu início ao que sempre fazia naquela cela, mesmo que negasse. No fundo ele sabia que aguardava o momento em que sua existência não teria mais valor algum ao Império Otomano.

    Sua pior tortura era aguardar em silêncio, o dia em que finalmente o sultão decidiria matá-lo.

   A garotinha afastou uma mecha de cabelo que lhe atrapalhava a visão, seus olhos castanhos observaram tímidos os negros do garoto encostado na parede oposta, sua feição tristonha encarava o olhar sincero do mesmo.

– Did your father... digo, seu pai o abandonou? – perguntou com a voz trêmula no canto da parede, surpreendendo o pequeno conde, ele não imaginava que ela falaria tão cedo e agora confirmara que a moça é de outro lugar do mundo.

    Mesmo surpreso por esclarecer suas suspeitas, denominando a garota como sendo estrangeira devido o sotaque em uma bela voz, seus olhos, antes arregalados levemente, voltaram à expressão vazia, quando pensou no que responder.

– Ele paga tributos mais altos para me manter vivo – respondeu com um sorriso esforçado, porém sem êxito – A tentativa de aliança na verdade era uma chantagem, e chantagens nunca acabam – a decepção entoava em seu timbre – Ele pode ser um homem rígido, mas é um bom pai. Sei que ele quer me resgatar, mas não pode.

    A dama sorriu vagarosa em resposta, uma forma de condescendência, porém sua face infringida por ematomas logo a privaram de demonstrar qualquer expressão, seu aspecto decaído retornou, e regressou à dor e desespero daquele dia, o dia que a marcaria para sempre naquele tempo, naquela sociedade.

– Those men... – haviam palavras que a garota não sabia traduzir no dialeto do conde, mas era certo que supôs o inevitável – acha que eles voltarão para me pegar? – seu medo contagiou o pequeno conde, e quando ele a fitou temeroso e sem saber o que responder, a mocinha tornou a esconder-se em seus cabelos, chorou em silêncio, como se não hovesse outro destino – Why God? Why God? Why God? – dizia encolhida e em lágrimas .

   Ele se comoveu pela companheira no mesmo instante, chegou a se odiar por não conseguir dizer algo que a acalmasse, mas acreditava que seria melhor não falar nada ao invés de dar-lhe falsas esperanças, pois no lugar onde estavam, idependente de quem fosse criança ou adulto, eles certamente sofreriam, o menino sabia de tal. E por assim o saber, o garoto decidiu se aproximar da dama, ignorando os limites estabelecidos, assentou-se ao lado da mocinha, de prontidão ela o encarou confusa, e o conde a incitou em olhar sério, não com um olhar intimidador, mas sim, com o olhar mais decidido o possível.

– Ouça-me, senhorita – tocou a mão dela com as pontas dos dedos, sentiu a mão gélida da garotinha tremer tão somente com aqula aproximação – o lugar no qual estamos é cheio de pessoas malignas – buscava a feição da pequena por entre seus fios de cabelos negros – e se quisermos cotinuar vivos, – suas mãos apalparam por completo as da garota em tentativa de aquecer aquela pele fria – devemos fazer o que estiver ao nosso alcance para sobreviver - os olhos da pequena dama não o recusavam mais, entretanto o fitaram revoltados em lágrimas.

– Está me dizendo que terei que fazer aquilo novamente?! – seus lábios tremiam enquanto aguardava a resposta.

– Não! De minha parte eu nunca permitiria que tão grande mal com a senhorita se repetisse! – o garoto enrubesceu aface, suas mãos pressionaram suavemente as da moça – Mas se houver a possibilidade, é melhor do que ser morto – foi algo duro de se falar e ouvir, mas a voz da razão precisava tomar sua deixa, mesmo que fosse difícil de se aceitar – Se isso acontecer, não poderemos fugir daqui – suas inesperadas palavras alcançaram o esplendor escondido no rosto da pequena dama.

– Fugir?

– Sim. Cansei de esperar eles me matarem – um pequeno sorriso arqueou seus lábios.

– E como faremos isso? – o rosto duvidoso se aproximou ao do garoto.

– Eu nunca saí desta cela, mas com a senhorita aqui, temos uma chance. Basta esperar quem a trouxe aqui usar a chave e então eu usarei esse jarro...

    O conde fora interrompido pelo chamado suave da voz de uma mulher, ela estava vestida com vestes aparentemente de uma serva. O conde e a dama se assustaram ao perceberem que estavam sendo observados por aquela mulher e o carcereiro ao seu lado. Por um instante, acreditaram que seriam punidos por planejarem uma tentativa de fuga.

– Os dois, venham até aqui – a serva insistiu em sussurro mais severo do que implorativo, seu aspecto aparentava temerosidade – Depressa!

   Como um bom cavalheiro, o pequeno conde usou de seus braços como apoio para que a pequena dama pudesse se levantar e andar de encontro à porta da cela. Quem aquela mulher era, nenhum dos dois sabiam, porém sua fisionomia transparecia um sentimeno de compaixão que não se via muito naquele lugar deveras lúgubre.

– Quem é a senhora? – perguntou com a desconfiança que aprendeu a ter na prisão.

– Meu nome é Aysun, sou a governanta das servas - a mulher de aparência meia-idade respondeu com gentileza – Querida, eu vim assim que soube do que aconteceu com você – olhou para a dama envolta nos braços do conde – Nenhuma moça deveria passar pelo que você passou – a mulher tentou alcançar os cabelos da mocinha, porém a garota escondeu seu rosto junto ao ombro do pequeno conde, que ainda lhe mantia os braços envoltos, mas desta vez, eram mais do que um simples apoio, era um protetor.

   Quem visse Aysun, poderia jurar que ela era um anjo que apareceu para mudar a história. A mulher mantia um sorriso meigo e um olhar compassivo, um jeito simpático e convidativo, era defintivamente uma salvação naquele maldito calabouço, uma saída, uma luz ou esperança; mas o pequeno conde via isso como uma migalha, um resto de compaixão, um pingo de piedade e, acima de tudo, uma esmola, mesmo que fosse uma boa esmola.

E todos sabem o que acontece quando a esmola é muita.

– Ande logo mulher! Não tenho o dia inteiro! – o carcereiro pronunciou enquanto destrancava a porta de ferro.

– O que está havendo? – o garoto recuou a si e a pequena dama consigo.

    Graças às ordens do pai, exigindo que os filhos deveriam aprender o dialeto dos inimigos para futuros acordos, o menino era bilíngue. Aysun e o carcereiro não falavam o idioma valaquiano, se o pequeno conde não soubesse falar turco, nenhum deles chegariam a um acordo.

– Depressa, não tenho todo tempo do mundo! – o rude relembrou, abrindo a porta da cela por completo.

Ao deparar-se com tal ação, o coração das crianças pararam temerosos e confusos.

– Venha comigo, querida – Aysun estendeu as mãos para a garota – irei levá-la desse lugar horrível.

   Ambas as crianças não compreenderam tal situação. O carcereiro haveria de permitir que aquela mulher levasse um de seus prisioneiros? Isso seria inadimissível! O conde conhecia bem o homem odioso que agora estava abrindo a cela. O maldito carcereiro nunca faria isso, então por quê ele estava ajudando?

– Isso é algum tipo de armadilha? – o garoto intensificou seus braços sobre sua companheira, temendo ser esta, uma mentira.

Aysun o fitou surpresa por um segundo, certamente não esperava desconfiança da parte dele.

– Ninguém irá machucá-la – reafirmou – quero apenas tirá-la daqui – explicou nervosa – venha criança - tocou o ombro da pequena - ninguém fará mal a você, eu a protegerei.

– Mas... e ele? – a menina hesitou ao perceber que a mulher levaria somente ela e deixaria seu companheiro de cela para trás.

– Não posso levá-lo, o sultão precisa dele – a governanta das servas respondeu – mas eu consegui comprar você com as economias que andei juntando – ela continuou – se vier comigo, não deixarei que ninguém a toque.

   A feição temerosa abateu mais uma vez a garota, ela não queria deixar o menino que havia salvo sua vida nos dias em que achou que iria morrer.

    O pequeno conde a encarou, percebendo sua indecisão. Olhou para o fundo da cela, onde estava aquele jarro, aquele era realmente um plano ridículo, sabia que era covarde demais pra tentar.

– Vá com ela – falou decidido – Tal oportunidade não surgirá novamente, vá com ela.

– Mas e você? – seus olhos o encontraram preocupados.

    O pequeno conde a soltou e a transferiu para os braços de Aysun, que a segurou com cuidado e carinho enquanto a mocinha observava o carcereiro fechar a porta da cela com o pequeno conde em seu interior. Entretanto, quando a mulher guiou a pequena dama para longe, o conde pronunciou alto e claro, crendo que seria esta, a última vez que se veriam.

– O meu nome é Vlad.

   A garotinha interrompeu seus passos para olhar o garoto que lhe cuidara tão bem no lugar sombrio em que estavam. Acreditou que ao menos o seu nome deveria revelar-lhe.

– Eclésia – soltou com um gentil e agradecido sorriso, mesmo com o rosto e corpo ainda machucados – Meu nome é Eclésia.

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